O sinal tocou indicando o fim das aulas. Rapidamente os alunos começaram a se levantar e organizar seus materiais para ir embora da sala o mais rápido possível. Um a um eles iam cumprimentando o professor enquanto se retiravam. Porém um deles estava se organizando com calma, não havia pressa para sair pois não tinha nenhum compromisso no resto do dia. O professor olhou para ele e se lembrou de quem era, o aluno estrangeiro que chegará a pouco nas aulas e também na Coréia do Sul.
O garoto tinha por volta dos 20 anos, pele branca, era um pouco mais alto que a média coreana, sua estrutura corporal era maior também. Mas o que mais se destacava nele eram seus cabelos lisos e roxos, e seus grandes óculos redondos. Quando o aluno estava para passar por ele resolveu puxar assunto.
— Eduardo ssi, certo? Quanto tempo faz que você chegou na Coréia?
Um pouco surpreso por ter sido chamado, Eduardo ficou um pouco nervoso mas tentou responder escolhendo as melhores palavras, pois ainda estava distante de ser fluente na língua coreana.
— A um pouco mais de um mês, professor. Ainda estou me acostumando com tudo.
— Espero que esteja se adaptando bem. Sei que no início deve dar vontade de apenas passear e conhecer a cidade, mas não se esqueça de estudar direito - Advertiu o professor, que terminou de juntar seus pertences e se retirou da sala.
O jovem assentiu e também se preparou para ir embora. Passando pelos corredores via várias pessoas, todos coreanos. Poucas vezes nesse um mês que esteve na universidade vira outros estrangeiros, tampouco falou com algum deles. Na verdade esse início em um novo país estava sendo mais solitário do que ele imaginava que seria. Não só os coreanos eram muito mais fechados que as pessoas de seu país de origem, mas para complementar ele estava num curso em que a maioria dos alunos eram introvertidos e antissociais.
O Brasil podia ter vários defeitos, mas de fato era mais fácil socializar por lá. O rapaz não fazia ideia de como iria fazer seus primeiros amigos, mas esperava que fosse logo, não aguentava mais ficar o dia inteiro sem trocar palavras com ninguém pessoalmente. Se não fossem seus amigos brasileiros com quem ele mantinha contato por mensagens já teria enlouquecido.
Estava na metade do curso de Ciências da Computação, que já estudava no Brasil e conseguiu uma transferência para a Universidade de Seul. Mesmo no seu país ele tinha poucos amigos da mesma graduação, uma vez que a maioria eram mais fechados e também não compartilhavam interesses em comum com o garoto. Ele sinceramente não tinha muitas expectativas de conseguir muitos amigos no próprio curso também, mas ainda precisava conhecer mais a cidade para descobrir onde fazer outros amigos. Além de que provavelmente seria mais fácil fazer amizade com outros estrangeiros.
Agora já fora da universidade e pegando o trem, o garoto ia cuidadosamente conferindo as placas, pois tinha muito medo descer no lugar errado e não conseguir voltar para seu apartamento. Seus percursos entre a universidade e a sua casa eram sempre repletos de nervosismo, mas alguma hora ele iria se acostumar. Também sempre sentia os olhares dos outros, principalmente das pessoas mais velhas. Isto se dava por ele ser estrangeiro e provavelmente também por ser fora dos padrões de beleza. Era um pouco desconfortável mas o medo de não conseguir chegar em casa era maior.
Logo ao lado do prédio onde estava morando há uma loja de conveniências, onde ele se acostumou a passar sempre antes de voltar para casa. Ele achava legal pois não era algo que existia no seu país. Na hora de escolher o que comer, comprava alguns alimentos locais, mas ainda acabava escolhendo mais comuns no ocidente, pois estava acostumando seu paladar à comida coreana, especialmente quanto as mais apimentadas.
Agora com suas compras e entrando no prédio onde morava, podia começar a sentir o cansaço do dia chegando. Entrou no elevador e foi para o décimo andar, onde se encontrava seu apartamento. Chegando na porta dele usou a chave para destrancar a porta e adentrou o ambiente, retirando seus calçados como aprendera que é feito nesse país e em outros. Era um apartamento pequeno, porém aconchegante e o suficiente para ele que estava sozinho, além de ter uma boa localização. Ainda não tinha muitas mobilias pois não tivera nem tempo nem dinheiro para procurar decorações, tinha apenas o essencial. Soltou as compras e sua mochila rosa no sofá e direcionou-se à janela, abrindo a cortina e podendo então contemplar uma bela vista da capital ao por do sol. Esse era um dos pontos positivos de morar num andar bem alto.
Organizou os seus pertences que trouxe e foi tomar um banho, para depois sentar no sofá em frente à televisão e trazendo consigo seu notebook. Ligou os dois eletrônicos, pois gostava de ouvir as vozes vindo da TV, assim ele sentia como se não estivesse sozinho no recinto. Colocou em um canal de desenhos, era o que mais gostava de assistir, diferente de quando estava no Brasil, muitos desenhos ele não conhecia, e nem sempre ele entendia tudo que os personagens estavam falando, mas talvez isso pudesse ajudar ele a se acostumar com o idioma mais rápido também.
Enquanto isso no computador ele estava apenas visualizando as redes sociais, rindo de memes e respondendo algumas mensagens de amigos. Estava se sentindo cansado demais para estudar mais, o ritmo dos coreanos era muito diferente dos brasileiros, era difícil de acompanhar em alguns momentos. Trocando mensagens com alguns amigos fazia ele sentir falta da companhia deles, que era frequente. Hoje em dia até por conta das diferenças de horários era raro até deles estarem online na mesma hora, mas ver as mensagens deles o ajudava a se sentir menos sozinho pois sempre recebia mensagens de apoio e carinho deles e dos seus pais.
Depois de algumas horas no computador apenas procrastinando finalmente sentiu o sono chegar. Desligou a televisão e o computador e foi se arrumar para ir dormir. Escovou os dentes, botou seu pijama e foi para seu pequeno quarto, que se resumia a uma cama e um guarda-roupa por enquanto. Deitou na cama e puxou seu dakimakura, era seu companheiro para todas as noites. Ele possuía a imagem de um personagem de um jogo que o rapaz era apaixonado. Abraçou o travesseiro e se enrolou nas suas cobertas, se transformando em uma espécie de casulo de cobertores. Assim que ele encerrava todos seus dias, mergulhando numa concha de proteção e aconchego, onde ele sentia que podia fugir dos seus problemas e principalmente das inseguranças. Era como um pequeno caranguejo se escondendo no fundo do mar dos seus predadores, enquanto buscava qual seria seu próximo destino.
Amanhã seria um novo dia.