Eu serei o seu pilar escrita por Manoo


Capítulo 6
Tranquilidade


Notas iniciais do capítulo

OLÁÁÁÁÁÁÁÁÁ!!!! Dessa vez até que não demorei muito, não? Mas é porque o capítulo dessa semana é um pouco mais curto que os outros...Mas, bem, prometo que o próximo será maior.
Este capítulo meio que encerra a primeira parte da fic! Incrível, não? Eu me sinto muito orgulhosa por ter chegado tão longe com este projeto. Espero prosseguir ainda mais.
Obrigada a todos aqueles que acompanharam, favoritaram e comentaram na fic até agora. Vocês são muito queridos, sério!
Eu queria ter introduzido o Touya neste capítulo, mas não tive a oportunidade. Resolvi focar mais no Shouto mesmo. Mas juro que no próximo o nosso moço revoltado aparece!
Feliz ano novo, pessoal! Um bom 2021 a todos (esperemos que seja melhor que 2020, pq porra)



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— Posso me sentar aqui? -Izuku perguntou, sorrindo amavelmente para Shouto.

Assentiu, movendo-se um pouco para o lado para abrir mais espaço. Izuku colocou seu lanche embalado sobre a mesa, sentando-se. Shouto lançou um olhar curioso na direção do embrulho, mastigando seu próprio almoço.

— Você não gosta da comida da lanchonete? -Perguntou.

O rosto de Midoriya ficou vermelho imediatamente.

— Não, claro que não! A comida do Lunch Rush é uma delícia -Ele disse, olhando para a cantina rapidamente- É que estou tentando economizar um pouco de dinheiro. Se tudo der certo, no final do mês eu degusto uma tigela de Katsudon- Izuku disse a última parte com uma risadinha, desembrulhando seu almoço.

— Gosta de Katsudon?

Uraraka e Iida trocaram olhares, ela rindo abertamente e ele escondendo seu sorrisinho com a mão. Receberam olhares indignados do amigo.

— O Deku-kun é obcecado com Katsudon, Todoroki-kun- Ochaco disse, divertindo-se com o tom ainda mais vermelho que tomou o rosto de Midoriya.

— Eu não sou obcecado! Todos têm um prato favorito.

— Mas se deixassem, você só comeria isso. E nem adianta negar!

— Uraraka-kun, não julgue os gostos de seus colegas de classe! -Iida disse, cortando o ar com as mãos- E Midoriya-kun, siga uma dieta com alimentos diversificados. Não deveria comer a mesma coisa sempre!

— Mas eu não como, poxa! Nem dinheiro pra gastar nesse refeitório eu tenho- Disse, uma expressão desanimada no rosto.

— Nisso aí vou ter que concordar com você- Uraraka disse, também desanimada.

Os dois bateram seus sanduíches um contra o outro, como que brindando sua desgraça.

— O que você achou da atividade proposta pelo Yagi-sensei, Todoroki-kun? -Iida perguntou, mastigando roboticamente seu ensopado de carne.

Mastigou calmamente seu Sobá, aproveitando para pensar no que falar.

— Achei legal.

— Eu também gostei muito. Mas fiquei preocupada com você, Todoroki-kun- Ochako disse, voltando um olhar simpático para ele. Shouto ergueu uma sobrancelha, confuso, e a garota explicou- É que ninguém se dá muito bem com o Bakugou, né? Fiquei com bastante medo de ele implicar com você.

— Hm. Já convivi com gente pior- Disse, sugando os fios de massa pelos hashis.

Percebeu o olhar surpreso de Izuku em si, e Shouto o olhou com confusão. O rapaz só voltou o olhar para seu almoço, mastigando-o quietamente.

— Eu infelizmente terei de concordar com a Uraraka-kun- Iida disse, arrumando os óculos sobre o nariz- Bakugou-kun é uma pessoa muito difícil de se conviver. Ele é uma pessoa incrivelmente arrogante e agressiva. São constantes os momentos em que ele é repreendido por sua falta de decoro.

— Falou bonito, Iida-kun- Ochako disse, rindo um pouco.

— Não achei ele de todo insuportável- Shouto voltou a dizer- Mas ele é bem mala.

Midoriya riu, cobrindo a boca com a mão.

— Midoriya-kun, não ria enquanto mastiga! -Iida o repreendeu.

— Desculpa- Ele disse, ainda mastigando.

— Não fale também!

Izuku repetiu o pedido de desculpas, fazendo com que Uraraka risse e Shouto o olhasse com diversão. Tenya ficou mais indignado ainda.

Todoroki voltou o olhar para Izuku, mastigando lentamente sua comida. Percebera que o ânimo do amigo havia caído quando o assunto “Kacchan” começara, e não pode evitar ficar preocupado.

Midoriya era um rapaz sensível, do tipo que sempre está preocupado com os outros e faz o possível e o impossível para fazer com que seus amigos e conhecidos (e até desconhecidos) se sentissem apenas felizes e nada mais. Por isso, estava sempre com um sorriso no rosto. Desde que o conhecera, foram poucos os momentos em que Shouto vira o olhar tranquilo desaparecer de seu rosto. O primeiro, quando a enfermeira mencionara a mãe de Izuku; o segundo, quando encontraram Bakugou na frente da sala de aula; e o terceiro, quando Uraraka e Tenya tentaram forçar uma explicação de incidentes anteriores, recebendo uma resposta irritada do garoto.

Vê-lo sem aquele olhar calmo e sorriso brilhante era perturbador.

Franziu as sobrancelhas, preparando-se para falar algo. Qualquer coisa. Céus, falaria até sobre aquele problema ridículo de matemática que o professor havia passado no período anterior. Qualquer coisa para tirar aquele olhar cabisbaixo do rosto de Izuku.

Infelizmente, foi interrompido por Ochako.

— Deku-kun, como foi com sua mãe?

— Hm? O quê? -Ele ergueu o olhar, levemente envergonhado por sua distração.

— Sua mãe. Como foi lá? -Ela repetiu, mordendo seu sanduíche de mortadela.

Midoriya deu uma mordida grande em seu sanduíche, sua palidez não passando despercebida por Shouto.

— Hm. Foi tudo tranquilo.

Meeeeesmo? —Ela perguntou, estendendo as vogais. Os olhos verdes de Izuku pararam sobre os castanhos da garota, encarando-a seriamente- Digo, se eu fosse ela, eu não ficaria “tranquila” se a escola me chamasse do nada porque o meu filho levou um soco no nariz.

— Eu não levei um soco no nariz- Ele disse, pressionando os lábios em uma linha reta.

— Não, eu que levei de certo.

— Uraraka-kun! -Tenya chiou, repreendendo-a.

— Podemos mudar de assunto? -Midoriya aproveitou a fala de Iida, seu tom de voz saindo um pouco mais alto que o normal.

— Mas-

Por favor!? -Ele berrou, os olhos arregalados voltados para a mesa.

Shouto voltou olhos arregalados para Izuku, assustando-se com a súbita reação. Percebeu que alguns dos estudantes os olhavam, curiosos em saber o porquê de o garoto ter exclamado daquela forma. Sentiu seu sangue esquentar, suas mãos tremendo de raiva.

Midoriya também percebera os olhares, encolhendo-se ao lado de Todoroki.

— Eu...Me desculpa, eu não...

Inclinou a cabeça, tentando ter uma melhor visão da expressão de Izuku.

— Deku-kun, me desculpa, eu-

— N-não! -Ele a interrompeu rapidamente, erguendo a cabeça. Assustou-se com o inesperado sorriso- Você não fez nada de errado, Uraraka-san. Eu que peço desculpas por ter sido tão insensível e ter gritado assim. 

— Não, eu que-

Midoriya ergueu-se, apoiando as duas mãos sobre a mesa. Os três voltaram olhares preocupados para ele, Iida e Todoroki dando a entender que também iam se levantar.

— Por favor, não se preocupem comigo! -Ele pediu, quase que implorando. Seu sorriso se mostrava cada vez mais forçado, e Shouto sentiu uma coceira familiar se formar em seu pescoço- Eu vou ao banheiro, mas logo, logo já estou de volta. Por favor, continuem almoçando.

Antes que qualquer um deles pudesse protestar, Izuku se afastou da mesa, sua figura se tornando cada vez menor até desaparecer. Os três abaixaram a cabeça, encarando seus almoços com desinteresse.

— Eu...Eu só estou preocupada- Ochako disse, pálida- Eu não quis chatear ele. Eu nunca iria querer isso.

Todoroki voltou o olhar para ela, observando Tenya colocar uma mão sobre o ombro da garota, consolando-a.

— Eu sei que não- Ele disse, um olhar gentil em seu rosto- Ele também sabe.

Shouto largou seus hashis, um olhar irritado em seu rosto.

— Eu não acho que a melhor forma de demonstrar isso é deixando-o desconfortável.

Ergueu-se e se afastou da mesma, não se incomodando em voltar um olhar para a garota. Estava irritado demais no momento.

E estava bem ciente de como ele era quando irritado.

Deixou o refeitório, procurando rastros dos cachos verdes e ombros encolhidos.

.

Encontrou Midoriya no telhado da escola, sentado no chão. Seu queixo estava encostado nos joelhos, os olhos úmidos grudados em seus sapatos. Só foi perceber que Shouto se aproximava quando ele já estava a uns 5 passos de distância, rapidamente secando as lágrimas com os punhos e desviando o olhar.

— Oi, Todoroki-kun.

Sua voz soava rouca.

Shouto franziu o cenho, um olhar preocupado em seu rosto.

— Oi- Disse, levando a mão ao pescoço, raspando suas unhas contra a pele delicada. Queria muito dizer algo sensível ou confortante, mas a única coisa que deixou seus lábios foi um “tudo bem?” trêmulo. Quase estapeou o próprio rosto por causa de sua burrice.

— Hm? Haha, eu te assustei, não? -Ele perguntou, olhando-o com um sorrisinho. Voltou o olhar para seus sapatos, e Shouto se sentou ao seu lado, calado. Observou Izuku respirar fundo, os olhos úmidos- Eu não costumo ser assim. Eu não sei o que está acontecendo.

— Você está chateado por causa da sua mãe? -Arriscou, coçando o pescoço com mais força.

Não! —Ele exclamou, arregalando os olhos. Shouto sentiu seu coração acelerar em nervosismo, temendo ter chateado o amigo ainda mais. Um suspiro quase deixou seus lábios ao ver Izuku se recompor, seus olhos verdes encarando-o tremulamente- Não, claro que não. Eu sei que tudo o que você ouviu até agora foram situações fora de contexto, mas eu te juro que minha mãe nunca me machucou. Ela jamais faria isso.

— E por que você tem medo dela? -Perguntou, mordendo o lábio.

— Não tenho medo. Não dela. É que...bem...- Izuku se perdeu em suas palavras, murmurando de uma forma que Shouto não conseguia entender nada. Observou-o encostar o rosto contra os joelhos, escondendo-se- Me desculpa. Eu não sei explicar.

— Tudo bem.

Esperou uma resposta, mas nada veio. Todoroki abraçou seus joelhos, uma expressão cabisbaixa no rosto.

— Tudo bem se não quiser falar. Se te deixa desconfortável, eu não irei forçá-lo. Não quero forçá-lo- Disse, encostando o queixo contra os joelhos. Fechou os olhos, respirando fundo- Mas, se você quiser falar, ou se simplesmente precisar de alguém ao seu lado, saiba que eu vou estar aqui. Sempre.

Izuku ergueu um pouco a cabeça, olhando-o com olhos úmidos e surpresos. Shouto também o olhou, sorrindo gentilmente.

— Porque nós somos amigos. Né?

Os olhos de Midoriya se arregalaram, encarando o rosto- o sorriso- de Shouto. De repente, suas sobrancelhas começaram a tremer, lágrimas grossas escorrendo de seus olhos. Shouto arregalou os olhos, o sorriso sumindo de seu rosto.

— F-foi mal-

— Não! Não é isso. É só que...- Foi interrompido por uma série de soluços. O Todoroki sentiu seu coração rachar- Eu estou realmente feliz, Todoroki-kun. Muito feliz mesmo.

Sentiu suas bochechas esquentarem, os olhos enchendo de lágrimas. Desviou o olhar, escondendo sua expressão envergonhada (ou seria feliz? Estava feliz? Sim, é óbvio que estava!). Shouto tateou o chão, colocando sua mão sobre a de Midoriya quando a achou. O rapaz não fez qualquer gesto para se afastar.

Todoroki esperou pacientemente que o amigo terminasse seu choro, não o apressando ou julgando. Izuku secara as lágrimas (e ranho) com o lenço que Shouto lhe emprestara, devolvendo-o com um sorrisinho envergonhado. Desceram para a sala de aula ao ouvirem o sinal, esperando que a face vermelha e cara de choro de Izuku não chamasse muita atenção.

Ainda estavam de mãos dadas quando chegaram à porta da sala.

.

— Todoroki-kun! -Yaoyorozu abanou, chamando-o- Venha, venha!

Hm?

Olhou para Midoriya, que simplesmente sorriu e disse que estava tudo bem. Observou o garoto caminhar na direção das classes de Iida e Ochako, provavelmente para se desculpar por ter sumido.

Suspirou, indo na direção de sua classe.

— Oi, Yaoyorozu- Disse, sentando-se- O que foi?

Momo sorriu de orelha a orelha, contente por não ter sido ignorada. Embora conseguisse olhá-la no rosto e travar um diálogo inteiro agora, antes simplesmente a fuzilava pelo canto do olho sempre que ela tentava puxar assunto. Sentia-se envergonhado e extremamente grato por ela ser uma pessoa tão...compreensiva?

Ao lado da garota, notou a presença de uma de suas colegas. Estava sentada em cima da mesa de Yaoyorozu, seus cabelos negros e curtos balançando sempre que movimentava o rosto. Percebendo o olhar de Shouto, soltou um sorriso torto e ergueu uma das mãos, cumprimentando-o. Momo percebeu o contato, arregalando os olhos.

— Oh, me desculpe por não os apresentar! -Ela se desculpou, embora parecesse mais empolgada do que culpada- Kyouka, este é Todoroki Shouto. Todoroki-san, esta é Jirou Kyouka.

— Que isso, Momo. Somos colegas há um mês, ele sabe quem eu sou- Ela disse, um pouco envergonhada.

— Na verdade, não.

As duas voltaram olhos arregalados na sua direção, uma surpresa e a outra incrédula. Shouto abaixou o olhar, sentindo vergonha.

— Desculpa, mas eu não sou bom com nomes. Nem rostos. Nem...nem nada- Murmurou, apertando as mãos uma contra a outra. Ergueu o olhar lentamente, encarando a baixinha nos olhos- Me desculpa mesmo.

Jirou voltou o olhar para Momo, visivelmente nervosa. A mais alta só deu de ombros, voltando um sorriso gentil na direção de Shouto. Jirou suspirou, dando de ombros.

— Não precisa pedir desculpas- Ela disse, envolvendo seu braço esquerdo com a outra mão. Voltou um olhar envergonhado para Shouto, um beicinho em seus lábios- Mas eu vou ficar muito braba se você não se lembrar do meu nome ou do meu rosto uma próxima vez.

Arregalou os olhos, nervoso.

— Não vou esquecer. Juro.

Kyouka o encarou por alguns segundos, a expressão emburrada sendo substituída por uma divertida, um risinho deixando seus lábios.

— Não precisa levar a sério, Todoroki. Só estou brincando.

— Ah- Shouto murmurou, sentindo suas bochechas esquentarem. Para se poupar dos risinhos das meninas, mudou de assunto- O que você queria, Yaoyorozu?

— Ah, veja! -Ela disse, erguendo um objeto.

Tratava-se de um coelhinho de pelúcia, mais ou menos do tamanho de um caderno. Era branco e tinha um laço amarelo envolvendo seu pescoço, os olhos representados por botões vermelhos. Pegou-o das mãos de Momo, apertando-o um pouco. Era mais macio do que esperava, dando-lhe uma sensação boa nas mãos.

— Fofo.

Espera, havia dito isso em voz alta?

— Awn, eu sabia que você ia dizer isso -Yaoyorozu disse, sorrindo- Eu vi como você olhou para ele na hora da atividade, então não pude resistir e o pedi para o Toshinori-sensei.

— Nossa, eu não arriscaria dizer que você é do tipo que gosta de coisas fofas- Kyouka comentou, encarando-o com surpresa.

Seu olhar se moveu inconscientemente para o outro lado da sala, observando Izuku conversar com Ochako e Tenya animadamente. Sentiu um sorrisinho se formar em seus lábios, voltando o olhar para o coelhinho.

— Eu gosto.

Momo sorriu, contente, e Kyouka olhou-o com uma sobrancelha em pé, um olhar meio malicioso no rosto. Não entendeu o motivo do olhar, mas se sentiu um pouco envergonhado.

Abraçou o coelhinho contra o peito, arrumando-se na classe ao pedido do professor de inglês, que entrara na sala de aula berrando em empolgação sobre o quão empolgados os alunos deveriam estar para sua aula.

Os estudantes deram de ombros, rindo da expressão decepcionada de Yamada.

.

— Kirishima, Ashido, Asui- Disse, aproximando-se dos três. As duas o olharam com surpresa, os olhos arregalados- Posso falar com vocês?

— Hm? -Eijirou olhou-o, também surpreso- Por mim, tudo bem.

— Comigo também- Asui disse, inclinando a cabeça para o lado, visivelmente confusa.

— Sem problemas! -Ashido exclamou, sorrindo animadamente.

Não conversava com as duas garotas desde o primeiro dia de aula, quando as assustou com seu comportamento agressivo. Franziu as sobrancelhas, apertando os lábios em uma linha fina.

A maioria dos estudantes já haviam deixado a sala de aula, mas alguns ainda estavam guardando seus materiais e guardavam seus materiais. Pelo canto do olho, notou Midoriya guardando seus diversos cadernos dentro da mochila amarela. Sentia que a atenção do amigo estava sobre si, mas preferiu não demonstrar que havia percebido.

Respirou fundo, curvando-se para a frente.

— Me desculpem pela forma que eu os tratei no meu primeiro dia- Disse, sua voz rouca. Apertou as mãos em punhos, pressionando-as contra as coxas.

— H-hein?!- Mina exclamou, dando um pulinho para trás, surpresa.

Tsuyu levou um dedo aos lábios, confusa, e Eijirou simplesmente o encarou com uma expressão séria no rosto. Sentia os olhares dos outros colegas e de Aizawa (que apagava a lousa) sobre si, mas continuou curvado, os olhos fechados.

— Se houver algo que eu puder fazer para me desculpar, peçam e será feito.

— Todoroki-kun, levante-se por favor- Asui disse, séria.

Abriu os olhos, erguendo-se. Seu olhar hesitante encontrou o da garota, que o encarava.

— Sinceramente, eu nem me lembrava mais disso- Ela disse, e Ashido concordou- Não vou mentir que foi um pouco perturbador o jeito que você nos tratou, mas é visível que você está arrependido. São águas passadas já.

— Exatamente! Não se preocupe com isso, Todoroki- Mina disse, sorrindo animadamente.

— Eu compartilho da mesma opinião- Kirishima disse, batendo os punhos um contra o outro- Muito maduro da sua parte assumir seus erros. Muito másculo!

— Não sei se másculo é bem a palavra...- Asui murmurou, encarando-o com uma sobrancelha em pé.

Suspirou, aliviado. Desculpar-se com os três era algo que queria fazer desde que saíra para comer hambúrgueres com Tenya e Ochako, mas que nunca encontrara a oportunidade para fazê-lo. O contato que teve com Kirishima na aula de educação física o lembrou de sua vontade, então praticamente se obrigou a ir conversar com eles.

Sentia-se satisfeito por ter conseguido resolver seus erros. Era como se tudo ao seu redor fosse mais claro, mais leve. Mais livre.

Sentiu uma mão em seus ombros, virando-se. Deparou-se com a face sorridente de Midoriya, que praticamente parecia brilhar de tão feliz que estava.

— Vamos indo, Todoroki-kun?

Notou que só os cinco (e o professor) ainda estavam na sala e assentiu, indo até sua classe para pegar sua mochila. Voltou a se aproximar do grupo, que conversava animadamente. Porém, logo a conversa foi interrompida pela voz impaciente do professor.

— Deem logo o fora, eu preciso fechar a sala- Aizawa disse, seu tom de voz cansado (como sempre).

— Credo, quanta impaciência, sensei.

— Anda logo, Ashido.

— Afe- Ela resmugou, fazendo os outros rirem.

Deixaram a sala, despedindo-se do professor.

— Cuidado no caminho para casa.

— Sim! -Todos responderam, afastando-se.

Sentiu o olhar de Aizawa o acompanhar até o final do corredor, mas se recusou a olhar para trás. Ao invés disso, focou sua atenção em Izuku, que falava sobre as aulas que tiveram, praticamente pulando de tanta empolgação.

De repente, Izuku cessou seus murmúrios, olhando Shouto com curiosidade.

— Todoroki-kun, o seu trem passa às 18h, né?

— Sim- Ergueu o braço, encarando o relógio de pulso. Ainda faltam 15 minutos para o trem passar.

Midoriya sorriu.

— Vamos pegar juntos!

Shouto assentiu, sentindo seus lábios se erguerem.

.

— Hm? Sua mochila está aberta, Todoroki-kun- Midoriya disse, rapidamente se movendo para trás de Shouto, lidando com o zíper. Shouto esperou o amigo fechá-la, estranhando a demora. Por fim, olhou por cima do ombro, deparando-se com olhos verdes curiosos- Todoroki-kun, o que é este coelhinho?

Ah.

Virou-se, apoiando a mochila por apenas uma alça. Puxou o coelhinho, entregando-o a Izuku, que o apertou com um sorrisinho no rosto.

Fofo.

— Foi o objeto que o professor de educação física nos fez procurar- Explicou. Midoriya o olhou com atenção, ainda afofando a pelúcia- A Yaoyorozu pediu permissão para tê-la e depois me deu.

— Hmm...- Midoriya murmurou, voltando os olhos para a pelúcia- Será que o Toshinori não pensou em reutilizar os coelhos para a outra turma?

— Não faço ideia. Mas ele é meio lerdo, então acho que não.

— Não fala assim dele- Izuku o repreendeu, embora tentasse conter o riso- Ele só é amigável demais. Ele provavelmente não teve coragem de dizer não para a fofura da Yaoyorozu-san.

Foi obrigado a concordar. O jeito que os olhos de Momo brilhavam e suas bochechas coravam quando estava empolgada era bem fofinho mesmo.

— Mas porque será que ela te deu essa pelúcia? -Ele murmurou, como se perguntasse para si mesmo. De repente, seu rosto se contorceu em uma expressão de malícia, cobrindo seu sorrisinho de Gato de Chesire com uma das mãos- Será que ela tem uma quedinha por você?

Sua expressão se tornou mais azeda que um limão, arrancando mais risadas de Izuku.

— Não, pelo menos eu acho que não.

— Talvez você só não tenha percebido...-Midoriya continuou provocando, recebendo um olhar indignado de Todoroki.

— Eu teria percebido algo assim...

Emburrou-se mais ainda por Izuku não parar de achar graça da situação. Embora estivesse um pouco irritado com o assunto, estava contente por ter aquele tipo de relação com Izuku. O tipo de relação que sempre via em filmes, onde os dois personagens conversavam com provocações e deboches de uma forma que não fosse negativa ou agressiva.

Izuku finalmente parou de rir, abraçando o coelhinho contra o peito. Olhou gentilmente para Shouto, seus lábios erguidos em um sorriso.

— Só estou brincando, Todoroki-kun- Disse, recebendo um “hmpf” de Shouto- A Momo provavelmente só quis te agradar com isso, já que vocês dois são amigos- Shouto arregalou os olhos um pouco ao ouvir a palavra com “a”, sentindo uma sensação quente e agradável no peito- Mas foi uma escolha de presente arriscada. Eu não o tomaria por uma pessoa que curte coisas fofas.

Bufou, indignado.

— A Jirou disse a mesma coisa- Resmugou, cruzando os braços com uma expressão fechada- Eu gosto sim de coisas fofas.

— Mesmo?

Izuku inclinou a cabeça para o lado, seus cílios tremendo sempre que piscava. Seus lábios finos estavam formados em um sorrisinho, e os cachos verdes balançavam na cabeça sempre que ele se movia. Seus olhos brilhavam como uma jóia, prendendo Shouto em uma encarada. Abraçava o coelhinho com braços fortes e musculosos, esmagando-o contra seu peito.

Desviou o olhar, sentindo as bochechas esquentarem.

— Sim.

Midoriya o encarou com confusão, a cabeça ainda inclinada. Devolveu-lhe a pelúcia, apertando-a com força uma última vez. A este ponto, o coelho já estava todo amassado, mas isso não incomodou Shouto.

— A nossa parada! -Izuku exclamou, de repente.

Ambos saltaram para fora do trem, segundos antes das portas se fecharem.

Vivendo perigosamente.

.

— Enorme! -Izuku exclamou, encarando a casa de Shouto com olhos arregalados.

— Você sempre diz isso quando vem aqui.

— Porque sua casa é enorme, Todoroki-kun. Eu nunca vi uma casa tão grande em toda a minha vida!

— Você nunca foi na casa do Iida? -Perguntou, curioso. Com certeza a residência Iida era do mesmo tamanho ou maior que a residência Todoroki.

— Não, ainda não tive a chance- Murmurou, ainda encarando a casa- Mas ele comentou de irmos estudar lá algum dia desses. Vamos junto, Todoroki-kun.

— Se ele me convidar...

— É óbvio que vai convidá-lo, ele gosta muito de você- Izuku disse, como que o repreendendo por pensar o contrário.

Pensou em convidar Izuku para entrar, mas logo afastou essa ideia com um arrepio. Não tinha a menor ideia se Enji estava lá dentro ou se ainda não chegara. Sequer sabia se ele apareceria hoje. Mas não queria sofrer com nenhum imprevisto. Não na frente de Izuku.

— Bem, eu vou indo- Ele disse, arrumando a mochila nas costas- Mais tarde eu o incomodo pelo whatsapp.

— Você não incomoda...-Resmungou baixinho, arrancando um risinho do amigo.

— Certo, certo. Mas eu vou exigir ajuda com a lição de inglês, hein?

— Claro.

Izuku sorriu, olhando-o gentilmente.

— Até amanhã, Todoroki-kun.

Sorriu, espelhando a expressão de mais baixo.

— Até amanhã, Midoriya.

Observou-o descer a rua, uma expressão solitária no rosto. Apenas quando ele dobrou a esquina e sumiu por completo que Shouto decidiu abrir o portão e entrar dentro de casa. Fechou a porta atrás de si, tirando os sapatos lentamente. Deparou-se com os sapatos de Fuyumi, Natsuo e, para sua decepção, Enji. Suspirou pesadamente, caminhando em direção à cozinha.

Fuyumi estava de costas para ele, cozinhando a janta em diversas panelas. Desde que a governanta da casa se aposentara, sua irmã praticamente se transformara em uma empregada. Provavelmente era isso que Enji pensava que ela era. Uma empregada, não uma filha.

Bateu levemente contra a madeira da porta, para não assustar a irmã. Ela voltou os olhos cinzas na direção de Shouto, seus lábios se erguendo em um sorriso gentil.

— Bem vindo de volta, Shouto- Ela disse, tirando uma panela do fogão- Como você está?

— Tudo certo.

— E como foi na escola? Alguma novidade? -Perguntou, uma expressão de expectativa no rosto.

— Hm. A aula de educação física foi legal. As outras foram chatas- Disse, encostando-se contra o balcão de mármore- Um colega meu apanhou. Eu matei a aula de inglês. E fiz amigos novos.

Os olhos dela se arregalaram, seu queixo caindo.

— Que?! Apanhou?! M-matou aula?! E...E... Amigos?! Q-que amigos?! -Perguntou, praticamente pulando de empolgação com a última parte. Seu tom de voz era alto, mas baixo o suficiente para que Enji não os ouvisse no andar de cima.

— Aham. Algum dia eu apresento vocês- Disse, recebendo um sorriso gigantesco da irmã, que o envolveu em um abraço apertado.

— Ai, eu estou tão feliz! Ir para a UA foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para você, Shouto- Ela disse, acariciando seus cabelos- Estou muito feliz mesmo.

Embora já fosse mais de 10cm mais alto que sua irmã, sentiu-se uma criança pequena novamente. Devolveu o abraço, fechando os olhos.

— Sim, eu também acho.

A última vez que abraçara Fuyumi fora na última viagem de Enji, quando ele estava bem distante de casa e não corriam o risco de serem pegos por ele. Nunca admitira em voz alta, mas o afeto de sua irmã era algo que fazia falta no seu dia a dia. Aproveitou aquele momento, apertando o abraço e tirando uma risadinha de sua irmã.

Estava tranquilo. Pela primeira vez em muito tempo.

Estava quase feliz.

Quase.

 


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Notas finais do capítulo

Resolvi explicar uma coisa: O nosso querido senhor Eraserhead (Aizawa Shouta), é chamado de Aizawa-sensei pelos alunos pois ele exige muito respeito da pirralhada (mesmo que ame muito eles, que nem no canon). Já com o Oru Maito (Yagi Toshinori), os alunos já o chamam de Toshinori (primeiro nome) pois ele é muito mais amigável e liberal que o colega dele. Enfim, só achei interessante explicar isso KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Gostaram desse capítulo? Eu fiquei muito feliz escrevendo ele. Aprimorei minhas habilidades com diálogos HUHAUHUSDA
Se preparem, pois os próximos capítulos vão alternar entre "ai que fofura" e "puta que o pariu viu". Não xinguem a autora, por favor.
Bom final de ano, rapaziada! Tudo de bom.
Até a próxima! ~



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