Cecília escrita por Vanda da Cunha


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo


Estou escrevendo esta história com muito amor e carinho, pois não é somente uma história, e sim um pouco de Rondônia, um lugar lindo e muito rico em todos os aspectos.
Curtam e compartilhem.
Beijos de luz para todos.



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Anoitecia, e uma neblina fina e fria caía sobre Campinas. Apressada, a jovem senhora caminhava pela lateral da rua. Envolta a um pesado casaco cinza, tremulava de frio. As mãos cobertas por um par de luvas brancas, vez em quando iam até a boca, o vapor morno que saía dos lábios finos, dissolvia-se a atmosfera gelada. Sem se dar conta do sublime efeito produzido pela fusão dos dois elementos, ela seguiu apressada. Minutos depois, parou frente à casa 344, tirou a chave da bolsa e abriu o portão. Sentiu-se mais tranquila, pois chegara a tempo de preparar o jantar. A esta hora o marido já devia estar impaciente. Sem nenhum deslumbramento, seguiu pela calçada chegando até a porta que foi aberta com certa impaciência.

Ao entrar no pequeno hall, fez o ritual diário, tirou o cachecol e o dependurou no cabideiro próximo a um balcão estilo Luiz XV e jogou as luvas as sobre o móvel de madeira. Silenciosamente ela caminhou até a sala, e viu a filha deitada sobre o sofá, estranhou vê-la tão comodamente deitada e lendo um livro, a essa hora ela deveria estar na faculdade, e não em casa. Contemplou o fruto do seu ventre por alguns segundos, para então tocar-lhe os cabelos alourados.

— Mãe! — Disse a jovem virando-se para olhá-la. — não ouvi o barulho da porta abrindo.

— Você estava tão entretida na leitura...

— Já li esse livro quatro vezes, precisamos renovar a biblioteca. — Disse sentando-se sobre o sofá.

— Você vai ser uma advogada, devia ler a constituição e livros relacionados a leis, não esses romances. ― Criticou a mãe.

― É só pra passar o tempo.

― Você devia ser escritora, ou jornalista. Acho que sua fruição seria melhor aproveitada.

A moça riu, levantou-se do sofá, colocou o livro sobre a mesinha de centro e muito convincente respondeu.

— Escrever romances não seria uma má ideia, mas ser escritor não traz um retorno satisfatório. Poucos autores conseguem reconhecimento, já advocacia... Bom tem sempre alguém precisando ser defendido.

— Tudo bem futura advogada. Que tal me ajudar a fazer a janta.

— Vamos ter sopa novamente? A filha perguntou num meio riso.

— Sim, vamos ter sopa novamente. ― As dua riram juntas, e abraçadas foram para a cozinha.

— Eu imaginei que você estivesse na faculdade… ― Divagou a mãe enquanto seguiam rumo a cozinha.

— O papai se sentiu mal, achei melhor ficar com ele.

— Eu sei o quanto você gosta do seu pai, filha, mas um médico resolveria o problema.

— A senhora sabe que o papai odeia médicos, seria uma tortura obrigá-lo a procurar um. Ele tem suportado bem! ― Suspirou a jovem adentrando a cozinha.

Uma ruga de inconformismo surgiu na testa da mãe.

— Eu odeio tanta coisa, e sou obrigada a enfrentá-las! Por que seu pai tem que ser polpado de tudo?

Nesse momento a filha maneou a cabeça. Já estava entediada de ouvir sempre as mesmas reclamações feitas pela mãe. Num gesto de clemencia levantou as duas mãos e cruzou-as sobre o peito.

— Por favor mãe! Tenha paciência, ele já está sofrendo com a doença, creio que já pagou todos os pecados. Tenha um pouco de compaixão.

A mãe riu forçado, maneou a cabeça e foi até a pia, ligou a torneira e deixou a água cair por alguns minutos. Só depois pegou o vidro de detergente e espremeu uma boa quantidade do líquido sobre a mão. A filha a observava, o modo como a mãe esfregava as mãos uma na outra retratava muito bem, o grau de angústia e sofrimento que a mãe trazia dentro de si. E a jovem sabia disso, sabia o quanto a mãe sofria.

— Seu irmão chegou? ― A mãe perguntou sem muita expectativa.

— Ele veio almoçar, mas pouco demorou, comeu, e saiu novamente!

— Seu irmão me preocupa; ele se meteu na jogatina e esqueceu do trabalho! Não sei o que eu faço! ― Disse a mãe abrindo a geladeira e escolhendo alguns legumes.

— O Jorge é adulto, mãe! A senhora não tem que resolver os problemas dele.

— Eu não sei onde errei com esse menino… ― Reclamou a mãe colocando os legumes na pia.― Descasca pra mim, filha. Eu vou cortar a carne. ― Pediu mascarando a preocupação.

Ficaram as duas mulheres na cozinha, moviam-se de um lado a outro, sem no entanto, trocar mais nenhuma palavra, ambas sabiam que nada que falassem mudaria a situação caótica que viviam. O barulho da sopa borbulhando na panela vez em quando levava a mãe a abrir a tampa e provar o sabor, um tempo depois, ela riu satisfeita.

— Está pronta! Vai chamar seu pai. Vamos comer antes que esfrie.

A filha se levantou da cadeira e se aproximou da panela, esticou um pouco o pescoço e expirou o ar.

— Está cheirando...

— Vai logo! Seu pai deve estar com fome!

— Calma! Já estou indo Dona Elvira. ―Retrucou a moça gesticulando com os braços e saindo em seguida.

Enquanto seguia pelo corredor, ela pensou em seus pais, amava-os. Sim, verdadeiramente os amava. Mas quis o destino ser tão cruel, e acabar com os belos tempos em que tudo era bom, época em que o pai tinha saúde e podia trabalhar, em que o irmão tinha juízo e não fazia tanta coisa errada, época em que o dinheiro de sua mãe era para comprar alguns mimos e luxos, e não para sustentar a casa.

Deteve-se para enxugar uma lágrima que rolou pelo rosto, só então abriu a porta e entrou no quarto. Como se adivinhasse a visita, o pai a esperava sentado em uma cadeira, ela sorriu ao vê-lo.

― O senhor está melhor, papai? ― Perguntou ela se aproximando.

― O que você colocou naquele chá? Eu dormi a tarde toda.

― É um chá calmante, papai. Por isso o senhor dormiu. Agora vamos para a cozinha, a mamãe está esperando. ― Disse a moça ajudando o pai a levantar da cadeira.

― Não precisa me ajudar, eu ainda posso andar sozinho! ― Reclamou o pai dispensando a ajuda.

― Eu sei que o Senhor consegue, papai, mas gosto de fingir que precisa de mim.

― Está certo, eu também gosto de fingir que consigo andar sozinho.

Ambos se entreolharam, e riram simultaneamente, havia cumplicidade no olhar dos dois, e um afeto recíproco.

 

 

 

 


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