Escola de Princesas escrita por Xiukitty


Capítulo 3
Um Trágico Primeiro Dia


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é mais descritivo, eu sei, mas juro que vai ser a única vez que isso vai acontecer. Prometo mais diálogos daqui pra frente!!
E também, estou testando os dias da semana para ver qual o melhor para postar, então semana que vem o próximo capítulo sairá na terça, e assim por diante.
Boa leitura!



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Acordei assustada e morrendo de fome, praticamente pulei da cama quando olhei para o relógio e vi que eram quatro da manhã. Fiquei andando de um lado para o outro, me sentindo culpada por ter cochilado demais, me perguntando se havia perdido algo de importante no jantar. Rapidamente minha preocupação virou outra: meu estômago que não parava de roncar.

Conferi nos papéis que Esmeralda havia me entregado que o café da manhã ia das cinco da manhã até as sete e meia, e decidi me arrumar para o meu primeiro dia de escola e tomar café o mais cedo o possível. Era até melhor, não estava muito a fim de ver ninguém, uma sala de café da manhã vazia seria perfeita.

Troquei de roupa com certa dificuldade em lembrar como que as vestes deveriam ficar, onde estavam os zíperes e como diabos eu dava um nó em uma gravada. Acabei me arrumando muito basicamente e decidi ignorar todas as dicas de maquiagem. Até pensei em seguir a rotina de skin care, mas eu não entendia nenhum dos rótulos, muito menos as instruções.

Quando eu terminei de arrumar minha mochila, já eram cinco da manhã. Abri a porta com cautela, com medo que Merida ou a outra colega de quarto que eu ainda não havia conhecido estivesse na sala, mas estava vazia. Atravessei o cômodo rapidamente e fechei a porta silenciosamente. O corredor estava muito mais frio que o meu quarto, provavelmente por que o sol só bate nessa parte do castelo durante a tarde. Apanhei meu mapa e comecei a seguí-lo até a refeitório feminino. Esbarrei com poucas pessoas no caminho, a maioria eram funcionárias que me cumprimentavam excessivamente ao me ver. Não sabia como responde-las, então apenas acenava sem jeito. Pela reação delas, aquilo não deveria ser certo.

O refeitório do café da manhã era enorme, dividido em mesas de vários tamanhos, mas optei por deixar minha mochila em uma mesa de casal e fui servir minha comida. Estava encantada com o lugar, o tanto que ele era grande e bonito, como tudo parecia tão organizado e polido, mas o encanto de verdade veio com a comida. Todas as opções possíveis estavam á minha frente, vi comidas que eu não sabia nem o nome e as coisas mais comuns como ovos e torradas pareciam os ovos e as torradas mais gostosos do reino. Servi um pouquinho de cada coisa que reconheci, e quando experimentei eu não estava muito errada: aquela comida só poderia ser a melhor reino mesmo. Os ovos eram macios, a torrada perfeitamente crocante por fora e fofinha por dentro, o suco de laranja era divino e cheio de sabor, o bacon tinha uma textura perfeita e não parecia ter um pingo de gordura extra.

Até eu terminar toda a minha comida, que eu estava mastigando o máximo possível, percebi que o refeitório estava enchendo, então terminei meu suco de laranja em dois goles, uma funcionária buscou meus pratos quase automaticamente e eu andei de cabeça baixa até a porta.

Para minha sorte a sala da assembleia não era muito longe dali e estava quase vazia.

Sentei no canto, mais para o fundo. As poltronas todas tinham uma pequena mesa na frente para anotações e estavam todas organizadas em um circulo, no meio ficava um microfone, onde assumi que a diretora falaria. As pessoas foram chegando e logo percebi que era uma assembleia geral, com os meninos e meninas, então fiquei um pouco mais aliviada, contando com as chances de que ninguém prestasse atenção em mim. Pensei em começar a carta que prometi que mandaria para Anna, mas o auditório ficou tão cheio tão rápido, que resolvi me aquietar.

O barulho lá dentro era alto, todos estavam conversando com seus respectivos amigos e comprimentando quem ainda não tinham visto. Havia apenas uma cadeira do meu lado, do outro ficava a parede, e a menina que sentou lá parecia não se importar comigo, estava muito focada conversando com alguém na fileira de trás.

Faltava meia hora para o início da assembleia quando Aurora e suas amigas entraram no auditório. Simplesmente não tinha como não vê-la, ela era maravilhosa, parecia uma modelo. Alta, magra, o cabelo perfeito e um sorriso hipnotizante. Ela cumprimentava muitas pessoas em seu caminho até onde sentaria, que para meu azar foi logo na minha frente. Meu rosto esquentou, me escondi atrás do meu mapa e tentei me acalmar. Se eu não conseguia ficar tranquila com Merida, imagina com a futura rainha!

—Eles vão falar sobre você, Aurora? –uma das amigas dela perguntou assim que as atenções se divergiram.

—Mas é claro. Até se eles não estivessem fazendo um reality show, eles teriam que falar de mim.

A fala de Aurora era tão carregada de ganância que eu até assustei. Sempre pensei que ela fosse uma menina inocente que teve a vida virada de cabeça para baixo depois de ter sido encontrada na floresta e que, por conta de seus anos de vida simples, era uma herdeira humilde e gentil. Mas ela soava tão... esnobe.

Poderia muito bem ser por que eu me sentia ameaçada, então resolvi não tirar conclusões precipitadas.

As luzes se apagaram e um flash branco surgiu no meio do auditório. A diretora do colégio, a Fada Madrinha, apareceu em um passe de mágica, deixando uma névoa brilhante arroxeada em volta de onde a explosão havia acontecido. Todos bateram palmas, algo que pareceu a agradar.

—Bem vindos, estudantes, a mais um ano na Escola Escola Real de Laestrygon –todos aplaudiram novamente. –É com muito prazer que eu guiarei mais um ano como diretora dessa escola tão prestigiosa, espero que tenhamos mais um ano de prosperidade e de conquistas acadêmicas.

“Como em todos os anos, gostaria de relembrar que, sendo parte da nobreza ou da realeza, as regras da escola se aplicam igualmente a todos vocês. Nós não nos importamos se o infrator ou infratora é uma futura assistente real ou princesa, as regras são aplicadas igualmente."

—Não falaram de herdeira a rainha. –Aurora sussurrou, fazendo suas amigas rirem baixinho.

“As regras mais importantes são: O toque de recolher de dias normais, que dura das dez da noite ás cinco da manhã.

A presença nas aulas, que só deve ser quebrado em situações de extrema urgência ou por conta de problemas de saúde. Pedimos para que sempre avisem com antecedência a partir de uma carta, devidamente assinada, que deve ser entregue ao professor a partir de uma criada.

Alunos não podem acessar as partes do castelo da escola para garotas e alunas não podem acessar partes do castelo para a escola para garotos. Infrações dessa natureza quase sempre levam á expulsão.

Essas são as regras mais importantes, que devem ter sido decoradas antes mesmo de vocês chegarem á escola. Em relação á atrasos, brigas e outros comportamentos deploráveis creio que vocês já tenham a maturidade de não aderí-los."

Não esperei que a Fada Madrinha fosse tão séria. Ela é o ser mágico mais famoso do nosso reino e tem fama de ser uma fofa. Aparentemente com os seus estudantes ela é incrivelmente severa.

"Também gostaria de avisar para todos, mas principalmente aos alunos do primeiro ano, que a colega de vocês Aurora Laestrygon estará filmando seu próprio reality show, demonstrando partes da vida dentro da escola de uma herdeira da coroa real. Tentem ignorar as câmeras e estejam avisados de que talvez apareçam no fundo de um dos programas mais antecipados da última década."

Então era disso que elas estavam falando. Eu não era particularmente contra a presença das câmeras, podia até imaginar a reação de Anna ao me ver no fundo. Só de pensar nela pulando de alegria e falando para todos os colegas que eu apareci no reality eu ficava toda quentinha por dentro.

"E por fim, gostaria de relembrá-los que o baile de inauguração do ano letivo será nesse sábado, portanto podem começar a convidar os seus pares, mesmo que não seja obrigatório ter um para atender á festa."

Um murmuro coletivo ocupou o cômodo. Baile? Já? Na primeira semana?? Eu sabia que os eventos não demorariam para acontecer, mas isso parecia cedo demais!

—Os avisos aos alunos do primeiro ano se encerram por aqui, pedirei que os garotos sigam o Professor North até sua aula. –um homem alto e musculoso, com uma barba enorme levantou-se de sua poltrona. Percebi que em volta dele estavam vários adultos que deveriam ser os professores. –E as garotas podem seguir a Professora Poppins.

Levantei-me com as pernas tremendo, e andei atrás da professora com dificuldade por conta do salto. A massa de meninas á minha volta era grande, e torci para que nenhuma delas me reconhecessem como a sorteada. Entramos na sala e nos sentamos em nossas carteiras.

—Peguem os seus livros de boas maneiras, alunas. Gostaria de começar a aula com a parte teórica para podermos começar com os exercícios práticos o mais cedo o possível.

A professora parecia ser super-gentil, mas essa era a aula que eu mais tinha medo. Era uma das únicas matérias que eu nunca havia estudado, e era a que deveria ser a mais difícil para mim, a menina que nunca se preocupou com nada daquilo e agora teria que incorporar perfeitamente para o resto de sua vida.

A Profa. Poppins pulou várias matérias que eu não sabia por conta de todas as outras garotas já saberem coisas como a função de cada talher, ou como fazer reverências de cor e salteado e foi direto para a parte mais avançada. Fiquei muito perdida a aula inteira, em um certo ponto ela estava falando de cortes de saias e depois de angulação da coluna ao cumprimentar alguém... quando o sinal tocou eu fiquei muito aliviada.

—Ás alunas que já não dominam alguns aspectos básicos, podem estudar a partir do livro, ele tem tudo bem detalhadamente. –a Professora avisou enquanto reuníamos nossos materiais.

Fui anotando o que ela disse na minha mão e, por que não estava olhando para frente, acabei esbarrando com uma das minhas colegas na saída.

—Desculpe! Desculpe! –eu pedi, um pouco desesperada por não saber qual reverência usar. Ela não pareceu se importar, apenas sorriu, mas quando estava prestes a falar algo, foi interrompida.

—Então você é a sorteada.

Gelei quando me virei. Aurora estava falando comigo, e todo o corredor estava olhando para nós duas.

—Sim... –sussurrei.

—"Sim, alteza", você quis dizer não é?

—“Sim... alteza..." –eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo. Não conseguia levantar a minha cabeça para ver a reação das outras pessoas. Acho que se olhasse alguém nos olhos cairia em prantos.

—Pelo amor de Deus, Aurora, ela não precisa falar assim. –ouvi alguém me defender. Dei uma olhadinha e vi que era uma garota alta, de pele escura e cabelos longos, lisos e pretos.

—Claro que precisa! Ela mais do que todas vocês! É só mais uma sorteada que vai bombar ou esse ano ou ano que vem. Pelo visto nem sabe o básico do básico, por que toda cidadã deve saber como se dirigir á uma futura rainha. E eu também diria que qualquer ser humano com senso sabe olhar pra onde anda.

Com isso, Aurora saiu andando com ou seu grupinho atrás dela. As outras garotas do meu ano que ainda estava no corredor e assistiram tudo aquilo não disseram mais nada, olharam para mim uma última vez e foram em direção á nossa próxima aula.

Eu queria me enterrar em um buraco e chorar até o final do dia, mas sabia que isso provavelmente não era motivo válido para chegar atrasada, muito menos para faltar uma aula. Então, respirei fundo e segui em frente.

As aulas seguintes não foram nem um pouco melhores, eu estava mais desamparada do que imaginei que estaria em todas as matérias e o que tinha acontecido no corredor havia me deixado tão ansiosa que mal consegui me concentrar.

Eu ainda estava com tanto medo de ser vista depois daquilo que, no horário do almoço, peguei duas maças no refeitório e fui comer no banheiro. Estava bem vazio, então pude chorar um pouquinho. Tentei não fazer muito barulho, já que as paredes de mármore faziam um grande eco ali dentro, mesmo que eu estivesse trancada na cabine mais do canto.

As aulas da tarde foram muito parecidas, completamente desesperadoras e incapazes de manter a minha atenção.

No final do dia, voltei para o meu dormitório, vazio. As minhas colegas de quarto já deveriam estar no refeitório jantando. Não era o ideal, mas eu escolhi pular o jantar mais uma vez. Entrei no meu quarto e foi aí que a realidade bateu.

Eu tinha sido humilhada na frente de todas as minhas colegas pela adolescente mais popular e poderosa do mundo, eu claramente não tinha conhecimento prévio suficiente para acompanhar as aulas e para piorar ainda não consegui prestar atenção em nenhuma delas.

Definitivamente, eu não ia para o jantar. Ia ficar no único lugar que me permitia chorar sem ser julgada.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, comentem!!



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