Dois beijos escrita por gaby


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Escrevi essa fanfic para o natal do ano passado mas não postei aqui. Enfim, chegou esse momento. Espero que gostem!



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BAZ

— Por que diabos você ainda vai nessas festas, Baz? – ela pousa a xícara de chá no pires, enquanto me pergunta.

— Porque, Ags, eu não sou você. Não tenho coragem de abdicar da minha família desse jeito.

— Eu não abdiquei de nada, só escolhi fazer o que eu quero, e não o que eles querem.

— Eu também faço o que eu quero, só que sem me afastar de todo mundo – ela rola os olhos para mim.

— Certo, Sr. Liberdade. Então você ao menos vai desacompanhado nessa baboseira natalina? – engulo minha tortinha com tranquilidade antes de responder.

— Não – ela abre a boca, mas não a deixo falar. – Na verdade, eu estava pensando que você podia ir comigo dessa vez... – Agatha para por uma fração de segundo, então ri alto. Alto mesmo. Todos na cafeteria olham para a nossa mesa. – A gente só precisa comer, dançar um pouco e conversar a noite inteira, nada muito diferente do que fizemos nos últimos dois anos.

Assim que terminamos Watford, cada um foi para um canto, para suas respectivas universidades. Agatha e eu acabamos nos reencontrando há um tempo, aqui em Hampshire. O universo, o destino, Deus – chame como quiser – acabou nos aproximando e construímos uma amizade. Quem diria? A ex do meu maior crush da escola e eu, amigos.

— Calma aí... você tá falando sério? Tyrannus?! – eu apenas a encaro; detesto quando ela me chama assim. – Nem fodendo!

— Agath-

— Baz, fala sério! Você tem que parar de fazer isso! Tem que parar de levar mulheres nesses bailes-das-famílias-podres-de-ricas...

— Famílias Antigas – corrijo.

— ...só porque seu pai quer que você pareça hetero.

— Ok. Já que você não está disposta a ir, e a Ginger? Ela aceitaria?

— Jesus Cristo, Baz. Você não vai levar a minha namorada.

— Eu preciso levar alguém! Ou vai ser pior ainda. Da última vez que fui sozinho-

— Eu sei, eu sei – ela me interrompe. – Seu tio ficou tentando arranjar alguém pra você a noite inteira, as moças ficaram te olhando demais, blábláblá – ela gira os olhos outra vez, isso ainda me lembra a Bunce. – Mas eu e minha namorada estamos fora de cogitação – eu solto um suspiro pesado.

— Será que se eu pagar alguém me acompanha?

— Eu ainda acho que você devia ir sozinho... ou melhor – Agatha abre um sorriso e eu quase posso ver dois chifrezinhos vermelhos nascendo por entre seus cabelos loiros.

— Não! Seja lá qual for sua ideia maluca: não. Eu não estou afim de arrumar briga com meu pai.

— Ele disse pra você ir acompanhado, certo?

— Agatha...

— Ele não especificou, né? – entendo o que ela quer dizer.

— Agatha, isso é exatamente o que o meu pai não quer.

— Foda-se o que o seu pai quer, Baz. O que você quer? – abro a boca algumas vezes e, por fim, bebo da minha xícara de chá para me manter propositalmente calado, porque eu não sei o que dizer.

Claro que não quero continuar fazendo isso, fingindo ser o que não sou, escondendo minha sexualidade só porque ele acha que isso “mancharia o nome da família”, ou seja lá o que ele pensa. Mas não vejo bons motivos para sair do armário agora, muito menos assim; e se meu pai surtar? E se ele me proibir de ver meus irmãos? E se isso acabar com o natal? Eu gosto do natal. Eu não tenho razões para fazer isso nesse momento.

Eu tinha o Niall... tinha.

— É um péssimo jeito de me assumir – é tudo que digo.

— Eu acho maravilhoso. Imagina: chegar de braços dados com algum gato no salão, os dois usando gravatas de arco-íris, ternos chiques, bastante iluminador- não! Iluminador não! Glitter! E todo mundo olhando pra vocês. Icônico! – ela fala tão animada que dá medo.

— Você é doida, Wellbelove.

 

Infelizmente, fico pensando nessa maluquice que Agatha implantou na minha cabeça a semana toda, fantasiando – chego até a sonhar. Acabo fazendo duas listas mentais:

O QUE ME FAZ QUERER CHEGAR ACOMPANHADO DE UM HOMEM NO EVENTO DE NATAL DAS FAMÍLIAS ANTIGAS

1) Ninguém mais me infernizaria quanto a namoradas

2) Marcus, meu primo, finalmente pararia de me relatar sobre todas as “gostosas que pegou”

3) Os homofóbicos da família nunca mais iriam olhar na minha cara

4) Talvez tenha algum outro gay lá

5) Eu me livraria dessa questão de uma vez por todas

O QUE ME IMPEDE DE CHEGAR ACOMPANHADO DE UM HOMEM NO EVENTO DE NATAL DAS FAMÍLIAS ANTIGAS

1) Meu pai odiaria

2) Meu pai possivelmente me deserdaria

3) Meu pai possivelmente afastaria meus irmãos de mim

4) Provavelmente me cortariam da noite de natal da família

5) Provavelmente me cortariam da família

E o ponto que mais impossibilita o funcionamento dessa ideia:

6) Não tenho o elemento principal: um homem para me acompanhar.

 

SIMON

— Você tá olhando pro mais novo fazedor de scones da Salisbury’s Bakery – é a primeira coisa que digo quando a chamada de vídeo começa.

Estou procurando a ponta da fita adesiva. Tem uma caixa de papelão vazia em cima do sofá, ao meu lado, e outra, pronta para ser lacrada, perto da mesa de centro, onde o computador está apoiado. Nele, Agatha arregala os olhos cor de mel.

— Seu tio te contratou?! – faço que sim com a cabeça freneticamente, ela bate palmas de comemoração. – Yay!! Nem acredito que você vai voltar pra cá, Si!

— Eu disse pra ele não se incomodar comigo. Oi, Aggie – Shep fala por cima do meu ombro, aparecendo na tela.

— Menino de Omaha! – é como ela o cumprimenta. – Como vocês estão?

— Tentando não confundir minhas caixas com as do Simon.

— SHEPARD! – a voz de Penélope ecoa. – ONDE VOCÊ ENFIOU MINHAS VELAS?

— Bom te ver, Loira – ele fala, acena e some.

— Eu amo eles, mas ficaria maluco se continuasse morando aqui – confesso; no notebook, Agatha ri.

— Já tem uma data?

— Mais ou menos... Vou aproveitar que tô indo passar o natal na casa da vovó e procurar algum lugar... se souber de algo barato por aí, me conta. Quanto mais barato, melhor. Pelo menos nos primeiros meses.

— Eu aviso. Penny e Shepard vão vir com você?

— Aham – tiro a tampa de uma caneta com a boca para escrever meu nome em cima da caixa que acabei de lacrar; minha voz sai meio embolada quando falo. – Eles vão passar o natal na casa dos Bunce. Bom que eu já levo algumas coisas na caminhonete do Shep.

— AH! – ela solta de repente. – Lembra de trazer o brinco que a Ginger esqueceu aí! Ela vai me matar se não te lembrar disso. “Meu brinco de lua, amor, não esquece de falar do meu brinco de lua!” – ela imita, fazendo careta, eu rio.

— Vou levar. Ela tá aí agora?

— Não. Tá na loja... na verdade, já deve estar chegando – ela acrescenta, depois de checar a hora.

A Ginger é maravilhosa – quando não está tentando me fazer comer salada ou beber suco de beterraba (como eu odeio suco de beterraba, Jesus!).

É engraçado pensar que Agatha e eu fomos um casal na escola. Parece que aconteceu em outra vida, outro universo. É estranho imagina-la sem a Ginger. É ainda mais estranho lembrar da época em que eu acreditava ser hetero. Não que agora eu saiba com exatidão o que sou, mas hetero definitivamente não é uma opção (o crush que tenho no Harry Styles pode provar).

Nos falamos por mais alguns minutos – Aggie conta sobre a feira de adoção de bichinhos que ela está organizando com a equipe da clínica veterinária em que trabalha, eu comento que seria legal ter um gatinho quando me mudar e ela me faz prometer considerar –, Penny vem dar um oi também, e logo em seguida saímos para jantar.

Foi bom ter morado com ela esses anos (realizamos nosso sonho de criança!), e vou sentir falta do Tornado Penélope Bunce, das nossas noites maratonando séries e comendo scones, das broncas dela porque não tínhamos mais espaço para cactos e eu continuava os comprando, das festinhas de apenas dois convidados – nós mesmos – que fazíamos para comemorar nossos aniversários de amizade...

Mas foi ótimo que o Shepard tenha vindo morar com ela, é o momento perfeito. Sinto falta de casa, de Hampshire, da tranquilidade de lá, de estar perto da minha família. E sabe quando você tem aquela sensação de que algo te espera? Bom, ultimamente esse pressentimento tem tomado conta de mim quando penso em Hampshire.


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Notas finais do capítulo

Não seja um leitor fantasma, comente, por favor :)



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