Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 6
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Karine, acompanhada pelo chanceler, seguiu até o portão de embarque. Passando pelas amplas janelas que davam para as pistas de decolagem, eles puderam ver a nave que os conduziriam até fora da atmosfera. Tinha o formado geral de um aeroplano supersônico, porém era bem maior, mais robusta, visualmente mais potente e resistente, e possuía, destacando-se em sua traseira, grandes turbinas. Destacava-se facilmente dos aviões normais com os quais dividia a área de decolagem. Ao ver a nave, Karine apanhou seu pequeno aparelho portátil e pediu ao chanceler que a esperasse um minuto. Abrindo o aparelho e selecionando a opção câmera, ela tirou diversas fotos da nave, enviando para um contato salvo na agenda do dispositivo.

— Prometi que enviaria fotos de toda a viagem para um amigo. - ela se justificou ao chanceler, que se limitou a sorrir em resposta, enquanto a esperava terminar de enviar as fotos recém-tiradas.

Não demorou muito para os dois adentrarem a nave, após validarem, através de seus aparelhos portáteis, os seus “tíquetes virtuais” com uma comissária no portão de entrada. Dentro da nave, que realmente lembrava um avião, com fileiras de assentos bem espaçados uns dos outros, e depois de mais algumas fotos, agora mostrando aquele interior, os dois companheiros de viagem localizaram seus lugares e, assentando, passaram a esperar a autorização de decolagem.

— Ansiosa para sua primeira viagem para fora do planeta? - Quintine tentou iniciar um diálogo com a jovem, ele era politico demais para conversas pessoais, mas se esforçava.

— Acho que não há como não estar, não é mesmo? - Karine respondeu com um sorriso forçoso, ela também não era boa em conversar, ao menos, é claro, que houvessem interesses pessoais em tal.

— Sim, imagino como deva estar. Lembro de como foi a primeira vez que fiz uma destas viagens, não era muito mais velho que você. Se me permitir lhe dar um conselho, não se entregue a ansiedade, é uma viagem muito longa. - ele falou, dando uma grande ênfase no “muito longa”.

— Bem, para isto serve a rede de mídia. Acho que terei tempo de sobra de assistir a todos os filmes que ainda não vi, e rever uns tantos outros.

— Sim, com certeza. Terá, e com sobra para fazer outras muitas coisas mais. Principalmente após este primeiro translado, até a estação espacial, se não me engano, iremos para a Styli Fixi, onde acoplaremos na verdadeira espaçonave… Então, mesmo a mais de cento e cinquenta mil quilômetros por hora, serão mais de duas semanas de viagem. - Quintine informou, se esforçando para assumir um ar de jovialidade e simpatia.

— Acoplar? Isto quer dizer que não desembarcaremos na estação?

— Exatamente. Este é o mesmo veículo suborbital com o qual desceremos em Marte. Ele se acoplará diretamente a nave interplanetária, seguirá com ela e, após a viagem, tornará a se desacoplar, descendo a algum porto no Vale Marineris, onde você iniciará seu trabalho como embaixadora. Para economizar tempo, agora a maioria das viagens são feitas assim. Não se preocupe, creio que poderemos ver a estação através da janela, – ele falou comicamente enquanto apontava para a pequena lacuna transparente na lateral do casco, ao lado do acento de Karine, através da qual, naquele momento, se via o prédio do centro de lançamento – caso planeje tirar mais fotos para o seu amigo.

Não muito tempo depois, a grande nave começou a taxiar até a pista de decolagem, a percorreu, ganhando velocidade exponencialmente, até levantar do solo. Para os que assistissem a decolagem do lado de fora, sentiriam o chão tremer enquanto veriam um espetáculo assustadoramente ruidoso. Porém, dentro do veículo, as blindagens acústicas e estabilizadores giroscópicos sob o casco faziam com que os passageiros não notassem qualquer movimento e lhes permitia conversar sem nenhum molestamento. Mesmo as pessoas nos prédios do centro de lançamento não ouviram ou sentiram qualquer coisa referente a decolagem, pois aquelas construções dispunham das mesmas proteções para não permitir aos seus frequentadores nem o mais mínimo incômodo. A mesma sorte não poderiam esperar ter alguns desafortunados (em todos os sentidos da palavra) que moravam a “apenas” algumas tantas centenas de quilômetros do centro de lançamentos. Mesmo com as naves passando a uma dezena de quilômetros acima de suas moradias, a estrondosa potência dos voos para fora da atmosfera era o suficiente para lhes fazer tremer as casas de simplória alvenaria do século XXI. Além de lhes perturbar a audição, ao ponto de impossibilitar qualquer conversa entre eles.

Ainda que seus passageiros fossem incapazes de perceber, em questão de poucos minutos, a nave já havia acelerado a mais de novecentos quilômetros por hora. Seguindo com esta velocidade média, em uma ascensão suave, até ultrapassar cerca de cem mil metros de altitude, o que se daria em mais um pouco de tempo. Chegando a este ponto, a totalidade das turbinas seriam ativadas, na potência máxima, iniciando outra aceleração exponencial e uma elevação em um ângulo bem mais agudo. Tudo facilmente ignorado pelos passageiros confortavelmente acomodados em seu interior. Cerca de meia hora depois da decolagem, a nave já estaria fora da atmosfera, passando a usar apenas suas turbinas auxiliares para manobrar e se pôr na mesma órbita da estação espacial para a qual seguia. Por um bom tempo, os passageiros puderam se admirar do espetáculo de ver, de um lado, a incomparável beleza azul do lar, ou, como alguns preferiam dizer, da “sede”, da civilização humana, e do outro a imensidão interminável das estrelas. Porém, em menos de quatro horas de voo (segundo o informe do capitão, passado aos passageiros e tripulantes, teriam sido exatas três horas e quarenta e nove minutos de viagem desde a decolagem), a nave já se aproximava da enorme estrutura da Estação Espacial Styli Fixi, que orbitava o planeta a mais de quinhentos quilômetros de sua superfície (o que não corresponderia nem mesmo a 0,001% da jornada que Karine estava iniciando).


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