A Esperança (Peetniss) escrita por The Deathly Mockingjay


Capítulo 4
Capítulo IV




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Acordo no dia seguinte me sentindo nervosa. Levanto-me e vou para o banheiro fazer minha higiene matinal o mais rápido possível. Chegando ao refeitório fico surpresa ao ver Finnick sentando na mesa reservada à minha família e a à de Gale.

Ele mal olha para sua comida. Finnick entrou em depressão quando descobriu que Annie foi levada pela Capital. Desde que fomos resgatados, ele estava internado no hospital, apesar de ter se "curado" de seus ferimentos, ou pelo menos os físicos. Pego a minha comida e sento-me ao seu lado junto com minha mãe e Prim. Ele vira a cabeça e me fita um pouco, o que me deixa desconfortável.

—Sabe, eu assisti ontem. Ele te defendeu. Enquanto Caeser te acusava, ele explicava tudo o que aconteceu. – Ele para um pouco.

Aquilo me pegou de surpresa. O que Caeser poderia ter me acusado?

— Vi você saindo correndo no início da entrevista, e soube que você passou mal. Está tudo bem?

— Sim, obrigada. Caeser me acusava de quê?

— Ninguém te falou? - aceno negativamente com a cabeça. – Desde que você explodiu a arena, a Capital acha que você sabia do plano rebelde e foi por isso que ele te defendeu. Sinceramente, Caeser foi um pouco chato naquela noite. Peeta quase perdeu a paciência, mas deixou bem claro que vocês não faziam ideia do plano.

Sinto meus olhos virarem grandes piscinas. Abaixo minha cabeça. Não quero que ninguém pense que sou fraca. Não permito que elas saiam. Depois de um tempo, levanto minha cabeça. Finnick me olha com ternura e passa a mão e minhas costas.
Enquanto estávamos no hospital, Finnick me consolava às vezes, como um irmão mais velho que nunca tive. Às vezes pensava que Gale que poderia tomar esse lugar, mas está muito ocupado em derrotar a Capital e mesmo que eu tenha falado com ele quase todos os dias, sinto que estamos cada vez mais indo para direções opostas.

Finnick diz para eu tentar comer um pouco e eu tento, mas como ele também, nem se quer toco na comida. Mamãe tenta me animar também junto com Prim. Depois de um tempo acabo botando a comida goela baixo, pelo bem de meu filho.

Gale, cuja ausência nem tinha notado durante o café da manhã, aparece ao meu lado me chama dizendo que me convocaram para uma reunião no Comando com Coin. Levanto-me e o sigo.

Enquanto caminhamos, trocávamos algumas palavras:

—E então, você melhorou?


—Sim, estou melhor.


— Então porque você passou mal daquele jeito, Catnip? Está doente?


—Mais ou menos- murmuro.

Não sei se seria bom contar a ele agora, o que me faz lembrar da minha proposta hoje. Terei de conta-lo agora. Pego sua mão e o puxo para um canto qualquer. Tento formular minhas palavras, mas não consigo. Tenho muito medo de perder a nossa amizade por causa disso. Quero muito o seu apoio.


—Gale...- Hesito um pouco - e-eu e-eu... estou grávida.


Sinto como se tivesse tirado um pouco do peso em minhas costas, mas ainda temendo sua reação.


—Grávida? Então está explicado um pouco de seu comportamento. Como você pôde? Deu tudo a ele! Você mal o conhece! Eu não acredito que você o deixou fazer isso com você! Isso é muita estupidez!


Agora lágrimas escorrem em minhas bochechas. Eu não esperava que ele me apoiasse, mas isso foi mais do que imaginei. Seu olhar é de fúria e acusador.


—Você queria o que? Que voltasse no tempo? Não fale mal do Peeta, você é que não o conhece. Eu o amo e você não fazer nada para mudar isso! - Digo gritando e jogando toda a minha fúria para fora.

Como ele pôde falar mal do Peeta? Ele sabe muito bem que eu o amo.


—Estamos em uma guerra, Katniss! Guerra não é lugar para um bebê! - Ele diz exaltado.

— E você não acha que não sei disso?!

Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Não consigo nem responder quando ele se vira para ir embora.


—Só não faça mais nenhuma besteira, okay?

Besteira? Quem é ele para se referir ao meu filho desse jeito? Sim, isso não é hora para ter filhos, mas eu nunca me arrependeria de ter meu filho e não vai ser ele que mudará a minha mente.

E sai. Eu não o sigo. Vou correndo para o meu compartimento chorando. Quando entro deparo-me com ele vazio, o que me satisfaz um pouco. Não quero que fiquem me perguntando o que aconteceu. Vou para o banheiro e choro por mais minutos, horas até, não sei mais dizer depois de tanto tempo aqui. Choro pelo distrito 12. Choro por Peeta e os demais vitoriosos aprisionados pela Capital. Choro por meu filho. Choro por Panem e as atrocidades cometidas pela Capital para com sua própria população. Choro pelas vidas das crianças perdidas nos últimos 75 anos. E é o ódio pela Capital que me faz levantar.

Lavo o meu rosto com água gelada, mas dá pra perceber pela minha cara inchada que eu chorei para valer. Chegando lá posso ouvir uma conversa que parece ser entre a presidente Alma Coin e Plutarch Heavensbee, ex-Idealizador Chefe dos Jogos Vorazes.

—Soubemos de boatos que Peeta foi telessequestrado e que se encontra com os demais tributos na mansão de Snow. - Plutarch fala

—Bom, teremos que confirmar primeiro. Eu disse que queria resgatar o garoto primeiro.

Entro na sala e encontro os dois sentados um na frente do outro na mesa.

—Preciso falar com vocês.


—Desculpe soldado Everdeen, mas você perdeu nossa última reunião e caso não tenha percebido, estamos conversando sobre assuntos sigilosos. - Diz Coin.

Não vai ser por isso que vou desistir de falar.

—Eu aceito ser o Tordo.

Depois da morte do meu pai, tive que crescer muito rápido para escapar da morte e sempre temi ter filhos pelo medo de perde-los para os jogos, como quase perdi a Prim, ou pela fome. Depois dos jogos, Peeta me mostrou um novo olhar para a vida, uma nova esperança. No entanto, na questão de crianças, compartilhávamos o medo dos jogos, de passarem pelo o que passamos e até mesmo não voltarem. Hoje, não tenho como apagar o resultado de nossas noites juntos, porque sei que daqui por diante será um mundo melhor para meu filho. Eu lutarei cada segundo, eu sangrarei o que for necessário para garantir essa nova vida ao meu bebê, ou então terei falhado não só como mãe, mas como o Tordo.

Posso ver o primeiro vestígio de um pequeno sorriso em Coin.

— Eu aceito ser o Tordo de vocês...- começo- só que com algumas condições.

Se ali no rosto de Coin tinha um pequeno vestígio de um mínimo sorriso, despareceu completamente. No entanto, Plutarch parecia um pouco preocupado, mas também feliz.

— Comece. - Diz Plutarch. Ele parece disposto a tudo nesse momento.

— Bom, em primeiro lugar... - Tento me lembrar mentalmente de minha pequena lista. Depois de alguns segundos, começo: - Minha família fica com o gato. – Coin não parece satisfeita.

Só o coloquei na lista por causa da Prim. Se fosse por mim, já teria o mandado para a cozinha. Pelo menos melhoraria a comida daqui. Quando ela ia falar alguma coisa continuo:

— Quando a guerra terminar, se vencermos, Peeta será perdoado. Nenhuma punição será infligida e o mesmo serve para os outros tributos capturados Johanna Mason, Enobaria Golding e Annie Cresta. - Francamente não dou a mínima para Enobaria , mas não poderia deixa-la fora disso.

— Não. - Diz Coin secamente.

— Veja bem- rebato-, eles não têm culpa de terem sido abandonados por vocês na arena.

— Terá um julgamento justo. O tribunal irá trata-las da maneira que achar adequado.

— Não! Eles irão receber imunidade e você – aponto para Coin- irá prometer isso publicamente na frente de todo o Distrito 13 e o restante do 12. Hoje. Ou vocês fazem isso ou terão que encontrar outro Tordo.

— É ela mesmo! Bem ali. Com a roupa, o canhão como plano de fundo e um pouquinho de fumaça! – Diz Plutarch- O que diz, presidente?

Depois de uns minutos, Coin finalmente responde:

— Tudo bem.

— Ótimo! Assim poderemos começar os pontoprops! Fulvia, por favor, peça para os encarregados que montem o estúdio. Tudo tem que estar pronto em menos de uma semana! – Fulvia, a mulher ruiva de bochechas magras, geralmente escondida nos cantos do cômodo, era a assistente pessoal de Plutarch.

Nem tinha percebido que estava ali, parece que brotou do chão.

Isso me fez lembrar de outra coisa. Se eu for o Tordo terei de ir para a guerra, mas como posso ir para a guerra assim? Tenho que contar isso agora.

— Tem mais uma coisa. – Plutarch, que conversava com Fulvia, dirigiu seu olhar para mim, juntamente com Coin.

Respiro um pouco. Sinto-me sufocada. Acho que vou ter um ataque por causa da ansiedade. Respiro fundo e continuo:

— Eu estou grávida.

Os três me olham chocados. Fulvia, que segurava um caderno preto, o deixa cair.

— Como? - Plutarch e Coin dizem em uníssono.

— Eu estou grávida- repito.

— De quanto tempo você está, menina? - Pergunta Coin

— Quase quatro meses. – respondo.

— O que iremos fazer? - Plutarch pergunta à Coin

Coin parece pensar um pouco. Depois de uns minutos já estava me sentindo mais desconfortável do que já estava.

— Bom, eu tenho um plano. Como ela é o nosso Tordo, a voz da Rebelião, ela sim irá para a guerra - tento argumentar, mas ela simplesmente continua-, mas só depois da criança nascer. Se for muito necessário ela ir para a guerra durante a gestação, terá de usar um uniforme especial, muito mais potente do o que já temos. Usaremos a criança como mais um símbolo contra a Capital.

O quê?! Meu filho como símbolo da Capital? O que menos quero é que a Capital saiba de sua existência e coloque suas mãos imundas nele.

— Não! - exclamo- Meu filho não será usado como símbolo algum! Isso permanecerá em sigilo.

— E como você, soldado Everdeen, vai manter isso em sigilo?!- Pergunta Coin

Ela tem razão. Não poderei esconder isso por muito tempo. Logo a barriga irá crescer. Mas tem como esconder isso pelo menos da Capital.

— A minha gravidez deverá permanecer em sigilo pelo menos da Capital.

— Tudo bem. Sua refeição terá mais nutrientes para a saúde da criança. Todo mês a senhorita terá de comparecer à Ala Hospitalar e fazer exames para garantir a sua saúde e a do bebê.

— Okay. – digo.

— E os pontoprops? – Pergunta Plutarch.

— Os pontoprops serão gravados normalmente. Podem preparar tudo. Quanto mais cedo melhor. -responde Coin- Reunião finalizada.

Coin se levanta e sai do Comando. Estou quase saindo quando Plutarch me chama:

— Katniss! Espere.

Me viro. Ele e Fulvia estão olhando para mim. Ela coloca na mesa o tal caderno preto encadernado em couro e o desliza em minha direção.

— Bom, Katniss, como você aceitou ser o Tordo, eu realmente estou satisfeito, sabe? No geral, você sabe o que estamos lhe pedindo. Estou ciente de que você não está muito feliz em participar isso. Espero que isso aqui te anime um pouco.

Por um instante, olho desconfiada. Então a curiosidade me vence. Abro a capa e encontro um desenho de mim, em pé e com ares de força, num uniforme preto. Somente uma pessoa poderia ter desenhado o traje. À primeira vista, totalmente utilitário, mas examinado calmamente, uma obra de arte. A linha do capacete, a curva do peitoral, o ligeiro enchimento nas mangas que permite que as dobras brancas sob os braços fiquem aparentes. Nas mãos dele, eu sou novamente um tordo.

— Cinna – sussurro

— Exato. Ele me fez prometer que não lhe mostraria esse livro até que você decidisse ser o Tordo por conta própria. Pode acreditar, fiquei bastante tentado – diz Plutarch – Vamos lá, folheie o caderno.

Viro as páginas lentamente, vendo cada detalhe do uniforme. As camadas cuidadosamente adaptadas da armadura, as armas escondidas nas botas e cinto, o reforço especial no meu coração. Na página final, em um esboço do meu broche com o tordo, Cinna escreveu "Eu continuo apostando em você."

— Quando é que ele... — Minha voz falha.

— Vamos ver. Bem, depois do anúncio do Massacre Quaternário. Poucas semanas antes dos Jogos talvez? Não são apenas os esboços. Temos o seu uniforme. Ah! – exclama- Beetee tem algo que é realmente especial esperando por você lá embaixo no arsenal. Eu não vou estragar dando dicas.

— Você vai ser a rebelde mais bem vestida da história! — diz Fulvia excitadamente.

Acho que Cinna sempre soube que eu iria tomar essa decisão.

— O nosso plano é lançar um Ataque de Transmissão — conta Plutarch. — Para fazer uma série do que chamamos de pontoprops, como disse antes, que é a abreviação de "pontos de propaganda" apresentando-lhe, e transmitindo-lhe para toda a população de Panem.

— Como? A Capital detém o controle exclusivo das transmissões — pergunto

— Mas temos Beetee. Há uns dez anos, ele basicamente redesenhou secretamente a rede que transmite toda a programação. Ele acha que há uma chance razoável de que pode ser feito. Naturalmente, vamos precisar de algo para transmitir. Assim, Katniss, o estúdio a espera com prazer — Plutarch se vira para sua assistente. — Fulvia?

— Plutarch e eu estivemos falando como nós poderíamos conseguir isso. Nós pensamos que poderia ser melhor para você construir nossa líder rebelde, a partir do exterior... para dentro. Ou seja, vamos fornecer o mais impressionante visual de Tordo que parecer possível, e depois trabalhamos a sua personalidade até merecê-lo! — diz ela animada.

— Mas vocês já não têm o meu uniforme? —

— Sim, mas você está cheia de cicatrizes e sangue? Você está brilhando com o fogo da rebelião? O quanto podemos deixa-la com o corpo cheio de fuligem sem que as pessoas se enojem? De qualquer forma, ela tem que ser alguma coisa. Quero dizer, obviamente que isso — Fulvia vem até mim rapidamente, emoldurando meu rosto com as mãos — não vai emoldurá-la.

Eu puxo minha cabeça de volta reflexivamente, mas ela já está ocupada reunindo suas coisas.

— Então, com isso em mente, temos uma outra surpresa para você. Vem, vem.

Fulvia nos dá um aceno, e eu os sigo para o corredor.

Eu envolvo meus braços firmemente em torno do caderno de rascunhos e me permito sentir esperançosa. Esta deve ser a decisão certa. Se Cinna queria.

Nós entramos num elevador e Plutarch verifica suas notas.

— Vamos ver. É o três-nove-zero-oito.

Ele aperta um botão marcado 39, mas nada acontece.

— É preciso ter a chave — afirma Fúlvia.

Plutarch puxa uma chave presa a uma corrente fina de debaixo de sua camisa e insere-a em uma fenda que eu não tinha notado antes. As portas deslizam fechadas.

— Ah, lá vamos nós.

O elevador desce dez, vinte, trinta e mais níveis, mais abaixo do que eu sequer sabia que o Distrito 13 ia. Ele abre com um amplo corredor branco forrado com portas vermelhas, que parecem quase decorativas em comparação com as cinzas nos andares superiores. Cada uma está claramente marcada com um número. 3901, 3902, 3903...

Quando saímos, olho para trás para ver o elevador perto e vejo deslizar uma grade metálica no lugar sobre as portas regulares. Quando viro, um guarda se materializou de uma das salas no final do corredor. A porta se fechou silenciosamente atrás dele quando ele anda em nossa direção.

Plutarch move-se para encontrá-lo, levantando a mão em saudação, e o resto de nós segue atrás dele. Algo me faz sentir muito mal por aqui. É mais do que o elevador reforçado, ou a claustrofobia de estar tão longe debaixo da terra, ou o cheiro cáustico do antisséptico.

— Bom dia, estávamos apenas procurando... — Plutarch começa.

— Está no andar errado — diz o guarda abruptamente.

— Sério? — Plutarch reverifica suas anotações. — Tenho três-nove-zero-oito escrito aqui. Gostaria de saber se você poderia simplesmente dar um telefonema até...

— Temo ter que pedir para se retirar agora. Atribuições discrepantes podem ser resolvidas na sede — diz o guarda.

É em minha frente. Compartimento 3908. A poucos passos de distância. A porta na verdade, todas as portas, parecem incompletas. Nenhuma maçaneta. Elas devem oscilar livremente nas dobradiças como o guarda apareceu no meio.

— Onde é isso agora? — pergunta Fulvia.

— Você vai encontrar a sede social no nível sete — diz o guarda, estendendo os braços para cercar-nos de volta ao elevador.

Por trás da porta 3908 vem um som. Apenas um pequeno gemido. Algo que um cão amedrontado pode fazer para evitar ser atingido, somente demasiado humano e familiar. Tento olhar por entre aquela porta até que consigo ver duas pessoas. Essa curiosidade está me matando.

O guarda, Plutarch e Fulvia parecem bem concentrados em uma discussão que não dou a mínima.

Essa é a minha chance. Corro em torno do grupo distraído, abro a porta marcada 3908, e encontro-os. Seminus, machucados e acorrentados à parede.

Minha equipe de preparação.

 


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