Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 48
O plano de carreira da sua filha




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/793456/chapter/48

Os três fugitivos permaneciam escondidos em um pequeno depósito. Estavam abaixados e em silêncio, buscando até mesmo controlar a respiração, na esperança de se tornarem mais incógnitos. Havia passado muito pouco tempo desde que ouviram passos e vozes de soldados vindos do outro lado da porta pela qual haviam entrado. Permaneciam imóveis, na esperança de terem escapado, ao mesmo tempo em que esperavam pelo pior, de que a qualquer momento um soldado atravessaria aquela porta, pegando-os sem chance de escapatória. Porém, tal não ocorrera e os soldados pareciam realmente ter passado direto por aquela porta, indo se concentrar em outro ponto. Inumeráveis pensamentos transbordavam as mentes daquele trio, até que Marcus quebrou o silêncio, sussurrando um plano:

— Temos uma única vantagem sobre estes soldados: conhecemos a nave. Certamente eles previram que tentaríamos voltar ao hangar e retomar a suborbital, para fugirmos. É realmente o mais lógico a se fazer. Porém, eles devem esperar que o tentemos fazer pelo mesmo caminho que viemos, seguindo, desde as estâncias da tripulação, pelos corredores do convés principal, por isso eles deverão se concentrar nesta área. Mas, nós podemos ir na direção da proa, para usarmos o acesso à sala de máquinas do convés dianteiro, e de lá, atravessando as câmaras de estibordo, chegarmos ao convés inferior e ao hangar, através do acesso de manutenção. Não há como eles conhecerem todos os desvios e atalhos desta nave, a tomaram a pouco e sua preocupação fora nos capturar, não investigá-la.

— E se eles danificarem a suborbital em um esforço para impedir nossa fuga? - Klás questionou, também em um múrmuro, após ouvir o plano de seu amigo.

— Tudo o que podemos fazer é esperar que não o tenham feito. Afinal, não creio que nos reste muitas outras opções…

— Então, tudo o que nos resta é “esperar pelo melhor”?! Este é o seu plano? Ter esperança?! - Karine o questiona sarcasticamente, sem notar que seu desdém acabaria lhe fazendo elevar levemente o tom de voz, o que lhe fora prontamente demonstrado pelos companheiros com olhares aflitos em sua direção; diante do que, ela cobriu a boca com as mãos, em sinal de ter reconhecido sua falha.

— Como eu disse: não nos resta muita opção. - Marcus torna a sussurrar. - Lembre-se, duquesa, se formos pegos, seu destino será o mesmo que o nosso, já que Rademaker a quer por mártir de sua causa…

— Está bem, vamos seguir com este seu plano “esperando o melhor” - A garota anuiu, e os três seguiram, cautelosamente, em direção a outra porta do depósito, a qual os levaria em direção ao convés dianteiro.

Saindo do depósito, eles seguiram por um pequeno caminho até uma esquina, de onde puderam espiar uma ante-sala do convés dianteiro, onde se encontravam dois guardas. Um deles parecia verificar um outro caminho daquela ante-sala, enquanto o outro mexia em um terminal, estando, ambos, de costas para a direção em que o trio vinha.

— Hei, vem ver isso aqui que eu achei fuçando nos arquivos da memória da nave - o soldado que mexia no terminal chama o companheiro. - Tem um diretório inteiro com vídeos destes aqui, olha só. - ele completa, enquanto o outro se põe ao seu lado, observando também a tela. Apertando o play para um dos vídeos, que começa a ser reproduzido, o som de gemidos orgásmicos de uma mulher puderam ser ouvidos, incluso pelos que buscavam passar desapercebidos, e permaneciam se ocultando por detrás da esquina do corredor pelo que vinham. Um pensamento com o nome de “Zara” surge na cabeça dos três. Porém, vendo que os dois soldados estavam se distraindo com tal conteúdo, Marcus decide tentar se esgueirar por aquela área, dobrando a esquina na qual se refugiavam e passando por detrás deles, até o corredor que ele sabia haver do outro lado, e que era, justamente, o destino que almejava. Ele seguiu sorrateiramente, acompanhando a parede, e gesticulando para que os outros dois o seguissem. Enquanto seguiam acocorados, lhes era possível escutar a conversa dos soldados enquanto assistiam ao vídeo:

— Hei, esta não é aquela moça… não lembro o nome… Acho que é Soraya alguma coisa… Que apresenta programa infantil…

— É, acho que é ela mesmo, mas nesse vídeo parece ser ela no começo de carreira…

— Olha ai, ela primeiro agradou os papais e agora os filhinhos… Ha, ha, ha!

— Ah, mas é o que as mulheres andam fazendo, fazem estes vídeos para chamarem atenção e tal, até terem uns vinte e tantos anos, quando já não são mais tão atraentes e nem conseguem mais tantas visualizações. Mas, daí, como já estão com tipo uns dez ou mais anos de “carreira”, já conseguiram alguma fama e fazer uns contatos, assim conseguem arrumar outros trabalhos… Muitas aproveitam pra virarem apresentadoras, e acho que programas infantis são os menos exigentes… Se não me engano, minha filha assiste os programas dela…

— Ha, ah, vai que sua filhinha resolve seguir o exemplo profissional dela!

— Duvido que ela conseguiria um bom contrato… Se puxar pela mãe, não vai ter uma carreira muito promissora não! Ah, ah, ah.

— Mas, sério hein, como é que você foi ter filho com uma mulher daquelas…

— Tive coisa nenhuma! Tava na seca, ela foi o que me apareceu e eu fui, como qualquer um faria. Mas assim que soube que ela tinha engravidado, já entrei com aquele processo, declarando que desde que tive conhecimento da concepção optei pelo aborto da criança, e, inclusive, me dispus a arcar com todos os gastos do procedimento. E procedimento de clínica, com médicos especialistas e tudo, não estes “kits caseiros” de merda. Mas a mãe quis deixar nascer, “decisão unilateral dela, então, ela que tem que arcar com todas as responsabilidades”, foi isso que a juíza declarou. Hã, quis me dar “golpe da barriga”, tá achando o quê, que ainda estamos no século… - enquanto ele ainda se vangloriava de sua vitória jurisprudencial, seu comunicador auricular recebeu uma chamada, ao atender, para a sorte dos fugitivos, ele se virou para a direita, direção oposta na qual os três avançavam, permitindo a estes continuarem sem serem percebidos, enquanto seu companheiro se pôs a desligar o vídeo que assistiam, temendo que se ele fosse ouvido através do comunicador. - Aqui é alfa-kilo-um-nove-sete-quatro, prossiga. - o soldado respondeu ao chamado e recebeu as instruções, respondendo um “entendido” no final. Após desligar, repassou as informações ao parceiro: - Disseram que encontraram outro acesso ao hangar. Parece que além da porta principal, também há um tubo de desembarque, no convés superior, e nos mandaram ir pra lá, vigiá-lo.

Os dois se puseram em caminho, porém, ao se virar e olhar na direção do corredor pelo qual os fugitivos haviam chegado naquela área, um deles questionou ao outro, que já tomava o caminho para o local que lhes fora indicado:

— Aquela porta ali, do que parece ser um depósito, já estava aberta quando chegamos aqui?

— Não sei, não cheguei a verificar aquele corredor quando chegamos. Mas, deixa isso, vamos logo para onde nos mandaram, antes que o Rademaker, ou algum dos tenentes puxa-saco dele, venha nos encher. - o primeiro soldado concorda com o companheiro e ambos seguem caminho, indo na direção oposta a que os três haviam tomado, diante do que Karine chega a comentar com Marcus, sussurrando, embora sem conseguir esconder certo contentamento:

— É, ao que parece, seu plano de esperar pelo melhor está funcionando, felizmente…


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Colônias Galácticas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.