Cecília escrita por Vanda da Cunha


Capítulo 23
Desilusões, devaneios, amor




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Algumas horas depois, Genaro ajudava o filho a ir para casa, em seus rostos, a expressão de tristeza e desgosto. Ambos seguiam emudecidos, pois sabiam que naquele momento, as palavras eram inúteis. Ao chegarem frente a porta, Eulália os esperava, aparentemente nervosa, ela desceu o degrau e foi até o filho, abraçando-o. A voz saiu angustiada, suplicante.

 

— Robério, em nome de Deus, não faça mais isso. Eu imploro, filho.

 

Apesar de bêbado, ele a olhou fixamente, e com voz embargada, falou.

 

— A senhora sabe o motivo, mãe. A senhora sabe.

 

A dolorosa acusação afastou-a, Eulália soltou-se do filho, e pôs a mão sobre o peito. As palavras duras tocaram-na profundamente. Com os olhos marejados, ela olhou para o marido, que a consolou com um riso amigável.

 

— Genaro, amanhã você conversa com ele. Dê-lhe alguns conselhos, quem sabe ele escuta. — Pediu antes de ir se trancar no quarto e rezar o terço.

 

Infelizmente não houve conselho que fizesse Robério parar de beber, as idas ao bar, tornaram-se constantes, mesmo que momentaneamente, a bebida era o remédio para curar a tristeza que o consumia. Robério passava os dias e noites no bar do seu Antônio, o dono do boteco entristecia ao vê-lo entregue ao sofrimento, muitos diziam que ele acabaria doido como o velho Gil. Para Genaro, tornou-se rotina, buscar o filho embriagado. Impotente, Eulália via a degradação do seu único rebento. Diante dessa situação degradante, Joana tornou-se extremamente compreensiva, ajudava a colocá-lo na cama, despia-o, e depois que fechava a porta, iniciava o ritual do prazer solitário. Ali, sozinha com o marido, ela deixava os pudores de lado e permitia-se. Tirava a camisola e completamente nua deitava-se ao lado dele. Com a pele queimando de desejo, tocava-se vigorosamente, sentindo o delicioso latejar do prazer chegando. Já excitada, virava-se para o marido, que permanecia imóvel.

 

— Amo você meu amor, amo, amo, amo... — Dizia deslizando os lábios sobre o peito e descendo até barriga.

 

Robério resmungava algo incompreensivo e mal conseguia abrir os olhos. Ela continuava a acariciá-lo. As mãos corriam pelas coxas firmes e muito ariscas seguravam o membro flácido e inerte. Ante a impotência masculina, ela não se abatia, seguia o beijando e provando o gosto ocre do álcool. Por fim, segurava a mão lânguida e levava até a sua vagina. Ao toque dos dedos mornos em seu clitóris, estremecia involuntariamente.

 

— Oh! Meu amor! Diga que sou a única mulher que você ama! Diga! — Ela implorava.

 

— Ham. — Grunhia o marido completamente embriagado.

 

— Você é meu Robério! É meu! — Dizia usando o dedo médio do marido para se masturbar. Depois que gozava, beijava-o e o agradecia.

 

Uma noite em que Robério estava pronto para sair, Genaro entendeu que aquela situação não podia perdurar, era hora de ter uma conversa séria com o filho e tentar salvá-lo da loucura. O rapaz seguiu o pai até o pé de mangueira, que ficava próximo ao paiol de mantimentos; lá chegando, sentaram-se em um banco feito com restos de madeira. Fez-se um silêncio necessário, então Genaro falou.

 

— Hoje você não vai sair de casa, não sem antes me ouvir. — Ele fez uma pausa e o olhou fixamente. — Se você me respeita como pai, vai me ouvir. — Robério ficou calado e nada respondeu. Então Genaro continuou. — Eu sei que você está sofrendo, filho, mas pense no meu neto! Essa criança merece ter um pai responsável.

 

Após as palavras do pai, fez-se outro silêncio prolongado. Robério sentiu um nó na garganta, e engoliu em seco para não chorar.

 

— Pai, por que a vida tem que ser tão cruel? Por que eu não posso viver meus sonhos?

 

— Eu não posso te responder essa pergunta, filho. Eu sei porque você está sofrendo, e entendo seu sofrimento. — O pai mencionou um riso. — O que eu quero, é que você perceba que está se destruindo, e levanto a gente junto. Sua mãe não suporta mais!

 

— Ajude-me, pai, pois sozinho eu não consigo. — Desabafou num lamento inconsolável.

 

Os dois homens se abraçaram longamente, não houve necessidade de estender a conversa, O carinho e a compreensão do pai, fez Robério entender que realmente precisava voltar a vida. Seu filho ia nascer e ele tinha que dar um bom exemplo. Decidiu que pararia de beber, faria isso pela criança, que Joana carregava na barriga.

 

Entrementes, entre Leandro e Cecília surgiu uma forte amizade, ambos tinham as mesmas ideias, os mesmos propósitos, em quase tudo se completavam. Riam juntos, e falavam do progresso da fazenda, do trabalho que desenvolviam...

 

— Esse rapaz está gostando de você, Cecília. Dá pra ver pelo olhar. —Comentou Rosália certo dia enquanto enchia as marmitas de comida.

 

— Eu também gosto dele, Rosália. É um homem bastante responsável.

 

— E o pai dele tem um mercado.

 

— Rosália, não crie expectativas. — Falou a moça arrumando o chapéu na cabeça.

 

— Está na hora de seguir em frente, Cecília.

 

— Eu estou seguindo em frente, só preciso de um pouco mais de tempo.

 

— O golpe foi duro, né?

 

— Sim, Rosália, mas já me sinto mais forte.

 

A empregada riu, estava feliz em ouvir a patroa falar com tanta firmeza, amava-a, como se ama uma filha.

 

Numa tarde, em que Cecília e Leandro voltavam do trabalho, ela usava uma camisa azul-marinho de mangas longas, a calça jeans desbotada, realçava as pernas bem torneadas. Os cabelos desalinhados caiam sobre sua fronte, e gotículas de suor molhavam sua testa. Leandro a viu em toda sua essência, pura e natural. Propositalmente, ele desacelerou os passos, obrigando-a a fazer o mesmo. Os outros trabalhadores já estavam distante, e não podiam ouvi-los. Então, ele a fez parar, e a olhou fixamente.

 

— O que foi? — Ela perguntou.

 

— Eu acho que você já sabe o que eu vou falar.

 

— Leandro... Eu não sei se estou preparada para ouvir — Disse quase em um murmúrio.

 

— Eu gosto muito de você, Cecília. Muito mesmo.

 

A confissão a fez baixar a cabeça e afastar-se dele. O rapaz percebeu o quanto ela estava insegura.

 

— Do que você tem medo? — Ele perguntou segurando-a pelo queixo. Ela se afastou antes de responder.

 

— Uma vez... Eu... Eu me apaixonei. Leandro, e sofri muito quando fui abandonada. E não quero sofrer novamente.

 

Ele se aproximou e segurou-lhe as mãos, prometendo.

 

— Eu nunca vou abandonar você. Nunca.

 

— Os homens mentem, Leandro, e você é um homem. — Ela retrucou.

 

— Eu prometo, que serei verdadeiro, jamais mentirei para você. Eu juro.

 

— Dê-me um tempo para pensar. — Pediu-lhe.

 

— Darei o tempo que você precisar. Não quero forçá-la a nada.

 

— Obrigada, Leandro. Agora vamos para casa, o jantar já deve estar quase pronto.

 

— Você é a mulher mais linda e corajosa que eu já conheci. — Ele a elogiou antes de seguirem para casa. Ela riu, e o acariciou no rosto, o toque aveludado, o fez suspirar. Estava feliz por finalmente falar para ela sobre o que sentia.

 

Leandro foi paciente, agradava-lhe a ideia de esperar, era como se fosse uma dança, os passos tinham que ser ensaiados, os movimentos sincronizado para que não houvesse nenhum erro. No dia em que ela disse sim, ele colheu uma flor e lhe entregou.

 

— Eu posso beijar você? — Pediu com voz doce.

 

— Sim, você pode me beijar.

 

Os lábios dele tocaram os dela levemente. Inicialmente ela relutou, depois deixou que a beijasse, que explorasse sua boca. Estava com saudades do toque masculino, ela queria sentir-se mulher. Sem medo, permitiu que a língua morna entrasse em sua boca, permitiu que ele a tocasse, a acariciasse.

 

— Eu vou cuidar de você, Cecília. Prometo que nunca a farei sofrer. — Ele prometeu após o beijo.

 

Dias depois, o namoro ficou mais sério, e não demorou muito, eles já dormiam na mesma cama.

 

Nesse ínterim, Robério não suportando mais a saudade, passou a esconder-se por entre as moitas para observar Cecília, passava horas agachado em meio ao mato, olhando-a. À tarde quando ela ia tomar banho, ele deliciava-se vendo-a seminua. Lembrava-se de quando a tinha em seus braços e sorvia seus deliciosos lábios carnudos. Por vezes, se masturbava pensando nela.

 

 

 

 

 

Paiol = Lugar (cômodo) fora da casa onde são guardados os mantimentos da colheita e ferramentas usadas na agricultura.

 

No paiol guarda-se: Milho, arroaz, feijão, enxada, foice, etc.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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