Já haviam se passado quase seis meses desde que Arisu e Haruka se conheceram.

Arisu estava se acostumando com aquela rotina. De manhã escola, almoço com Haruka, mais aulas, o clube de jardinagem, depois voltava para casa, e começava tudo de novo no dia seguinte.

De certa forma se sentia feliz. Afinal, nunca havia tido um amigo. O pessoal do clube era muito gentil e o tratava bem, mas eram apenas colegas. Haruka ouvia tudo o que ele tinha a dizer com atenção, e mesmo que às vezes fizesse piadas e brincadeirinhas, Arisu gostava da atenção que recebia do mais velho. Era reconfortante.

Mesmo assim, Arisu não podia negar. Andar com Haruka atraia problemas.

― Arisu, as férias já estão chegando. ― Falou Haruka esperando ele arrumar os livros na mochila.

― Aham. Finalmente vou ter um tempo pra descansar. ― Arisu conversava com ele indiferente às meninas que cochichavam no canto da sala. Ele sabia que elas enrolavam para ir embora todo dia só para ver Haruka. No começo se incomodara com pouco com isso, mas agora já estava acostumado.

― Tem planos?

― Não, nada. Meus pais vão trabalhar, então nem adianta pensar em viagem.

― Então não quer ir à praia comigo?

Arisu sentiu olhares fulminantes das meninas perfurarem as suas costas. Com certeza elas o atirariam pela janela sem pensar duas vezes se isso fizesse Haruka as convidar para ir à praia.

― Praia? ― Perguntou curioso, contendo um calafrio vindo dos olhares. Adorava praia.

― Sim. Meus pais sempre alugam uma casa na praia, toda a minha família vai.

― Parece bom... Pensando bem, eu não conheço sua família.

Haruka sorriu, enquanto os dois saiam da sala, e o mais novo suspirou aliviado ao escapar das meninas obcecadas.

― Somos cinco. Eu, meus pais, uma irmã e um irmão mais velho.

― Que família grande...

― É... Mas meu irmão não mora mais em casa. Ele tem um apartamento e mora com a namorada. Ah, a namorada dele vai à praia conosco também. Então, quer ir?

― Hum... Primeiro tenho que falar com meus pais. Depois eu te dou a resposta.

Praia... Praia... Arisu amava praia... O mar é tão lindo, e tem plantas tão incríveis nas praias! Mas estava um pouco apreensivo... Praia com Haruka? O que aquele pervertido poderia fazer? Nem queria imaginar...

Mas... A família toda dele ia mesmo, não é? Então, provavelmente não teria problema.

Não foi difícil conseguir a permissão de sua mãe. Ela adorava Haruka. Sempre que o sempai ia ajudar Arisu com a matéria, a mãe ficava o bajulando e agradecendo. Aquele Haruka maldito parecia ser o garoto mais bem educado e simpático do mundo na frente da família do mais novo.

De qualquer forma, tudo foi combinado, e Arisu se aprontou para a viagem.

Chegou de manhã cedo na casa de Haruka no dia combinado. Sairiam da casa dele e iriam direto para a praia. Ele estava bem curioso para conhecer a família do sempai...

Uma menina abriu a porta, e Arisu quase caiu para trás. Meu Deus, uma modelo?!

― Oi, você deve ser o amigo do Haruka, né? ― Falou a moça com uma voz doce.

Arisu a olhava de cima a baixo. Medidas perfeitas, altas, cabelo loiro longo e liso e olhos azuis cristalinos. Estava usando uma saia bem curta, típica daquelas usadas para entrar no mar.

― Er... Sim... Me chamo Miyasaki Arisu. Prazer em conhecê-la. ― Falou ele corado.

― Que gracinha! Pode entrar, vou chamar meu irmão!

Ela o puxou pelo braço exatamente como Haruka fazia.

― Haruka! ― Gritou ela subindo as escadas e deixando Arisu no hall. ― Seu colega chegou!

Arisu ouviu um barulho vindo do andar de cima, e Haruka apareceu disparando para baixo.

― O que você fez com ele?! ― Perguntou o sempai encarando a irmã.

― Nada, só o trouxe para dentro.

― Que barulheira é essa?

Uma mulher saiu da cozinha, usando um avental. Era uma típica japonesa, estatura média, olhos puxados bem pretos e cabelo curto da mesma cor.

― Ah, mãe, esse é Arisu, de quem eu te falei. ― Disse Haruka mostrando o menor.

Essa era a mãe dele?!

― Prazer em conhecê-lo, Arisu-kun. ― Disse ela sorridente e simpática.

Uma japonesa tradicional. Como Haruka e a irmã haviam nascido daquele jeito?!

― O prazer é meu. ― Arisu retribuiu o o cumprimento.

― Ah, que menino educado! Fique à vontade, nós já vamos sair.

― Vamos pro meu quarto. ― Falou Haruka puxando o outro, antes que ele pudesse responder a mãe do amigo.

― Ei, Haruka! O que pensa que vai fazer com o garoto, heim? ― A irmã dele segurou o outro braço de Arisu. ― Pensa que eu não te conheço? Está querendo corromper um menino jovem e bem educado!

― Não enche.

Haruka tirou a mão da irmã do braço do amigo e o arrastou escada acima. Entraram no quarto e ele bateu a porta.

― Que saco... Aquela Emiko... Droga, não acabei de arrumar minha mala ainda...

― Er... Sempai?

― Hum?

Ele parou de falar sozinho para observar Arisu todo envergonhado. Ah, Emiko, sua irmã, tinha falado coisas muito impróprias. Claro que ele estava com vergonha. Se bem que Haruka achava tão bonitinho quando ele fazia aquela cara...

― Não liga para o que minha nee-san disse, ta? ― Falou bagunçando o cabelo dele.

Arisu ainda estava desconfiado. Sabia muito bem que Haruka era um pervertido, e não se sentia confortável sozinho num quarto com ele. Mas sua mãe estava logo no andar de baixo, então imaginou que ele não tentaria alguma coisa.

― Espera só um pouquinho, tenho que terminar colocar umas coisas na mala. ― Ele apontou para a cama ― Por que não se senta?

― Certo. ― Arisu se acomodou na cama macia. ― Sua irmã é realmente bonita... Parece até uma modelo.

O mais velho largou a camisa que estava dobrando e encarou Arisu, serio.

― Nem pense nisso. ― Franziu a sobrancelha.

― Isso o quê? ― Arisu não tinha entendido a repentina mudança de humor.

― Não chegue perto da minha irmã. Ela é o demônio em forma de mulher.

― Mas ela foi tão simpática...

Haruka puxou seu queixo e chegou bem perto, quase fazendo seus lábios se tocarem.

― Ela é dez vezes pior do que eu, entendeu?

― A-aham...

― Bom.

Ele voltou a se afastar e prestar atenção na mala jogada no chão do quarto. Arisu não pode conter um suspiro de alívio. Já estava achando que o sempai realmente o agarraria.

Um silêncio desconfortável pairou sobre os dois.

― Haruka, seu moleque pervertido! ― A voz feminina da irmã ecoou vindo de fora do quarto. ― Nii-san chegou!

O mais novo da família Hashimoto franziu a testa novamente ao ouvir a voz da irmã. Atirou uma escova de dente na mala e a fechou rapidamente, erguendo-a com apenas uma mão sem esforço.

― Vamos Arisu-chan. ― Falou com um sorriso provocante no rosto.

― Ei...

E lá ia novamente Arisu sendo arrastado pelo braço por um garoto cinco vezes mais forte que ele.

Como seria o irmão mais velho do sempai...? Arisu se deixou levar pelo amigo, imaginando como era o outro integrante da família. Chegando ao primeiro andar sua pergunta foi respondida.

Lá estava um homem ainda maior e mais forte que Haruka, cabelo preto liso e penteado com classe para o lado esquerdo, mostrando os grandes olhos azuis iguais aos da irmã, porém ainda mais contrastantes por causa dos fios negros. Uma jovem muito bonita de cabelo castanho estava ao lado dele, segurando sua mão.

― Haruka! ― Exclamou o homem fazendo um cumprimento. ― Bom te ver!

― Oi Nii-san. Arisu, esse é meu irmão mais velho, Isamu. E aquela é a namorada dele.

― Muito prazer. ― Isamu apertou a pequena mão de Arisu. ― É amigo do Haruka?

― Sim! ― Arisu estava zonzo com tantas pessoas bonitas o cercando. ― Sou Miyasaki Arisu. É um grande prazer conhecê-lo.

― Não precisa ser tão formal. ― Isamu riu e bagunçou o cabelo de Arisu exatamente como Haruka fazia.

― Agora que estamos todos aqui... PRAIA! ― Emiko gritou e foi os empurrando para fora. ― Vamos logo! Quero chegar o quanto antes pra pegar um bronzeado logo!

― Emiko, pára de gritar... Tá me dando dor de cabeça... ― Haruka esfregou a testa.

 Realmente, Emiko era muito barulhenta.

― Haru-chan, pegou o protetor solar? ― A mãe o questionou.

― Haru-chan...? Pfff.

Arisu segurou o riso fazendo uma cara perversa para Haruka.

― Peguei sim. ― Haruka fechou a cara. ― Vamos, antes que a Emiko tenha um ataque cardíaco por ansiedade.

― Haruka-sempai, e seu pai?

Arisu agora queria ver o pai dele. Devia ser loiro, para ter os filhos assim. Será que era estrangeiro?

― Ah, ele está trabalhando. Vai chegar mais tarde na praia.

― Entendo...

― Então, pronto? ― O sorriso pervertido estava de volta. ― Essa viagem será bem divertida.

Arisu estava com um mau pressentimento.