A Invasão escrita por Paul


Capítulo 3
Capítulo Três




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Evan

 

Pisquei os olhos sendo trazido novamente para o presente. Os resquícios de minhas lembranças foram desaparecendo conforme a chuva começava a cair. Os pingos caiam quentes e em gotas grosas. Olhei ao redor enquanto me ajeitava. Um pedaço de concreto se desprendeu da beirada do prédio atingindo algo metálico logo em seguida. O som se propagou, subindo pela lateral do prédio.

Ele estava ali parado a poucos metros abaixo de mim. Uma luz fraca saia da parte da frente, iluminando o andar onde eu havia estado a poucos minutos. A cor era de um preto brilhoso que reluzia com a luz pálida do dia. A luz se apagou quando o pedaço do concreto atingiu a nave. Ela girou e então começou a subir em minha direção. Trazendo consigo a sensação de que eu estava preste a morrer.

Com toda certeza você já deve ter ouvido a frase Quando você está prestes a morrer, toda a sua vida passa diante dos seus olhos. E posso te garantir que ela é a mais pura verdade. Cada segundo da minha vida passou rapidamente por meus pensamentos. Porém, meus extintos de alto preservação me fizeram levantar o mais rápido que pude.

A nave surgiu lentamente. Seu formato lembrava uma bola de futebol americano. Na parte de baixo se projetava algo parecido com tentáculos. Que se abriram e revelaram dois enormes canos, de onde uma fina luz avermelhada surgiu.

Puxei a submetralhadora e levei o dedo até o gatilho. O vento frio agitou minhas roupas. A chuva agora caia torrencialmente sobre nós. Mas o som vindo daquela nave soava mais alto do que ela.

Apertei o gatilho e gritei enquanto caminhava para trás. Os riscos avermelhados vindos da nave passavam rapidamente ao meu redor, mas em determinado momento eles pareciam desacelerar, como se o tempo ao meu redor estivesse passando em câmera lenta. Um dos riscos vinha em minha direção e tudo o que pude fazer foi dar um passo para o lado quando ele me atingiu no braço.

A dor se espalhou como se alguém tivesse ligado um maçarico sobre minha pele. O grito que escapou por minha garganta era quase bestial. Recuei em direção a porta, chutando o bloco que a segurava. A porta se fechou com um baque que ecoou escada abaixo.

Minha roupa estava chamuscada. Havia um pequeno buraco no local atingido. A pele parecia já estar necrosada, assumindo um tom esverdeado por onde saia um pus amarelado.

Joguei a arma para o lado e corri escada abaixo.

— Merda! - Cada passo fazia uma nova onda de dor se espalhar por todo meu corpo.

Havia acabado de passar pela porta do andar onde estive a pouco e estava na metade do caminho para o andar de baixo quando a porta do telhado explodiu, levantando uma grossa nuvem de poeira. Pedaços de concreto passaram rapidamente sobre mim, caindo por todos os lados. A luz que se infiltrava pelo buraco revelava algo que fez meu sangue gelar.

Forcei minhas pernas a se moverem e continuei correndo escada abaixo. Empurrei a porta, fazendo uma nova onda de dor surgir. Gritei. Minha voz se propagando pelo corredor vazio. Continuei correndo. O mundo girava ao meu redor. Pontos luminosos dançavam em minha visão. E eu sentia que a qualquer momento eu iria desabar no chão e desmaiar.

Encarei a outra porta cinza da escada que me levaria até o térreo. E estava quase lá quando a outra pela qual eu havia passado explodiu, chocando-se com força contra a parede. E então aquela coisa surgiu.

Por uma fração de segundos minha mente tentou processar se aquilo que eu estava vendo era humano ou não. Seu rosto e corpo era claramente humano, assim como sua mão esquerda que possuía longos dedos pálidos e esqueléticos. Já sua mão direita era bizarra. Até a altura do seu cotovelo ele era normal, mas dali para baixo ele se tornava esverdeado e parecia se fundir com um tipo de arma que eu jamais havia visto. Seus olhos eram escuros, vazios e enormes. Sua íris brilhava em um tom arroxeado que parecia queimar. Ele usava um tipo de uniforme militar escuro, rasgado em vários pontos de onde surgiam algumas protuberâncias alaranjadas.

Seus olhos eram hipnotizantes. E ao olhar diretamente para ele, senti como se toda a esperança estivesse desaparecendo. Vozes sussurrantes me diziam para parar de fugir e me entregar. E eu estava pronto para fazer isso quando notei a arma apontada em minha direção.

Pisquei com força e girei nos calcanhares, voltando a correr, cobrindo a cabeça enquanto uma nova leva de tiros passava ao meu redor.

A porta se abriu com um solavanco e eu fui engolido pela escuridão. A dor agora me fazia respirar de forma irregular. Minha cabeça latejava e era como se tivessem jogado areia nos meus olhos.

Pisei em falso. Rolei escada abaixo, chocando-me com força contra a parede. O gosto metálico de cobre preencheu minha boca. Tossi, cuspindo uma grande quantidade do que eu acreditava ser sangue.

— Vamos, Evan. - Murmurei virando de barriga para cima. - Você não pode morrer aqui.

Tentei me levantar, cuspindo no chão. Gritei quando a dor se propagou ainda mais latejante no meu braço.

A porta se abriu e ele passou por ela. Seus olhos brilhando no escuro.

— Não vai mesmo. - A voz masculina surgiu de algum lugar no meio da escuridão da escada. - Fique deitado.

Alguma coisa passou zumbindo sobre mim e atingiu algo oco. Seguido de um bip que aumentou de velocidade.

A explosão sacudiu o chão, enquanto alguém me cobria. Meus ouvidos zumbiam e comecei a perder a consciência. A voz do garoto parecia estar do outro lado de um longo túnel. E então eu apaguei.

Mãos se fecharam ao redor das minhas axilas e me arrastaram. O pequeno lapso de consciência me fez abrir os olhos, uma luz forte me cegou. Seu rosto surgiu acima do meu e ele parecia estar gritando.

— Fica aqui. - Sua voz explodiu em meus tímpanos.

Me vi sentado em uma poltrona confortável enquanto o garoto corria para o outro lado do hall de entrada do prédio. Seus passos soavam como marteladas em minha cabeça. Ele empurrava coisas em direção a porta da escada. Seus gemidos de esforços ecoavam pelo local vazio.

Tentei levantar. Cada esforço me arrancando gritos longos enquanto o garoto corria em minha direção.

— Não desmaia de novo. - Disse ele passando meu braço sobre seu pescoço e seu braço pela minha cintura. - Eu acho que consigo te carregar.

Mas foi tarde demais.

Sua voz foi ficando distante, como se ele estivesse se afastando. Minha mente se apagou e a escuridão me consumiu.




 

15 de Outubro de 2018

Parei sobre o sopé da montanha e desci da bicicleta. Afinal, seria difícil subir o terreno pedregoso pedalando. A estrada era íngreme e cheia de buracos que durante o dia já eram difíceis de passar. Do lado esquerdo existia uma pequena trilha que levava a área de piquenique. Era onde gostávamos de ir após o colégio para encher a cara e dar uns amassos.

Ao longe a cidade ardia em chamas. Prédios desmoronavam e pessoas gritavam por todos os lados. Era a pior coisa que eu poderia estar vendo.

A nave passou a toda velocidade sobre mim. Sua luz forte iluminou tudo ao redor e se eu não tivesse me escondido, encostando o máximo que conseguia no tronco de uma árvore, ela com certeza teria me visto. E então ela desapareceu, em direção a cidade. Um risco alaranjado partiu da parte de baixo dela atingindo algo que explodiu, levantando uma nuvem de poeira e fogo.

Não fiquei parado. Ignorei a dor em minha perna e corri pela trilha. As árvores ficavam cada vez mais espaçadas, deixando grandes áreas abertas de onde era possível ver o céu nublado e sentir a chuva me atingir. Tropecei, tentei recobrar o equilíbrio sem me esborrachar no chão. Estava passando pela segunda área de piquenique quando uma luz forte me cegou por alguns segundos.

— Nem mais um passo! - Gritou uma voz masculina.

Dezenas de pontos vermelhos preencheram minha camisa. Silhuetas escuras surgiam por todos os lados.

— Levante as mãos e as coloque atrás da cabeça. - Disse o mesmo homem.

Obedeci, dando um passo para trás.

— Abaixem essas armas, idiotas. - Disse uma voz feminina. - Eu conheço ele.

Reconheci a voz antes mesmo de ver a quem ela pertencia. A mãe de Mikha iluminou o próprio rosto com uma lanterna, sorrindo de forma afetiva. Ela olhou para algo atrás de mim, como se esperasse que ele aparecesse ali e corresse para os seus braços. Seu olhar encontrou o meu e ela deu um passo vacilante.

— Sinto muito. - Murmurei, mais para mim mesmo do que para ela.

Lágrimas escorriam por seu rosto, enquanto ela caminhava em minha direção.

Luzes alaranjadas iluminaram a noite, afastando qualquer resquício da escuridão que reinava a poucos segundos. Pessoas gritavam e corriam para todos os lados. Tiros eram disparados e alguns passaram a poucos centímetros de nós.

— Corra! - Gritou a mãe de Mikha para mim. - Corra até achar um lugar seguro para ficar.

Ela me empurrou na direção da mata do lado esquerdo. Meus pés deixaram o chão e eu fui lançado para frente. O som da explosão foi tão alto que fez meus ouvidos zumbirem. A dor se espalhou por todo meu corpo e a escuridão me engoliu.

Os pingos de chuva me fizeram abrir os olhos. O silêncio absoluto quase me fez acreditar estar surdo, mas meu arfar ao tentar me pôr em pé me provou o contrário. A luz pálida do amanhecer revelou a pequena cratera onde algo havia explodido. Os corpos estavam espalhados por todos os lados. Alguns carbonizados, outros com algum membro faltando. Me perguntei se o da mãe de Mikha estava ali e após uma verificação rápida, não a encontrei.

Manquei morro abaixo, tomando cuidado para não derrapar e me esborrachar no chão. Tudo estava silencioso, não havia qualquer sinal de vida por todos os lados. No céu as enormes naves flutuavam de um lado para o outro. Mostrando que de fato a invasão só estava começando.


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Notas finais do capítulo

E esses são os três primeiros capítulos.
Espero profundamente que gostem.

É o meu primeiro livro que será publicado de forma independente. Então ajudem um escritor, que no futuro ele te ajudará de volta ❤️



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