Natureza Humana escrita por Last Mafagafo


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Antes de começar, queria agradecer às pessoas que estão seguindo a história. Vocês não tem ideia de como é importante para mim ler os seus comentários!



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Todas as tardes desde que chegaram naquele vilarejo John e Donna haviam criado o hábito de parar de trabalhar por alguns minutos enquanto tomavam uma xícara de chá. John gostava daquele momento. Donna sempre adoçava seu chá como ele preferia, se sentava numa poltrona, recolhendo os pés sob o vestido, e os dois conversavam sobre qualquer besteira. Era aconchegante e familiar, como se os dois fossem um casal. Aquele era certamente o momento favorito de John durante todo o dia. 

— Você ficou sabendo do Baile Anual na Prefeitura? - perguntou John, tomando um gole de seu chá.

Ele havia visto o anúncio no dia anterior, enquanto conversava com a enfermeira Redfern. A Prefeitura da cidade estava dando um baile para comemorar o feriado e John pensou em Donna no mesmo momento. Ele sabia que a ruiva estava entediada lá, numa cidade tão pequena, e tudo por causa dele. Seria maravilhoso se eles pudessem se divertir um pouco, principalmente se fossem juntos. Quem sabe ela até aceitaria dançar com ele!

Foi por esse mesmo motivo que ele havia caído das escadas no dia anterior. Quando a Sra. Redfern lhe contou sobre o baile e insinuou que ela não havia sido convidada ainda, ele pensou que deveria se afastar ou mudar de assunto o quanto antes. A Sra. Redfern era uma mulher bonita e agradável, mas ele já tinha alguém que ele queria convidar e John não queria magoar a pobre enfermeira. Então ele se atrapalhou e caiu, como o tonto que era, se envergonhando na frente das duas mulheres. 

— Um baile? Quem diria! Finalmente algo interessante por aqui - ela disse, levantando uma das sobrancelhas, enquanto tomava chá.

— Você quer ir? No baile…  - ele perguntou, aflito.

— Claro! - ela disse, sorrindo - Vai ser divertido. Como daquela vez com a Agatha… Sem a abelha gigante, é claro - ela disse, rindo, sem perceber que John não se lembraria daquela história.

— Donna, do que você está falando? - ele perguntou, confuso.

— Nada não, Sr. Smith. É só uma piada - ela disse, tentando soar convincente.

John apenas ignorou. Às vezes Donna dizia as coisas mais estranhas.

— Então, sobre o baile… Você quer mesmo ir? Comigo, quer dizer… Você quer ir comigo?

Donna riu. John era um sujeito engraçado, principalmente quando ele gaguejava daquele jeito. Ele tinha essa característica que ela nunca havia reparado no Doutor. Bom, era bem verdade que Donna parava de prestar atenção no que o Doutor falava logo depois da primeira meia-dúzia de palavras. Ela nunca entendia o que ele dizia de qualquer forma. Então ela não tinha certeza se ele gaguejava ou não. Mas na sua cabeça, o Doutor sempre pareceu um homem muito seguro.

— Com quem mais eu iria? - ela perguntou, sorrindo - Definitivamente não com o Sr. Newton. Ele me dá arrepios.

— Então você aceita ir, como minha acompanhante?

— Oi! Eu achava que eu já era sua companheira! - ela disse, rindo.

— Você é a companheira do Doutor, nos meus sonhos. Eu não sabia se você aceitaria ser a companheira de John Smith também - ele disse, sorrindo.

— Como se você pudesse se livrar de mim assim fácil… - disse Donna, tomando o último gole do chá na sua xícara.

 

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— Aqui está você, Jenny! O que está fazendo aqui fora? Está congelando - disse Donna, se aproximando de Jenny.

 A moça estava sentada numa cadeira do lado de fora da escola. Era uma noite escura e fria e Donna achou estranho que Jenny estivesse lá sozinha, e por isso ela resolveu se aproximar. Ela poderia estar precisando de alguém para conversar.

— Srta. Noble? - ela perguntou, se levantando por impulso. Donna acenou para que ela voltasse a se sentar.

— O que você tem aí? Cerveja? - perguntou Donna.

— Eu posso pegar para você - começou Jenny, se levantando.

— Não se incomode… - disse Donna voltando para a cozinha. Ela não demorou muito para se servir também e saiu para se juntar a Jenny nas cadeiras - Aqui, já peguei uma caneca para mim. Ah! Olha esse céu! As estrelas… Que saudade que eu tenho desse universo!

— A senhorita fala coisas muito estranhas…

— Não é? Eu devo estar ficando louca. Às vezes eu até falo como ele… 

— Você está falando do Sr. Smith?

— Não... Eu estou falando de um amigo meu. Eu sinto falta dele em noites assim. Falando aquelas coisas que eu não entendo, correndo para lá e para cá como um maluco...

— É aquele homem com quem a senhorita planejava se casar?

— Oh, não! É outra pessoa. Um sujeito… como eu posso dizer? Especial? Digamos que ele não é deste mundo,” Donna sorriu, satisfeita com a própria piada.

— Onde ele está?

— De férias… - disse Donna, olhando para o céu. Foi quando ela viu um brilho verde atrás de umas árvores. Não parecia algo que se deveria ver no céu em 1913, na verdade parecia algo que não poderia ser visto em todo o planeta Terra independente da época - Você viu isso?

— O que?

— Lá em cima. Uma luz verde piscando - disse Donna, se levantando.

— Srta. Noble, não há nada alí - disse Jenny, preocupada.

— Ei! Eu sei o que vi!

De repente, a Sra. Redfern veio correndo em direção a elas. A mulher parecia assustada e, pela primeira vez desde que haviam chegado, ela não estava se comportando com elegância. Na verdade, ela até parecia uma mulher normal, e não uma dessas personagens de séries de época da BBC.

— Vocês viram aquilo? Tinha algo no bosque, uma luz…

— Está tudo bem? - perguntou John, se juntando a elas - Está frio para vocês ficarem aqui fora no escuro. 

— Ali, no céu! - disse a enfermeira, apontando para uma estrela cadente verde, rasgando o céu.

Donna sabia que havia algo errado. Sua vontade era perguntar para o Doutor o que estava acontecendo, mas ela se segurou a tempo. Será que o humano John Smith saberia?

— Lindo, não é? Mais conhecido como meteorito. São apenas rochas caindo do céu - ele disse, com um enorme sorriso, como uma criança.

— Caíram no bosque - disse a enfermeira.

— Não... Parece que sim, mas ele está há quilômetros de distância - disse John - Agora senhoritas acho que devemos voltar para a escola. Donna? 

John se virou para a ruiva, estendendo um braço para ela, mas Donna não estava mais lá, ela havia aproveitado o momento para correr para a TARDIS. Donna queria acreditar que aquilo era só um meteorito e que John estava certo, mas havia um sentimento estranho dentro dela, uma intuição talvez, dizendo que ela deveria ficar mais atenta. Ela e o Doutor estavam ali fugindo de coisas sobrenaturais, fugindo da Família Sangue, e de repente algo verde caiu do céu. Não podia ser só coincidência. Ela entrou no celeiro e abriu a TARDIS.

Donna correu para o painel e tocou o vídeo de instruções do Doutor mais uma vez. Ela já tinha praticamente decorado aquilo tudo naquela altura, mas Donna precisava ter certeza de que ela não tinha deixado nada escapar. Principalmente alguma instrução sobre uma luz verde no céu. Mas não… O Doutor tinha falado até sobre peras, mas nada sobre luz verde. Será que ele não entendia o significado de prioridades? A única instrução mais útil naquele momento seria abrir o relógio.

A ruiva se perguntou se ela poderia fazer aquilo. Se ela abrisse o relógio o Doutor voltaria e resolveria tudo rapidamente. Mas e se ela estivesse exagerando e aquilo fosse mesmo só um meteorito? Como ela poderia saber o que aquelas coisas espaciais realmente eram? Ela era uma novata nisso de aliens e todo aquele Sci-fi. Ela precisava pensar com calma, ser a adulta que ela realmente era. Donna começou a rir. John Smith deveria estar certo, aquilo deveria ser só um meteorito. Uma pedra do céu. E lá estava ela, toda desesperada. O Doutor teria vergonha.

Donna saiu da TARDIS, trancando-a só por segurança. Depois ela caminhou de volta para a escola. Mas a noite estava escura e o meteorito ainda podia ser um alien. Talvez não a Família Sangue, mas um outro alien qualquer. Será que ela devia passar a noite na TARDIS, só para garantir? Não! Ela não podia deixar o Doutor lá, sozinho. Ele jamais a deixaria. Donna respirou fundo, tentando manter sua coragem. Foi quando ela viu um vulto se aproximar. Donna não conseguia ver bem quem ou o que era na neblina. Podia muito bem ser a Família Sangue ou um moleque da escola. Ela pegou um galho do chão, se armando.

— Quem está aí? - ela perguntou, assustada.

— Donna, é você? - ela reconheceu a voz do Doutor.

Donna se aproximou com cautela. Poderia ser uma imitação. Ela já tinha visto pior para aprender a não confiar nas aparências. Ela se aproximou um pouco mais.

— Sr. Smith? - ela perguntou.

— Donnah! - ele a chamou do mesmo jeito que o Doutor fazia. Ninguém mais a chamava assim: Donnah! Era algo peculiar no Doutor. 

Quando ele estava perto, Donna o reconheceu completamente. Ela largou o galho e correu atrás dele, o abraçando com força. John Smith pareceu surpreso. Só então Donna se lembrou que o homem que a abraçava não era exatamente o Doutor, e deveria estar achando aquela situação mais que inapropriada. Donna o soltou, limpando a garganta.

— O que você faz aqui? - ela perguntou.

— Eu vim atrás de você. Eu fiquei preocupado. Não é seguro andar por aí de noite - ele disse.

— Eu sei… Eu não sou criança, Sr. Smith! - ela disse.

— Eu não quis dizer isso - ele disse - Vamos voltar para a escola? Acho melhor finalizarmos a noite sem novas aventuras.

John ofereceu seu braço para Donna, que o aceitou com um sorriso.

— Você está certo.

— Oh! Donna Noble está dizendo que estou certo uma vez na vida? Imaginei que esse dia jamais chegaria!

Donna lhe deu um tapa de leve no braço. 

— Ei! Não seja engraçadinho - ela reclamou, sorrindo - John, você está com seu relógio? Aquele de bolso?

— Não. Eu não uso mais ele. Ele está quebrado já faz algum tempo.

John Smith percebeu que Donna o chamou pelo primeiro nome. Ela nunca havia feito aquilo antes. Ele sorriu, contente.

— Onde ele está? Eu preciso dele.

— Está no meu quarto. Por que?

— Ah… Guarde ele direito! Não se atreva a perder, me ouviu? 

— Está bem… - John estranhou o pedido, mas não disse nada. Ele estava feliz de andar pelo bosque com Donna apoiada em seu braço, e não queria começar uma discussão.  

Os dois caminharam lado a lado num passo tranquilo. As estrelas sobre eles, brilhando no céu e a brisa fria batendo em seus rostos. Donna sorriu, se sentindo um pouco mais segura ao estar com o Doutor, mesmo que ele não se lembrasse de quem realmente era.

— A noite está linda, não está? - ele perguntou - Há tantas estrelas no céu!

— Sim… Todo esse universo infinito e todos esses mundos lá em cima…

— Você se parece com a Donna dos meus sonhos quando fala assim - ele disse, sorrindo.

— Ah! Então você voltou a sonhar comigo? - perguntou Donna, curiosa.

— Sim - ele disse, constrangido - Eu sonhei com você e tinham umas criaturinhas lá também. Pequenas e adoráveis, andando por todos os lados.

Donna riu, se lembrando do seu reencontro com o Doutor nas Indústrias Adipose, e todos os adiposinhos correndo pelas ruas de Londres. Considerando que eram criaturinhas de gordura, até que eles eram adoráveis.

— Foi um sonho bom ou um pesadelo? - ela perguntou.

— Um sonho bom - ele disse corando - Quer dizer, considerando todos os monstros com que tenho sonhado nos últimos tempos…

John não queria dizer que sempre se sentia feliz quando sonhava com Donna. Ele podia sentir a presença dela ao lado dele e como ela o completava, como ela tinha a capacidade de observar as pequenas coisas e perceber pequenas falhas no que ele considerava certo e imutável. Durante os sonhos ele lembrava ser grato por estar com ela, por saber que ela jamais o deixaria sozinho, mesmo quando ela estava com medo. E Donna não precisava falar, ele apenas sabia.

Os dois finalmente chegaram na escola e Donna subiu as escadas com o Doutor. Como o quarto dela era ao lado do dele, Donna desacelerou o passo e aproveitou para observar, discretamente é claro, se o relógio ainda estava sobre a lareira. E lá estava ele, seguro e ao alcance da mão no caso de uma emergência. Donna sorriu, aliviada. Se a Família Sangue chegasse, ela só teria que correr para o escritório do Doutor e pegar o relógio.

— Obrigada pela companhia, Sr. Smith. Nos vemos amanhã?

— Boa noite, Donna - ele disse, beijando sua testa.

Donna se surpreendeu com o gesto e por um momento ficou paralisada em frente à porta dele. Aquele não era o tipo de coisa que o Doutor faria. Donna olhou para John confusa e ele apenas sorriu. A ruiva pensou se deveria perguntar o que havia sido aquele beijo, mas acabou decidindo não pensar mais naquilo. Provavelmente era apenas um gesto de carinho e de amizade de John Smith, o humano. Nem havia sido um beijo romântico de qualquer forma. Donna achou melhor apenas sorrir e voltar para o seu quarto. Ela tinha que parar de pensar demais nas coisas e relaxar um pouco.


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Notas finais do capítulo

Eu odeio quebrar o capítulo. Odeio mesmo. Mas às vezes não tem jeito. Fazer o que?