A Esperança (Peetniss) escrita por The Deathly Mockingjay


Capítulo 6
Capítulo VI




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A feição em meu rosto torna-se dura como pedra ao encarar Haymitch Abernathy.

— E é assim, meus amigos, que se acaba com uma revolução! – exclama o moreno.

— O que você está fazendo aqui? – pergunto friamente, ignorando seu comentário.

— Olá para você também, Katniss. – diz sarcasticamente – É assim que cumprimenta um velho amigo?

— Talvez eu não te reconheça sóbrio.

— Então, estou tão ruim quanto me sinto.

Não me controlo e bato na cara dele. Não desvio o olhar nem mesmo quando ouço

— Carinhosa como sempre – murmura Haymitch enquanto massageia sua bochecha.

Antes que possamos trocar mais palavras, ou eu agredi-lo novamente, a voz de Plutarch ressoa pela sala.

— Por hoje acabou. Eh... bom trabalho, Tordo! Quando o vídeo estiver pronto, a chamaremos para o Comando, tenha uma boa tarde.

Não foi preciso mais palavras para eu poder escapar do cômodo e retornar ao meu quarto.

—______________________________________________

É só depois do jantar que Boggs aparece em meu quarto, chamando-me para o Comando. Dessa vez eu estava sozinha. Nem Prim ou minha mãe apareceram durante todo o restante do dia, mas pelo menos, tive mais uma consulta com a Dr. Violet.

Prim a contou sobre quando eu senti o bebê se movimentando e do meu ataque de pânico e resolveu fazer uma nova consulta para saber se tudo estava bem comigo e o bebê. Segundo ela, não é comum sentir o bebê movimentando no início do quarto mês, principalmente durante a primeira gravidez. Ao ouvi-la comentar, um medo se apossou sobre mim. Medo de ter algo de errado com esse bebê, esse mesmo bebê que estou longe de estar preparada. "Você literalmente passou por um Jogos Vorazes grávida. Acha mesmo que não haveriam consequências?" eu pensei.

No entanto, tudo estava bem, ou pelo menos foi isso que Dr. Violet disse. E chegamos até ouvir os batimentos do coraçãozinho dele. Foi uma avalanche de emoções. Eu nunca quis ter filhos, mas agora me vejo querendo esse serzinho mais que tudo, de protege-lo com todo meu ser desse mundo terrível em que estou. Também não pude não pensar em Peeta, em como ele amaria estar aqui, ouvindo o coração do nosso bebê bater, senti-lo se mexendo em meu ventre. Peeta...

Desperto de meus devaneios quando ouço Boggs me chamar novamente e o sigo em direção ao Comando. Chegando lá, fico surpresa em ver Gale, Effie e Haymitch além de Coin e Plutarch. Sento-me ao lado de Effie e a reunião começa.

Plutarch dá um monólogo tedioso sobre como me encontrou e finalmente pode conhecer a garota em chamas que ele tanto ouviu falar, sobre o quão inspiradora eu sou e como a minha audácia inspirou uma nação inteira a se rebelar contra um governo genocida e opressor.

Não, Plutarch, isso nunca esteve em meus planos. Eu só queria salvar a minha irmã.

E então o prontoprop é finalmente rodado e eu só quero cavar um buraco e desaparecer da face da terra. "Mas eu já estou enterrada viva" penso. As faces de descontentamento que vejo até mesmo no rosto do meu melhor amigo chegam até ser cômicas. Haymitch tinha razão, é assim que uma revolução morre.

Um silêncio constrangedor se instala por alguns minutos e é quebrado pelo meu ex-mentor.

— Com licença madame presidente. Permita-me um comentário.

Coin nada diz, apenas acena positivamente. Haymitch, então levanta-se e começa a falar:

— Pensemos nos momentos em que minha querida Katniss realmente chamou-lhes a atenção.

Effie é a primeira a levantar a mão. Haymitch dá-lhe o poder de fala.

— Quando ela se voluntariou em lugar de sua irmã nos primeiros jogos. – diz animadamente – Ah! E quando ela cantou aquela linda música para a pequena Rue.

— E o que esses momentos têm em comum? – pergunta o moreno.

Agora quem fala é Gale.

— Ninguém a disse o que fazer.

Eu sorrio.

— Isso mesmo! – exclama Haymitch.

— Aonde quer chegar, soldado Abernathy? – Coin pergunta bruscamente.

— Estou querendo dizer que, se vocês querem mesmo que ela filme uma boa mensagem, que façam direito.

— Eu não vou deixar que uma civil não treinada e grávida vá para a guerra só por efeito, soldado Abernathy. – Coin diz.

— Ela não precisa lutar, ela só precisa ver. – diz Haymitch.

— O Distrito 8 está livre de ataques há uma semana, acho que podemos leva-la para lá. Filmar a reação do povo vendo o Tordo lutando com eles e por eles. – dessa vez quem fala é Plutarch, fitando a presidente.

Coin parece ponderar um pouco, seus olhos pálidos encarando um ponto fixo na mesa à sua frente. Alguns segundos se passam até que ela dá sua palavra final.

— Podem leva-la, mas só por alguns minutos. Não podemos arriscar.

Plutarch sorri.

—______________________________________________________

Estou sendo arrumada pela minha equipe de preparação. Dessa vez a maquiagem foi um pouco mais leve, resultado do comentário de Boggs após a decisão de Coin em me mandar para o distrito 8. "e pelo amor, tirem essa pintura toda. Ela parece ter 30 anos". Haymitch gargalhou.

Quando contei para Dr. Violet que estava indo para o distrito 8, novamente ficou furiosa e quase me impediu de ir. No entanto eu sabia que se não cumprisse o meu acordo, as vidas de Peeta, Johanna, Enobaria e Annie estariam em perigo, não somente na Capital, mas aqui também.

Nos dias que se antecederam à minha ida ao 8, Haymitch me procurou. Primeira pensei que tinha encontrado alguma desculpa por ter deixado Peeta para atrás, mas suas palavras me surpreenderam.

— Quando Coin mencionou sua gravidez eu pensei que tinha ouvido errado ou que você não tinha os avisado que era uma mentira que Peeta fez para cancelarem os jogos. Pensei que todos aqueles vômitos antes da arena eram apenas nervosismo de estar de volta aos jogos ou aquele protecionismo exagerado do Peeta era apenas Peeta sendo Peeta, mas tudo se encaixou com as palavras de Coin.... – ele respirou fundo antes de continuar a falar – Eu quero que saiba que me arrependo o tempo todo de não ter resgatado o garoto. Vocês dois são como filhos para mim e farei de tudo para resgatar o garoto e protege-los, principalmente o seu bebê.

Lágrimas saíram de meus olhos. Mesmo com a visão embaçada, eu consegui ver o arrependimento em seus olhos e as lágrimas ameaçando a cair dos mesmos. Sons estranhos saíram de minha garganta enquanto ele me abraçava. Eu posso não ter o perdoado totalmente, mas eu preciso de todo apoio possível. Eu não consigo fazer isso sozinha.

Sou entregue meu novo arco e flecha desenhado por Cinna. Lembro-me quando fui chamada por Beetee logo depois de Coin me liberar para ir ao 8. Ele veio falar comigo antes que pudesse me dirigir à porta, falando que tinha algo para mim. Chegando à uma sala, onde supostamente Beetee trabalhava produzindo aparatos tecnológicos que não entendo, Beetee entregou-me o que parecia ser um uma pasta, mas ao abri-la, percebi que pertencia ao meu estilista.

— Effie me entregou antes de ser pega pelos guardas do 13. Ela temia que não poderia entrega-la e me fez jurar que só a daria quando escolhesse ser o Tordo por conta própria. Acho que não há melhor momento melhor que esse.

Era lindo. Tudo. Poderia servir tanto para o propósito que foi feito como também uma obra de arte. Desde os coletes às luvas. Os lindos detalhes de cada peça ou arma e os recados. "Eu ainda estou apostando em você, garota em chamas"

— Ele está morto, não?

— Infelizmente. Meus pêsames. – disse Beetee tristemente, massageando meu ombro ao tentar me consolar.

— Eles já o tem feito. O traje do Tordo.

E então me levou ao traje. Era idêntico ao desenho. Uma armadura preta e reluzente, bonita, mas não muito chamativa.

— Como você viu, ele também desenhou um arco e flecha, mas achei que seria um desperdício usá-lo somente como aparato de moda e fiz algumas mudanças.

Beetee então caminhou até uma estante onde jazia um lindo arco e flecha, também preto, e me entregou. Por fora não era nada diferente ao desenho, no entanto Beetee mostrou as tais diferenças. Era uma arma com comando de voz, e só respondia à minha.

— A senha é "Nightlock". Queria que tivesse mais uma camada de segurança. Para parar de usá-la é só dizer "Boa noite".

Fiquei ainda mais maravilhada quando me mostrou as flechas. Pretas, amarelas e vermelhas. Normais, incendiárias e explosivas, respectivamente. Queria saber como seriam as explosivas, mas Beetee quase teve um infarto ao mencionar o teste.

Estou agora prestes a entrar no aerodeslizador. Encontro Gale e Plutarch na frente do aerodeslizador junto com mais quatro pessoas, uma mulher com a parte esquerda do seu cabelo raspada com uma tatuagem de folhas no mesmo local e três homens vestindo grandes equipamentos que os fazem parecer com insetos.

— Katniss! Vim dar-lhe boa sorte em sua primeira missão! – exclama Plutarch – Estes aqui são Cressida e sua equipe de filmagem. Cressida é com certeza uma das melhores diretoras em ascensão da Capital.

— Ou pelo menos era. Olá, Katniss! - diz Cressida sorrindo gentilmente – Estes são meus assistentes: Messala, Castor e Pollux.

Ela aponta para cada homem-inseto ao dizer seus nomes. Todos eles são um tanto normais para cidadãos da Capital, tirando o penteado radical de Cressida e os piercings localizados em quase todo o rosto de Messala. Todos me cumprimentam timidamente e se sentam nos assentos do aerodeslizador. Sento-me ao lado de Gale e o loiro baixo barbudo cujo nome é Pollux.

— Vocês foram também resgatados por Plutarch? – Gale tenta puxar papo enquanto pegamos impulso para voar; ele não tira os olhos da diretora.

Cressida sorri docilmente.

— Não foi bem um resgate e muito menos pelo Plutarch. – ela agora se vira para mim - Nós viemos sozinhos, por você, Katniss, pela revolução.

Suas palavras me chocam e sinto minhas bochechas arderem de vergonha. Ainda me surpreendo como eu, uma adolescente totalmente desequilibrada mentalmente, consegui inspirar tantos.

Viro-me para Pollux:

— Como se conheceram? – pergunto.

Pollux não responde. Antes que possa ter qualquer reação ao seu silêncio, Cressida fala:

— Pollux é um avox. A Capital cortou a sua língua anos atrás.

Sinto-me envergonhada de novo.

— Não se preocupe, não tinha como saber – dessa vez quem fala é Castor e Pollux sorri docilmente para mim e eu o retribuo.

—___________________________________________

Algumas horas depois de pequenos papos e grandes silêncios, Boggs nos avisa que chegamos no distrito 8.

Ao sair do aerodeslizador, fico chocada com o estado em que o distrito está. Só não está mais destruído do que o 12. O que antes eram grandes fábricas de produção têxtil, agora só sobraram ruínas. Poeira e escombros cobrem o que antes eram estradas de asfalto levando toneladas de carga para a estação de trem que as levaria para a Capital.

Não demora muito para três figuras se formarem em meio da poeira do distrito. Penso ser uma ameaça e quase armo meu arco, mas Boggs me impede colocando seu braço em minha frente.

— Tordo, conheça Seeder, líder do movimento rebelde do distrito 8. – diz o comandante.

— É um prazer conhece-la. Fico feliz que esteja inteira – a mulher de pele escura, fortemente armada com roupas largadas e sujas diz secamente. – Eles vão ficar felizes em vê-la.

Seeder caminha, com quem suponho são seus guardas, enquanto eu e o restante do time a seguimos.

— Fizemos um hospital improvisados. Coletamos todos os corpos e os colocamos lá também, para pelo menos terem um local para descansar. O número de mortos cresce a cada segundo, muitos feridos... – diz Seeder pesadamente enquanto caminhamos.

Estamos agora em frente a um prédio quase desmoronando. O grande portão antes feito de metal, agora não existe mais. Antes mesmo de entrar reconheço o fedor familiar de carne em decomposição, que me deixa extremamente nauseada.

— Não é perigoso deixar mortos e feridos no mesmo local? – questiona Gale.

Seeder vira e o responde:

— Onde mais poderíamos coloca-los? Mais da metade de nós não vai sobreviver de qualquer jeito.

Entramos num que mais se parece um corredor de morte. Pilhas e mais pilhas de cadáveres em decomposição lotam o corredor, quase nos impedindo de passar sem pisar em seus membros, ou o que restaram delas. O fedor só piora e temo que vou vomitar aqui e agora, em cima de centenas de cadáveres de homens, mulheres e crianças brutalmente assassinadas a comando da Capital. Gale parece ter percebido meu desconforto, pois massageia levemente meu ombro esquerdo e sussurra em meu ouvido:

— Está se sentindo bem? Quer dar uma pausa? – eu aceno negativamente, eu preciso ver.

O final do corredor é marcado por uma cortina de plástico improvisada, anunciando ali a entrada do hospital. Seeder puxa a cortina, abrindo espaço para nós passarmos e a cena que vejo a seguir piora ainda mais minha náusea. Milhares de pessoas feridas, muitos casos perdidos; gemidos e gritos de dor, assim como choro, ecoam pela vasta área antes repleta de maquinários e funcionários cumprindo sua jornada de trabalho.

Desespero se apodera sobre mim e viro-me para Cressida, sussurrando:

— Por favor não me filme aqui, eu não posso ajuda-los. – lagrimas ameaçam escorrer em meus olhos.

— Apenas deixem que te vejam. – responde Cressida e aceno.

Respiro fundo antes de caminhar em meio a multidão de feridos. Suas feições cansadas e arrasadas quebram o meu coração. Crianças gritando por seus pais e pais gritando por seus filhos. Alguns sem braços, outras sem pernas e outros sem ambos. Aos poucos eles param seus afazeres e focam em mim. Seus olhos pesam em minhas costas e penso em como consegui chegar até aqui. E como sairei daqui. Mas eu precisava ver. Precisava ver o rosto de cada um deles, pois sei que depositaram sua fé em mim e eu preciso lutar por eles. Ou falhei para com eles.

Sussurros ecoam e sinto que todos os olhos estão focados em mim. Desperto-me de meus pensamentos quando ouço uma voz rouca e cansada chamar meu nome.

— Katniss? Katniss Everdeen? – um garoto de não mais de 14 anos, seu rosto ensanguentado e empoeirado, assim como o resto de seu corpo; lágrimas limpam suas bochechas enquanto seus grandes olhos negros me encaram – É você mesmo?

— Sim – digo somente; temo que se disser mais alguma coisa, desabarei em choro.

— Você está aqui para lutar? Por nós? – pergunta.

— Sim. Eu vou.

E então, ao formarem em círculo em volta de mim e de meu time, todos juntam seus três dedos da mão esquerda e os levam aos lábios e levantam acima de suas cabeças.


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