Persona: Magatsu Tokyo escrita por SenhorSakamoto


Capítulo 2
Zero: O Tolo




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Domingo, 3 de Fevereiro de 20XX

Café Leblanc, Yongen-Jaya – 7:25

Quase uma hora aberto aos clientes, e o café Leblanc não recebeu sequer um visitante. Sojiro Sakura já havia limpado cada canto de seu balcão e da sua cozinha, mas nada de um cliente aparecer. O tédio começou a se manifestar em sua mente, e ele já pensava em fazer café para si mesmo e terminar o dia ali mesmo. Foi quando se direcionou aos pacotes de pó de café que ouviu o sino de sua porta tocar. Sua instintiva reação foi se virar bruscamente para ver quem chegava, e uma breve decepção veio a si quando percebeu que era apenas Futaba. No entanto, a garota parecia tensa por algum motivo, e isso atiçou a curiosidade do velho homem.

— Sojiro! — Ela chamou, correndo para os braços de seu guardião. — Que bom que consegui encontrar o Leblanc, já estava ficando com medo de ficar perdida nessa névoa toda!

— Névoa?!? — O cafeteiro arquejou, pego de surpresa pela palavra. — Futaba, está se sentindo bem? — Perguntou, colocando a mão sobre a testa da garota para medir sua temperatura.

— É claro que tô! — A gamer exclamou, se soltando bruscamente de Sojiro e batendo o pé com força no chão como protesto, enquanto balançava indefinidamente os braços. — Por que não vai ver por si próprio, então? — Ela indagou, olhando para a porta do café.

Pelo vidro da porta, já era possível ver que a paisagem da rua em que o café ficava já não era a mesma, havia algo de estranho. Sojiro seguiu a recomendação de sua protegida e foi verificar por si mesmo a situação. Quando abriu a porta, quase caiu de costas com a surpresa ao ver que, de fato, o lugar estava tomado por névoa. Ele então fechou a porta com pressa e cerrou os punhos, nervoso.

— Isso não está certo... — Disse para si mesmo. — Aqui não é uma região propícia a névoa, nem mesmo se um milagre acontecesse. — Ao olhar para Futaba, lembrou-se de algo. — Futaba, olhe seu celular! Veja se há algum tipo de notícia sobre isso na internet. — Seguiu então para o outro lado do café, onde estava a televisão, e ligou o eletrônico, esperando ver algo nas notícias.

Futaba passou alguns instantes olhando fixamente para a tela de seu celular, lendo com atenção uma notícia que parecia falar sobre aquele fenômeno, até que um trecho a prendeu.

— Sojiro, a notícia que eu tô lendo diz que essa névoa não é formada por água e ninguém sabe como ela se formou! — A garota informou, olhando para o homem a quem se referia, percebendo que ele estava assistindo a um noticiário.

— O mesmo aqui. — Sojiro respondeu, cruzando os braços, com um semblante tortuoso no rosto. — Isso não me cheira nada bem.

— Vou procurar por algo no fórum em que participo. — Futaba avisou, retornando para a tela inicial de seu celular. Ao abrir a lista de aplicativos, o que ela viu fez com que acidentalmente derrubasse o celular no chão, chamando a atenção do velho homem que assistia à tevê.

— Fu-Futaba! — Sojiro gritou, assustado com o ocorrido, correndo em direção à garota de imediato.

— Não pode ser... — A Sakura disse com a voz fraca, agachando-se para pegar o celular do chão. Para seu alívio, nenhum sinal de danos. Porém, ao ligar a tela novamente, pôde confirmar o que a fez derrubar o dispositivo em primeiro lugar. Lá estava ele, o Meta-Nav. — Sojiro... — Ela chamou, virando-se lentamente para seu guardião, com seu rosto estampado com medo. — Precisamos chamar eles...

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Clínica de Reabilitação Mada, Kyoto – 7:30

— Sakamoto-kun, tenho uma notícia boa e uma ruim para você hoje. — Disse um doutor, o fisioterapeuta responsável pelo jovem de cabelos loiros. — Qual você quer ouvir primeiro?

— Aí você me pega, doutor. — O garoto respondeu e coçou a nuca enquanto pensava na resposta que daria. — Acho que prefiro a ruim primeiro. – Concluiu, colocando as mãos sobre os joelhos, enquanto balançava inquietamente as pernas.

— Certo. A má notícia é que, a partir de hoje, você não vai mais vir aqui semanalmente. — O homem anunciou, soltando um breve riso após terminar a frase. — No entanto, a boa notícia é que você chegou a um estágio excelente de recuperação, e é por isso que não vai precisar mais vir aqui tão frequentemente.

— Na moral?!? — Sakamoto praticamente gritou, surpreso pelo que ouviu. — Isso significa que eu já posso correr numa boa?!?

— Exatamente. — Respondeu terapeuta com um sorriso no rosto. — A partir de agora, você só vai precisar vir aqui mensalmente, para fazer um check-up.

— Aí sim, doutor! — Ryuji comemorou, saltando da maca em que estava sentado. — Cê não tem ideia do quanto ouvir isso me deixou empolgado! — Indiscriminadamente, ele agarrou a mão do médico com as próprias mãos e a balançou firmemente, com um brilho nos olhos.

O médico não teve outra reação senão rir novamente, com a satisfação de mais um trabalho bem-feito.

— Isso é tudo por hoje, Sakamoto-kun. — Disse o homem ao ter sua mão liberta. — Você está liberado. — Com sua vontade para aquela sessão concluída, o doutor pediu sua licença e se retirou da sala, deixando apenas um loiro eufórico lá dentro.

Ryuji mal conseguia conter sua felicidade com as palavras que ouviu do médico. Ele precisava contar aquilo para “Aki”.

Só de pensar em pegar o celular para enviar mensagens para Akira, Sakamoto já sentiu uma vibração em seu bolso, e depois mais uma, e depois outra. Assim que tirou o celular do bolso, viu que as notificações vinham de uma conversa em grupo, e todas eram de Futaba. Pensando ser apenas mais uma das conversas nostálgicas dos antigos Phantom Thieves, ele casualmente leu as mensagens, mas ao perceber o assunto, quase perdeu o celular de suas mãos.

— NA MORAL?!?

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Aeroporto Internacional, Ota – 7:29

— Senhor Hayashida, tem certeza de que a Mika-chan não está disponível? — Ann Takamaki questiona, falando ao telefone com o homem. — Eu acabei de chegar, ainda estou no aeroporto...

— Peço mil perdões, Takamaki-san, mas Mika já está ocupada com uma outra sessão de fotografias. — Respondeu o gerente, sua voz um pouco distorcida pelos alto-falantes do celular de Ann. — Posso até enviar um carro, se você quiser! Mas nós precisamos de você agora!

— Certo... — Disse a loira, um pouco receosa com aquela decisão. — Aeroporto de Ota, ok?

— M-muito obrigado, Takamaki-san! — Apesar do tropeço, Hayashida já parecia mais calmo ao ouvir as palavras da sua modelo favorita.

Ann não hesitou em desligar a ligação, refletindo sobre o que havia acabado de falar. Mal havia voltado ao Japão e já estava sendo ativa em seu trabalho, para variar. Ciente de que toda a documentação de seu retorno estava pronta, ela decidiu ir até a saída, onde mais tarde encontraria seu carro.

Assim que visualizou o portal que a levaria para fora, ela notou algo estranho, não era possível ver a paisagem, apenas algo que parecia uma fumaça densa. Chegando de fato à porta, a loira arquejou com o susto que levou.

— Névoa?!? — Gritou, ainda que estivesse falando com si mesma. — Em Tóquio?!?

— Ouvi dizer que se formou há algumas poucas horas... — Um rapaz que passava por ali explicou, antes de seguir com seu caminho.

Antes que pudesse comentar mais qualquer coisa, Ann sentiu seu celular vibrar em sua mão. Esperando que fosse uma notícia sobre a névoa ou algo do tipo, ela foi surpreendida quando viu que era uma mensagem vinda do grupo dos antigos Phantom Thieves. Quando leu as mensagens enviadas por Futaba, ela brevemente perdeu seu equilíbrio, mas não ao ponto de cair.

— Só pode ser brincadeira...

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Dormitórios Kosei Gakuen, Setagaya City – 7:15

Yusuke Kitagawa encarava indefinidamente a névoa que cobria os arredores dos dormitórios, pela janela. A sensação era agonizante, pois ele não conseguia visualizar nada que poderia trazê-lo inspiração, e assim, seu quadro permanecia em branco.

Certo, ele tentaria.

Com muito receio, o jovem artista decidiu tentar fazer o que alguns artistas fazem quando não têm um modelo físico à sua disposição. Yusuke inspirou, e expirou. Fechou os olhos e tentou trazer de seu coração a inspiração para criar sua próxima obra. Quando sentiu o pincel alcançar a superfície do quadro, um arrepio percorreu sua pele. E assim, ele deixou a sua mente guiá-lo.

Passou assim alguns minutos, apenas pintando o que seu coração ditava, até que sentiu que havia terminado.

Abrindo os olhos, Kitagawa foi pego de surpresa pelo que viu. Uma imagem perturbadora, um olho de demônio, com uma estrela no meio e inúmeras linhas saindo do centro. Por algum motivo, aquela imagem era familiar, mas ele não conseguia se lembrar exatamente o que era.

— Como pode o conteúdo de meu coração ser tão... pitoresco? — Ele questionou a si, ainda tomado pelo receio de que talvez seu coração tivesse se tornado impuro novamente. — Isto é inaceitável!

Em meio ao seu balbucio, ele sentiu algumas vibrações num dos bolsos de suas calças, vindos do seu smartphone.

— Quem poderia estar me enviando mensagens a esta hora da manhã? — Perguntou o garoto a si mesmo novamente. — Que ao menos seja de alguma importância.

Assim que ligou a tela do dispositivo para checar, ele percebeu que eram mensagens de seu antigo grupo de heróis da justiça, mais especificamente da navegadora, Futaba. Sem hesitação, Yusuke leu as mensagens, ficando um pouco descrente nas informações que recebeu, a princípio. Foi apenas quando fechou o aplicativo de mensagens e checou a própria aba de apps, que percebeu que não eram informações erradas.

— ...

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Apartamento Tsukumodai, Osaka – 7:30

Haru Okumura ouve batidas na porta de seu quarto, reconhecendo-as imediatamente como de sua colega de quarto e grande amiga, Makoto Niijima.

— Haru, tem algo que preciso te contar! — Gritou a voz da garota do outro lado da porta.

— Já estou indo! — A garota de cabelos cor salmão respondeu docemente, indo em direção à porta.

Assim que Haru destrancou e abriu a porta, deparou-se com uma Makoto nervosa e trêmula. Ela segurava o celular com força, quase como se quisesse esmagá-lo.

— M-Makoto... — A Okumura pôde sentir a energia negativa que a amiga emitia. — O que houve?

Sem responder com palavras, Niijima apenas ligou o celular e ficou mexendo na tela, deixando a outra garota confusa. Foi então que Makoto mostrou a nova conversa em grupo que tinha com os antigos Phantom Thieves.

Haru leu as mensagens atentamente, cobrindo a boca com as mãos assim que leu a palavra “Meta-Nav”. A surpresa fez até com que suas pernas tremessem um pouco.

— Nós precisamos voltar para Tóquio. — Afirmou Makoto, guardando o próprio celular. — Eu sugiro pegarmos um trem, amanhã. Hoje, precisaremos fazer um acordo com o diretor da faculdade.

— Eu concordo. — Respondeu Haru, cerrando os punhos à meia-altura e com a voz firme. — Por que não ficamos na casa da sua irmã?

— Excelente ideia.

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Segunda-feira, 4 de Fevereiro de 20XX

Shinkansen, Fukushima – 16:02

Pelo quanto me lembro, já estou viajando de trem há quase oito horas, e não poderia estar mais entediado. A minha playlist para viagem já está quase acabando, Morgana está dormindo mais profundamente que uma pedra e não há nem sinal de estarmos perto de Tóquio. Se eu ficar aqui por mais uma hora, sou capaz de morrer de tédio.

Para meu alívio, algo acontece, pois sinto meu celular vibrar sobre minha coxa. E não é apenas uma vibração rápida de notificação, alguém está me ligando, e acho que já posso deduzir quem é.

Satisfazendo o meu palpite, eu vejo aquele nome na tela do celular: Ryuji. Ao mesmo instante em que leio esse nome, um sorriso se forma no meu rosto. Ele quer fazer uma chamada de vídeo, e eu já posso ver um pouco do que a câmera frontal do meu celular está capturando, bem ao fundo da tela. Eu me livro da expressão entediada no meu rosto inspirando bem fundo, e então expirando, para enfim atender à chamada.

Eu quase solto uma breve gargalhada ao vê-lo na tela do meu celular. Ryuji ainda é bastante desajeitado com essas coisas, e às vezes é impossível conter o riso. Assim que ele percebe que eu atendi a chamada, ele sorri.

— AKI! — Eu ouço a voz dele chamar. Assim como meu professor na Shujin disse, a sonoridade da voz é um pouco estranha, quando sai dos meus fones de ouvido. O sorriso nos seus lábios fica ainda mais largo, e ele fecha os olhos com força. Certamente, ele está muito feliz em me ver. — Já faz tempo desde a nossa última chamada de vídeo! Como cê tá?

— Melhor agora. — Eu respondo, simples, sentindo apenas um sorriso de canto no meu rosto. — Se você não tivesse ligado, eu poderia morrer de tédio.

— Na moral? Às vezes eu esqueço do quanto Hokkaido é longe, cara! — A expressão dele muda para surpresa. — Cê ainda tá longe de Tóquio? — Ele pergunta, parecendo um pouco preocupado com o que ouviu de mim.

— Só mais uma hora e meia. — Eu clarifico. Parando para pensar, o tempo restante da viagem não é nada comparado ao que eu já tinha passado antes. — Mas eu acho que ainda vou ter alguns atrasos, já que assim que eu entrar na cidade, vai ter névoa.

— É, a coisa tá feia aqui. — Ele olha para o lado, possivelmente para uma janela. De repente, ele passa a expressar desânimo. — Sabe, eu resolvi vir direto pro café quando cheguei, e juro que, por um fodendo segundo, eu jurei que se subisse as escadas para o sótão, já ia te ver.

— Sinto muito. — Eu fecho meu sorriso ao vê-lo aparentemente triste. — Não vou demorar muito mais.

— Eu sei, cara. — Ele diz, voltando a sorrir, mas por algum motivo me parece forçado. — Vou tá aqui no café, então é melhor cê vir direto pra cá.

— Certo. — Faço meu melhor para mostrar um sorriso para ele, também. — Me aguarde.

— Sempre. — Com a visão que tenho depois dele terminar de falar, eu descarto meu palpite, convicto de que ele está, de fato, feliz.

Ryuji acena para mim, desligando a chamada logo em seguida. Uma sensação de alívio percorre meu corpo, não porque ele desligou, mas sim porque eu vou finalmente ver todo mundo novamente, principalmente ele.

Confirmando uma última vez que Morgana ainda dormia, eu resolvo dar este mesmo descanso para mim mesmo, torcendo para que eu não perca o ponto. No fundo, acredito que o gato vai me acordar.

Assim, fecho meus olhos, e quando percebo, já não ouço e nem sinto mais nada.


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