Poison escrita por Brê Milk


Capítulo 4
Tree


Notas iniciais do capítulo

"Um coração partido é tudo o que restou
Eu ainda estou consertando todas as rachaduras
Perdi algumas peças quando
Eu o levei, o levei, levei para casa"

- Duncan Laurence ( Arcade )



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/794185/chapter/4

O restante da viagem foi feito em um silêncio sepulcral e irritante após o incidente no aeroporto. Alec gostaria de ter deixado de lado o ocorrido, mas sua intuição lhe dizia que havia algo por trás do breve descontrole da Pavlova e de sua explosão inesperada.

Algo que ela não queria compartilhar.

Por isso, ele havia passado a última uma hora e meia a avaliando pelo retrovisor do carro até estacionar no gramado da mansão de vidro que se erguia imponente na beira da estrada. Quando terminou de subir os vidros das janelas, o vampiro olhou diretamente para a ruiva, os lábios comprimidos em uma linha fina e desagradada.

 

— Se continuar a me observar desse jeito, eu arranco seus olhos — Foi a primeira coisa que a Pavlova disse durante o trajeto do aeroporto até ali e, de uma maneira muito estranha, o Volturi ficou aliviado.

 

— Não é hora para egocentrismo, mas posso abrir uma exceção se você for sincera — replicou Alec, estreitando os olhos quando a ruiva revirou os dela. — O que você não está me contando?

 

Katerina balançou a cabeça, as longas mechas da cor do fogo se agitando ao redor do rosto angelical, embora os olhos revelassem o tormento infernal que ela era.

 

— Séculos depois e você ainda é um imbecil que acha que sabe de tudo, não é, Alecsandro?

 

— Do mesmo modo que você ainda é uma víbora traiçoeira, Katerina.

 

Ambos rosnaram, consternados. A Pavlova havia virado o corpo de frente para o banco do motorista e o Volturi havia virado o tronco de modo a confronta-la e tal movimento os deixara mais próximos que nunca, a apenas um roçar de corpos de distância.

E, enquanto sentia a crescente irritação por aquela mulher diante de si, Alec cometeu o deslize de permitir que seus olhos vagueassem pelo rosto dela até se fixarem nos lábios pintados de vermelho. Vermelho como sangue. Vermelho como os fios sedosos dela. Vermelho como o fogo que costumava consumi-los entre quatro paredes.

E, maldito fosse, Alec Volturi se deu conta que gostava muito daquela cor.

 

— Seja lá o que você esteja escondendo e tramando, se arruinar o plano e colocar meu clã em risco, você não vai mais precisar se esconder dos filhos da lua. Eu mesmo a matarei, Pavlova — A voz de Alec soou tão fria e cortante quanto o inverno da cidade do lado de fora e ele espantou para longe qualquer sensação nostálgica que pudesse ter começado a sentir naqueles breves segundos. Em seguida, a faísca de ódio que viu cintilar nos olhos da vampira o fez retomar o controle de seus sentimentos: — Fui claro?

 

Durante alguns segundos, Katerina apenas o fitou. Endiabrada. Prestes a atacar. Porém, pareceu recuperar o controle repentinamente. Os cantos de seus olhos se estreitaram e um sorriso de escárnio brotou em seus lábios enquanto ela erguia o queixo e soprava contra a face do Volturi:

 

— Como água, marido.

 

E, com uma piscadela charmosa e irônica, a Pavlova o deu as costas e abriu a porta do carro, pulando para fora logo em seguida, desfilando em cima dos saltos altos até a fachada da mansão de vidro.

Alec grunhiu maldições enquanto desligava o carro, listando mentalmente todos os motivos para não matar a vampira e estragar toda a missão. Jane, foi o motivo principal. Sua irmã não merecia passar por aquilo que estava prestes a começar, ele jamais permitiria. Janett era tudo que tinha e, se alguém fosse se machucar no final, que fosse ele.

Algumas cicatrizes a mais não fariam diferença.

Faça por sua irmã, repetiu Alec diversas vezes enquanto respirava fundo e deixava o carro, caminhando para a mansão Cullen logo em seguida.
As solas de suas botas afundavam na neve conforme ele avançava pelo terreno, contornando os canteiros bregas de flores, e o vampiro se deteve ao lado da silhueta esguia da Pavlova que o esperava empertigada em frente a porta de entrada.
Pelo canto do olho, ele a viu mordiscando os lábios, da mesma forma que fazia quando se sentia apreensiva.

 

— Eles têm mais motivos para ficarem nervosos com você do que você com eles, Pavlova — comentou Alec, erguendo uma sobrancelha de forma irônica.

 

— Ah, vá para o inferno — murmurou Katerina, o olhando feio, colocando alguns fios de cabelo atrás da orelha. Seu olhar se manteve duro, porém a apreensão ainda estava lá: — Eu só não quero estragar tudo. Meu clã está contando comigo para salva-los. Nikolai está.

 

Alec rolou os olhos ao escutar o nome do vampiro idiota, mas ainda assim conteve um comentário maldoso. Durante alguns segundos, ele apenas ficou encarando a ruiva, ambos do lado de fora da mansão enquanto a neve caía pela cidade — muito parecida com a da primeira vez que se conheceram. Em outra época, em outro mundo, com outras almas.
Séculos depois e ali estavam os dois: em um cenário parecido com o daquela primeira vez, embora agora não fossem mais os mesmos; Katerina se tornara alguém ruim e Alec continuava péssimo. Eles já haviam visto aquele filme e sabiam que no fim, se destruiriam.

Ainda assim, estavam ali. Cada um com seus motivos. Cada um por suas pessoas. O Volturi não deixou de levar isso em consideração quando suspirou e dissipou tais tipos de pensamentos de sua mente e alcançou a mão fria da ruiva, a entrelaçando com a sua, o metal frio das alianças arranhando sua pele.

 

— Então não estrague — Comandou Alec, a voz indiferente. — e se for mais fácil para você, apenas finja sentir o que um dia você jurou que sentia.

 

Katerina separou os lábios delicados, entendendo a referência nas entrelinhas, prestes a rebater algo. Mas desistiu no meio do caminho, voltando a sela-los e apenas anuiu com a cabeça, empinando o queixo. Então, Alec soube que o plano havia começado e tocou a campainha.

Meio segundo depois e a porta estava sendo aberta por Carlisle Cullen, o dono da mansão e patriarca daquele clã de bobalhões poderosos. O par de olhos dourados fitou os dois vampiros, se detendo por mais tempo nas mãos entrelaçadas e não havia nada no rosto pálido de Carlisle que expressasse alguma reação surpresa ou de desagrado. O vampiro apenas sorriu cordialmente.

 

— Entrem, por favor.

 

Alec se moveu primeiro, puxando discretamente a Pavlova consigo, e deixou que Carlisle os guiasse para dentro da mansão. A porta bateu atrás dos três e enquanto caminhavam pelo extenso hall da entrada, o Volturi absorveu todos os pequenos detalhes durante o percurso; como os diversos retratos pendurados na parede que eternizavam os momentos que aquele clã tiveram juntos.

 

— É um clã muito numeroso — A voz de Katerina soou pelo corredor, sobrepondo o eco de seus saltos no chão, o sotaque russo se destacando em cada palavra.

 

Carlisle olhou por cima do ombro e esboçou um sorriso gentil diretamente para ela, sem parar de caminhar:

 

— É uma grande família — A corrigiu prontamente. — A mesa de jantar é maior que o normal, mas por sorte temos uma cozinha grande. Não que alguém faça alguma refeição por aqui, tirando Renesmee, mas tudo bem.

 

A Pavlova ergueu as sobrancelhas, crispando os lábios, mas assentiu e forçou um ínfimo sorriso condescendente no rosto. Alec lutou contra um também ao ver o surgimento do desconforto nos olhos da ruiva e preferiu apenas continuar seguindo o patriarca dos Cullen em silêncio.
O arco da entrada da sala de estar surgiu alguns metros em frente e logo já estavam passando por ele,  adentrando o enorme cômodo ocupado por diversas silhuetas imóveis. E então, espalhados pelos sofás e poltronas luxuosas, o clã Cullen observava os convidados com expressões tensas e defensivas.

Eram os mesmos rostos que Alec se lembrava desde da última vez que os vira há sete anos atrás, no confronto na clareira. Sentados no canto mais afastado do sofá, Alice e Jasper pareciam mais estranhos que nunca com suas feições destoantes de insana euforia e profundo tormento. Por outro lado, na poltrona mais próxima, o Cullen mais forte e mais agressivo que se chamava Emmett, parecia pronto para uma briga enquanto a loira de expressão azeda sentada em seu colo parecia prestes a expulsa-los dali. Esme Cullen, a bondosa esposa de Carlisle e matriarca daquele lugar, os saudava com um sorriso terno no rosto de traços suaves.

De longe, ela era a que o Volturi menos detestava.

E por fim, sentados lado a lado de mãos unidas, o leitor de mentes e a ex-humana e mais nova integrante do clã, os encaravam com raiva silenciosa lampejando nos olhos dourados. Edward e Isabella continuavam sendo o casal piegas que o Volturi se recordava. Não havia sinal do erro de cálculo que se denominava filha deles, a híbrida.

 

— Renesmee nunca foi um erro de cálculo — Trovejou Edward, quebrando o silêncio inquieto imposto no cômodo, rangendo os dentes. — Se quiser que sua estadia aqui funcione, é melhor tomar cuidado com a forma que pensa da minha família, Alec.

 

— Ao invés disso, eu sugiro que você fique fora da minha mente, Edward — Rebateu o vampiro louro-acastanhado, deixando um rosnado reverberar pelo cômodo: — É um desprazer revê-lo.

 

 

O leitor de mentes grunhiu, se colocando de pé em um instante. Alec fechou as mãos em punho, os olhos fixos no Cullen topetudo que rosnava para si. Detestava Edward Cullen desde sempre. Sua arrogância e tentativas de renúncia a própria natureza para ser o mocinho dos romances faziam dele um idiota completo, ainda mais quando tais características eram tudo o que o Volturi nunca conseguiria ser.

E, de repente, atmosfera da sala de estar da mansão ficou pesada, sombria. Era perceptível a apreensão do restante dos membros do clã Cullen enquanto observavam o embate de Alec e Edward, a forma como Isabella parecia dividida entre deixar o marido resolver a situação sozinho ou se intrometer e acabar com aquilo. E conforme os segundos corriam com os dois rosnando um para o outro, foi Katerina quem tomou uma atitude e se colocou diante do Volturi, o encarando com olhos afiados e impenetráveis.

 

— Já eu sugiro que os dois cavalheiros tomem vergonha na cara e não se comportem como animais diante de todos — Comandou ela, a voz límpida e melodiosa. Com um movimento gracioso, virou de frente para o leitor de mentes e exibiu um de seus sorrisos sedutores, encerrando definitivamente qualquer guerra que poderia vir a acontecer: — Perdoe-me pelo sermão, agora permita que eu me apresente. Sou Katerina Pavlova, e agradeceria se me ouvisse antes de tentar matar o meu marido. O temperamento de é um pouco difícil, mas estamos trabalhando nisso.

 

Edward piscou, a boca se abrindo ligeiramente enquanto observava a ruiva sorrir e bater os cílios como uma bela visão do paraíso — se almas condenadas tivessem a oportunidade de espiar tal lugar após morrerem.
Alec bufou, desacreditado com aquilo. Impaciente, ele observou Isabella finalmente tomar alguma atitude e se levantar para ficar ao lado do marido. Ela o beliscou no braço forte o suficiente para fazê-lo fechar a boca e emitir um chiado de dor que cessou posteriormente com o olhar que Isabella o direcionou.

Tosco.

Katerina limpou a garganta, deslizando as mãos para a cintura fina e ergueu o queixo da maneira imperiosa que ela sabia fazer bem.

 

— Alec e eu estamos cientes da desconfiança de vocês e os compreendemos. Se eu estivesse em seus lugares, também relutaria em acreditar e apoiar uma causa como a nossa, mas, ela é real. Os filhos da lua são reais e não há misericórdia neles. Então, vão querer acreditar quando eu os assegurar que eles não irão se contentar em dizimar apenas o meu clã como fizeram ou acabar com o clã Volturi. Vocês também serão caçados. Assim como os Denali, os nômades, os egípcios e todos os outros existentes. É apenas uma questão de tempo até acontecer — A voz da Pavlova ecoou pela sala de estar da mansão enquanto todos prestavam atenção nela e em seu discurso moldado, assim como seus pensamentos que eram como um campo minado aguardando o atrevimento de Edward: — É vocês quem decidem o que farão até lá.

 

— Ajudar uma mera sobrevivente do clã dizimado que se casou por alguma razão ainda desconhecida e inconcebível com o general do nosso clã inimigo, cujo está com um alvo nas costas bem maior do que o nosso? — Indagou Emmett, se excedendo na ironia.

 

— Todos somos alvos, independente de quem será o próximo — Foi Alec quem respondeu, encarando Emmett com desprezo. — E minha união com Katerina não é um assunto que está em pauta, além do fato de você não conhece-la para a julgar como uma mera sobrevivente ou qualquer outra coisa. Então cale a boca e se concentre no problema.

 

Emmett rosnou, sendo retribuído pelo Volturi.
A mão da Pavlova tocou brevemente o ombro de Alec e ele a olhou, reconhecendo o semblante de aviso da vampira, o que o fez se recompor rapidamente.

 

— Acho que falo por todos quando digo que esta reunião apenas dará certo se formos objetivos e sinceros — disse Carlisle, olhando para os outros integrantes da família. — O que vocês dois querem aqui?

 

Alec não precisou olhar para Katerina para saber que seria ela a responder aquela pergunta. Na arte da mentira, ele era bom. Contudo, ela era extraordinária. E eles tinham treinamento contra pessoas como Edward que gostavam de bisbilhotar em seus interiores.
No fim de tudo, a ruiva deu um passo em frente e esboçou sua melhor expressão de redenção

 

— Ajuda. Queremos que vocês nos abriguem enquanto tentamos descobrir mais sobre os filhos da lua e nos preparamos para revidar e acabar com todos eles. Se não quiserem fazer isso por nós, façam por si mesmos. Por sua família de desajustados. Pelas pessoas que amam. Seja lá qual for a razão necessária, nos ajudem e nós iremos retribuir o favor.

 

As palavras da Pavlova dançaram pelo cômodo, sonoras e firmes, cheias de fervor e algo beirando o desespero. E ali estava ela: de pé diante de todos aqueles vampiros esnobes, fazendo a atuação de sua existência. Porém, havia algo nela... Em sua postura, na intensidade de suas palavras, algo que fez o Volturi descobrir uma ínfima ponta de verdade em seu discurso; porque Katerina não estava apenas fingindo totalmente. Ela precisava de uma ajuda que ia além do que estava se permitindo revelar e Alec não fazia a menor ideia sobre o que seria.

E, enquanto fitava as costas dela, ele se perguntou o que poderia ser. O que estava acontecendo para deixa-la naquela posição. Entretanto, antes que pudesse remoer aquilo, a voz serena de Carlisle o tirou da linha perigosa de pensamentos:

 

— Edward?

 

Todas as cabeças viraram na direção do leitor de mentes, que mirava o casal de recém casados com os olhos estreitos.

 

— A russa parece estar falando a verdade  — respondeu Edward, um vinco surgindo na testa conforme seus olhos se desprendiam da Pavlova:  — O Volturi também, mas ainda assim não acredito nele.

 

Alec rosnou, ofendido. Katerina revirou os olhos.

 

— Jasper?  — Convocou Carlisle, dispensando as ofensas que os dois vampiros estavam prestes a trocar. — O que você acha?

 

Se ainda fosse humano, aquele seria o momento em que prenderia a respiração e perderia o fôlego enquanto Jasper Cullen alternava olhares entre ele e Katerina. Um milênio de existência havia mostrado ao Volturi que pensamentos poderiam ser disfarçados, mas sentimentos não. Ódio, principalmente. Latente e remanescente de uma relação infeliz. Assim como ele, a Pavlova deveria ter se tocado, pois Alec observou o momento em que ela empertigou as costas e passou as palmas das mãos pelo tecido do vestido, limpando uma sujeira invisível da mesma forma que fazia quando estava nervosa.

Então, Alec apenas se preparou para ter sua farsa revelada. Aquele casamento, aquela união, aquela aliança. Se preparou para ter seu plano arruinado e pela primeira vez falhar em uma missão. Porém, quando Jasper chegou a um parecer sobre a pergunta feita por Carlisle e separou os lábios, nada daquilo parecia que aconteceria:

 

— Acho que devemos ajudá-los e cobrar o favor algum dia. Dos dois.

 

Houve um momento de silêncio perplexo da parte da maioria dos Cullen até que o eco dos saltos de Katerina batendo contra o piso de madeira conforme ela retornava para o lado de Alec, ecoou pelo cômodo e despertou todos para o significado daquilo.

 

— Bem, então parece que temos um acordo — Proferiu Alec, mirando cada vampiro nos olhos dourados, esperando algum comentário desagradável do leitor de mentes ou uma tentativa de aperto de mãos de Carlisle.

 

Mas foi Alice quem se pronunciou:

 

— Sendo assim, precisamos mostrar um pouco de hospitalidade para os recém-casados e arrumar um lugar para vocês ficarem.

 

Deixando escapar um grunhido, Edward virou as costas e correu para fora da mansão, resmungando algo sobre direito de propriedade e invasão domiciliar, sendo seguido por uma Bella descontente.
O Volturi e a Pavlova não entenderam, mas não se importaram. A troca de olhar cúmplice e aliviado que ambos tiveram em seguida, foi mais importante. Um dia garantido ao menos, era o que aquele olhar significava.



 

 

***

 

 

 

Trinta minutos depois de mais conversa e acertos no acordo, eles foram levados até o lugar onde ficariam hospedados durante a estadia ali em Forks. O lugar era um chalé modesto e bonito não muito longe da mansão Cullen, o chalé de Edward e Bella. A casa deles, mais especificamente.

 

 

— Estamos agradecidos por nos deixarem ficar aqui — Disse Katerina assim que o tour pelos quatro cômodos apertados terminou. Ela falava diretamente com Isabella, que parecia tão desconfortável com a situação quanto alguém na fila da morte: — Não é mesmo, querido?

 

 

— Ah, certamente — Alec suspirou, olhando pelo canto dos olhos o balcão que dividia a cozinha da sala: — Melhor que um hotel cinco estrelas.

 

 

 

A Pavlova o olhou feio enquanto Isabella estreitava as pálpebras.

 

 

 

— Você nunca cansa de ser incoveniente, não é mesmo, Volturi? — Edward disparou ao surgir pelo arco de uma porta anexada ao fundo do corredor, a batendo atrás de si com mais força que o necessário.

 

 

 

— É o meu principal hobby nas horas vagas, Cullen — Alec encolheu os ombros, fazendo o outro rosnar.

 

 

— Chega! Saia da minha casa, agora.

 

 

O Volturi rolou os olhos, cruzando os braços enquanto fitava de maneira soberba o leitor de mentes.

 

 

— Edward. — Alertou Bella, indo até o marido e segurando suas mãos, o fazendo olha-la com as pupilas dilatadas de irritação. Porém, assim que os dois pares de olhos dourados se encontraram o traços do Cullen se suavizaram, como se o rosto da esposa fosse um calmante para toda sua cólera. E talvez fosse mesmo. Talvez fosse assim que funcionava entre um casal de verdade. Talvez isso fosse amor, se ele realmente existisse. Seja lá o que fosse aquilo que presenciou, prendeu a atenção de Alec mais do que deveria e gostaria de admitir. E, ao julgar pelo olhar intrigado que Edward o lançou segundos depois, o Volturi percebeu que deveria tomar mais cuidado com o rumo de seus pensamentos impertinentes: — Temos um acordo com eles, não podemos expulsa-los.  Por mais arrogantes e incoveniente que sejam, estamos do mesmo lado por enquanto. Aceitamos isso, lembra?

 

 

— A zhenshchina* está certa — murmurou a Pavlova, ao pé do ouvido do Volturi, que a lançou um olhar de poucos amigos.

 

 

 

Por fim, Edward apenas bufou e assentiu com a cabeça. Isabella sorriu amorosamente e plantou um rápido beijo na bochecha do marido, se voltando para os dois vampiros em frente.

 

 

 

— Ele não vai mais expulsar ninguém, então fiquem a vontade — Bella sorriu tensa. — Não tão a vontade, porque esta ainda é nossa casa e pretendemos te-la de volta em bom estado. E, por favor, se puderem se manter longe do quarto de Renesmee, ficaríamos gratos. As coisas da infância dela ainda estão lá e é muito importante para todos nós.



O vampiro louro-acastanhado abriu a boca para retrucar, porém a vampira russa foi mais rápida:

 

— Não iremos mexer em nada que não nos pertence, eu prometo.

 

Alec se limitou a balançar a cabeça em concordância. Então, Bella deu mais algumas instruções sobre a casa e no fim, arrastou Edward para fora —  não sem antes ele proferir mais algumas ameaças e farpas direcionadas ao Volturi.

Por fim, quando a porta da entrada do chalé bateu e Katerina e Alec se encontraram sozinhos, o silêncio se estabeleceu. Ambos ficaram imóveis lado a lado, observando a casa ao redor que iriam habitar por tempo indeterminado. Era, sem dúvidas, uma autêntica casa de família: porta retratados e quadros espalhados pelas paredes e aparadores ao longo dos cômodos, artigos de decorações pessoais aqui e ali, rabiscos nas paredes de uma criança no mínimo travessa. Havia uma vida vivida naquela cabana, algo muito íntimo e intimidador para os dois vampiros em pé no meio da sala naquele momento. Uma vida que eles poderiam ter tido, em uma outra época, em um outro mundo.

Alec piscou, sentindo tudo aquilo.

 

— O que iremos fazer agora?

 

A voz de Katerina estava mais distante do que o normal. O Volturi virou o rosto para encara-la e se deparou com uma frieza avassaladora. Bom. Ele sentia o mesmo.



— Desfazer as malas e começar a colocar o plano em ação. Estarei no quarto principal, caso precise de mim.

 

— Só há dois quartos. Um deles, é o da filha deles que prometi não bisbilhotar. 



— E desde quando você cumpre suas promessas, Pavlova? — Indagou Alec, arqueando uma sobrancelha.



— Estou começando a ficar farta de suas provocações — Grunhiu Katerina, erguendo o queixo e o olhando de cima: — É melhor parar antes que eu entenda isso como um convite para revidar, querido esposo.

Os dentes do Volturi rangeram.

Sei un diavolo, Pavlova.*


Um sorriso perverso despontou nos lábios da ruiva enquanto a mesma passava pelo vampiro italiano com a cabeça erguida e a mão erguida, a palma estendida em frente ao rosto dele, a aliança em seu dedo resplandecendo de forma irônica.



— Demônio ou anjo, estou com você, Alec Volturi. E não vai ser fácil se livrar de mim dessa vez, querido.


E assim, ela o deixou sozinho na sala de estar e caminhou para o quarto principal, enquanto o Volturi tentava não arrancar os próprios cabelos.
















 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Zhenshchina: Mulher.

Sei un diavolo, Pavlova: Você é uma diaba, Pavlova.


Espero que estejam gostando!






Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Poison" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.