O trabalho de técnica não era fácil, menos ainda para uma garota do segundo ano do colegial que pretendia levar a equipe de basquete da escola para as finais do intercolegial. Mais uma vitória e eles iriam para as quartas. Quem diria, pensou com um sorriso no rosto, uma equipe que mal existia no ano passado. 

Nas arquibancadas dos jogos e entre os corredores da escola, muitos diziam que era sorte eles terem chegado e que logo ela acabaria. Os mais antenados no esporte e olhares atentos sabiam que era fruto de meses de trabalho duro e dedicação. O intercolegial nunca foi o maior sonho de todos os integrantes, mas juntos construíram o caminho até lá e criaram um amor excepcional pelo basquete, que os uniria para sempre.

E por isso ela estava lá, na sala do clube, após o horário de treinamento. Até mesmo Kurumatani deveria estar a caminho de casa naquele momento e Nao continuava a assistir vídeos dos jogos do próximo adversário deles, analisando jogadas e pensando em todos os cenários possível, criando estratégias para cada uma delas. Sua mente trabalhava a mil por hora desde que foram classificados e souberam o nome da próxima escola que enfrentariam, não dormia direito desde então e talvez por isso não ouviu quando alguém entrou no local, até que algo quente a tocou na bochecha.

— O que está fazendo aqui? — perguntou ao se recuperar do susto, ergueu o olhar até encontrar os olhos de Tobi, que segurava uma latinha com uma das mãos enquanto usava a outra para beber o que havia pego para ele.

— Esqueci um manguito no armário. — Ele respondeu dando de ombros, a mão estendida se aproximou mais do rosto da garota, que finalmente pegou a lata oferecida com uma das sobrancelhas erguidas.

— Obrigada — disse em um tom baixo. O rapaz permaneceu em silêncio e se virou em direção aos armários, como se realmente procurasse algo dentro deles.

Nao o observou enquanto tomava a bebida quente e cheia de cafeína, ela o conhecia bem o suficiente para saber que nenhum de seus manguitos ficavam na sala do clube, mas preferiu ficar quieta. Tobi não era de ser claro com suas palavras, então mesmo que perguntasse, ele provavelmente diria algo apenas para irritá-la. Escondeu um sorriso com a lata ao se lembrar de quando ele segurou suas mão trêmulas, durante a segunda partida deles.

— Você já encontrou? — questionou ao terminar a bebida. Levantou-se do banco e recolheu seu pertences, jogando a latinha no lixo que estava ao lado do banco.

— Eu devo ter deixado em outro lugar. — Tobi respondeu, o rapaz coçou a nuca como se realmente estivesse frustrado com isso. Nao riu. — Rindo do que, baixinha?

— Nada.

Os dois então saíram do colégio, seguindo em direção a estação. Desde aquele primeiro dia chuvoso em que Tobi compartilhou o guarda-chuva dele com ela, os dois iam embora juntos. Nao nunca questionou o porquê dele fazer isso, apenas porque o rapaz sempre inventava alguma desculpa. Preciso ir em uma loja, vou encontrar um amigo que mora nessa direção, é um aquecimento pro treinamento.

— Obrigada pelo café. — Ela disse após alguns minutos de quietude entre eles. Tobi fez um gesto como quem diz que não tinha importância.

— A máquina me deu dois sem querer. — O rapaz explicou sem tirar os olhos do caminho a frente deles.

Nao sorriu e concordou com a cabeça. Ela conhecia cada detalhe dos membros da sua equipe, era seu trabalho como técnica e treinadora física, e se Tobi achava que ela acreditaria que ele gostava daquele tipo de café, tudo bem. Agora, como ele sabia que era seu favorito, isso permaneceria um mistério.