Vontades do Destino escrita por MayDearden


Capítulo 6
Humilhado


Notas iniciais do capítulo

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POV Oliver

Eu me sentia humilhado. Humilhado era pouco. Ela fez questão de esfregar na minha cara quem era que mandava. E eu sabia o quão ela era rica. Eu sabia que ela podia usar o dinheiro para tudo a hora que quisesse. E ela conseguiu mostrar quem era que mandava em tudo. Que estava por cima. Eu entendia o ódio dela, eu aceitava as acusações, o desdém, os olhares frios…. Agora me humilhar usando o meu filho era demais para mim. Usar uma situação completamente pessoal, algo que não dizia respeito a ela. Isso era demais para mim. Minha mãe, todos os dias, pedia para assumir essa dívida. Donna me oferecia dinheiro e eu sempre negava, eu não podia tirar um tostão que fosse dela, o dinheiro era dela e era mérito dela e Connor era minha responsabilidade. Eu não deixava a minha mãe assumir minhas responsabilidades, eu não aceitava.

Eu não ia permitir que ela fizesse isso. Eu tinha consciência que mamãe me oferecia dinheiro na intenção de me ajudar, de facilitar a minha vida e tirar uma preocupação das minhas costas. Afinal, era melhor dever minha mãe do que um hospital correndo juros. Mas com Felicity era diferente. Ela fez por algum tipo de vingança infantil, ou de alguma forma querer mostrar que era ela quem mandava ali, o dinheiro dela, o dinheiro que ela queria esfregar na minha cara que tinha. Mas eu não me importava com o dinheiro dela.

Ela tentava ferir meu emocional, destilava seu rancor e raiva só em olhar na minha direção e tudo isso eu aceitava e entendia. Agora, se aproveitar da minha situação para fazer algum tipo mesquinho de joguinho era demais. Paciência tinha limites. Eu reconhecia e agradecia todo o cuidado com Connor, dava pra ver no olhar dos dois o quanto se gostaram a primeira vista. A ligação que eles tinham era nítida, mesmo se conhecendo tão pouco.

Mas ela não tinha o direito de fazer o fez.

Ela não tinha.

E eu não ia deixar ficar assim.

Após assinar todas as papeladas burocráticas do hospital eu peguei o Connor e corri para casa. Não sem antes passar na farmácia e comprar o remédio receitado. Dei sorte por mamãe ter cismado de passar um tempo na nossa casa - segundo ela era aproveitando a nova vida que eu recebera -, ela se desesperou em ver o neto com mais um corte na testa. Me limitei em dizer que ele caiu correndo e precisou ir ao hospital. Mamãe me lançou um olhar preocupado, receoso. Ela já tinha conhecimento de uma dívida, provavelmente ficara nervosa com a possibilidade de mais uma. Mal sabia ela… Prefefi omitir dela que a dívida fora paga pela patricinha Queen, minha mãe não ia muito com a cara dela e eu sabia disso. Eu mesmo ia resolver isso.

Deixei Connor com a avó e sai. Já eram quase seis horas da noite quando eu entrei no carro e dirigi sem saber bem para onde exatamente eu estava indo. Naquele momento qualquer culpa que eu tinha ou sentia com morte de Billy estava guardada em um lugar secreto no meu peito. Eu costumava falar para mim mesmo que eu devia ter paciência com Felicity, que ela estava sofrendo. Se a dor era grande para mim, imagina pra ela? Mas hoje, agora, nesse exato momento eu estava engasgado. Estava engasgado de coisas que eu precisava dizer e principalmente deixar claro que eu aceitava tudo, menos a humilhação. Ela não tinha direito de ter se metido em algo tão pessoal. Era invasiva aquela situação. Quem ela pensava que era?

Apertei o volante ao frear em frente ao grande portão de ferro da Mansão Queen que impedia a minha entrada, ponderei. Eu estava com raiva, muita raiva. Mas eu não podia simplesmente entrar ali e gritar com Felicity por ter pago a conta de Connor. E então o portão se abriu, ele simplesmente abriu sozinho e eu entendi aquilo como uma resposta ao meu impasse mental. Dirigi por dois minutos na estrada de terra até avistar a enorme casa que eu havia pego o endereço na internet. Tolo demais. Eu sei. Estacionei em um lugar qualquer e desci do carro na mesma hora que John Diggle surgia vindo em minha direção com um olhar preocupado.

⁃ Hey cara - cruzou os braços ao encarar minha feição se pondo entre mim e a mansão - O que aconteceu?

⁃ Cadê ela? - falei grave

⁃ Não precisamos arrumar problema, Oliver - levantou os braços em rendição - Ela não fez nada para machucar Connor, foi um acidente. - Então era disso que se tratava? John estava parado a minha frente não com medo que eu fizesse algum escândalo com a família ou algo do tipo, ele tinha medo que eu estivesse puto por Connor ter caído e se machucado enquanto estava aos cuidados da patroa dele? Ele não estava entre mim e a mansão, ele estava entre mim e Felicity. - Ela ficou preocupada com ele também

⁃ Cadê ela? - repeti a pergunta agora impaciente

⁃ Eu estou aqui, Oliver - ela falou surgindo atrás de John, ele estava entre mim e ela literalmente. Eu não entendia o efeito que aquela mulher tinha em mim, era como um feitiço. Eu vim até aqui pronto para gritar com ela e dizer o quão ela conseguira me humilhar. Mas ao ouvi-la dizer meu nome, fora como um tapa na minha cara. Não, um tapa não, um calmante. Na verdade eu não sabia como descrever. Mas era uma sensação boa. Respirei pesado tentando me livrar daquele sentimento e aquilo fora interpretado de outra forma por Diggle.

⁃ Entra, Lissy - pediu olhando pra ela pelo ombro - Eu lido com ele.

⁃ Não, Dig - ela caminhou até o segurança e colocou a mão em seu ombro - Está tudo bem - sorriu - Pode ir - ele demorou seu olhar no rosto dela e depois demorou o seu olhar em mim e simplesmente deu as costas e saiu entrando pela porta principal da mansão. Um silêncio incômodo pairou entre nós dois por um tempo e eu reparei nela. Ela usava um conjunto de moletom azul, mesmo com pouca luz dava para ver que o azul da roupa combinava com o azul de seus olhos, estava sem os óculos e com os cabelos soltos em lindas ondas loiras. Respirei fundo novamente. Ela me deixava perdido - Aconteceu algo com Connor? - perguntou preocupada cruzando os braços se encolhendo de frio quando um vento forte nos acertou.

A menção ao nome do meu filho me lembrou do real motivo de eu estar ali. Tudo que eu senti mais cedo veio com peso dentro de mim. A humilhação que eu senti quando a enfermeira entregou aqueles papéis da dívida paga, a impotência que eu senti quando vi a assinatura dela naquele recibo. A instabilidade ao perceber que eu não era o suficiente para dar o melhor que meu filho merecia ter. Felicity conseguiu me desestabilizar.

⁃ Você não tinha o direito - proferi as palavras pausadamente deixando claro a minha frustração. - Queria me humilhar? Parabéns!

⁃ Faça sentido, Oliver - falou dando um paço em minha direção ficando a um braço de distância de mim. Toda aquela aproximação era perigosa demais.

⁃ Não se faça de desentendida, Felicity - passei as mãos em meus cabelos por pura inquietação. - Você não tinha direito te ter pago aquelas contas. - trinquei os dentes

⁃ Então é por isso? - riu sem humor. Antes ela aparentava uma figura calma e preocupada por achar que algo ocorrera a Connor, agora após ouvir minhas palavras ela assumiu um semblante duro e debochado. Aquela era a Felicity que eu conhecera. - A merda de uma conta de hospital

⁃ A merda? - bufei - A merda! Para quem tem dinheiro é realmente só uma merda. Mas pra mim? Um pai, um homem que vive a vida real e não o conto de fadas… Pra mim era um fardo, uma responsabilidade. - falei ríspido quase gritando - Eu vivo no mundo real! No mundo onde não tem papai rico para me garantir um emprego…

⁃ Engraçado - deu mais um passo em minha direção - Foi o meu papai rico quem te garantiu um - me calei diante daquilo, não era mentira. O pai dela havia me ajudado a conseguir o emprego na empresa deles, e eu era grato imensamente por isso. Eu poderia dar o melhor para o meu filho, pois o pai dela havia me ajudado. - Olha, Oliver, eu não paguei aquela conta para esfregar na sua cara que eu sou rica, patricinha, privilegiada, ou seja lá o que foi que passou pela sua cabeça. - coçou a cabeça acho que na tentativa de se acalmar - Eu só pensei em Connor, eu só pensei no melhor pra ele

⁃ Ele não é nada seu - rosnei - Não tinha o direito de me humilhar dessa forma.

⁃ Então se trata disso? Você se sentiu humilhado e decidiu que era certo curar seu machismo e orgulho gritando comigo? - ela parecia mais passada com aquela constatação do que puta comigo. - Me desculpa, quer dizer… - meneou com a cabeça - … eu não tenho do que me desculpar com você. Eu paguei aquela conta pensando que se um dia o The Flash precisasse de uma assistência médica novamente, ele teria.

⁃ É a minha função assegurar isso, não sua

⁃ E do que isso importa?

⁃ Para mim importa, merda! - quase gritei novamente a assustando, perder o controle não me levaria a lugar nenhum - É meu dever como pai garantir que nada falte ao meu filho, e você… - apontei para ela - Você me odeia e do dia pra noite decide pagar uma dívida minha? Você mesma diz que eu sou o culpado pela morte do seu namorado. Eu sei o quanto quer me ver pelas costas e o quanto queria que EU estivesse morto no lugar dele. E do nada decide pagar a PORRA da minha dívida? É algum jogo? Para esfregar na minha cara que você é rica? Pra me humilhar? - eu me sentia completamente frustrado, bati palmas em puro desdém - Parabéns! Você me humilhou, Felicity! Conseguiu! Você mostrou que não sou capaz de arcar com as despesas do MEU filho… Você pode me xingar, pode dizer o quanto queria que eu estivesse a sete palmos do chão, dizer o quanto me odeia ou o quanto não quer olhar na minha cara. Eu não ligo. MAS NÃO USE O MEU FILHO PARA ME HUMILHAR - gritei com os olhos marejados e ela não fez nada, não falou nada. Apenas cobriu o rosto com as mãos e soluçou. Chorou. E novamente aquela sensação tão conhecia me atacava: culpa. Culpa por tê-la feito chorar daquela maneira. Culpa por ter machucado ela e ter tocado em uma ferida que não estava cem por cento cicatrizada. Ficamos um tempo em silêncio, ela chorava e me segurava para não fazer o mesmo. Respirei fundo novamente tentando controlar meu corpo, minha mente. Eu não precisava daquilo, eu podia simplesmente dizer que eu devolveria o dinheiro. Eu podia ter esperado chegar o expediente de amanhã, ir até a sala dela e dizer que eu devolveria tudo. Eu não precisava ter vindo até aqui. Porque eu vim até aqui? Vê-la chorando daquela forma só me causou mais agonia - Me desculpe - falei por fim - Eu perdi o controle…

⁃ Não - tirou as mãos do rosto e olhou em meus olhos - Eu quem te devo desculpas - se encolheu. A Felicity marrenta e cheia da razão havia indo embora, aquela ali eu não conhecia - Eu fui uma merda com você. Eu te tratei feito lixo, Oliver - e de novo ela falava meu nome de uma forma que fez meu estômago revirar me arrepiando - Eu não tinha o direito de dizer aquelas coisas para você, eu nunca desejei a morte de ninguém e não desejo a sua. Nunca. - fechou os olhos suspirou - Eu precisava depositar a minha frustração e dor em alguém e covardemente eu depositei em você. Te falei coisas horríveis e quase te demiti por pura birra - riu sem humor - Birra de menina mimada, mas eu não sou assim - fungou - Não quero ser. Você me perdoa? - olhou em meus olhos novamente com os seus marejamos e vermelhos do choro, o nariz vermelho, com a voz embargada continuou: - Eu transformei minha dor em ódio, era mais fácil odiar do que sofrer, mas quando completou sete dias da morte dele eu passei o dia chorando, Oliver, eu me permiti sofrer de verdade e aceitar. Aceitar que nosso destino era esse e não adiantava gritar com ninguém por causa disso. - deu mais um passo na minha direção ficando tão perto que eu sentia a sua respiração me chicotear, seu cheiro doce se empregnar em mim. Respirei aquele cheiro o guardando em um lugar especial - Não adiantava odiar você por causa disso. A culpa não foi sua, você fez o que qualquer um faria. - depositou a mão direita em meu peito, por cima do meu coração que batia freneticamente com aquela aproximação e acelerou ainda mais ao seu toque. Sua mão em meu peito fez o local formigar, por mais que um pedaço de pano separasse nossas peles, aquela sensação era maravilhosa. - Você se defendeu e não tinha como saber que Billy estava atrás de você. Papai me contou. E eu percebi o quanto fui monstruosa. - sua mão escorregou de mim deixando um vazio frio ali e ela cruzou os braços novamente - Você me perdoa, Oliver?

Eu queria dizer que a perdoava, que a entendia. Queria pedir desculpas também e ouvir de seus lábios que ela me perdoava. Por mais que soubéssemos o quanto acidental fora aquela morte, a bala sendo para mim atingindo outra pessoa. Mesmo sem meu conhecimento que ele estava atrás de mim, eu me sentia culpado. E eu não precisava de Felicity me julgando para aquela culpa existir. Ela existia por si só e era corrosiva e tão dolorida que eu precisava guarda-la e evitar ficar pensando nela para poder viver a minha vida. Que por dias eu me perguntei se eu deveria viver mesmo. Por dias me peguei pensando em como seria a vida de Donna e Connor sem mim, e por dias pensei no quanto a minha morte teria sido insignificante para aquela família rica. Felicity estaria noiva, feliz e completa.

Mas meu filho não, meu filho estaria sem mim.

Minha mãe sofreria.

Depois de dias eu entendi que alguém teria que sofrer naquela história. Alguém deveria chorar por um amor morto. Eu entendi a felicidade de minha mãe ao me ver bem. E aceitei que aquele dia não era o meu dia de morrer. Ele chegaria, todos nós morremos, mas aceitei que aquele não era o meu dia. Então eu consegui amenizar a culpa e me permiti viver com o novo emprego e com o foco único e total de não deixar faltar nada para Connor.

Eu não respondi Felicity, ela me olhava esperando um “Eu te perdoo” ou “Você foi uma vaca”, mas eu não disse nada. Tomado por uma coragem e uma vontade enlouquecedora, eu a abracei. A puxei para os meus braços e a abracei com força e para minha surpresa, minha total surpresa, ela retribuiu. Me envolveu em seus braços pequenos e enterrou o rosto em meu peito. A apertei mais um pouco contra mim quando senti seu corpo balançar, minha camisa molhar e o soluço do choro começar. Beijei o topo de sua cabeça e respirei novamente seu cheiro.

Ele era uma heroína, uma droga viciante.

E se eu não tomasse cuidado viraria o dependente.

Ficamos alguns minutos naquela posição até ela se acalmar. Ela respirava devagar e eu também. Nossas respirações estavam em uma verdadeira dança sincronizada.

⁃ Eu te perdoo - quebrei o silêncio - Mas quero que me perdoe também - falei e ela se afastou me olhando curiosa. Meu corpo odiou aquilo, odiou que ela tivesse se afastado

⁃ Você não me fez nada - falou secando uma lágrima que ficara do choro recente

⁃ Eu não tinha o direito de vir aqui e gritar com você daquela forma e…

⁃ Oliver - riu fraquinho - Eu não tinha o direito de me meter em um assunto tão pessoal - se encolheu do frio quando o vento nos chicoteou novamente - Eu entendo isso agora. Mas por favor, não pense que fiz para te humilhar - sorriu novamente - Eu sei que é um pai maravilhoso para o The Flash - agora foi a minha vez de rir com o apelido carinhoso - Eu só queria ajudar, não fiz por mal. Por favor não pense isso - fez careta - Eu não sou tão ruim

⁃ Tão ruim? - sorri - Minha mãe já havia me oferecido dinheiro para sanar aquela dívida, mas eu nunca aceitei

⁃ Você é muito orgulhoso - apontou para mim - E machista - acrescentou

⁃ Machista? - indaguei incrédulo

⁃ Qual o problema de ser ajudado? Se você tivesse no meu lugar, teria feito o mesmo.

⁃ Eu teria, mas…

⁃ Então pronto - deu de ombros - É um presente meu para Connor, fica no lugar do sorvete - piscou - Sorvete esse que você não o levou para tomar, ao invés disso veio aqui gritar comigo - levantou as sobrancelhas colocando as mãos na cintura me arrancando um riso. Ela era até engraçadinha quando não estava destilando ódio.

⁃ Eu vou te pagar - falei por fim

⁃ Eu não quero seu dinheiro - suspirou cansada - Se me der, darei a Connor e ele gastará tudo com sorvete

⁃ Com certeza ele fará isso

⁃ Então dê a ele - se aproximou de mim novamente. Aquilo estava ficando perigoso demais. - Se me der, eu darei a ele e ponto final. Você é orgulhoso? É - levantei as sobrancelhas em desafio - Mas não conhece a teimosia de Felicity Queen. - eu não conhecia mas fazia uma ideia de como era. - Até amanhã no trabalho, Oliver - me deu as costas e saiu

E eu fiquei ali parado a observando entrar em casa. “Até amanhã no trabalho, Oliver” aquela frase martelou um pouco na minha cabeça, nós não nos víamos no trabalho. Não havia motivos para nos vermos. Eu iria vê-la amanhã? Sorri tentando entender a bagunça que fora a nossa conversa. A explosão de sentimentos e palavras que precisavam ser ditas. E as não ditas, pois eu sabia que não era o momento para dizê-las. Mas eu as diria. Eu ainda teria a oportunidade de dizer.

Dizer que eu estava louco por ela.

POV Felicity

Eu precisava sair correndo dali. Eu precisava sair correndo de perto dele. Ele parecia que me enlouquecia e eu não gostava disso, sai dali correndo por não querer correr o risco de ser ríspida, mas ríspida na tentativa de me defender e esconder o que eu realmente estava sentindo. Na verdade eu nem sabia o que realmente estava sentindo. Eu só sentia. E não gostava de sentir. Parecia tão errado. Parecia que eu era uma traidora. Traindo Billy.

As sensações que Oliver causava em mim eram completamente novas, eu nunca sentia com Billy esse formigamento ao toque, a necessidade de toque, esse necessidade de estar próximo.

E isso me corroía.

Você não vale nada, pensei para mim mesma.

A morte dele era tão prematura, eu devia estar no quarto chorando por ele. Sofrendo por ele. Eu não devia estar sentindo atração por outro homem. Era tão errado. A culpa me maltratava.

Depois de uma longa conversa com meu pai eu entendi que Oliver não era culpado de nada. Eu estava sendo mesquinha demais. Eu vi o depoimento dele na delegacia e percebi o quanto ele se sentia culpado. Eu não podia depositar a minha dor nele, Oliver já tinha os próprios fantasmas para assombra-lo. Me senti um lixo após perceber e pesar tudo que eu havia lhe dito, tudo que ele ouvira calado de mim. Apenas com aquele olhar perdido, olhar de quem também precisava de um abraço para acalmar o coração.

Abraço.

Me senti bem naquele abraço, queria mais daquele abraço. Por isso o desfiz, eu não podia querer mais daquele abraço. Eu não podia me permitir sonhar com algo a mais daquele abraço e isso me sufocava. Eu queria gritar, eu queria quebrar alguma coisa. Eu não conseguia me controlar.

Entrei em casa correndo e subi as escadas ouvindo o chamado de minha família que me esperava para jantar. Ignorei. Eu não queria conversar, me estava com vergonha. Não com vergonha de sentir algo por ele. Mas eu sentia vergonha de mim mesma por não respeitar esse luto que também me corroía tanto. Eu estava tão dividida e eu não podia me sentir assim, eu não podia sentir algo por ele.

Entrei na biblioteca e me afundei no grande sofá que tinha lá, eu não queria encarar ninguém. Mas eu sabia que não ia ficar sozinha por muito tempo. E para constatar isso, minha irmã apareceu.

⁃ Lissy, o que foi? - a voz da Thea ecoou pelo recinto e a figura dela apareceu na minha frente - Oliver fez algo com você? - sentou no espaço ao meu lado

⁃ Não - me limitei dizer

⁃ Então o que… ?

⁃ Eu só quero ficar sozinha - fui ríspida. E lá estava novamente a Felicity que descontava suas raivas e frustrações nos outros - Desculpa - pedi me referindo ao meu tom de voz

⁃ Eu te conheço a minha vida inteira - deitou colocando a cabeça em meu colo - Tô acostumada com a sua falta de jeito em expor os sentimentos. Eu nem ligo.

⁃ Você não liga pra nada, Speedy - Thea revirou os olhos com o apelido que ela não gostava

⁃ Me fala o que foi? - perguntou fazendo beicinho e eu apertei sua bochecha

⁃ Fofoqueira!

⁃ Eu mesma - piscou

⁃ Eu paguei uma conta de quase 8 mil dólares do filho do Oliver no hospital - eu havia contado a ela que ele tinha um filho pelo qual eu me encantei de primeira. E ela se prontificou em estar amanhã na empresa para conhecer o meu The Flash.

⁃ E o machão ficou puto? - se sentou prestando mais atenção em mim. Fofoqueira!

⁃ Sim!

⁃ Que machista!

⁃ Não, Thea - suspirei - Eu o entendi, eu não tinha o direito de me meter em algo tão pessoal para ele, ele faz de tudo para não faltar nada para o filho - cruzei minhas pernas na famosa “perninha de chinês” em cima do sofá - E ele achou que eu fiz para humilha-lo por causa do ódio que eu sempre fiz questão de deixar claro. Eu entendo ele, eu também não ia gostar se fosse eu.

⁃ Acho que nem eu.

⁃ Eu pedi perdão por tudo e ele aceitou

⁃ Aquele abraço disse muita coisa - devagou e eu olhei incrédula para ela

⁃ Sua paste - dei um tapa em seu braço - Estava fofocando pela janela

⁃ Lógico! - alisou o lugar do tapa - Estava com medo de você dar um show com o cara - eu ri, ela tinha razão. Eu era uma bomba relógio ultimamente. - Mas porque entrou daquele jeito? Foi pelo abraço…

⁃ Eu-eu - gaguejei com a vergonha me dando um tapa na cara

⁃ Você não pode se culpar por sentir atração por Oliver ou qualquer que seja esse sentimento - falou séria me olhando - Não se culpe. Não deixe que essa culpa te atormente, isso não é bom.

⁃ Como?

⁃ Eu te conheço a minha vida toda, Lissynha - riu - Eu sei te ler. Não se atormente. Oliver é muito gostoso!

⁃ Thea! - falei incomodada

⁃ O que? - levantou as sobrancelhas rindo - Ele é mesmo - deu de ombros e eu ri

Ele realmente era. Deixei minha mente devagar nos pequenos detalhes que eu prestei atenção durante a nossa conversa. O tanto de vezes que ele respirou fundo fazendo seu peitoral perfeitamente musculoso marcar a camisa branca, seus braços que quando se cruzavam na frente do peito exaltavam o quanto eram másculos e definidos. Uma perdição. E esse tipo de pensamento era o que acabava comigo. Eu definitivamente era uma vadia. Da pior índole.

⁃ Eu sou uma pessoa horrível - falei por fim - Me sinto horrível por sentir uma atração por ele - sussurrei abaixando a cabeça - Eu estou perdida nesse sentimento que corrói aqui dentro - passei a mão no meu peito - Eu nem o conheço direito, eu o vi pouquíssimas vezes, mas tudo é tão intenso que dói.

⁃ É assim mesmo.

⁃ O que?

⁃ Amor a primeira vista - acariciou meu braço - O amor a primeira vista faz com que você fique pensando na pessoa mesmo tendo a visto pouquíssimas vezes ou apenas uma vez - devagou - Você não precisa conhecer a pessoa para ficar pensando nela, basta vê-la - suspirou. Algo me dizia que Thea não estava falando apenas de mim, apenas da minha situação. Parecia que ela tinha vivido aquilo, pois falou com tanta intensidade - E quando você viu Oliver, - me olhou - Quando você o viu pela primeira vez foi em uma situação completamente traumática. Não se culpe por esse mix de sentimentos. Se permita.

⁃ Thea? - a olhei intrigada - Quem é ele?

⁃ Oliver? - falou como se fosse o óbvio

⁃ Não - neguei - Por quem você se apaixonou?

⁃ Eu não sei - suspirou - Apenas o vi nos Glades e aconteceu, faz um mês que eu só penso nele. - eu ri e a abracei - É desgastante sabe? Não sei nem onde procurar - recostou a cabeça em meu ombro  - Mas o assunto aqui é você - me olhou sorrindo - Oliver será o meu novo cunhado! - Aquilo não foi uma pergunta. Aquilo foi uma afirmação. E tomada por um sentimento complementar desesperador, eu chorei. Abracei a minha irmã e chorei - Me desculpa, meu amor - pediu assustada - Eu não sabia que se sentia tão mal com isso. - a abracei mais forte e chorei.

Chorei porque eu sabia que tudo que minha irmã havia dito era verdade. Que tudo sobre o amor a primeira vista era verdade. Chorei por me sentir mal por isso, chorei porque eu me sentia uma traidora. Alguém sem caráter, que não conseguia respeitar o luto e sai me encantando pelo primeiro - primeiro literalmente - homem que apareceu na minha frente quando o meu noivo morreu.

Eu me sentia uma merda de pessoa.

Eu não valia nada.


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Notas finais do capítulo

Ain gente!! Shippando muito esse casa super complicado.
Roy está chegando!!!
Thea vai conhecer Connor e alguém vai aparecer para causar problemas. Adivinhem quem é?

Comentem!!!



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