Jane escrita por Lucca


Capítulo 18
Detalhes


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais nada, quero agradecer de coração pelo mais de 12 K em views nessa história. O carinho de vocês ultrapassa distâncias e mantém JANE viva em meio a tantas adversidades. Muito obrigada!


Vamos ver como ficou a rotina do nosso casal depois de tudo que rolou no aniversário de Jane?

Boa leitura.



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O peito de Kurt inflou num longo suspiro enquanto ele colocava o braço atrás da cabeça. O sono não vinha apesar de já estarem a um bom tempo na cama. A retrospectiva da festa de aniversário no dia anterior parecia um filme constante em seu cérebro. E seu lado racional e protetor se lançava em teorias e possibilidades de intervenção rápida caso isso se repetisse. Maldição! Ele memorizaria cada item dessa lista de pontos de quebra que a deixavam em pânico nem que isso custasse todas as suas noites de sono.

— Eu sinto muito. – a voz de Jane soou baixo, num sussurro carregado de sentimentos.

“Então, ela também não conseguiu adormecer. Claro que não.” Kurt avaliou rapidamente. Apesar de estar ali imóvel aninhada nos seus braços, ela ainda estava acordada.

— Por favor, não se desculpe pela minha falta de sono. – ele respondeu também baixo enquanto beijava os cabelos dela.

— Você sempre dorme bem. Mas está preocupado comigo por tudo que aconteceu.

— Eu te amo. Então, sempre que algo diferente acontecer com você, isso me levará a refletir sobre o assunto. Não é algo negativo nem algum tipo de fardo que eu precise carregar. Faz parte do que sinto. Não é culpa sua.

— Mas eu...sou diferente. Tudo comigo é diferente.

O peito de Kurt chacoalhou com o riso:

— É, você é realmente diferente. E é por isso que te amo tanto. São essas peculiaridades que só você tem, é todo esse fogo que só você carrega que me faz te amar tanto.

— Fogo trás agitação e calor. Mas um homem também precisa de paz.

Kurt se remexeu, tirando o braço de traz da cabeça. Deslizou mais para baixo na cama antes de envolvê-la em seus braços. Precisava estar olhando nos olhos dela:

— Você me perdoa, Jane?

Ela apertou os olhos sem entender o significado daquilo. Imediatamente levou a mão ao rosto do marido, preocupada:

— Kurt, não há que você tenha feito que precise do meu perdão.

— Só nos últimos minutos, eu não percebi que você estava acordada, me movi na cama, te fiz se sentir culpada e agora te deixei preocupada.

— Mas nada disso é culpa sua, Kurt. Eu só me importo com você. Eu preciso... eu quero... – ela por fim bufou percebendo que caiu na armadilha preparada por ele. – Ok. Faz parte de amar alguém se importar com o outro, querer ajudar e intervir.

— Agora você entendeu... – ele disse roubando um selinho. E ainda com o rosto quase colado ao dela continuou – Sem mais pedidos de desculpas, então?

Jane revirou os olhos e sorriu:

— Combinado. Sem pedidos de desculpas.

— E sobre a paz que você usou como argumento, acho que é justamente isso que está tirando parte do meu sono. Tudo que aconteceu ontem foi tenso e difícil. E é claro que eu também fico buscando formas de não deixar isso nunca mais repetir. Mas, por algum motivo, eu estou mais leve depois de tudo. Em paz. E fico me perguntando o porquê disso. Uma das minhas teorias é que isso vem do fato de você ter conseguido expor de forma tão clara como se sentia. Entre meus maiores medos está não ser capaz de perceber o quanto tudo que estamos vivendo está te afetando.

— Eu não sei se posso ter surtos emocionais com frequência... – ela disso meio rindo. – Tudo acontece muito aqui dentro. – e mostrou seu coração e sua cabeça. -  É difícil por em palavras. Muito difícil e... dolorido. – e deu um breve suspiro. – Mas eu posso tentar. Talvez começar com coisas menores. E as coisas bem grandes acho que ficou claro que eu não vou conseguir silenciar.

— Bom, muito bom. Eu precisava ouvir isso. E quero ouvir tudo que você tenha a dizer sobre como se sente sobre as coisas que vivemos, sobre as coisas que viveu se um dia sua memória voltar. – e correu os dedos pelos cabelos dela. – Sabe, eu também sinto medo de tudo isso ser só um sonho. Sei que não é comparável ao que você passou, mas eu preciso te tocar, sentir seu cheiro, todo dia ao acordar pra ter certeza de que é real.

Jane apertou os lábios e pousou as mãos firmemente no peito dele:

— Faz parte do nosso jeito de amar, só nosso. E, se for pra ser verdade... se for pra ser real, vale a pena.

— Era isso que eu estava pensando: vale a pena. – ele disse empolgado e beijou a testa dela. – Eu não seria feliz de outra forma, Jane. Eu não te disse ontem, mas... Durante 25 anos eu me fechei atrás de uma fortaleza tentando processar a perda da Taylor. Se eu te perdesse daquela forma na Times Square’, nem todo o resto da minha vida seria suficiente para me fazer superar. Porque eu sou a fortaleza, Jane. E você é a ponte que atravessa o abismo e me liga ao mundo lá fora. A mesma Jane que salva o mundo, também me salva de mim mesmo todos os dias.

Jane puxou a mão dele até seu peito e, ao som das batidas fortes de seu coração, concluiu:

— E você faz o mesmo por mim, Kurt. Esse amor que sentimos não é... comum. É o que precisamos para ter nosso final feliz.

— Sim, Honey, nosso final feliz está aqui, é real e não vamos deixar passar.

O beijo que se seguiu foi diferente de qualquer outro que já trocaram. Não era só amor e entrega, eles precisavam reafirmar a realidade para confiar novamente que teriam um futuro. Depois disso, finalmente adormeceram, exaustos e mais seguros de tudo que havia ao redor e dentro deles.

A manhã seguinte foi corrida com os preparativos da partida de Avery. A garota sempre se virava muito bem sozinha, mas Kurt fazia questão que o café da manhã fosse dos melhores. E Jane ficava rondando a filha, tentando ser útil em tudo que podia.

As malas já estavam ao lado da porta e Avery com sua bolsa e casaco, pronta pra partir. A garota respirou fundo antes de se despedir:

— Então é isso...- e apertou os lábios como a mãe fazia. – Não. Não é isso. Tem mais uma coisa que eu preciso dizer. – e encarou Jane. – Desde que você acordou do coma, tem sido muito difícil me afastar. Sei das minhas responsabilidades com meus estudos, mas toda vez que eu partia, era horrível. Eu queria ficar. Parecia que se eu me afastasse alguma merda ia acontecer...

— Avery... – Jane disse respirando para controlar as emoções e ser forte diante da filha. – Eu vou ficar bem.

— É sobre isso que eu queria falar. Dessa vez está sendo mais fácil voltar pra faculdade porque eu realmente vejo que você está e vai ficar bem, Jane. E não estou falando só do quanto você melhorou nos últimos meses. Claro, é ótimo te ver falando assim, podendo dizer se está com dor, com fome – e olhou firme para a mãe pra terminar - com medo. Eu demorei pra dormir essa noite. Tinha algo fervilhando dentro de mim. Pensei muito sobre o que estava sentindo, tentando entender porque eu estava tão empolgada depois da sua festa de aniversário ter sido tão... desastrosa. E eu descobri que o que estou sentindo até agora é orgulho. Orgulho de você, Jane.

— Orgulho porque eu me descontrolei, perdi a noção entre realidade e alucinações causadas pelo ZIP?

— Orgulho porque não aceitou que aquilo te ferisse de novo. Não aceitou nos deixar, não aceitou abrir mão da sua felicidade. Sabe, eu saí atrás da minha mãe biológica e de repente encontrei uma mulher linda, altruísta, cheia de habilidades. E isso foi uma merda. Eu nunca seria alta como você, bonita como você, sedutora como você. Sem falar nas suas habilidades de luta, fluente em treze língua, viveu guerras, fez parte das forças secretas da marinha, foi agente do FBI. Aff. Não dava pra te alcançar.

— Você não precisa! Você é maravilhosa sendo quem você é. – Jane estava bem apreensiva com o relato da filha.

— Tudo que falei não era o pior. Você sempre cumpria sua missão. Até fim. Não importa como seria esse fim. E isso era o que eu mais odiava em você. Quando Kurt me ligou contando o que aconteceu, foi o auge da minha revolta contra essa Jane perfeitinha. Tão heróico dar a vida pelo seu team e pelo seu país... Mas e eu? Odiei que você não entendesse que eu não tinha mais ninguém. Lembra de como eu disse que me sentia quando achava que meu pai tinha se suicidado? Foi ainda pior, bem pior. Eu nunca disse ao meu pai como seria horrível perdê-lo daquela forma, mas eu tinha falado pra você quando contei como me sentia sobre ele. Foi como ser abandonada de novo.

— Oh, Avery, eu sinto muito...

— Ainda não terminei. Seu coma foi se arrastando e cheguei a achar que era porque tínhamos que acertar isso pra você poder partir. De alguma forma, eu tinha que te perdoar. Pensei muito sobre toda a sua vida e cheguei a uma conclusão: as marcas do orfanato e de Shepherd foram profundas demais para serem apagadas.  Eles te transformaram num soldado e era só isso que você seria até o fim, sem nunca ser capaz de enxergar a si mesma, entender que merecia ser feliz mesmo que isso custasse a merda de uma missão. – e a garota respirou fundo. – Isso mudou ontem. Quando você gritou com todos nós, quando você parou aquela festa pra não deixar que nada tirasse sua felicidade. Te ver sendo foda em campo, me defendendo, defendendo seus amigos ou qualquer pessoa inocente não é nada perto de ver você defendendo a si mesma. Ontem, você venceu seus maiores inimigos, deu um basta definitivo naquele soldado que criaram. Hoje, eu volto pra faculdade mais leve porque não estou deixando um soldado pra trás. Os tempos de guerra terminaram. E terei você aqui quando voltar.

Jane ultrapassou a distância que a separava da filha em um único passo e abraçou tão forte e por tanto tempo quando as duas precisavam. Quando se afastaram, ela secou as lágrimas do rosto da filha:

— Eu não me lembro do meu passado. Sei que foi difícil, sei que fiz coisas questionáveis. E, especialmente sobre nós duas, há tanto que eu queria poder mudar. Eu amo você, Avery. Mesmo que nunca você me ame como amou sua mãe adotiva, sempre estarei aqui por você porque pra mim você é sempre será MINHA FILHA. E nada jamais mudará isso. Você não é e nunca foi uma missão para mim. Mesmo assim, eu daria minha vida por você se fosse preciso.  Tudo que quero agora é ser quem sou: JANE. E ser quem eu sou é, em grande parte, participar da sua vida. Posso me tornar muito mais presente e ser até... como você diz mesmo? “um pé no saco” com ligações constantes e querendo saber sobre as festas e os crush que “rolam” na faculdade.  Quando eu olho pra você me orgulho tanto da garota incrível que você é. Minha filha, minha Avery.

— E você é a MINHA JANE.

As duas voltaram a se abraçar de forma mais breve dessa vez. Kurt que, até então deixou que o momento entre as duas fluísse sem sua intervenção, considerou que era seu momento de fala:

— Vocês duas deveriam para de me arrancar lágrimas. – e envolveu um braço ao redor de cada uma delas. – Eu não seria capaz de sonhar com uma família de mulheres tão foda assim.

— Kurt! – Jane repreendeu o linguajar do marido. Isso não era nada típico dele.

— O que? Eu também posso ser mais “descontraído”. -  e todos riram. – Avery definiu perfeitamente. Orgulho é o que estamos sentindo por tudo que você venceu ontem, Jane. Fazer o que é certo e cuidar daqueles que amamos também envolve cuidar de nós mesmo.

— Bem, tenho que ir antes que me atrase. – Avery lembrou. – Mas eu volto em breve. Fiquem bem e não ousem marcar esse parto sem que eu esteja presente. – disse colocando a mão na barriga da mãe. – A pirralhinha tem que saber logo de cara quem é a Big Sis dela.

— Pirralhinha? Ah, não. Chame ela de Little Sis. – Jane tentou.

— Fofo demais para apelido de uma mini Jane. Você verá quando ela nascer. Agora eu vou de verdade. – e acenou um adeus saindo pela porta. O táxi já a aguardava lá embaixo e a garota insistiu que o casal ficasse em casa para Jane descansar mais depois do dia anterior tumultuado que tiveram.

                O casal descansou pelo resto do dia. Os amigos entraram em contato para saber se tudo estava bem. Patterson e Tasha chegaram a fazer uma visitinha no final da tarde trazendo Maya para que Jane curtisse a bebê. Ficaram muito felizes em vê-la tão bem e souberam que ela estava disposta a retomar a rotina no dia seguinte.

                E assim começaram mais uma semana. Na escola, Bethany estava cada vez mais independente de Jane e isso possibilitou que ela dessa mais atenção à outras crianças. Seus desenhos estavam sendo uma ponte importante para todos aqueles pequenos alcançarem a alfabetização. Na ONG, ela avançava rápido na parte administrativa e descobriu que a gravidez avançada persuadia os meninos a darem tudo de si nas aulas mesmo quando ela se ausentava da sala. Eles conseguiam ser mais protetores que o próprio Kurt.

                Com Boston, sua produção avançava rapidamente. Após finalizar suas cinco telas, decidiu que se dedicaria aos estudos teóricos e apreciação de outras obras de arte. Eles visitaram algumas galerias nesse tempo. Ela também gostava de observá-lo criando. Cada artista tem seu caminho, mas dar atenção ao processo é sempre inspirador.

                No dia seguinte, Kurt deixou o SIOC bem mais cedo. Começariam as mudanças no quarto para receber a nova integrante da família. Uma arquiteta desenvolveu diferentes projetos para o quarto das meninas. Decidiram que Bethany e Chloe dividiram o mesmo espaço. Ficaram encantados com as possibilidades. Kurt queria participar pessoalmente da montagem como fizera no berçário de Bee.

Jane precisou se contentar em observá-lo oferecendo alguns quitutes previamente adquiridos para alimentar a equipe que ajudava o marido. Coube a ela produzir todos os desenhos que forma emoldurados e decoraram a marcenaria. Cada detalhe escolhido compôs uma harmonização perfeita deixando o ambiente muito acolhedor.  

O tema floral combinou perfeitamente para as diferentes necessidades nas idades das meninas. A individualidade foi garantida mantendo organização de berço, cômoda com trocador e poltrona de um lado, cama, escrivaninha e prateleira quadriculada com cestos de brinquedos do outro. Discretas flores na cor rosa estampavam a roupa de cama de Bethany e as mesmas flores em lilás para Chloe dialogavam com as paredes num verde suave e moveis combinando o branco e o amadeirado.

Terminaram bem tarde, mas foi recompensador.

— Está tudo tão perfeito, Kurt. Não me canso de olhar para tudo isso. – Jane disse correndo a mão pelo berço da filha.

— O quarto parecia pequeno, mas com a ajuda da arquiteta, atendeu todas as necessidades que tínhamos.

— Uma boa arquiteta e um pai caprichoso fazem toda a diferença! – ela disse jogando os braços ao redor do pescoço do marido e cobrando um beijo.

— O trabalho da arquiteta e o meu foram importantes, mas a personalidade desse ambiente veio das suas escolhas e dos seus desenhos. Não é toda criança que tem uma mãe tão talentosa. Nós temos tanta sorte em ter você! – ele ressaltou devolvendo o beijo.

— Mal posso esperar para tê-la em meus braços. Quero tanto saber em que ela se parecerá com você, comigo, com Bethany e com Avery. E também quero descobrir aquilo que será só dela.

— Quando o choro e cheiro dela encher esse quarto, acho que vamos explodir de felicidade.

— Esse quarto e o nosso quarto. E a sala, a cozinha, o escritório. – e pegou a mão do marido e levou à barriga – Nosso amor ganhou vida e está quase pronta pra nascer.

Kurt se abaixou e beijou a barriga da esposa:

— Estamos prontos, filha. Agora só falta você.

O bercinho acoplado à cama do casal foi mantido para as noites nos primeiros meses. Nenhum deles seria capaz de dormir tranquilamente longe de seu pacotinho de felicidade.

Como trabalharam muito naquele dia, Kurt decidiu também deixar o SIOC mais cedo na tarde seguinte. Queria passar a maior parte do tempo possível com Jane depois das horas perdidas no dia anterior. Passou pela escola e juntos foram até a padaria preferida dela onde se abasteceram de gostosuras para a tarde. Quando ele pegou a avenida principal que levava ao bairro residencial onde moravam, tudo mudou:

— Kurt, é melhor não irmos para casa. – ela disse de forma natural.

— Hm, então minha doce esposa tem outros planos para essa tarde? Ok. Sou todo seu. Onde você quer ir?

— O consultório da Dra. Palmer ou um pronto-socorro se ela não estiver por lá. – continuou parecendo bastante calma.

— Você não está se sentindo bem? O que aconteceu? – ele disse já desligando o rádio de veículo numa ação quase que instintiva.

— Eu estou bem, Kurt. Provavelmente não é nada sério. Só quero confirmar com os médicos.

— Exatamente o que você está sentindo, Jane? – verificou após solicitar a chamada para o consultório da obstetra por comando de voz no celular.

— Começou no final da manhã. É uma dor muito sutil. Vem e desaparece em segundos. Demorou para se repetir a primeira vez. Mas aconteceu. Desde que saímos da escola, já senti duas vezes. Melhor verificar o que é.

Kurt balançou a cabeça assentindo e respondeu à atendente conseguindo uma consulta. Jane interpretou o silêncio dele entrecortado por frases casuais como nervosismo exagerado diante da situação.

No consultório, foram atendidos rapidamente. Tudo parecia em ordem para obstetra que apostou em contrações de Braxton Hicks, um tipo de treinamento que organismo feminino faz até semanas antes de entrar realmente em trabalho de parto. Como Jane vivia uma gravidez de risco exatamente por conta do perigo de rompimento da parede uterina, a médica achou melhor encaminhá-la para a maternidade onde poderiam observar a evolução do quadro de forma mais detalhada com um exame de Cardiotoco. Esse aparelho mede tanto os batimentos cardíacos do bebê quando a intensidade das contrações da mãe.

Não foi o tipo de tarde que o casal gostaria. Lá estavam os dois de novo num quarto de hospital, aflitos pelo resultado dos exames. Foram três longas horas. O quadro se mantinha estável.

— O Cardiotoco mostrou o que eu já suspeitava. Você não está em trabalho de parto, Jane. São apenas contrações de treinamento. Elas não são intensas o suficiente para representarem qualquer tipo de risco para você ou para a bebê mesmo diante de seu quadro prévio. A ultrassonografia mostrou que os pulmões dela já estão amadurecendo. Vamos fazer uma medicação para acelerar isso. É pura precaução. Como não podemos correr o risco de você entrar num trabalho de parto real, agendaremos essa cesariana o mais cedo possível. Algo em torno de 10 dias, você já estará entrando na 38ª semana de gestação até lá. Será um nascimento à termo. Com essas injeções diárias, poderemos ter Chloe respirando de forma segura fora da barriga da mamãe muito antes disso se necessário. Podem ir pra casa. Procure relaxar e descansar. Qualquer outra alteração, entrem em contato comigo imediatamente. Tenham um ótimo final de semana.

O casal foi pra casa aliviado e seguiram à risca todas as recomendações médicas. Como as contrações de treinamento continuaram, Kurt achou melhor que Bethany ficasse com Allie durante o final de semana para Jane descansar.

Na segunda-feira, retomaram a rotina normal. Jane foi para a escola com Bethany e Kurt foi para o SIOC. Ambos estavam um pouco ansiosos, praticamente em contagem regressiva para a grande data na semana seguinte.

Tudo se complicou no SIOC no final da tarde de terça-feira. Kurt e Tasha não iam mais a campo, mas não deixavam sua posição no prédio do NYO até que todos os agentes do FBI envolvidos estivessem de volta. Também cuidavam da parte burocrática e das difíceis conversas com as demais autoridades envolvidas. Foi justamente esse final complicado que os segurou no trabalho até bem mais tarde. Apesar de estarem cansados e entediados, nenhum dos dois se preocupou com as pessoas amadas que ficaram em casa porque sabiam que os amigos seriam zelosos com essa parte. Bastava um aviso no grupo que todos se mobilizavam.

                Passava um pouco das 22 horas quando Kurt abriu a porta do apartamento já desfazendo dos sapatos e casaco. Jogou as chaves no aparador ao lado, ainda sem ter certeza se escolheria a cozinha ou o banheiro após afundar-se no pescoço de Jane buscando um pouco de do que mais lhe fazia bem após um dia tão difícil.

                As risadas vindas da sala logo recarregaram suas baterias. Nada lhe fazia mais bem do que saber que Jane estava ótima e se divertindo.

                - Não, não, não! – ela disse ainda rindo. – É um abuso. Não vou te pagar tudo isso. Como alguém pode sobreviver nessas condições.

— São as regras, Jane. Caiu nessa casa, tem que me pagar. E é a vida. Vivemos para pagar nossas contas. Escolher deixar um emprego estável para se tornar uma viajante aventureira pode ser perigoso, mocinha. – Jeremy disse jogando o corpo por cima dela para alcançar o falso cartão de crédito que ela mantinha do outro lado.

— Não! – Jane deu um baixo grito entre risadas. – Não vou te dar isso, Jeremy! Já é tarde, hora perfeita pra parar de brincar.

—  Einde van die wedstryd (Fim de jogo). – Jeremy disse em africâner voltando ao seu lugar no sofá. E, assumindo uma postura mais séria, continuou – Você está cansada? Se precisar de ajudar para se deitar...

— Tcof...grrrrr

O som que misturava tosse a grunhido de Kurt ecoou atrás dos dois. Ele achou que já era hora deles se darem conta da sua presença. Sentia-se extremamente grato por ter voltado pra casa a tempo de impedir que o pai de Avery, sempre tão gentil com sua ex, pudesse ajudá-la no quarto, de camisola... Esse tipo de possibilidade fazia o sangue gelar em suas veias.

— Kurt! – a alegria na voz de Jane era tão sincera que o ciúmes que Kurt sentia de Jeremy desapareceu. Ela se levantou com uma agilidade surpreendente para essa fase da gravidez, foi até ele e se pendurou no pescoço do marido. – Você está bem? Deu tudo certo?

— Estou ótimo. Só as burocracias chatas de sempre nos seguraram lá. E você, como passou o dia?

— Bem, tudo normal.

— Já comeram?

— Sim! Jeremy conhece um restaurante ótimo que faz entregas. Você vai amar o peixe com molho agridoce. Um dos melhores que já comi.

— Hum, parece realmente bom. E, considerando o quanto você salivou ao me contar, vou ter que dividir minha porção com as minhas meninas, não é? – Kurt disse entre os beijos no pescoço dela.

— Talvez...Chloe gostou muito do peixe.

— Isso é sério, não podemos deixar nossa baby girl sem o peixe que tanto gostou. Vamos lá! – ele a conduziu pela cintura após acariciar sua barriga.

Jeremy foi com eles e ficou conversando com o casal, empolgado em relatar tudo que viveu nas últimas horas com Jane para desespero de Kurt. Finalmente a empolgação dele diminuiu e ele se despediu deixando o apartamento. Livres de Jeremy, o casal foi para o banheiro relaxar embaixo do chuveiro como tanto gostavam.

No final da manhã da quarta-feira, a diretora Fergusson estava totalmente absorvida pela papelada em sua mesa quando Jane entrou. Ela levantou os olhos por trás do óculos redondo já sorrindo. A tatuada vinha ajudando bastante no avanço das crianças e nada lhe dava maior alegria.

— Jane, seja bem vinda! É raro te ter na minha sala. Você sempre gosta de estar nas salas de aula, bem no meio do furacão onde tudo acontece. Algum problema?

— Eu não sei dizer ao certo. Espero que tudo esteja bem. Mas se a senhora puder ligar para meu marido, eu agradeço.

Foi então que a Diretora Fergusson percebeu que Jane estava um pouco mais pálida que de costume e parecia bem apreensiva.

— Você está se sentindo bem, Jane? – questionou já buscando pelo nome de Kurt entre seus contatos.

— Estou. Acho que estou. É só que... – e olhou para baixo. – Eu não sei como isso aconteceu...

A outra mulher acompanhou os olhos da tatuada e percebeu a dimensão do problema.

— Meu Deus! – disse num longo suspiro e ouviu a voz do outro lado da linha.

— Diretora Fergusson, aqui é Weller.

— Sr. Weller, tenho novidades. Preciso que o senhor venha à nossa escola.

— Terei uma reunião em alguns minutos, diretora. Posso ver com Allie se ela pode atendê-la agora. Senão, assim que terminar, estarei aí para conversarmos sobre Bethany.

— Sua reunião terá que esperar, Sr. Weller. A bolsa de Jane rompeu. Chegou o grande dia. Jane está tendo um bebê.


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Notas finais do capítulo

O capítulo não foi tão intenso como outros da história. Sinto que falhei nisso. Mas estou ansiosa pra chegar no final. Não está longe agora.

Muito obrigada a todos que continuam comigo, acompanhando essa saga de ressurreição. Que nunca falte VIDA em toda a plenitude da palavra a todos vocês.
Se puderem dividir suas impressões do capítulo comigo, ficarei extremamente feliz em responder cada comentário.
Até o próximo capítulo.



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