Vontades do Destino escrita por MayDearden


Capítulo 4
Ironia do Destino


Notas iniciais do capítulo

Nos vemos lá embaixo!!
Boa leitura!
Comentem!



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POV OLIVER

Contei tudo ao delegado, tudo. Desde ao motivo de eu estar naquele beco, até a hora que eu me abaixei para tentar salvar minha vida. Eu lembrava de todos os detalhes, lembrava de cada palavra dita. Aquela agonia, aquela adrenalina ainda estavam bem vívidas em minhas memórias. Porém eu queria que elas sumissem, que elas se apagassem. E levassem junto a culpa. Além das memórias, a imagem de Felicity não saia da minha mente. Porque? Porque eu não conseguia parar de pensar nela? Meu coração e minha consciência gritavam dizendo que eu precisava fazer algo para fazer ela parar de me odiar tanto. Algo que era totalmente insignificante, Felicity não era nada para mim. E eu com toda certeza não era nada para ela.

Ah! Eu era sim!

Eu era a memória de um noivo que poderia estar vivo se não fosse por mim.

O delegado me mostrou várias fotos, vários bandidos e assassinos dos Glades. Uns eu reconheci pelos anúncios na TV, outros eu nunca ouvira falar. Nenhum daqueles lembrava os covardes da outra noite. Até porque não teria como reconhece-los. E foi exatamente isso que expliquei. Ambos estavam mascarados e as máscaras abafavam até a voz. Então o delegado me mostrou duas fotos tiradas de câmeras de trânsito, e nela estavam eles, o Chucky e o Pânico assaltando um carro na avenida principal dos Glades.

— Estamos a um tempo atrás deles - o delegado falou apontando para a foto - Eles são amadores, mas somem muito rápido, são ratos do bairro e eles matam sem pena.

— Eu queria poder fazer mais - falei com pesar - Eles acharam que eu era rico, pela roupa de garçom…

— Rapaz, a única coisa que sabemos é que alguém teria morrido aquela noite. E não foi você - se levantou e me guiou até a porta - Aproveire sua família, Sr. Smoak.

Assenti e me retirei. Eu não tinha muito o que fazer ali, eu não tinha como identificar o assassino. Eu não podia ajudar. Por mais que eu quisesse.

Suspirei em derrota, além de me sentir culpado, eu me sentia inútil também. E novamente a imagem de desespero de Felicity veio em minha mente.

Tão linda.

Porém com uma dor tão grande para carregar.

Aquele olhar azul suplicante, aquele olhar azul marejado em lágrimas de dor. Que me olhavam com desdém e acusações.

Sai dos meus devaneios com meu celular tocando insistente. Olhei no visor “DESCONHECIDO”.

— Alô?

      - Sr. Smoak? - a voz de um homem falou impaciente

— Sim!

— Aqui é do setor de administração da Queen Consolidated.

Merda!, pensei

— Pois não?

— A um mês o senhor mandou seu currículo para esse setor. Confere?

— Sim.

— Abrimos uma vaga na administração de recursos humanos, acreditamos ser da sua área e do seu perfil. Caso tenha interesse, venha amanhã às 9:00 para uma entrevista e reconhecimento do cargo.

— Obrigado… Quem fala?

— Procure por Curtis Holt no 17º andar.

— Obrigado!

— Esperamos pelo senhor.

— Estarei aí.

Suspirei pesadamente pela quingentésima vez naquele dia. Eu fiquei meses, meses sem um emprego. E o primeiro que aparece é na Queen Consolidated? Era muita ironia do destino.

Eu não podia aceitar esse emprego. Eu sei que todos da família veriam como uma afronta ao acontecido. Eu não podia e nem queria causar mais desconforto a ninguém. Mas eu também precisava pensar no meu filho, na conta do hospital e dos gastos que uma criança precisa. Eu não podia apenas pensar nos outros, eu precisava pensar em Connor. Ele era prioridade e eu sabia que a família Queen pagava bem aos seus funcionários, em poucos meses economizando eu poderia quitar minhas dividas.

Meu Deus, o que eu faço?

Ainda na porta da delegacia eu guardei o celular no bolso e dei o primeiro passo em direção à rua quando acabei trombando em um corpo não muito maior que o meu. O impacto incomodou, mas nada insuportável. A pessoa, o homem, falou um sonoro “aí” quase inaudível. Olhei em seu rosto para me desculpar e encontrei um sorriso termo ali. Aquele homem não me era estranho…

— Desculpe - ele pediu se endireitando - Eu estou com um pouco de pressa.

— Me desculpe o senhor - sorri - Eu estava desligado.

— Senhor não, por favor - esticou as mãos sorrindo - Robert Queen, apenas Robert.

Abri a boca para falar e nada saia. A vida realmente estava pregando uma peça em mim. Ou era Deus respondendo a minha pergunta?

Prontamente eu estiquei minhas mãos e apertei a dele. Eu nunca vira aquele homem pessoalmente, e também nunca me liguei muito em noticiários que falavam sobre a elite de Starling City. Os acontecimentos da outras noite foram tão rápidos que eu não reparei muito nos rostos ao redor. Eu reparei apenas em um rosto… O rosto na qual a dor em duas feições me atormentavam.

— Eu sou…

— Oliver - sorriu novamente - Oliver Smoak.

— Como…? - perguntei sem entender

— Eu lembro de você - sorriu terno. Ele tinha umas feições duras, um olhar azul marcante, azuis iguais os da filha, a barba rala tinha uns fios brancos e outros loiros. Com uma roupa despojada, uma camisa branca lisa e uma calça jeans, ninguém diria que aquele homem era praticamente o rei da cidade. - Da noite da tragédia - suspirou - Quero que saiba que eu e nem a família de Billy temos ressentimento com você.

— Mas a sua filha me odeia - sorri sem humor. Eu não conseguia entender porque isso me incomodava tanto. Por que Felicity me odiar me incomodava tanto? Eu nem a conhecia.

Como uma desconhecida podia mexer tanto comigo?

Como o que ela pensa sobre mim poderia me afetar tanto?

— Ela está arrasada, o luto dói, Oliver. Mas eu vejo em seus olhos que você também está de luto por alguém que nem conheceu - apoiou uma mão em meu ombro, acho que na intenção de me reconfortar - A culpa não foi sua, não foi você quem apertou o gatilho. Você só se defendeu e eu sei que não fez nada por mal. Não deixe que as palavras duras de Felicity magoem você, ela está sofrendo. Está falando sem pensar. Ela não é uma pessoa ruim.

— Eu nunca quis o mau de ninguém, senh… - ele arqueou a sobrancelha - Robert

— Eu sei - apertou a mão em meu ombro - Quando te vi pela primeira vez eu percebi que não era uma pessoa ruim. Procurei saber mais sobre você, rapaz. E espero que aceite a vaga na empresa.

— Então o senhor mandou me procurarem? - perguntei surpreso

— Você está precisando, não está? - assenti - A vaga existia e não encontrávamos alguém para preenchê-la. Agora eu encontrei. - com a mão que estava em meu ombro, deu dois tapinhas em saudação - Preciso encontrar um amigo, se me der licença, rapaz.

Assenti em saudação e ele foi, me deixando completamente tonto com aquele encontro. Eu jamais pensei que iria conhecer Robert Queen e principalmente que iria me sentir tão bem em sua presença. Eu podia ficar ali horas conversando com ele, sem preocupações. Ele passava um ar tão paternal e não de um magnata multibilionário. O jeito como falou da filha aqueceu meu coração. Eu não conheci meu pai muito bem, ele ter ido embora deixou um gosto amargo nas poucas lembranças que eu tinha dele. Amargo porque eu pensava que se ele fora embora, era porque não me amava. E eu fazia de tudo para ser o melhor pai do mundo para Connor. Porém no caso do meu filho, a mãe que o abandonara. Mas eu nunca ia permitir que ele sofresse por isso.

Fiquei um tempo parado absorvendo o que acabara de acontecer. O magnata Queen em pessoa me dando uma oportunidade de emprego. As respostas para minhas perguntas e questões estavam respondidas, eu aceitaria e emprego.

Pelo meu filho.

Não sei quanto tempo se passou, até que Robert voltou acompanhado de um senhor um pouco mais velho que ele, com um semblante triste e olheiras de noites mal dormidas. Ele estava com documentos em suas mãos e me olhava intrigado e com um pouco de receio no olhar.

— Oliver - Robert sorriu educado - Vejo que não foi embora.

— A sua proposta de emprego me pegou um pouco desprevenido, senh… Robert - suspirei sorrindo de canto

— Aceite, rapaz - o senhor que acompanhava Robert se pronunciou - O Queen já me contou tudo, aceite.

— Oliver, esse é Tom Malone e Tom, esse é Oliver.

— Prazer senhor Malone - estendia a mão e o mesmo a pegou - Eu quero dizer que sinto muito pela sua perda, eu… - suspirei nervoso - Eu não sabia… Eu…

Olhar para o pai do rapaz que morrera em meu lugar era tão doloroso quanto olhar para Felicity. Agora eu entendia suas olheiras, noites mal dormidas devido ao luto. Eu nunca havia perdido ninguém para a morte. Muitas pessoas já haviam entrado e saído da minha vida, mas a morte? Nunca. E eu não podia imaginar a dor de perder um filho. Eu não me imaginava sem o meu. Tom Malone devia estar vivendo o próprio inferno e eu sabia que ele queria mais do que tudo fazer justiça pela morte do seu filho. Queria pegar o culpado.

— A culpa não foi usa - o senhor Malone começou - Quero que sabia que eu e minha esposa não temos ressentimentos com você. - a sua voz ficou embargada, porém foi firme em segurar as lágrimas - Eu apenas peço que aproveite a segunda chance de viver que meu filho, mesmo sem querer, acabou te dando. - suspirou se recompondo - Aceite a ajuda de Robert.

— Obrigado, senhor - sussurrei assentindo

— E, por favor, rapaz o que lembrar que possa ajudar a pegar os merdas que tiraram a vida do meu filho…

— Senhor, o que eu puder fazer para ajudar a pega-lós eu farei.

— Eu disse que ele era uma boa pessoa - Robert sorriu terno para o amigo que assentiu e mesmo triste permitiu dar uma risada fraca - Eu nunca erro, meu amigo

— Nunca, Queen - Malone deu dois tapinhas marotos em Robert e seus olhos caíram em mim novamente - Rapaz, não ligue para as palavras duras de minha nora - suspirei pesadamente olhando para Robert que assistiu concordando com o amigo - Ela está sofrendo tanto quanto eu e minha esposa. Mas as vezes no luto, nós precisamos achar um culpado para nossa dor. O ódio que eu sinto, a dor e o rancor eu quero depositar unicamente nos verdadeiros culpados.

— Vamos pega-lós, Tom - Robert assegurou olhando para o amigo e eu assenti - Lance vai fazer de tudo para pega-los - seus olhos caíram sobre mim - Não odeie minha filha.

— Eu não tenho esse direito - sorri sem humor - Entendo que ela está sofrendo.

— Ótimo - sorriu - Preciso ir para casa, te espero amanhã na empresa, Smoak. Vamos, Tom. - assenti

— Fique bem, Oliver - Tom disse - E não desperdice a sua nova vida.

— Obrigado e… Sinto muito.

O mais velho assentiu tristemente e se distanciando. E novamente eu fiquei tonto com o encontro. Eu não imaginava que ambos os patriarcas das famílias simpatizassem tanto comigo, eu, o responsável pela morte do filho e genro deles.

Entrei ainda atordoado no meu Chevrolet Aveo 2007 preto, uma das poucas coisas que pude comprar a vista. Antes de Connor nascer eu economizei um dinheiro para comprar um carro visando a facilidade de locomoção para um possível emprego no centro de Starling, e desde então ele nunca havia me deixado na mão. Parece que o carro sabia que eu estava com pouco grande e se o mesmo quebrasse iria direto para um ferro velho. Suspirei. Na noite de todo ocorrido eu ponderei ir de carro, mas preferi ir a pé, por ser próximo de casa. Se eu tivesse ido de carro, Billy estaria vivo, noivo e de casamento marcado. Todos estariam felizes. Inclusive eu. Eu não teria a culpa da morte de alguém nas costas.

Não adiantava, por mais que me dissessem que fora um acidente, um terrível acidente. Por mais que o pai dele tivesse me dito palavras reconfortantes eu não conseguia me livrar desse peso. Eu não conseguia me livrar dessa culpa. O choro da noiva dele, o corpo dele no chão, o desespero dela, tudo martelava em mim tão forte como um soco.

Dirigi até em casa em casa muito atento a todos os detalhes em minha volta. Depois do quase assalto eu passei a ficar um pouco mais alerta que o normal, eu havia ganhado uma segunda chance - querendo ou não - eu devia zelar mais pela minha vida agora. E aproveitar cada momento. Bom, era isso que as pessoas queriam para mim. Mas eu não sei se conseguiria fazer com elas culpa em meu coração e mente.

Eu costumava ser um cara descontraído. Antes do Connor eu saia com os amigos, mesmo com poucas condições financeiras eu não me privada de pelo menos duas vezes no mês me divertir com meus amigos. Acampamentos, trilhas… Coisas que não gastavam muito dinheiro, mas de qualquer forma era um exercício e aventura. Eu costumava também praticar artes marciais na academia de um amigo de infância, Renne Ramirez - pai a Zoe -, para pagar a faculdade eu trabalhei um tempo lá e por ser funcionário eu podia fazer qualquer exercício que eu quisesse. E antes disso, quando éramos adolescentes, Renne e eu ajudávamos não faxina da academia do Mestre Slade Wilson, e com isso eu e ele treinávamos de graça.

Sorri com a lembrança ao parar no sinal.

Renne teve um pouco de sorte quando sua mãe, Shado, se casou com Slade e assim a academia virou de Renne e eu pude ajudá-lo dando umas aulas com tudo que eu havia aprendido com Slade. Sou eternamente grato a essa família que, graças a esse simples emprego, eu, mesmo com dificuldades, conclui minha faculdade. A minha esperança na época era concluir e já consegui ingressar em um emprego.

Tão tolo.

Tão sonhador.

Mas agora a vida me colocava em uma grande oportunidade. Eu tinha a chance de um emprego de verdade. Um emprego para dar uma melhor expectativa de vida para o meu filho, um emprego que faria minha mãe parar de se preocupar tanto comigo.

Bom, era isso que eu pensava quando contei para ela assim que cheguei em casa.

— Você não vai aceitar esse emprego, Oliver - falou processa me encarando - Você não pode!

— Mas porque não? - indaguei incrédulo

— Você sabe quem comenda aquela empresa?

— Robert Queen - falei e ela riu sem humor

— Felicity Queen, meu filho - a olhei sem entender - O pai dela vive viajando com a esposa e deixa todo o império nas mãos da filha mais velha.

— Como sabe disso?

— Eu leio sites de fofoca, querido

— Mas a promoção de emprego veio diretamente do senhor Queen.

Eu não era a par desses assuntos que mamãe via nesses sites e revistas. Eu sabia que para ela era só hobbie ficar por dentro da vida da elite de Starling, saber da moda atual e por aí vai. Mas eu nunca imaginei me envolver em tudo isso, ter contato com essas pessoas e ponto de causar alguma confusão.

Porque era isso que eu sentia.

Que eu estava me metendo em uma enorme confusão ao aceitar esse emprego.

— Por mais que ele tenha ótimas intenções, meu bebê - sorriu terna acariciando meu rosto - Quem vai ser sei chefe não vai se ele e sim a patricinha mimada da filha dele.

— Não fale assim das pessoas, mamãe

— Ela vai fazer da sua vida um inferno. - falou saindo da cozinha e me deixando lá sozinho com a louça do jantar.

Eu já havia me decidido, eu ia aceitar. Amanhã as 9h00 eu estaria no prédio da Queen Consolidated para uma entrevista e reconhecimento do local.

Apesar de todos os motivos contra eu aceitar esse emprego, o motivo pós era maior.

Connor.

POV Felicity

O despertador soava insistente.

6h00

Eu precisava daquilo. Eu precisava ir para o trabalho. Precisava me distrair, sanar a falta que eu estava sentindo do meu Billy. Eu não via motivos para ficar em casa remoendo meu luto, remoendo a minha dor. Eu precisava me distrair se não iria definhar.

Suspirei ao lembrar das últimas noites mal dormidas. O luto e os sonhos com aqueles olhos azuis. Olhos azuis que atormentavam minhas noites. Sonhos de que ele apertava o gatilho, mas em minha direção, acertando o meu coração e depois ele chorava, chorava em cima do meu corpo caído e sem vida no chão. Ele chorava e me beijava. Um beijo cheio de dor, e eu sempre despertava do sono suada. Desperada. Eu sinta a dor do tiro, eu sentia o toque dos lábios dele, eu sentia tudo. E me odiava por isso. Não era com ele que eu deveria estar sonhando, não era por ele que eu deveria acordar desesperada no meio da noite ao ter sempre o mesmo sonho.

Eu me odiava e odiava ele ainda mais por causar isso em mim.

Era involuntário.

Eu queria sonhar com Billy.

Não com ele.

Deixei que as lágrimas rolassem por meus olhos no banho, a cada soluço eu rezava que com as lágrimas levassem consigo todo o meu desespero. Toda a minha dor, toda a minha angústia, todo o meu ódio. Eu interior gritava, eu sentia um peso em minhas costas. Eu não sabia com exatidão o que estava acontecendo comigo. Eu sabia apenas de uma coisa: Eu não queria mais sonhar com ele. Quando eu ficava sozinha, durante o dia, tudo que eu pensava era em Billy, e em tudo que perdemos. Mas as noites… Respirei fundo desligando o chuveiro e saindo do box, me encarei no grande espelho na minha frente. Minhas olheiras, olhos e boca inchados, nariz e bochechas vermelhas do choro. Suspirei pegando minha maquiagem. Só elas para resolverem a minha situação física, pois eu sabia que a emocional iria levar um tempo. Com a maquiagem feita, eu forcei um sorriso no espelho. Eu tinha que convencer a todos que estava bem. Coloquei um macacão preto, meus brincos e relógio, joguei um sobretudo em meus ombros e um calcei um salto.

Olhei feliz para o reflexo no grande espelho do meu closet. Desci as escadas correndo para o café da manhã e encontrei mamãe e papai a mesa. Mamãe não tinha motivos para acordar tão cedo, mas eu sabia que ela apreciava um café da manhã ao lado do marido. Ela ainda vestia o hobbie de seda e papai estava impecável em seu terno, pronto para o trabalho. Os dois estavam em uma conversa melosa, sobre algo que ele iria fazer com ela quando chegasse do trabalho, parei na porta da sala de refeições fazer careta para os dois. Mamãe assim que me viu, corou e papai deu gargalhada.

— Felicity! - Robert disse rindo - O que faz acordada a essa hora?

— Certeza que não é para conversar pornografia com vocês no café - falei me sentando e pendurando o sobretudo nas costas da minha cadeira - Eu vou trabalhar.

— Não vai não, querida - Moira disse maternal

— Eu já estou indo - papai falou olhando no relógio - Inclusive, estou atrasado

— Claro - levantei as sobrancelhas e eles riram, papai deu um selinho em minha mãe e um beijo na minha testa

— Fique em casa - falou e saiu

— Eu sei o que você está fazendo - mamãe me olhou séria quando estávamos a sós - Você precisa descansar, dormir e …

— Eu não consigo - falei mordendo o lábio para segurar o choro - Eu vou definhar se eu ficar presa naquele quarto, mamãe

— Você não precisa ficar dentro do quarto, meu amor - se levantou e me abraçou por trás na cadeira - Podemos passear, pra onde você quiser.

— Mãe…

— Eu falei com seu pai, ele disse que se quiséssemos podias dar uma volta em Paris e fazer comprar, ou em Milão.

— Não, mamãe - suspirei - Não quero ir pra esses lugares e ficar o tempo todo pensando que não era a sua companhia que eu queria…

— Nossa minha filha, obrigada por amar minha companhia - riu - Eu te entendo - beijou o topo da minha cabeça - Desculpa pela insistência, só queremos te ver bem!

— Obrigada pela insistência - puxei-a para que sentasse não cadeira ao meu lado - Eu te amo! Muito! - sorri - Mas eu preciso encher minha cabeça com burocracias e ataques de empresários contrariados. Só assim eu não penso.

— Ah minha menina - suspirou me abraçando

Após nossa breve conversa, mamãe foi correr em volta da propriedade dizendo que Thea ainda estava dormindo e que a qualquer momento apareceria para o café. Eu corri da mesa levando comigo apenas um cacho de uvas, me assegurando que não encontraria minha irmã mais nova, fugindo de mais um senão sobre eu não poder ir trabalhar. Entrei na minha BMW 320i branca rápido para tentar fugir de Digg, eu sabia que papai o colocaria na minha cola. Dei a partida no carro e buzinei ao passar por ele na entrada da mansão. Pelo retrovisor eu vi seu olhar incrédulo e risonho.

John Diggle já tinha virado amigo da família, ele era um ex combatente do exército americano. O seu pai era amigo do meu pai, e assim que Robert soube que ele estava se aposentando do exército tratou de colocá-lo em nossas vidas. John não aceito empregos de altos cargos, se contentou sendo nosso segurança/motorista. Ele espantava os paparazzi com toda aquela montanha de músculos. Lyla, sua ex mulher atual namorada, era um amor. Ela morava nos Glades e era professora de uma escolinha por lá, eles estavam à espera do primeiro bebê deles. Sara.

Estacionei o carro na minha vaga no prédio e dei a volta para subir pelo elevador de serviço, eu não queria ser olhada com pena. Eu não queria que me parassem para dar os pêsames, isso desistabilizaria a barreira com um sorriso forçado que eu havia construído. O pessoal da limpeza não era muito de falar comigo, ele me achavam uma bruxa, por mais que eu não fosse.

Entrei no elevador e apertei o vigésimo andar, onde ficava a minha sala. Ou melhor. A sala do meu pai, que eu ocupava enquanto ele viajava por aí.

Antes da porta se fechar uma mão segurou o elevado.

— Espera! - ninguém menos que Oliver Smoak apareceu me olhando assustado - Bom dia! - disse simplesmente parando ao meu lado e apertando o décimo sétimo andar.

Uma dor, uma agonia, um desespero subiu do meu estômago até a minha garganta. Minha cabeça começou a latejar e eu suspirei pesadamente. Tentava a todo custo não olhar para ele, eu sabia que se eu olhasse iria desmoronar ali mesmo. Eu odiava as sensações que ele me fazia sentir.

Mas porque ele estava ali? No meu prédio? Na minha empresa? O que ele estava fazendo ali?

O 17º andar era setor do RH, onde acontecia as contratações, entrevistas de emprego e afins.

Não! - pensei

— Não o que? - ele perguntou me olhando instigado. Merda! Eu e meus pensamentos sem filtro. Ousei olhá-lo, ele vestida uma calça social preta, uma blusa azul claro que combinava perfeitamente com o azul dos seus olhos e segurava uma parta preta escrita “DOCUMENTOS”.

— O que você está fazendo aqui? - falei seca

Eu estava nervosa. Eu odiava me sentir nervosa ao lado dele. Eu devo sentir ódio. Não nervosismo. Afinal, meu Billy morrera por sua culpa. Ele era a confirmação de que meu amor estava morto. Tremi me arrepiando com o pensamento. Minha espinha gelou é mais olhos marejaram. Respirei fundo tentando me recompor a todo custo. Eu não ia quebrar agora.

— Eu… - ponderou - Eu peguei o elevador errado - afirmou

— Não é ao elevador que me refiro. - olhei em seus olhos apertando a minha bolsa com força

— Uma entrevista de emprego - falou rápido, ele parecia receoso em me dar essa informação

“Décimo sétimo andar” - a voz automática do elevador falou e as portas se abriram

— Quem…?

— Estou atrasado - suspirou saindo e me dando uma última olhada antes das portas se fecharem - Senhorita Queen - assentiu e o elevador continuou seu percurso.

Eu não acreditava no que havia acabado de acontecer. Aquele homem faria parte do time da Queens Consolidated? Só por cima do meu cadáver. Eu não podia, eu não tinha estabilidade psicológica para conviver com ele todos os dias.

Eu não podia.

Eu não queria.

A porta do elevador abriu novamente e eu corri até a sala do meu pai. A secretária, minha secretária, deu um pulo da cadeira ao me ver. Não a olhei, estava tomada pelo ódio. Eu precisava resolver isso.

— Pai! - falei abrindo bruscamente a enorme porta de vidro. Derramei todas as lágrimas que segurei dentro do elevador. Ele saltou da cadeira e me olhou assustado.

— Aconteceu alguma coisa? - falou se levantando, fiz menção que não se levantasse e me sentei na cadeira a sua frente. - Porque está chorando, querida?

— Oliver - falei secando minhas lágrimas

— O que? - perguntou sem entender

— Encontrei Oliver no elevador - suspirei - Ele tem uma entrevista de emprego aqui

— Ah - falou sem jeito e começou a mexer nos papéis em sua mesa

— Pai? - perguntei desconfiada

— Eu sei - suspirou - Eu quem o contratei diretamente

— Como…?

—Querida, você não pode viver com esse rancor dentro de si. Não pode. - se levantou e se ajoelhou em minha frente - Ele não teve culpa, o que aconteceu com Billy foi uma fatalidade.

— Mas, pai - funguei - Quando eu olho pra ele, eu… eu…

— Não filha, ele é um homem bom - falou - Ele não fez por mal, ele só tentou se defender, ele não sabia que o Billy estava lá também. Ele é tão vítima quanto o Billy, quando você, meu amor.

— Eu não posso trabalhar com ele - falei

— Você não precisa ter contato com ele aqui. Ele ficará na administração dos recursos humanos, você precisa ter contato com o chefe do setor, não com ele.

— Porque?

— Curtis viu no sistema o nome dele, ele já ia ser chamado para a entrevista. Pedi que Lance procurasse os antecedentes dele, procurasse um pouco mais sobre a história dele. Ele honesto, sempre ajuda quando precisam, e está passando por um momento difícil - suspirou se levantando e voltando para seu trono - Ajudamos quem precisa, filha - assenti - A empresa sempre visou isso.

— Eu sei. - respirei fundo - Desculpa

— Você tem todo direito de sofrer - sorriu triste - Por mais que isso me doa, mas não desconte esse sofrimento em terceiros. Não deixe esse dor virar ódio.

— Não vou - suspirei - Vou me esforçar.

— Essa é a minha garota!

— Agora sai da minha cadeira, pai!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo.
Não odeiem a Felicity!! O luto dói!

Sumi por dois motivos:

Pandemia

Faculdade

Espero voltar aos poucos e concluir essa história que fica martelando no minha cabeça.
A faculdade virou on-line e isso acabou comigo. Mas já acabou, ainda bem!!

Comentem muito!! Por favor!!
No próximo capítulo Felicity e Connor vão se conhecer.



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