Entre Olhares - Limantha escrita por foursel


Capítulo 1
Panfleto


Notas iniciais do capítulo

Oioioi! Bem, eu tive essa ideia logo no inicio da quarentena quando começaram a reprisar a novela. Eu não assisti em 2017 então como ESTÁ liberada no globoplay gratuitamente lá fui eu com todo meu tempo maratonar tudo. Demorou meses pra esse capítulo ir para o "papel" mas eu tenho muita fé que os próximos vão se desenvolver de forma mais tranquila. A história se passa durante a 2ª GM, eu tento fazer algumas pesquisas antes de escrever incoerências aqui mas como nem tudo é perfeito favor relevar. Enfim, é isso então aproveitem a leitura e voilà...



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    Lá estava eu, atrasada novamente para o trabalho, pelo terceiro dia consecutivo. Outra vez, meu pai acabou por cair no banho e minha mãe e eu tivemos que sair correndo ao seu socorro. Acontece que, há um ano, meu pai teve um acidente e acabou perdendo a mobilidade das pernas, os médicos fizeram todos os exames possíveis mas nenhum conseguia definir se ele sairia daquele estado ou não. Nisso, por essa dúvida eterna, ele jura que às vezes pode sentir suas pernas novamente, porém nós não acreditamos nele, achamos que é só algo que ele diz a si mesmo por não suportar mais ficar naquela cadeira. Então dessa vez, como muitas vezes, ele cisma que se tentar levantar vai conseguir permanecer de pé e normalmente esses eventos ocorrem fora de nossa vista, assim, justamente no horário que era para estar saindo de casa, eu ajudava minha mãe a levantá-lo.

        Assim que saio de casa corro pelas ruas de Londres, em meio ao caos de toda manhã junto ao caos instaurado desde que entramos em guerra. Chego na porta dos fundos do restaurante e respiro fundo, uma vez, duas vezes, três vezes. Precisava lembrar de todos os motivos para estar trabalhando em um lugar onde não era respeitada, onde me sentia sendo sugada mais e mais a cada dia.
        Tomei coragem para entrar, haviam algumas pessoas na cozinha como a Dona Nena, cozinheira, um auxiliar de cozinha e alguns garçons que ajudavam a deixar tudo em ordem antes de abrirmos as portas. Um dos garçons apenas me olha sem humor apontando com a cabeça para a sala de nosso chefe, o que realmente não pareceu ser um bom sinal. Me aproximo da porta e antes mesmo de meus dedos encostarem nela para bater, ouço sua voz chamando-me para entrar. A pouca iluminação que existe em sua sala é de um amarelo desconfortável aos olhos, no centro dela se encontram um homem perto de seus 50 anos, com sua calvície e rugas já a vista, está debruçado sobre uma pilha de papéis e como eu imaginava, sua expressão não era a das melhores. Quando finalmente decide me olhar, suspira e pede para eu me sentar.

— O senhor gostaria de falar comigo?

— Não, senhorita Gutierrez, eu não gostaria. Infelizmente, eu preciso. - ele parece estar mais desconfortável do que eu, não sei dizer se o motivo é esta conversa ou por passar horas naquela sala mal iluminada e fechada.

— Eu não sei se entendo... - Mas é claro que eu entendia, só não queria entender.

— Por favor! Não torne as coisas mais difíceis se fazendo de tola. - Suas palavras foram como o balde de água gelada que eu precisava. - Quando você bateu a minha porta implorando por um emprego eu te aceitei. Te aceitei por tudo que o nome de seu pai um dia já representou, para mim e toda a elite de Londres. Quando a notícia chegou até nós, todos sentimos que precisávamos ajudar. Quem iria imaginar o grande Edgar Gutierrez, aleijado e sem nenhum tostão?

— E é por isso que eu preciso desse trabalho, senhor, por causa do meu pai.

— Mas em um mês você conseguiu se mostrar uma das piores funcionárias que eu já tive. Você sabe que eu te dei muitas chances, toda vez que você se saía mal em uma posição eu arranjava uma nova.

— Eu não entendo, sei que estou me saindo bem como garçonete.

— Para ser uma garçonete você precisa chegar aqui antes dos clientes e não é bem isso que está acontecendo. - Fala da forma mais séria que eu já havia visto.

— Desculpe, senhor, mas eu já expliquei o motivo dos meus atrasos.

— Não é o suficiente. Com a guerra temos perdido cada vez mais clientes, as pessoas não tem mais tantos motivos para comemorar como antes, com isso preciso reduzir custos. Eu poderia escolher qualquer funcionário, mas você é a única no momento que está me causando prejuízo.

— Por favor, senhor. Eu só preciso de mais uma chance. - tento implorar, sentindo minha garganta fechar como se eu não pudesse respirar. Eu preciso desse emprego, já não sei mais onde ou a quem recorrer.

— Eu não tenho mais chances para te dar, senhorita Gutierrez! - falou rapidamente, seu rosto estava vermelho, eu o tirei do sério. - Devolva seu avental na saída, um cheque será encaminhado à sua casa pelos dias que trabalhou, agora eu preciso que se retire.

       Eu posso não ter sido a melhor funcionária do mundo mas todo mundo naquele lugar viu o quanto me esforcei para manter aquele emprego, para aprender a fazer coisas que na minha antiga vida de mordomias nunca precisei sequer tentar. Ele não havia me dado nem um mês inteiro para aprender e agora fala como se tivesse me dado todas as chances do mundo.
       Me virei bufando e saí andando em passos largos, me sentia furiosa, me sentia a ponto de explodir. Tirei o avental amarrado em minha cintura e jogo na cabeça do primeiro garçom que vejo em minha frente.  Escuto um gritinho de susto mas continuo meu caminho para fora do restaurante. Após sair me encosto na parede ao lados das lixeiras e respiro fundo tentando me recompor, sinto as lágrimas arderem em meus olhos. Não poderia chorar, não em público, não com a vizinhança inteira conhecendo meu nome e sobrenome, eu seria mais um assunto para a lista de fofocas de amanhã, a Gutierrez que fracassou.

      Um dos garçons saiu pela porta ao meu lado correndo em direção a rua, parou na calçada olhando inquietamente para os dois lados procurando algo mas quando não achou o que queria seus ombros caíram e se virou para voltar. Até que ele me viu e deu um sorriso de canto.

— Achei que já tinha ido embora... Ele foi muito duro com você? - se encostou ao meu lado me olhando.

— Você conhece ele há mais tempo do que eu, aposto que não o viu ser delicado muitas vezes.

— Você tem razão.

— Então... Você queria falar comigo? - pergunto lembrando o jeito desesperado com que correu até s calçada.

— Ah, sim. É que, de qualquer forma, mesmo se você não fosse... Você sabe...

— Uma demissão não é uma doença, Lucas, pode falar.

— Certo. Mesmo se você não fosse demitida, eu vi um panfleto sobre um bar que estava contratando garçonetes e como eu sabia que você não estava feliz aqui, eu peguei para te entregar. - estendeu a mão me entregando um papel colorido.

— Um bar? - perguntei imaginando um lugar com fedor de homem suado e sujo, mesmo com a guerra em andamento o público masculino é diminuído consideravelmente mas é incrível como o fedor de suor de homem pode grudar num ambiente.

— Sim, mas não é como você está pensando. Eu mesmo já fui lá, confie em mim você vai gostar. - neste momento escutamos Dona Nena o chamando. - Bem, tenho que ir. Até mais, Gutierrez.

— Até mais, Lucas.

      Fiquei pensando um pouco sobre o que ele me disse antes de finalmente ir embora. Mesmo com receio do lugar, era uma das poucas chances que me restavam. Olhei para o papel colorido dobrado em minhas mãos, desdobrei e percebi que conhecia o endereço, na verdade era bem próximo de minha casa. Alterei meu percurso indo na direção do endereço descrito no panfleto, não poderia perder nem mais um momento, não conseguiria chegar em casa e contar a minha mãe que estávamos novamente sem saber se conseguiríamos pagar nossas contas no próximo mês.
        Depois de algum tempo cheguei a um prédio de três andares, embaixo na fachada de madeira reconheci as mesmas letras grossas e desenhadas que vi na folha, o nome do bar, "ROMANOOO'S".


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Notas finais do capítulo

Obrigada por dedicar a minha fanfic um pouquinho do seu dia, aproveite bastante o que vos resta dele e até o próximo capítulo.



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