Às vezes tenho vontade de morder você. De mastigá-lo. De digeri-lo. O desejo de que esteja dentro de mim é tão forte que queria que entrasse em minha pele, que nos fundíssemos e nos destruíssemos. Quero arrancar-te sangue, suor, lágrimas. Quero que me maltrate. E faça verter todas as minhas gotas. Pois esse amor é tão grande que já o odeio e desejo que me odeie também. Que me faça te amar menos. Que me faça te amar não como ferida aberta, mas como cicatriz saudosa. Como os sãos. Mas talvez os sãos só tornaram-se sãos após a loucura. Tenho suspeitas. Tenho unhas e dentes. Tenho carícias suspensas no ar. Tenho ânsia de te tocar como brisa, depois como fúria. Tenho ânsias de ti.  Ânsia de vomitá-lo e vomitar-me. Tremores. Vertigens. Virgens, puras, alvas, ingênuas, são todas as minhas gotas, que escorrem, é toda a minha entrega, é toda eu. E seu amor é fogaréu que lambe minha carne, me sapeca, me inferniza. Cria que não fôssemos loucos, mas se não podemos amar como sãos parece não haver outra resposta. Quero rasgar meu peito e lançar fora o coração duplicado, órgão disfuncional que surgiu como câncer e embora seja eu não é meu. Quero mordê-lo, sussurro-lhe sofrida. A loucura presa na garganta, num peso. E o observo enquanto retribui meu olhar e adivinho entregue em seus braços a mesma loucura que a minha. Alívio. A mesma fome. Medo. Que Deus nos ampare quando cairmos aos pedaços.