Vontades do Destino escrita por MayDearden


Capítulo 13
Retorno




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/793508/chapter/13

⁃ Bom dia! - falei adentrando a cozinha e encontrando Oliver e Connor tomando café da manhã.

⁃ Bom dia! - falaram juntos e me sentei ao lado do loirinho menor lhe dando um beijo estalado na bochecha

⁃ Então, - Oliver começou - hoje é sábado. O que acham de um passeio? - me olhou em expectativa

Nesses últimos dias que se passaram, eu só saia de casa para levar Connor na escola e depois buscar. Ah! Além de olhar Connor andando de bicicleta na calçada em frente à casa de Oliver.

Apenas.

Eu não tinha forças e nem vontade de fazer nada além disso. Tudo em mim gritava para que eu me afundasse na minha própria desgraça, mas fazer algo por aquele pequeno e o apoio de Oliver eram a motivação para que eu não me perdesse dentro do meu desespero.

Se fosse em outra época eu sabia muito bem onde eu estaria…

Vocês já se sentiram sem rumo? Era assim que eu me sentia. Sem uma direção. Perdida. Fora do lugar. Eu não sabia quem eu era, eu ficava tentando imaginar a vida que eu teria, mas era um branco total. Como se eu não tivesse identidade.

Era ridículo pensar que eu me achava parecida com a minha mãe… Com a Moira. Eu costumava pegar as fotografias dela mais jovem e via certa semelhança. O formato e a cor dos olhos, o empinado do nariz, o cabelo castanho claro que costumávamos pintar de loiro, e tal da humildade que Thea dizia que tínhamos mesmo eu e mamãe tendo personalidades diferentes - eu costumava me orgulhar em dizer que eu tinha puxado isso da mamãe. E eu também via semelhanças com o papai, éramos determinados e costumávamos nos abalar fácil. A raiva vinha fácil demais. Eu via como ele se descontrolava algumas vezes, e eu jurava que havia puxado isso dele.

Eu me achava uma verdadeira mistura dos dois.

Bom, talvez tenha sido a convivência.

E ainda tinha a Thea. Éramos o oposto uma da outra, ela era a paz e a eu o furacão, mas ao mesmo tempo parecidas - em atitudes.

E agora… Avaliando a minha nova realidade, eu não sabia quem eu era. De onde eu havia puxado o cabelo castanho claro, de onde vinham os genes dos olhos azuis e nariz empinado?

Eu não sabia as minhas origens.

Eu me sentia tão ingrata por pensar que eu não tinha raizes. Robert e Moira me deram o mundo, mas eu não sabia quem eu era. De onde eu vim. Era para eu me chamar Felicity Megan? Eu trabalharia na QC se não fosse - até então - herdeira? Eu conheceria Billy? John? Eu teria me apaixonado perdidamente por Oliver?

Esses pensamentos traziam uma vontade de chorar e uma angústia que me destruía por dentro. E para não sofrer do único jeito que eu sabia sofrer - dando trabalho pra alguém estando extremamente bebada - eu preferi me isolar.

⁃ Podem ir - suspirei sabendo da tentativa dele de me tirar de casa e me servi com café

⁃ Você não pode ficar sozinha enquanto passeamos, Licity - Oliver e eu franzimos o cenho mediante a fala de Connor

⁃ E porque não, campeão? - o pai perguntou curioso

⁃ A Licity chora quando fica sozinha - declarou - Eu vi e eu não gosto de ver ela chorando, papai. Quero que ela vá e sorria.

Ah! Que merda, Connor… Meus olhos já estavam marejados com a informação que ele havia acabado de passar. Eu estava fazendo o pequeno sofrer de alguma forma. Ele não merecia me ver afundando, ele merecia o melhor de mim.

⁃ Oh, querido! - puxei ele para o meu colo lhe enchendo de beijos - Onde você quer ir? Eu prometo que te levo onde você quiser. - os olhos do menino se iluminaram e eu fiquei com medo do que sairia dali

⁃ Sem extravagâncias - Oliver advertiu

⁃ Eu não sei o que é isso, papai - Connor respondeu e eu ri o apertando contra mim - Podemos ir na loja de Lego de novo?

⁃ Você ainda tem dinheiro pra gastar, não tem? - perguntei me referindo a quantia que eu havia dado para ele no mês passado. O pequeno assentiu e eu vi que Oliver já ia reclamar, então tratei de ser mais rápida - Ótimo! Vamos ao shopping!

⁃ Felicity…

⁃ Você não queria que eu saísse de casa? - ele assentiu - Então…

⁃ Tudo bem - suspirou - Almoçamos na rua então.

(…)

Eu me sentia estranha andando pelos corredores do shopping, cada olhar que lançavam sobre mim eu me sentia exposta. Como se as pessoas soubessem de absolutamente tudo que estava acontecendo comigo.

Como se elas estivessem prestes a me julgar, ou rir de mim.

Era uma sensação sufocante.

Connor parecia - e com certeza estava - alheio a qualquer coisa. Assim que chegamos no shopping almoçamos, fizemos as compras e ele estava completamente feliz com as suas sacolas cheias de novos Lego. Agora estávamos indo em direção ao parquinho do shopping. Oliver estava sempre me lançando olhares de “eu sei o que você está pensando” e eu apenas sorria fingindo estar bem. Mas eu não estava bem, e ele sabia disso.

⁃ Você quer ir embora? - Oliver perguntou por fim

⁃ Não.

⁃ Você não está bem!

⁃ Mas o Connor está - olhei para o menino que saltitava em nossa frente - Ele tem ficado preso em casa comigo, não é justo.

Connor se negava a me deixar sozinha. Ele estava sempre em meu encalço quando não estava na escola. Tinha noites que queria dormir comigo. Era estrando me sentir assim com uma criança. Eu nunca me imaginei com filhos, por mais que eu soubesse que um dia iria querer ter. Mas ter uma criança ali, mesmo não tendo saído de mim, que me olhava como se o mundo dela fosse acabar se eu fosse embora.

Era estranho.

Mas também era bom.

Eu amava aquele menino. Daria a minha vida por ele. E não importa o que o futuro me reservava, eu sentia que o meu destino era estar com ele. Eu amo o Oliver, mas o que eu sentia pelo Connor era… Amor de mãe.

Eu amava acordar com ele me chamando, amava cuidar dele durante o dia. O ajudar na atividade de casa, conferir se estava levando o material certo para a escola. Amava tirar suas dúvidas de matemática. Eu amava fazer de tudo por ele. E pelo que dependesse de mim, eu continuaria fazendo.

Sempre e pra sempre.

⁃ Connor sabe que está acontecendo alguma coisa e que você não está bem por isso, ele vai entender se formos embora agora, amor - falou quando nós aproximamos do parquinho

Connor urrou de felicidade e jogou suas adoradas sacolas em cima de mim para logo depois sair correndo para os brinquedos.

E equilibrei as sacolas em minhas mãos e olhei sério para o homem a minha frente.

⁃ Se você ousar tirar essa criança dos brinquedos, eu acabo com você, Sr. Smoak.

⁃ Tudo bem - riu e se sentou no banco, me sentei ao seu lado - Vou contar hoje para o Connor que estamos juntos.

⁃ Estamos? - me fiz de desentendida

⁃ Felicity… - me olhou incrédulo

⁃ Estou brincando - ri - Acho que ele sabe

⁃ Ele desconfia - me olhou e tocou a ponta do meu nariz - Eu gosto de te ver assim

⁃ Cheia de sacolas parecendo a Thea? - olhei para as bolsas em meu colo

⁃ Não - meneou com a cabeça - Sorridente.

⁃ Estar com o Connor me faz esquecer um pouco dos problemas, me senti mais leve.

⁃ Obrigado pela parque que me inclui

⁃ Está com ciúmes do seu filho? - passei o olho nos brinquedos para ver se estava tudo com bem o loiro menor.

⁃ Eu devo me preocupar? - brincou e eu ri lhe roubando um selinho

Incrível como um tempo de conversa descontraída com Oliver me deixava mais leve. Me fazia esquecer dos meus problemas e até da minha vontade de me jogar nessa angústia que me dominava.

Eu lembro quando me senti perdida pela primeira vez, quando eu descobri a primeira traição do papai. Eu me senti como se não pertencesse a aquela família. Como se tudo fosse uma mentira. O meu super herói na verdade era um vilão cafajestes e egoísta, que deixava a mulher e as filhas em casa para pegar uma modelo qualquer pela rua, o pai que dizia estar em reunião e não comparecia a algum evento escolar, mas na verdade estava com alguma amante. Eu tinha o que? 14, 15 ou 16 anos? Depois da descoberta, Tommy me ajudou a conseguir bebidas e ecstasy escondido e eu, ele e Laurel ficamos extremamente chapados. Passamos muito mal, e fomos parar no hospital.

Dois dias depois eu já tratava o papai normal. Até ter outro surto com amantes e fazer merda tudo de novo.

Mas dessa vez, dessa vez era diferente. Das outras vezes eu me encontrei. Eu sabia que tinha um pai, uma mãe. Eu achava que sabia quem eram os meus pais e minhas raízes.

Mas dessa vez…

Eu não sabia quem eu era.

E isso me fazia querer surtar.

Oliver e Connor estavam sendo a âncora para que eu não afundasse.

Não sei quanto tempo ficamos naquele parquinho, de vem em quando Connor vinha até a gente beber um pouco de água e voltava para os brinquedos logo depois.

⁃ Papai! Licity! - o pequeno vinha correndo até a gente

⁃ Oi, campeão - Oliver o segurou quando ele se jogou no colo do pai

⁃ Está com fome - perguntei acariciando seus cabelos molhados de suor

⁃ Um pouquinho assim - fez o gesto com a mão - Brinquei muito - se aconchegou no colo do pai e eu ri

⁃ Então vamos embora? - Oliver perguntou apertando o filho contra si

⁃ Não! - o pequeno suspirou - Só vou descansar e já volto para os brinquedos, pai - ele olhou atentamente para o pai, e depois olhou para mim, e logo após para as sacolas que eu segurava. - Licity, coloca essas bolsas no chão - franzi o cenho sem entender, mas obedeci e logo um loirinho ligeiro se jogou nos meus braços. O aninhei e apertei contra mim como se a minha vida dependesse disso. E talvez dependesse mesmo.

⁃ Eu fui trocado - Oliver fingiu incredulidade

⁃ Você ainda não aceitou que perdeu seu filho para mim? - brinquei

⁃ E perdi você para o meu filho.

⁃ Aceita, Oliver - pisquei e olhei para Connor - Olha só o que temos aqui - gargalhei ao perceber que o pequeno havia pegado no sono.

Oliver meneou com a cabeça rindo e recolhendo as sacolas do chão, para logo depois irmos embora.

(…)

⁃ Oliver, não me força - suspirei derrotada

⁃ Você precisa disso - falou irritado - Não da mais pra ficar assim.

⁃ Você quer que eu vá embora? O problema é esse? - bufei - Eu vou.

⁃ Você sabe muito bem que não se trata disso, Felicity - passou às mãos sobre os cabelos, aquele homem conseguia ser completamente gostoso mesmo puto da vida - Eles são a sua família, seus amigos… - coçou a barca cruzando os braços - A Thea é sua irmã - quase berrou - Ela não tem culpa dessas merdas todas, ela e nem você. Não afasta a sua irmã.

⁃ Ela não é minha irmã - fechei os olhos com força tentando aplacar a dor que aquela frase trazia.

⁃ Para! - quase gritou novamente - Para de ser mesquinha!

⁃ Mesquinha? - agora quem estava ficando puta era eu - Olha tudo que eu estou passando…

⁃ Felicity, você descobriu que não é filha biológica dos seus pais. Eu entendo que deve ser uma merda! Eu entendo.

⁃ Você não entende! - gritei

⁃ Tudo bem! Eu posso não estar sentindo a sua dor! Mas você não pode ser mesquinha com a Thea, ou Tommy, ou John… Laurel, Lyla… Essas pessoas te amam e não tem culpa dessa merda toda!! - falou nas oitavas - Eu não quero que você vá embora! Eu te amo, e amo te ter comigo todos os dias. Mas você não pode ignorar essas pessoas que te amam tanto quanto eu.

⁃ Oliver…

⁃ Thea está desesperada querendo te ver, ela me liga todo dia pra saber de você. Desde que você saiu da mansão ela me liga. O seu pai? Todo dia ele desce vários andares para me pedir um relatório de como você está. E a sua mãe? Quando me vê, chora. Ela me vê se lembra de você, ela me abraça e chora.

⁃ Para… - falei com os olhos cheios de lágrimas

⁃ Você ter sido trocada na maternidade só tem uma culpada, Isabel. Essas pessoas são sua família. - ele respirou fundo - Eu odeio fazer isso com você, te colocar contra parede. Eu odeio, amor, de verdade. - suspirou - Mas não dá mais, Felicity, você está sofrendo com a falta deles. Eles estão sofrendo com a sua falta.

⁃ Oliver… - chorei

⁃ Você não fala comigo sobre isso - disparou - Você não conserva comigo, não diz o que estava sentindo. Você me abraça, chora, e eu sempre vou estar aqui para ser seu ombro. Mas você precisa por pra fora, você não pode afundar desse jeito! Tem pessoas que te amam e só querem o seu bem. Não desista delas, porque elas não desistiram de você.

Me sentei na cama me sentindo exatamente o que ele havia acabando de dizer. Mesquinha.

Hoje Oliver havia chegado do trabalho mais cedo e mais agitado que o normal. Aproveitei que Connor ainda estava na escola e o chamei para conversar. Eu realmente achei que seria apenas um estresse do trabalho, mas não.

Oliver explodiu.

Ele queria a todo custo que eu visse Thea e John. Apesar de ter citado todas as outras pessoas, ele começou dizendo que John e Thea estavam quase aparecendo aqui e que eu precisava vê-los, que eu precisava deles.

Eu não queria ser pressionada, mas ver a realidade sendo chicoteada não minha cara assim doeu. Doeu porque eu sabia que Oliver estava certo. Eles não tinham culpa dessas merdas todas. Ele só queria me ver completamente bem, e isso seria com a minha família. Com Thea me importunando junto com Tommy e John dando uma de irmão mais velho.

E eu realmente não conversava com ele. Eu não dizia o que eu sentia, e eu me abria. Apenas chorava quando queria chorar e depois fingia normalidade. Mesmo com ele sabendo que era fingimento.

E tinha a mãe dele, que não sabia de nada do que estava acontecendo e apenas achava que eu era louca de trocar a mansão Queen pela casa do Oliver. Isso era exatamente o que ela dizia quando aparecia aqui. E era quando ela aparecia aqui que eu mais fingia.

⁃ Oliver… - eu ia começar a dizer pra ele tudo que eu estava sentindo em relação à troca quando a porta do quarto foi escancarada e uma Donna apareceu pálida.

⁃ Mãe? - Oliver a olhou surpreso

⁃ Você foi trocada na maternidade? - ela perguntou ainda em choque. Levantei em um rompante e fui até ela. Oliver fechou a porta com uma força exagerada e respirou fundo.

Donna parecia fora de órbita com aquela informação, ela me encarava estranho e completamente pálida. Como se eu fosse um ET ou tivesse duas cabeças no lugar de uma. Ela virou levemente sua cabeça me analisando.

Estava começando a sentir-me estranha. Passei a mão pela blusa, vai que eu tinha esquecido de me vestir. Mas não, tudo estava no lugar.

⁃ Você estava ouvindo atrás da porta, mãe?

⁃ Claro que não! - se defendeu saindo de seu transe - Vocês estavam praticamente gritando, eu estava entrando quando escutei tudo isso.

Assenti voltando a me sentar na cama. Enterrei meu rosto entre as minhas mãos e suspirei. Eu me sentia tão cansada disso tudo. Eu queria poder voltar para o dia do chá de bebê da Lyla, onde a minha única preocupação era me controlar para não beijar o Oliver na frente de todo mundo.

⁃ Ouviu errado, mamãe - ele se apresou em dizer

⁃ É claro que ela não ouviu errado, Oliver - tirei minhas mãos de meu rosto e olhei pra ele - Ela ouviu certo, não tire sua mãe como idiota.

⁃ Pois é, Oliver - Donna concordou - Eu não sou fofoqueira, não vou sair por aí gritando que ela não é uma Queen legítima. - suspirou - Eu não sou assim, meu filho

⁃ Eu sei - ele respirou fundo - É que…

⁃ Essa história toda esta acabando comigo, Donna - falei e ela sentou do meu lado. Era reconfortante o abraço dela, o carinho dela nas minhas costas. Era bom. - Ele só quer me poupar… Eu me sinto perdida.

⁃ Você não está perdida, querida - sorriu materna, os olhos dela me encaravam com atenção. Talvez pensando no que fosse dizer. - Tudo acontece como deve acontecer. Você teve pais que te amaram e amam demais, independente de sangue, Felicity, o que vale é o que está no nosso coração. Amar um filho vai além de gerar - acariciou meu rosto e eu fechei os olhos com o carinho. Eu nunca reparei o quão bom era o toque de Donna - Você mais do que ninguém sabe disso, não sabe? - abri meus olhos e encarei a profundo azul a minha frente. Assenti concordando. Eu sabia do que ela estava falando. Connor. - Você ama meu neto que daria sua vida por ele, você não o gerou em seu ventre, mas no seu coração - ela sorriu e eu também - Gerar uma criança em nosso coração ultrapassa qualquer barreira sanguínea. Moira pode ter passado a vida achando que você foi gerada no ventre dela, mas acredite, amor de mãe vai além disso. Você sabe, não sabe?

⁃ Sei - sussurrei baixinho querendo chorar.

⁃ Se Connor saísse de perto de você, como você saiu de perto da sua mãe por todas essas semanas, como você se sentiria?

⁃ Devastada? - falei, sem ter certeza da palavra certa para descrever a dor só de pensar em estar longe dele por tanto tempo. De não poder ajudá-lo com o dever de casa ou não acordar mais com o corpinho dele se jogando contra o meu. - Vazia.

⁃ Sua mãe está se sentindo da mesma forma, querida - ela continuava com os carinhos na minhas costas, me deixando completamente receptiva a aquele afeto maternal. Me acalmando de uma forma estranha, mas boa - Ela está vazia, devastada, morta por dentro. - Olhei para Oliver, ele nos encarava com um brilho diferente nos olhos. Acho que ele não tinha ideia do tamanho que era o meu amor pelo seu filho. Nunca havíamos conversado sobre isso, talvez a hora da conversa tivesse chegado. - O pai do Oliver antes de nos abandonar ameaçou tirar meu filho de mim. Eu me vi desesperada, como se minha vida fosse acabar se ele levasse meu filho junto. Mas ele apenas desistiu e foi embora - meu olhar continuava em Oliver, que com a menção de seu pai, abaixou a cabeça e suspirou - Ele ia ser tirado de mim, não por escolha minha ou dele, mas porque aquele filho da pu… - suspirou - Aquele homem achou legal me deixar desesperada. Você escolheu não ver mais sua mãe, você ao foi tirada dela, querida. Entende como ela deve estar se sentindo? Sua filha escolheu não mais falar com ela.

⁃ Donna, é muito difícil - funguei voltando meu olhar para a minha então sogra

⁃ Eu sei - secou uma lágrima que insistia em cair - Eu não duvido de você, mas a vida não é fácil. Se não encararmos nossos pesadelos, não sairemos do buraco. E eu sei que meu filho não quer te ver afundar, e Connor também não. E nem eu, ou sua família.

⁃ Eu sei - suspirei - Obrigada, Donna - e tomada por uma forte vontade que eu não sei de onde surgiu, eu a abracei. Abracei tão forte que a ouvi reclamar de dor, mas retribuiu meu abraço sem parar com o carinho nas costas.

⁃ Sempre que precisar estarei aqui, querida! - beijou minha testa e olhou no fundo dos meus olhos - Vou deixá-los a sós - e saiu.

Donna estava tão certa quanto Oliver. Minha mãe também estava sofrendo. Ela havia me perdido - por escolha minha - e também havia descoberto um filho. Filho esse que ela não ligou muito para saber do paradeiro, ela apenas estava preocupada comigo. Com saudade de mim.

Se eu estivesse no lugar da minha mãe, eu estaria tão angustiada. Sem saber se esse filho estava bem, se estava saudável ou até mesmo vivo. E do outro lado havia eu, a desprezando, a distanciando. Quando tudo que eu realmente queria era um abraço dela. Um beijo dela. Um sussurro de “Estou aqui, meu amor, vai ficar tudo bem”.

Eu fazia tudo errado!

E sem conseguir me controlar, eu chorei. Mas antes que a primeira lágrima rolasse por minha bochecha, Oliver me embalou em seus braços e beijou minha testa.

⁃ Eu estou aqui, amor - falou contra meus cabelos - Vai ficar tudo bem!

⁃ Eu sinto falta dela - solucei alto - Mamãe, Thea…

⁃ Eu sei - beijou meus cabelos - Se quiser vê-las, te levo ainda hoje.

⁃ Eu quero.

⁃ Tudo bem.

⁃ Me desculpa - chorei ainda mais

⁃ Não há com o que…

⁃ Há sim, me desculpa - me soltei dele e olhei em seus olhos - Eu me fechei na minha dor e não me abri com você, mesmo você não saindo do meu lado em momento nenhum. Você me apoiou no meu silêncio, me apoiou no meu choro. - acaricie seu rosto - Eu tenho sorte de ter você - ele ia falar algo, mas eu não deixei - Eu não sabia como me abrir com você, eu não queria me sentir uma pobre coitada e também não queria que você tivesse pena que mim. Eu estava me sentindo perdida, eu não sei quem eu sou de verdade… - funguei - Não queria que me olhasse com pena.

— Eu sei quem você é - segurou meu rosto entre suas mãos - Você é Felicity Megan Queen, a mulher mais inteligente que eu já conheci, a mulher da minha vida. CEO de umas das maiores empresas do país. E não importa de onde você veio, o que importa é o que tem dentro de você. É isso que importa para mim, e para todas as pessoa que te amam, e é o que devia importar para você também. Você é notável! Apenas aceite isso!

— Eu te amo!

— Eu também te amo, amor! - selou nossos lábios

O beijo era calmo e lento, nossas bocas brincando e sentindo o gosto uma da outra. O tipo de beijo que, se não for interrompido, o fogo começar a se alastrar devagar pelos nossos corpos. O tipo de beijo que começa como exploração e termina como ataque. As mãos ágeis de Oliver subiam lentamente até meus seios. Mas dessa vez, o despertador nos atrapalhou dizendo que estava na hora de buscar Connor na escola.

— Merda de despertador - ele praguejou se afastando de mim e eu ri

— Vou buscar o Connor - me levantei e ajeitei o short que eu usava procurando meus chinelos.

— Eu posso ir - neguei olhando feio para ele e ele riu - Felicity, sobre o Connor… - começou e eu sabia o que ele queria dizer

— Quando eu voltar - suspirei e Oliver assentiu - Mas se você acha que é demais, eu vou entender. Não quero confundir ele. Eu apenas o amo tanto que o guardaria em um potinho para que nenhum mau lhe atingisse. - declarei e ele sorriu. O sorriso mais lindo de todo mundo, perdendo apenas para o sorriso do filho dele.

— E eu te amo ainda mais por isso, sabia? - falou sedutor chegando perto de mim, pronto para dar o bote

— Não não, grandão - me afastei

— Felicity - gemeu olhando para a visível ereção dentro de suas calças

— Mais tarde eu prometo que resolvo todos os seus problemas, amor - lhe dei um último beijo e sai, não sem antes ouvir ele gritando:

— Vou cobrar!

O caminho até a escola de Connor não foi demorado, dava pra ir andando, eram apenas duas quadras de casa. Eu amava buscar o pequeno na escola, a forma como ele se jogava em mim quando me avistava no portão o esperando. Ele gritava “Você chegou!” e se atirava em mim. Como se não tivesse me visto a dias.

Como alguém abre mão disso?

Como uma mãe abandona um filho, abrindo mão de toda a magia que é amar alguém que seja seu. Connor não era meu, e eu o amava tanto. Imagina o que eu sentiria se Connor fosse meu…

Mas no meu coração, ele já era. E era isso que importava.

E por sentir esse amor tão grande, eu sabia que estava sendo mesquinha em relação a minha mãe. Isso mudaria hoje!

— A senhora é a responsável do Connor? - uma inspetora me abordou quando cheguei na porta da escola

— Sim - falei preocupada, ela nunca falava comigo. Apenas quando necessário. - Aconteceu algo com Connor?

— Não, senhora - sorriu nervosa - Tem uma mulher na secretaria exigindo levá-lo e ela não tem autorização. Pode me acompanhar? - assenti e a segui

O sangue já estava começando a fervilhar dentro de mim. Quem estava querendo levar Connor da escola sem falar com Oliver? As únicas pessoa autorizadas eram eu, Thea, Donna e o próprio Oliver. Nem Diggle tinha essa autorização. E as escolas só liberam mediante a termo assinado pelo responsável legal.

Quem queria buscá-lo sem a devida autorização?

Eu andava pelo corredor perdida em pensamento quando senti algo - alguém - se chocar conta mim.

— Licity! - o menino se jogou em meus braços sem que eu percebesse

— Oi, meu amor - o ergui no colo colocando sua mochila em minhas costas. Beijei sua bochecha estalado e continuei seguindo a inspetora.

Quando chegamos em uma porta escrito “secretaria” ela parou e olhou para Connor em meu colo.

— Querido, venha comigo - ela pegou o menino de mim e eu fiz uma leve careta. - Sua mãe irá resolver algo e já nos encontramos com ela.

— Eu não sou… - eu ia explicar que não era mãe dele, mas o que eu ouvi fez meus olhos encheram de lágrimas.

— Mas eu queria ficar com a minha mãe - ele falou birrento e eu segurei o choro

— Eu não vou demorar, meu amor - beijei sua bochecha e entrei na sala que a inspetora apontou

O sorriso bobo não saia do meu rosto. Connor me via da mesma forma que eu o via, afinal. Ele me amava na mesma intensidade que eu o amava. Ele havia me escolhido, assim como eu o escolhera.

E ninguém destruiria o nosso amor.

Porque ser escolhida ia muito além de ser a genitora. Ser escolhida significava que eu havia feito algo certo, tão certo que aquele garotinho havia me escolhido para ser dele.

E não importa quem fosse a minha mãe biológica, eu escolheria Moira. Sempre. Ela era minha mãe, independente de qualquer circunstância. Eu sempre a escolheria e sabia que ela me escolheria também.

— Eu exijo levá-lo - uma morena de cabelos longos, que estava de costas para mim, me tirou de meus devaneios.

— Senhora, não temos autorização para liberá-lo com você - a diretora Amanda Waller tentava explicar com calma, não haviam prestado atenção em mim ainda

— Eu não preciso de autorização para levar Connor comigo

— Você precisa sim - falei irrita e as duas me olharam.

— Felicity- Amanda sorriu aliviada - Que bom que chegou, eu estava explicando para essa senhora - olhou para a mulher com desdém, que continuava de costas para mim - que não liberamos as crianças sem autorização assinada pelo responsável. Você vai autorizar? Ou o Sr. Smoak?

— Não vamos - a mulher se virou para mim com ódio no olhar e eu retribui. Não a conhecia, mas já a queria bem longe de mim, de Connor e de Oliver.

— E você quem é? - perguntou com desdém e eu me controlei para não voar no pescoço dela.

— Eu quem te faço essa pergunta - tentei ser simpática - Quem é você? Para exigir levá-lo sem autorização.

— Eu sou a mãe dele - sorriu cinica e o meu mundo girou por um momento.

— Senhora, eu já te avisei que mesmo você sendo a mãe do menino, não pode levá-lo sem autorização e…

Parei de prestar atenção no que a diretora dizia, minha respiração acelerou um pouco e me senti tonta. Ali, parada na minha frente, estava Samantha Clynton. Mãe biológica do meu The Flash.

Oliver quase não falava nela, e Connor muito menos. Porém eu vi o nome dela em seus documentos.

Eu sabia que ela havia abandonado Oliver e Connor quando o pequeno ainda era um bebezinho. Que mãe era capaz de abandonar um filho?

Por pura vaidade, dinheiro…

Que direito ela achava que tinha de voltar aqui e exigir o menino?

Meu sangue ferveu novamente. Sem a autorização de Oliver, ela não ia chegar perto do garotinho.

O que ela planejava? Aparecer aqui e levar o menino? Sem dar uma explicação ao homem que moveu céus e terras para prover tudo que uma criança demandava? Isso não estava certo! Aquela mulher estava fazendo tudo errado. E aquela petulância não iria levá-la a lugar algum.

Laurel precisava ser avisada disso, com urgência.

Eu não ia deixar aquela mulher chegar perto dele, não sem um mandado jurídico de visitação.

E como se contrariasse tudo que eu havia pensado, Connor entra pela como um furacão e se joga em mim. O ergo no colo e o aperto contra mim sentindo seu cheirinho doce misturado com suor do dia na escola.

— Esse é ele? - ela perguntou sorrindo como se o Connor fosse um cachorrinho que ela escolheu na loja - Ele é tão lindo! - ameaçou chegar perto, mas eu dei um passo para trás.

— Quem é ela? - ele sussurrou, mas foi alto o suficiente para Samantha ouvir

— Eu sou sua mãe, querido - ela riu cínica novamente me encarando

— Não é não, moça - ele falou confuso me apertando

Isso, Connor! Mostre para o que você veio!, pensei.

— Claro que sim, querido - exaltou um pouco a voz e o menino se encolheu.

Connor ponderou por um instante. Analisando a mulher a sua frente com o cenho franzido.

— Licity é minha mamãe - falou por fim me encarando e eu sorri - Você não, você me deixou - olhou feio para ela - Licity nunca vai me deixar.

Sorri e o abracei, ele se agarrou em meu pescoço e podia jurar que vi fumaça sair da cabeça de Samantha. Amanda riu da fala do pequeno e sentou em sua cadeira de diretora.

Eu nunca pensei que ouviria aquelas palavras saindo de Connor “Licity é minha mamãe”. Eu me sentia nas nuvens. Como uma serzinho podia mudar tanto o nosso humor? Como podia mudar tanto o nosso modo de ver a vida?

— Como eu ia dizendo, a senhora só poderá levar o menino com autorização de Oliver, ou até mesmo da Srta. Queen. Mas acredito que Felicity não irá conceder.

— Já chega! Vamos embora, meu amor - esbravejei aninhando Connor - Obrigada, Amanda!

Dei as costas e sai, eu sabia que estava sendo seguida, mas decidi ignorar. Não era bom fazer uma cena dentro da escola e muito menos na frente de Connor que estava nitidamente assustado.

Ele estava tão grudado em mim que eu tinha medo de sua reação mais tarde. Ele era só uma criança e a mulher que o abandonou simplesmente aparecia querendo levá-lo sabe-se Deus pra onde.

Oliver iria ficar puto!

Eu estava completamente puta!

Por mim, mudava ele de escola para que aquela mulher não se aproximasse mais.

— Pra onde você pensa que está levando meu filho? - ela segurou meu braço quando chegamos na calçada.

Meu The Flash se apertou ainda mais em mim.

— Olha aqui - empurrei sua mão com brutalidade - Acho melhor você se controlar, porque está assustando o Connor - apontei o dedo em sua direção - Você abandona um bebê e acha que tem algum direito sobre ele anos depois?

— Não só sobre ele, mas sobre o pai também - sorriu - Ou você acha que vai ficar com a minha família? - vi vermelho e tentei me controlar

— Você é minha família, Licity - Connor sussurrou em meu ouvido - Junto com o papai e vovó Donna.

— Eu sei, querido - cheirei seu cabelinho - Vamos embora! - falei baixinho apenas para ele ouvir, e ele assentiu

— Isso não vai ficar assim - Samantha esbravejou cruzando os braços

— Com certeza não - bradei e sai carregando Connor comigo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oiiii!! Como vocês estão??
O que acharam do capítulo?
Temos uma mamãe urso aqui, não é mesmo?
O que pensaram sobre esse pequeno discurso da Donna?
E sobre a volta da Samantha, o que ela quer?

Comentem muitoooooo!!

No próximo capítulo teremos a reconciliação da família Queen com a Felicity. Vou fazer um capítulo dividido. Metade POV Felicity, metade POV Oliver. Um para desenvolver a reação dele com a volta da ex e outra para os Queen.

E estamos próximos de ALGUÉM desvendar a troca na maternidade. Alguém arrisca???
No próximo capítulo vai ter uma dica! Fiquem atentos e atentas!!!

Comentem muuuuito!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vontades do Destino" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.