A Marca da Borboleta escrita por JiyuNoSakura


Capítulo 7
2044, 20 de setembro. 12:00 às 17:00


Notas iniciais do capítulo

OIOIOI, OLHA QUEM ESTÁ DE VOLTA, MEUS MIRACULERS LINDOS.
Gente, eu DEMOREI PAKAS, mas volto anunciando que meu TCC está pronto e que agora só preciso enfrentar a banca e a defesa E ACABOU-SE. Ó a felicidade, agora só preciso me preocupar com os estágios. ISSO É SINÔNIMO DE: SIM, TENHO TEMPO MAIS LIVRE E ESTOU ESCREVENDO.
Como eu tinha prometido: depois de escrever o cap 8 inteiro e metade do 9, aqui está o cap 7.
E esse cap continua com umas vibes mais fluffy, justamente por explorar mais o romance e a amizade, no entanto é o início de novos dramas e a preparação da Emma para viajar no tempo. Pessoalmente, é um dos meus caps favoritos, ele é o mais longo até agora. Eu quis explorar outras relações que são igualmente importantes para a história, como o grupo de amigos da Emma e do Adam e a vida deles na escola. São momentos muito descontraídos e ótimos para uma fanfic que tem uma vibe tão intensa!
ENFIM, sem mais delongas: quero agradecer às minhas incríveis leitoras que deixam feedbacks: AFadaQTemIdeias e Linesahh. Suas opiniões são bem importantes para o desenvolvimento dessa história. VAMU LÁ DISTRIBUIR AMOR PARA ESSAS LINDAS LENDO AS HISTÓRIAS DELAS, VAMU. E também agradeço aos leitores que são fantasminhas, mas que sempre chegam aqui e acompanham. ♥
Boa leituraaaaaaaaa ♥



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Dando-lhe um selinho prolongado, Marinette sorriu e se afastou o suficiente para olhar Adrien nos olhos. Ele levou a mão movimentável ao rosto dela, fazendo-lhe um carinho suave na bochecha, e correspondeu-lhe o sorriso com um de seus radiantes.

“Então”, ele começou, “Corte novo de cabelo?”.

O sorriso dela se alargou e ela passou a mão nos fios curtos. “Gostou?”, perguntou.

Ele estreitou os olhos, a observando. A esposa realmente parecia feliz e animada com a mudança de visual, porém havia algo em seu tom de voz e na postura um pouco hesitante que tornava tudo suspeito demais.

“Eu amei”, o loiro respondeu de imediato, “Combina com você tanto quanto o cabelo grande”. E complementando, ele decidiu seguir seus instintos: “Mas Marinette... por que cortou?”.

Sua esposa ficou calada por uns instantes, a mão acariciando a dele que se mantinha em sua bochecha. Estava tentando relaxar sob o toque do homem que amava antes de mergulhar a ambos no caos que estavam suas vidas.

“My lady”, ele a chamou novamente, insistente, “Vai me contar o que aconteceu enquanto eu estava apagado? Quantos dias eu dormi...? Por que cortou seu cabelo...?”.

Ela assentiu, a expressão tornando-se séria. “Só... só um minuto”, ela pediu.

E sem esperar a resposta, Marinette se afastou dele indo em direção às janelas e fechando as cortinas. Depois desligou a televisão de parede da tomada e abriu a porta, a cabeça do lado de fora olhando o lado esquerdo e direito do corredor. Quando percebeu que não havia ninguém, se colocou para dentro e fechou a porta. Queria trancá-la informalmente com uma cadeira que havia ali, porém não podia. Levantaria suspeitas demais.

“Amor, o que está fazendo? Há algo de errado?”, Adrien questionou, visivelmente confuso acerca dos motivos por trás das ações dela.

Com a expressão mais aliviada, ela voltou e se sentou ao lado do marido na cama, tomando-lhe a mão com a sua. Ele a olhou com uma sobrancelha arqueada, cheio de expectativas. “São só... medidas de segurança”, explicou, o tom baixo e desconcertado, “Eu vou te contar tudo que aconteceu, mas de antemão já te falo que fomos forçados a tomar essas precauções”.

“A situação está tão ruim assim?”, ele se percebeu falando baixo como ela, o cenho franzido, “O que aquele supervilão fez?”.

Marinette respirou fundo, entrelaçando os dedos dela com os dele, e começou a atualizá-lo sobre os acontecimentos. Contou sobre o anel dele e Plagg estarem com Emma; o ataque de Biston e o roubo do livro e do miraculous de Nooroo; a revelação das identidades de Kagami, Alya e dele; a comoção que isso causou em Paris e em como a privacidade lhes foi brutalmente roubada; a reunião com o esquadrão e o plano de Bunnix. Tentou dar os detalhes importantes o melhor que pôde, da forma mais objetiva e racional que conseguiu. E deixou suas opiniões e emoções guardadas para si, por ora. Ela sabia que, na frente de seu marido e parceiro, não conseguiria se controlar uma vez que expressasse seus sentimentos.

Ao final, Adrien estava atônito e... impressionado pela quantidade de acontecimentos que poderiam se suceder em um intervalo de tempo tão pequeno. Era muito para ser processado. “Amor... Caramba...”, murmurou um pouco tonto, “Eu nem sei por onde começar... Esse cara parecia ter todas as cartas na mão, tudo milimetricamente planejado... E o mundo sabendo quem Alya e Kagami são? Nossa, deve estar sendo horrível pra elas... E eu? Deveríamos ter sido mais cuidadosos. Digo, ele provocou esse acidente porque sabia que eu sou Chat Noir...”, fez uma pausa, as informações parecendo estar rodando em sua cabeça; ele franziu o cenho: “E Emma com Plagg em uma missão? Nossa princesa em uma missão? Ela nem está preparada para isso, não sabe lutar com os poderes da destruição... E se ela se machucar? Caramba, é muita coisa!”.

“Eu sei. É demais, não é? Tudo aconteceu tão rápido e tivemos que tomar decisões importantes no calor do momento. A pressão... foi enlouquecedor! E ainda não acabou”, Marinette deixou os ombros caírem, demonstrando o quão cansada estava de fato. No olhar dela, havia uma sensação semelhante à frustração que ele sabia estar sentindo, à parte da tontura, “Eu senti que estávamos tentando apagar um incêndio no inferno”.

Adrien juntou as sobrancelhas, afastando sua própria confusão para prestar atenção em sua esposa e no quanto as responsabilidades estavam pesando para ela. “Eu sinto muito por não estar ao seu lado enfrentando isso tudo”, ele disse, o tom de desculpas. Imediatamente ela sorriu, balançando a cabeça e negando sua tentativa de se lamentar. Ele continuou, de qualquer maneira: “Ele me tirou fora do jogo para eu não estar lá para te proteger; para deixar você, Alya e Kagami na mão. Foi tudo parte do plano dele”.

A mulher assentiu, o cenho franzido de concentração. “Um plano que ele provavelmente vem tecendo por anos”, comentou antes de prosseguir: “E finalmente, respondendo uma de suas perguntas: hoje de manhã eu conversei com a Tikki e sendo nora do Hawkmoth e esposa do Chat Noir, concordamos que não levaria muito tempo para todos deduzirem que sou a Ladybug. Então, eu liguei para Rose e ela deu uma passada lá em casa para cortarmos meu cabelo. Esse é o resultado. Eu amei e fico muito feliz que você tenha também. Ao menos, podemos retirar algo bom da real motivação da mudança. Ladybug continuará com o cabelo longo e amarrado, como sempre. Meu cabelo curto irá modificar as semelhanças entre nós”.

“Vocês estão mesmo diferentes agora”, ele disse passando a mão da bochecha aos fios perto da orelha, como se os analisasse. “E ao mesmo tempo iguais. Esse corte tirou um pouco da inocência da Marinette e trouxe a ferocidade da Ladybug. Acho que os últimos acontecimentos uniram mais suas duas facetas, meu amor”, completou com ar sonhador em sua expressão e tom de voz.

“Eu me sinto mais forte, embora destruída. Não sei... não sei como estou aguentando, Adrien”, Marinette revelou, os ombros caindo em sinal de exaustão.

Ele manteve o ar sonhador enquanto a olhava com confiança. “Eu sei. Eu estou vendo isso no seu rosto”, disse, “Mas... você não está sozinha, my lady. Você tem a mim, tem ao esquadrão... você tem nossa filha. É dessa maneira que você está aguentando”.

Concentrada nas palavras dele, ela assentiu. “Sim, sem vocês eu não estaria conseguindo”, concordou. Depois, fechou os olhos por alguns segundos enquanto aproveitava as carícias dele em seu cabelo. Mais uma vez buscava no toque e no cheiro dele uma sensação de relaxamento, de certeza e estabilidade. E estava conseguindo, aos poucos deixando que o cansaço, o medo e a ansiedade fluíssem enquanto adentrava no porto seguro que era seu marido.

Tinha sentido tanta falta dele. Mesmo que houvessem se passado somente vinte e quatro horas da última vez que haviam se visto.

“Então, sobre Emma na missão...”, ela sussurrou abrindo os olhos.

Adrien viu uma expressão mais serena no rosto dela e sorriu. Marinette havia conseguido relaxar um pouco. Ele mesmo estava se sentindo melhor, mais confortável visto que sua esposa estava ali ao seu lado. Eles poderiam retomar o assunto que levemente tocaram minutos atrás, porém que era de extrema importância: “Não vou mentir e dizer que não me preocupa. Fiquei muito assustado quando você me contou e... bom, ela é a minha princesinha”, comprimiu os lábios, suspirando, “Se eu pudesse, a protegeria de tudo e todos... Mas eu não posso e nem você”.

Marinette assentiu, mantendo seus olhos nos dele e acompanhando suas palavras.

“Meu pai passou minha infância e adolescência tentando me proteger. E só eu sei o quão sozinho e preso eu me senti, indo explorar o mundo vulnerável, inocente e inexperiente quando tive a chance. Quando nos casamos e engravidamos da Emma... Marinette, nós conversamos sobre isso: eu disse a você que não cometeria os mesmos erros que ele e desde então, tentamos deixar nossos filhos livres na medida do possível para fazerem suas escolhas”, ele pausou e ela assentiu mais uma vez, sussurrando um “eu lembro”, “Então, por mais que seja muito perigoso, minha posição é a mesma: dou a ela um voto de confiança”.

“Eu entendo. E sua opinião faz muito sentido... Eu só... Parece que eu estou prestes a perder todos que eu amo, Adrien, a cada segundo que passa. E manda-la para essa missão...”, a mulher sussurrou, os ombros caídos novamente.

Ele retirou a mão dos cabelos dela e envolveu a própria mão dela apoiada em sua perna, dali ele a levou à boca dele beijando-lhe as costas. “Nós não queremos que nossa menininha passe pelos perigos que passamos”, começou passando-lhe conforto, “Mas meu amor, Emma é tão inteligente quanto você e astuta e esperta como eu. Quando ela coloca uma coisa na cabeça, é tão teimosa quanto nós dois. Sei que ela tem o que é necessário para cumprir seu papel nisso. Sem falar que estamos todos correndo riscos nessa situação. Talvez ela esteja melhor participando de toda a ação do que somente assistindo”.

A mulher soltou um suspiro e depois uma risadinha, claramente mais calma e convencida. “Eu sabia que você seria a favor, eventualmente”, comentou.

“Eu sou a parte mais relaxada e irresponsável de nós dois, é verdade”, ele tentou dar de ombros, mas pontadas de dor no braço e costelas o impediram. Fez uma careta.

“Esqueceu que não pode fazer movimentos bruscos, né?”, Marinette perguntou retoricamente, uma sobrancelha arqueada em provocação.

Ele assentiu, ainda um pouco sério, porém com um sorriso de canto puxado: “Só para finalizarmos esse assunto por agora: peça para Emma vir até aqui. Quero conversar com ela sobre Plagg e o poder da destruição”, disse cuidadosamente, “Sei que ela e Plagg tem uma ligação mais profunda que eu e ele temos, talvez por viverem grudados desde o dia em que ela nasceu, mas há coisas que ela precisa saber que ele provavelmente vai deixar de informar a ela”.

“Isso é muito importante, é verdade”, ela concordou, mordendo o lábio, “Mas vamos deixar para essa conversa acontecer quando você voltar para casa. Eu não confio nas pessoas desse hospital. Biston pode ter mandado qualquer um para cá para nos espionar; funcionários podem ouvir e vender essas informações para a imprensa... Quando você tiver alta, o que eu espero e estou mexendo os pauzinhos para que seja rápido, ela já vai estar com a missão em andamento. Porém, te prometo que essa conversa vai acontecer”.

 Adrien assentiu, ainda com o cenho franzido de preocupação, porém aparentando estar conformado. “Quando ela vai?”, perguntou ainda sussurrando.

“Hoje à noite. Já consegui um atestado médico falsificado para livrá-la das responsabilidades da escola até quando a missão acabar”, ela respondeu, séria.

Um pequeno silêncio os envolveu enquanto ele assimilava as novidades. O loiro abriu a boca para pedir mais informações quando batidas na porta o impediram. Imediatamente, os dois voltaram sua atenção para a enfermeira que colocava a cabeça para dentro do cômodo.

“Madame Agreste?”, ela a chamou em um tom sério, se desculpando pela intromissão com o olhar, “Pode me acompanhar? Há pessoas requisitando sua presença na sala de espera”.

 

Adentrando a sala de espera, Marinette franziu o cenho, em um misto de surpresa e desconfiança. Nadja Chamack estava ali junto com sua equipe de filmagem. Estavam sentados em um canto, um pouco afastados dos demais. O microfone, as câmeras e a animação deles eram uma visão um tanto quanto estranha no ambiente de insegurança e tristeza que era o cômodo em que estavam. Certamente não combinavam com o humor das pessoas presentes.

“Nadja?”, se aproximou e a chamou, dando voz ao seu incômodo, “O que fazem aqui?”.

A cabeleira de tom violeta se virou imediatamente para olhar a mulher, um sorriso aberto no rosto. “Ah Marinette, agradeço por vir nos receber”, começou em tom polido, porém suspeitosamente ansioso, “Viemos saber como Adrien Agreste está, nos atualizar sobre seu estado de saúde. O horário de visitas está disponível para nós também?”.

Marinette arqueou uma sobrancelha.

Um alarme soou na cabeça dela, uma sensação prolongada de desconfiança. O que eles estavam realmente fazendo ali? O propósito de verificar o bem-estar de seu marido parecia algo superficial demais, como uma desculpa esfarrapada que ela sendo Ladybug sabia muito bem como funcionava. Os pedidos tão diretos e o fato de já estarem se adiantando, provavelmente com o objetivo final de sua visita em mente, também chamaram a atenção dela. Considerando que só havia um jeito de descobrir, ela decidiu entrar no jogo deles. Queria ver até onde iria dar se ela negasse e mantivesse a conversa.

“Jura? Bom, eu receio que vocês não possam conversar diretamente com Adrien, porém eu posso ser aquela a atualizar vocês sobre a saúde dele”, informou abrindo um sorriso pequeno de desculpas. E sem dar chance para a jornalista responder, complementou: “Ele está se recuperando. Os médicos e enfermeiros estão nos prestando um serviço excelente e logo ele estará conosco em casa, sendo cuidado pela nossa família. Nós apreciamos a preocupação de vocês”.

“Essas são notícias excelentes. Eu fico muito feliz”, Nadja comentou animada, apesar de ter tido seu pedido negado de maneira abrupta, “Entretanto, Marinette, já que ele está se sentindo melhor, eu acho que ele poderia ceder uns minutos para conversarmos. Talvez responder algumas perguntas para o jornal? Certeza que todos os parisienses iriam adorar saber notícias dele, como está sua recuperação...”.

Marinette assentiu lentamente, acompanhando o verdadeiro raciocínio dela.

Eles não estavam ali para atualizar os parisienses da recuperação de seu marido. É provável que eles nem estivessem preocupados com seu estado atual de saúde. As intenções de Nadja Chamack e sua equipe eram bem mais profundas que uma mera visita.

Eles estavam ali por causa de Chat Noir.

O sorriso no rosto da mulher se fechou. Uma ferocidade tomou seu olhar enquanto ela se colocava na pose de protetora e justiceira. Ao estilo Ladybug. “Os parisienses iriam adorar ter notícias dele? Ter uns minutos com ele, fazer algumas perguntinhas... inofensivas, diria?”, começou devolvendo as perguntas a ela de maneira retórica, a raiva reverberando em seu tom baixo de voz.

Nadja assentiu com a cabeça, um sorriso provocativo no rosto. “Eu acredito que você possa nos ajudar com isso, Marinette... Nós nos conhecemos há bastante tempo. Se dedicou todos aqueles anos me ajudando a cuidar de Manon, serei eternamente grata. Acabamos ficando muito próximas, certo? Poderia nos deixar entrar, por tudo que passamos juntas?”, sugeriu, astuta.

Oh, uau... Ela realmente estava usando isso para conseguir o que queria?

Marinette não iria cair nessa armadilha.

“Acha que me engana, Nadja?”, começou, os braços dela sendo cruzados, “Você só está aqui porque descobriram que meu marido é Chat Noir. Assim como todas aquelas pessoas lá fora. Seus minutos com ele seriam um interrogatório sobre nossa vida pessoal, sobre a vida dupla dele como super-herói. Um herói que por vezes salvou a sua pele com Ladybug e o esquadrão. E em menos de um dia, detalhes preciosos nossos que você conseguiria arrancar estariam na manchete dos jornais, no horário nobre da televisão, para que todos pudessem ver. Eu sei do que você é capaz para se autopromover, Nadja Chamack. Você, assim como todos os outros, estão corroborando muito bem com os planos desse novo supervilão... Biston, não é? Então, ouça minhas próximas palavras com atenção”, ela parou, semicerrando os olhos e proferindo o seguinte lentamente: “Do meu marido, dos meus filhos, dos meus amigos... da minha família, você não tira proveito. Eu vou me certificar de que você não chegue perto de nenhum deles. E se você ou qualquer outro jornalista ousar se aproximar, vocês verão do que eu sou capaz”.

Nadja colocou teatralmente uma mão no peito, parecendo ofendida.

“Marinette?”, disse com o semblante assustado no rosto.

“A partir de agora, é madame Agreste”, a mulher rebateu.

Dito isso, ela se virou para atravessar a porta da sala de espera em direção aos quartos, pronta para voltar para a companhia de seu marido. Deixou uma Nadja Chamack atônita e muda para trás, completamente surpresa pela reação enfurecida e ameaçadora da mulher quase quinze anos mais nova que ela, a mesma mulher que era babá de sua filha primogênita, Manon. E se virando para sua equipe de filmagem, os homens quase aterrorizados com suas câmeras em mãos, disse dando de ombros:

“Acredito que temos nossa primeira página, afinal de contas”.

 

Aproximando-se da mesa onde seus amigos estavam sentados, Emma guardou seu celular no bolso da jaqueta que usava. Havia acabado de receber uma ligação de sua mãe a informando que havia conseguido o atestado médico falso que a afastaria da escola pelos próximos dias sem represálias. Também a informou que conversou com Bunnix e que as duas iriam dar início à missão de reconhecimento naquele dia de noite. Iriam somente esperar que ela saísse da escola e que o movimento nas ruas de Paris se amenizasse depois da hora do rush para saltarem no portal.

Emma não teria a possibilidade nem de visitar seu pai no hospital com seus irmãos, pois esse seria o exato horário em que ela voltaria ao passado.

A notícia a deixou atordoada.

É isso aí. Estava acontecendo! A missão a qual ela havia lutado para participar e encabeçar junto a uma de suas tias favoritas estava para se iniciar.

Então, por que ela estava se sentindo tão nervosa?

Ela se sentou na cadeira onde estava, antes de pedir licença aos amigos e atender a ligação de sua mãe. Não conseguia olhar nenhum deles nos olhos, nem sequer prestar atenção ao que estavam conversando. Na verdade, tudo ao seu redor estava um pouco borrado e distante. Tudo que ela conseguia ouvir eram as batidas de seu coração altas em seu ouvido e o nervosismo martelando em sua cabeça.

“Minette!”, ela sentiu Plagg dar uma leve puxada nos fios próximos à nuca.

A dor e a menção ao seu apelido a fizeram retornar um pouco à realidade. Ele estava escondido no local onde haviam escolhido naquele dia pela manhã: na gola de sua jaqueta, atrás de seus cabelos. Emma piscou algumas vezes olhando em volta e observando seus amigos muito animados conversando. Na cadeira ao lado dela estava Adam, como sempre, à sua frente estavam sentados Fleur e Gaël e próximo a eles, a pequena Ambre.

“Te chamei algumas vezes. Você parecia em outro planeta, menina!”, o kwami continuou aos sussurros em seu ouvido, “Está nervosa com nosso início de missão hoje à noite, não é? Está tremendo!”.

A jovem assentiu com a cabeça discretamente, confirmando as suposições dele.

Quando Plagg respondeu, a voz usualmente estridente estava mais suave: “Ah minha minette, vai ficar tudo bem. Você está comigo e nós dois juntos somos imbatíveis. Confie em mim”.

Emma comprimiu os lábios, sentindo o pequeno ser envolver suas patas em seu pescoço em um gesto parecido com um abraço. Ela sorriu minimamente, para não levantar suspeitas de seus amigos ou de qualquer pessoa que estivesse no refeitório como eles. Como resposta, então, levou sua mão à nuca. Para pessoas de fora, parecia que ela estava coçando o local ou ajeitando seus cabelos. No entanto, para ela e para Plagg, estava fazendo um carinho na cabeça do kwami, o agradecendo silenciosamente.

O nervosismo não estava completamente desaparecido, porém estava pronto para ser deixado de lado. Quando havia feito carícias mais que suficientes no pequeno parceiro, ela retirou a mão da nuca e olhou para seus amigos novamente.

Para receber uma bolinha de papel com força na testa.

“Emma!”, Fleur a chamou batendo na mesa e fazendo um barulho alto.

Ela levou um pequeno susto, um gritinho saindo de sua garganta. Os demais sentados à mesa soltaram risadas, inclusive Plagg ao pé de sua orelha. Com raiva, ela se concentrou na jovem à sua frente que mantinha os olhos cor de avelã desafiadoramente nela, as mãos na cintura e nariz empinado. O nervosismo já havia sido esquecido. As duas se encararam por alguns segundos, a raiva e a zoeira misturadas entre ambas e transmitidas pelo clima ao redor. Ao lado, uma mão, que Emma sabia muito bem que pertencia a Adam, discreta e cuidadosamente se entrelaçou com a dela embaixo da mesa e começou a fazer carinhos.

“Mademoiselle Césaire-Lahiffe, posso saber o significado disso?”, a jovem de cabelos preto-azulados questionou, o tom combinando com a pose desafiadora da amiga.

Fleur deu de ombros, impassível.

“Em nossa defesa, Emma”, Gaël se intrometeu ajeitando os óculos, a fatia de pizza deixada de lado, “Nós te chamamos um monte de vezes, tentamos chamar sua atenção... e nada”.

Ambre assentiu com a cabeça, os cabelos negros balançando e a lata de refrigerante na mão. “Sim!”, ela concordou, “Você estava viajando, talvez em outra dimensão com uns unicórnios”.

Ela soltou um risinho. Sabia que seus amigos estavam brincando e que não estavam bravos com ela. Em prol da zoeira, então, preferiu manter a postura de sarcástica. “Bom... pelo menos esses unicórnios não resolveram me atacar!”, reclamou, semicerrando os olhos para Fleur.

“E eu atacaria de novo. Estava falando com você. Ninguém me ignora!”, a morena rebateu, o canto de seus lábios puxados em um sorriso travesso. Em suas mãos, havia um copo com suco de laranja no qual ela bebericava a cada fala.

Emma revirou os olhos, fazendo uma careta para Gaël que acompanhava sua falsa impaciência. A expressão dos dois dizia: “é sério isso?”. Adam e Ambre assistiam à provocação dos dois com risinhos enquanto também davam atenção à comida deles.

“Não era nada demais, Emma”, Gaël recomeçou dando de ombros, “Minha mana aqui só queria te perguntar se ela deveria usar a calcinha em cima das calças metalizadas no dia do show. Aparentemente é para dar sorte no dia e ganharmos a feira”.

Fleur se engasgou com seu suco. Uma nova onda de risadas se espalhou pela mesa.

“Não sei, amiga. Um colam roxo e meias listradas laranjas ficariam melhor”, Emma entrou na brincadeira, a língua levemente para fora da boca, “Todo mundo iria ficar olhando para você”.

Se recuperando do engasgo, a morena tossiu algumas vezes antes de rebater: “Continua e você vai o que eu faria contigo se de repente você ficasse em cima do palco!”.

“Voa, voa, borboletinha”, Ambre cantarolou, ilustrando a visão dela de como a ameaça se concretizaria.

Emma, Adam, Gaël e Fleur tomaram alguns segundos para encarar a pequena que, ao calar a boca, abriu um sorriso meigo e inocente. E, então, deram continuidade à onda de risadas. Eles não tinham o melhor senso de humor do mundo e riam por qualquer coisa, no entanto esses aspectos nada os prejudicavam por estarem sempre juntos nas zoeiras.

“Falando sério”, Emma retomou, um sorriso animado substituindo as gargalhadas e provocações, “A feira é na sexta-feira, né?”.

A mais velha assentiu. “É o monopólio do assunto da escola”, comentou e depois arqueou as sobrancelhas, claramente incomodada com o que tinha acabado de se lembrar: “Na verdade, nós somos a fofoca da escola, mas muita gente também está falando sobre a feira”.

À menção da atual circunstância, Adam e Gaël discretamente passaram os olhos pelas mesas ao redor, observando seus colegas de classe e os demais alunos da Lycée Moilère. A maioria estava concentrada em suas próprias rodinhas de conversa e em seus almoços, no entanto havia uma pequena parcela composta por pessoas isoladas em diferentes pontos que insistiam em observá-los e cochichar o que viam, seja lá o que viam.

Os dois se entreolharam e Adam foi aquele que comentou: “É, nós somos. Fico me perguntando como ninguém veio falar conosco ainda”.

“Não tiram os olhos da gente desde que pisamos o pé na escola hoje de manhã”, Gaël complementou colocando um pedaço de sua pizza na boca.

“Isso me incomoda mais do que eu imaginava que iria”, Fleur deu de ombros, deixando seu suco de lado, “E... quero conversar com vocês sobre a situação lá em casa. Mas acho que aqui não é o melhor lugar”.

“Gente demais”, Adam concordou e Emma assentiu com a cabeça, “Vamos terminar de comer e ir para nosso lugar. Um pouco de música e uma conversa sobre isso vai nos fazer bem”.

“Okay, mas enquanto terminamos: como estão os ensaios?”, a de cabelos preto-azulados retomou o assunto, animação voltando aos seus olhos.

É uma tradição da escola Lycée Moilère fazer uma Feira de Ciências e Artes logo no início do ano letivo. O objetivo para a diretora Caline Bustier é dar boas-vindas aos calouros e convidá-los a fazerem atividades extraclasses nos diversos clubes da escola. O objetivo para os estudantes, especialmente os representantes dos clubes, é quase se matarem em uma competição de quem panfleta melhor as atividades e consegue mais inscritos.

O Clube de Música, que Fleur, Adam e Ambre faziam parte, iria participar dos dois dias com estandes, cupcakes de instrumentos musicais e um pequeno show de talentos. Ao final, os três iriam fazer um pequeno show próprio no palco principal – evento que nunca tinha acontecido nos três anos que os gêmeos estavam na escola. O grupo de amigos deles como um todo estava confiante de que iriam ganhar a competição.

Ambre foi aquela a responder, cortando totalmente as intenções de uma também animada Fleur de continuar a falar: “Estão indo muito bem. Já escolhemos a música e ela tem um solo de guitarra e bateria perfeitos”, ela praticamente pulava na cadeira, sua voz fina subindo algumas oitavas enquanto falava.

Emma se voltou para o futuro-quase-próximo namorado ao seu lado, empurrando levemente os ombros dele com os dela. “Oh uau, parece que alguém vai ter seus quinze segundos de fama!”, comentou.

Ele a encarou, um sorriso se abrindo nos lábios e sua mão ainda entrelaçada com a dela embaixo da mesa. E deu de ombros, pronto para dar uma resposta modesta e sarcástica, como de costume. No entanto, isso não estava nos planos de Ambre.

“E...”, ela levantou um dedo impedindo o primo de falar, “Alugamos um jogo de luz completo. Estamos planejando apagar as luzes do local do show para que a atenção de todos estejam somente na gente. Isso sem mencionar os confetes preparados para o final”.

Gaël soltou uma risada ao lado dela enquanto observava a pequena. Enquanto ele e Fleur tinham seus dezoito anos e estavam no ano de graduação, Ambre tinha seus quinze anos e havia acabado de entrar na Lycée Moilère para o ensino médio. Do grupo, ela era mais nova e a que ficava mais animada com basicamente tudo que eles faziam. Sua animação, no entanto, não tinha a ver só com sua idade e ingenuidade: ela os lembrava muito de sua mãe. Entre a mãe mais discreta e tranquila que era tia Juleka e a mãe mais agitada e doce que era tia Rose, Ambre definitivamente havia puxado mais tia Rose.

“Com sorte, não precisaremos nos esforçar para animar a galera, Ambre vai fazer isso sem nem planejarmos!”, Adam conseguiu dizer rapidamente, antes que a morena recomeçasse. Com ar brincalhão, ele deu de ombros. Emma soltou uma risadinha.

“É claro que eu estou animada. Mama Rose está todos os dias treinando comigo aquecimentos de voz e exercícios. Nós vamos ganhar essa feira, escreve o que estou lhes dizendo!”, a mais nova complementou, quase com fogo nos olhos.

“Perder em entusiasmo, pelo menos, não vamos”, Gaël adicionou, comendo o último pedaço de sua pizza.

“Bom, Ambre no vocal, Fleur na guitarra e monsieur Couffaine aqui na bateria... definitivamente iremos ganhar!”, Emma constatou apontando para Adam com a cabeça. Quando recebeu sorrisos de confiança dos quatro, ela continuou: “Tia Juleka também está ajudando?”.

“Sim!”, a mais nova soltou um gritinho pronta para recomeçar a explicar.

Dessa vez, Fleur foi mais astuta cortando a amiga sem cerimônias em um tipo de vingancinha branca, o sorriso de canto nos lábios. “Ela tem me dado muitas dicas nos acordes da guitarra”, respondeu, “Estou aprendendo muito com ela. Tio Luka é o próximo que vou encurralar para me dar algumas lições”.

Adam revirou os olhos, se endireitando na cadeira e acariciando a mão de Emma. “Não precisa encurralar ele”, explicou, como se fosse óbvio, “Meu pai adoraria sentar contigo para tocar. É só pedir”.

Fleur deu de ombros. “Encurralar as pessoas é mais divertido”, explicou simplesmente. E levantando-se, ela pegou sua mochila e seu violão: “Vamos?”.

Os outros quatro também se levantaram.

“Temos meia hora ainda até o sino bater”, Gaël informou.

Ambre assentiu recolhendo os lixos de todos e saltitando até a lixeira para descarta-los. Gaël, Adam e Emma se adiantaram, enquanto que Fleur ficou esperando a mais nova para ambas irem ao banheiro.

Caminhando lado a lado aos amigos, Adam observou a futura-quase-próxima namorada por alguns segundos. Parecia presa em seus próprios pensamentos de novo enquanto segurava a alça de sua bolsa-carteiro com força. Comprimiu os lábios, preocupado. Queria saber sobre o que ela estava refletindo tanto. Ele passou a mão no braço dela para chamar-lhe a atenção.

“Hey”, disse quando ela olhou pra ele, “Você está bem? Parece meio fora de órbita, de novo”.

Emma abriu um sorriso pequeno, como se tivesse sido pega no flagra.

“Ladybug me mandou mensagem dizendo que começo a missão com Bunnix hoje”, ela se aproximou mais dele e explicou em um tom de voz baixo, que somente os dois e o kwami em seus cabelos poderiam ouvir, “Plagg tentou me acalmar naquela hora que eu estava viajando com unicórnios”, soltou uma risadinha, “Mas... eu não consigo deixar de me preocupar, sabe. Adam... eu... é a primeira vez que faço algo do tipo. Ladybug e Chat Noir são os heróis, eu sou só uma garota normal. E eu sei que fui eu quem pedi, que enfrentei Ladybug para conseguir essa missão... Mas...”, e pausou suspirando: “Acho que isso é só ansiedade pré-missão mesmo”.

Adam parou por uns segundos no meio do caminho e envolveu a mão de Emma com a sua. Depois, olhando-a nos olhos, ele ergueu as mãos juntas e beijou a dela. “Sei que você pensou sobre isso, sobre os prós e contras e se você é qualificada ou não. Sei também que fez isso pensando exclusivamente no que é melhor para todos. Mas acho que só agora você está sentindo o que é realmente ser uma super-heroína, o que é você, Emma, fazer isso e não Ladybug e Chat Noir”, ele explicou calmamente e também aos sussurros, “E está tudo bem. Agreste, essa não é uma tarefa fácil. Você mesma me disse hoje mais cedo que há possibilidades de você falhar. Ter medo e sentir ansiedade é normal. Só lembra do porquê você escolheu participar da missão e você vai se sentir melhor”.

A jovem assentiu pensativa, olhando-o nos olhos. “Obrigada”, ela respondeu baixinho, “Santo queijo, ter você e Plagg comigo todo o tempo está me fazendo bem. Bom, você dá mais suporte... mas ele é engraçado”, e deu de ombros abrindo um sorriso travesso.

Adam riu baixinho. Sua risada ficou mais alta quando ele ouviu uma voz estridente sair dos cabelos de Emma dizendo: “Eu ouvi isso, minette. Como ousa?”.

Trocando sorrisos, eles localizaram Gaël os esperando há uma distância considerável. Ele estava com os braços cruzados e uma clara expressão divertida no rosto, enquanto segurava a alça da mochila nas costas.

“Vocês são tão óbvios!”, o amigo comentou quando eles se aproximaram, a expressão divertida se tornando incrédula.

“Do que você está falando? Somos só amigos muito próximos”, Emma desconversou.

“Vocês dois sabem do que eu estou falando!”, ele rebateu com uma cara de tédio.

Alguns segundos de silêncio se seguiram, e no fim os futuro-quase-próximo namorados optaram por não responder. Um leve rubor, no entanto, preenchia os rostos de ambos. Gaël se limitou a revirar os olhos.

Quando Ambre e Fleur os alcançaram, os cinco saíram calmamente do refeitório para fora dos limites dos prédios, em direção ao espaço verde da escola que eles sempre passavam os almoços. Tentaram ao máximo ignorar as olhadas e cochichos das pessoas que encontraram pelo caminho. Era como se os colegas deles soubessem para onde eles estavam indo e o que iriam fazer, cada coisa que conversavam entre si e as atividades a que se dedicavam. Como se todos pudessem ler os pensamentos deles.

A vida pessoal deles nunca esteve tanto em destaque como nas últimas cinco horas.

“Eu escolho a primeira música”, Ambre se pronunciou deixando sua mochila no chão, “‘26’ do Granade”.

Fleur tirou uma manta de sua mochila, aquela que eles sempre usavam para fazer as rodas musicais no horário do almoço. “Essa é uma ótima escolha de música, maninha”, Adam lhe enviou uma piscadela estendendo a mão para que ela batesse, o que ela alegremente fez, e foi o primeiro a se sentar. Se endireitando, ele puxou Emma para que ela se sentasse no meio de suas pernas. A mais nova graciosamente se sentou ao lado deles, cruzando as pernas e colocando seu celular à frente dela. Os gêmeos se ajustaram na ponta da manta que havia sobrado, afastados um do outro para que Fleur tivesse espaço o suficiente para acomodar o violão e tocar.

“Bom, eu não sei vocês, mas acho que esses tempos são perfeitos para nós sermos filhos do Chat Noir e da Rena Rouge”, Emma soltou o comentário sarcástico, se aninhando a Adam.

“Cara, vocês acreditam que hoje de manhã havia pelo menos umas dez cartas de desconhecidos na nossa caixa do correio?”, Fleur comentou colocando seu violão no colo e suspirando, “Eu sinceramente nunca pensei que isso poderia acontecer. Já lidávamos com coisas parecidas, mas agora a situação ficou fora dos limites. Uma menina me mandou mensagem no Instagram perguntando se eu poderia enviar uma foto autografada da Rena Rouge e quando eu disse ‘não’, ela insistiu e insistiu. Estão literalmente tirando nossa privacidade, nos perseguindo, nos... agredindo!”.

Gaël assentiu com a cabeça, dando força ao desabafo da irmã. “Hoje minha mãe decidiu trabalhar em casa com uma papelada lá. Ela disse que estava cansada, que em casa ficaria mais relaxada, mas estava claro como água que ela queria evitar as pessoas na emissora. Ela tem medo de que o trabalho dela fique prejudicado por ela ser uma super-heroína. Sabe o que é assistir de camarote Alya Césaire fugir de briga? Nunca vi minha mãe fugir de qualquer coisa na vida dela!”.

Emma se endireitou, ainda sentada entre as pernas de Adam, mas mais afastada dele. Ela brincava com os dedos das mãos enquanto decidia o que diria aos seus amigos. Obviamente as coisas que eles desabafaram eram consequências das ações de Biston e não havia ninguém a se culpar a não ser ele. No entanto, ele não necessariamente estava ao alcance para ser culpado e assumir responsabilidade por seus atos no momento, estava? Tia Alya e sua família estavam pagando um preço muito caro por algo que eles não haviam feito, enfrentando consequências que eles não esperavam ter de lidar.

Ela soltou um suspiro, a mesma raiva que sentiu no dia anterior crescendo no peito. A diferença do sentimento era que dessa vez não vinha acompanhado de impotência, vinha carregado de determinação. Ela tinha nas mãos o caminho da mudança, da reparação total dos danos causados por Biston. De um jeito, ela tinha a solução para pará-lo, para fazê-lo pagar por seus atos.

E... uau, ela iria fazê-lo pagar.

“Isso é tão injusto”, ela comentou passando as mãos no rosto, soltando um grunhido irritado, “Mas isso vai acabar, gente. O esquadrão não está com os braços cruzados”.

“Definitivamente, não. Não podemos discutir detalhes assim ao ar livre, mas com certeza eles irão responder fogo com fogo”, Adam complementou abraçando a cintura de Emma e colocando a cabeça no ombro dela. Isso a fez se endireitar e passar as mãos em cima dos braços dele em sua barriga. O suspiro que saiu de sua boca dessa vez foi de puro conforto e quentura.

“É, não acompanhamos, mas ficamos sabendo da reunião de ontem”, Fleur respondeu, os ombros ainda caídos.

Ao lado deles, Ambre escutava tudo silenciosamente, a expressão preocupada em seu rosto geralmente meigo. Como suas mães não faziam parte do esquadrão e haviam devolvido os miraculous que lhes foram emprestados durante uma época, não tinha acesso a todas as notícias e informações em primeira mão. No entanto, suas mães eram amigas muito íntimas dos heróis e conheciam suas identidades secretas, especialmente quando dois deles eram tio Luka e tia Marinette. Então, ela também estava envolvida nesse meio e compreendia a frustração de seus amigos, embora não pudesse compartilhá-la.

“Sinto muito, gente, de verdade. Estar nessa situação deve ser terrível”, a pequena disse, o tom de voz carregado de tristeza.

Gaël abriu um sorriso para ela. “É, está sendo terrível mesmo, mas é como a Emma disse: essa situação tem data de validade. Gosto de me manter esperançoso!”, disse, “E fica mais fácil de suportar tendo o apoio e os ouvidos de vocês”.

“Bom, a gente é meio que uma família gigante. Nossos pais são amigos e nós crescemos juntos, nos atormentando. Acho que não tem muito o que fazer além de nos apoiar e mantermo-nos próximos, certo?”, Adam deu de ombros adicionando um leve tom de sarcasmo em sua fala, mesmo que estivesse dizendo verdades.

Ambre soltou risadinhas. “É, certo”, concordou.

“Bom, acho melhor darmos início à nossa roda musical. Faltam só vinte minutos para o sino bater”, Gaël avisou sacando seu celular do bolso e olhando a tela, “Eu escolho a segunda música e é Deathly Intentions do Jagged Stone”.

“Uh! Essa é velha, mas é do Rei!”, Adam gritou reverberando uma animação repentina. Em seus braços, Emma abriu um sorriso preguiçoso e assentiu com a cabeça, concordando com ele.

Então, ajeitando o violão em seu colo, Fleur iniciou os primeiros acordes da música 26 do Grenade e logo a voz doce e harmônica de Ambre preencheu o silêncio do espaço verde da Lycée Moilère.

 

Sentada no sofá da casa dos Dupain-Agreste, como já estava virando seu costume, Bunnix encarou Marinette e Gatuna. As janelas da sala de estar, assim como as cortinas, estavam fechadas e todos os eletrônicos estavam desligados. As crianças estavam em seus quartos ocupadas com dever de casa do dia e contando os minutos para irem visitar Adrien no hospital. Quanto à mãe e filha, elas estavam lado a lado no mesmo móvel, Marinette ainda um pouco atônita pela nova aparência de Emma, provavelmente pelo quão ameaçadora e feroz ela estava.

A transformação havia caído como uma luva na gatinha.

Com os cabelos preto-azulados em um rabo de cavalo alto e muito longo, o traje de couro preto bem ajustado em seu corpo e as botas acima dos joelhos, ela parecia uma versão menos parecida de Lady Noire e mais semelhante ao Chat Noir, especialmente por causa do sino pendurado no pescoço. No entanto, ainda assim, havia algo único que diferenciava Gatuna das versões de Marinette e Adrien utilizando o miraculous do gato preto.

Talvez fosse o bastão cinza dividido em dois colocado no formato de “X” nas costas da heroína... ela realmente não conseguia dizer.

Bunnix estava satisfeita com o resultado, isso poderia assinalar com firmeza.

“Está quase na hora”, Marinette disse, um pouco relutante, “Vamos repassar as estratégias?”.

Gatuna assentiu. “A ideia é Bunnix ficar dentro do portal e eu encabeçar a missão de reconhecimento, explorando as possibilidades dentro do espaço-tempo que entrarmos por vez. No caso, meu objetivo é observar quem entra e sai da mansão Agreste e identificar possíveis suspeitos”, explicou repassando tudo que havia escutado da reunião do esquadrão e o que sua mãe havia instruído mais cedo.

“Exatamente”, Bunnix confirmou inclinando o corpo para frente, prestes a elaborar mais sobre as estratégias. Seu tom era muito sério. “Eu farei algo semelhante dentro do portal, mas de uma forma muito generalista. Olhar cada momento dentro de cada espaço-tempo dos anos 2016 a 2021 levaria um tempo gigante que não temos o luxo de gastar. Fazer isso é entregar logo o jogo para Biston e dar-nos por vencidas. E isso, jamais!”, fez uma pausa enquanto Marinette assentia e Gatuna soltava um “nem pensar!”, “Então, esse trabalho de formiga quem vai fazer é você, gatinha. Eu vou buscar os espaço-tempos que seriam mais prováveis de terem suspeitos e você vai se infiltrar neles e bancar a vigia na casa do Agreste-Pai”.

“Okay”, Gatuna juntou as mãos, mexendo dedos em dedos, e comprimiu os lábios, “Isso tudo eu entendi perfeitamente”.

“Isso é ótimo, gatinha. Essas são as instruções iniciais. Não temos necessariamente um plano detalhado e uma lista de objetivos mega específicos para cumprirmos; o espaço-tempo é muito fluído e mutável para isso. Trabalharemos na maioria do tempo com imprevistos e estratégias criadas no calor do momento”, Bunnix continuou, ainda em sua explicação metódica, “Mas... vamos ter a rotina de reportar ao esquadrão depois de cada viagem, então todos os dias voltaremos ao presente”.

“Faz todo sentido”, Gatuna assentiu.

“Esse é um ponto importante”, Marinette tomou a fala, olhando as duas nos olhos, “Tanto para zelarmos pela segurança de vocês duas quanto para manter os demais atualizados e montarmos uma estratégia em conjunto. Então, não importa o horário, voltem para casa”.

“Mais uma coisa e talvez a mais essencial de todas: a linha do tempo é frágil, gatinha”, a heroína da evolução encarou a mais jovem, a expressão impassível no rosto e difícil de ser ignorada, “Sua identidade deve ser mantida em segredo a todo instante, não importando quem você encontre. Pode ser minha versão no passado, sua mãe, seu pai, um desconhecido, mendigo na rua... não importa! Na verdade, ficamos calados ainda mais se for uma pessoa conhecida”.

Gatuna assentiu com a cabeça, tomando como verdade cada palavra de sua tia.

 “E nós não falamos sobre o futuro, não damos detalhes sórdidos, no máximo informamos que viemos de outro espaço-tempo para não fritarmos a cabeça das pessoas que encontramos. Mas só damos essa informação para pessoas importantes!”, Bunnix continuou apontando um dedo para ela, “A Ladybug e o Chat Noir do passado sabem da minha existência desde o início, então eles não ficarão surpresos caso você se esbarre com eles e tenha de dar explicações. No entanto, nunca fale para eles que é filha dos dois. Eu não estava brincando quando disse que eles racharam a lua ao meio. E civis? Nunca! Muito menos as versões dos heróis como civis, eles não sabem quem são um e outro por baixo da máscara”.

“Oh uau, isso é muita coisa para digerir!”, Gatuna comentou, meio tonta, “Mas estou acompanhando”.

“É realmente uma coisa esmagadora!”, a heroína afirmou, “Para essa missão, gatinha, esqueça o que seus pais te ensinaram sobre integridade: você vai ter de mentir e manipular as pessoas ao seu redor, mesmo que sejam aqueles que você ama”.


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Notas finais do capítulo

GENTE, GENTE, GENTE SIM, ESTÁ ACONTECENDO. PRÓXIMO CAPÍTULO É UMA DAS VIAGENS AO PASSADO.
EU TO MUITO ANSIOSA em mostrar como vai ser para vcs, embora eu não vá mentir: tá dando um trabalho DO CACETE.
Quero falar algo com vocês também: a fanfic se passa 23 anos depois do momento atual do desenho e MUITA COISA ACONTECEU. Para construir essa história, eu realmente desenvolvi todos esses acontecimentos e eu vou escrevê-los como spin-offs e postar no Nyah os alinhando à fanfic, mas em histórias diferentes. Vou fazer isso porque não tem como contar tudo do passado para vcs aqui, gente. Essa fanfic segue um plot, um propósito então MUITA coisa vai ficar em aberto e sem explicação. Mas eu quero contar essas mini histórias para vcs e construir realmente todo esse mundo. ENTÃO, MUITO IMPORTANTE: quero saber de vocês o que vocês gostariam de ler nos spin-offs. Sei que a fanfic tá no início ainda, agora que estamos entrando no meio dela, então entendo que vocês não possam responder isso agora se realmente não puderem, mas me contem: o que vocês mais querem saber do passado desses nossos personagens lindos?
No glossário, ele explica umas curiosidades que adicionei ao longo do capítulo. Tem um que não está ai, que é: o nome Ambre veio de uma das minhas personagens favoritas de Amor Doce University Life (um jogo que é clichê, mas que eu gosto muito), o nome é a versão francesa da pedra preciosa "ámbar". Os demais estão abaixo.
Glossário:
Chat Noir é a versão francesa de “Cat Noir” da versão brasileira e americana.
Lady Noire é o nome dado à Marinette usando o miraculous do gato preto.
Minette significa “gatinha” em francês.
Grenade é o nome fictício de uma banda chamada “Paramore”. A música “26” realmente pertence a esses lindos talentosos: https://youtu.be/8Ju7T4J1qbc :)
Deathly Intentions é uma música fictícia que eu criei para ser do Jagged Stone.
Lycée Moilère é o nome de uma escola de ensino médio que existe de verdade em Paris.
UM BEIJO ♥



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