Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 41
Off-line




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/793456/chapter/41

— Você não tinha dito que seu pai fora fornecedor da União durante a guerra, e, incluso, o seu título fora ele que ganhou, por ter “ajudado” na Guerra? - Zara comentou distraidamente, entre uma tragada e outra de seu “cigarro pós-refeição”, estando sentada numa outra mesa, ao lado de Iuri, que ainda estava por terminar as últimas garfadas de sua ceia.

— Sim - Karine respondeu, explicando também aos demais, que estavam sentados na mesma mesa que ela. - Depois de perder metade da família em um ataque Separatista, ele aceitou a proposta que recebera de usar suas forjas para fabricar armas e munições para as forças da União.

— E as pessoas que as armas e munições fabricadas nessas forjas mataram, não eram elas também familiares, pais, mães, filhos, filhas, irmãos e irmãs de outras pessoas? - Marcus ponderou. - Isto não tornaria sua família cúmplice em todas estas mortes? Assim, sua família pode ter matado mais na guerra do que a de qualquer outro aqui… Isto sem pensar em quantas destas armas, após o fim da guerra, foram parar nas mãos de contrabandistas e no mercado negro, e, assim, terminaram com criminosos, que as usaram para praticar inumeráveis e inomináveis atrocidades… Quanto sangue você acha que isto põe nas mãos de sua família? Mas, como vocês estão do lado vencedor, e portanto, do lado dos “mocinhos” isto não pode ser contabilizado não é…

— É um absurdo querer responsabilizar minha família pelo uso das armas que produziram – Karine retrucou severamente. - Nossas forjas apenas as produziram, nunca apertamos um gatilho, nunca disparamos nada contra ninguém.

— Alfred Nobel nunca explodiu ninguém com a dinamite que inventou, ele sequer a fez com este propósito, mas se sentiu responsabilizado ao ver que outras pessoas estavam usando seu invento deste modo e…

— Eu conheço a história do prêmio Nobel, já assisti a entrega dele algumas vezes e, inclusive, conheço pessoalmente alguns laureados. Mas, são situações completamente distintas. Não se pode comparar a história de Nobel com a da minha família. Duvido muito de que ele se oporia ao uso bélico de seus inventos se seus irmãos tivessem sido mortos num ataque estrangeiro a… Ao país dele… ele era da Noruega, não era? A entrega do prêmio era em Oslo… então deve ser, não é?… - Karine acabaria se distraindo de seu “discurso” com a questão que lhe surgira, o que também lhe fez perder um pouco a eloquência, olhando para todos ao redor esperando que alguém lhe sanasse a dúvida. Porém, tudo o que ela recebeu foram expressões que lhe devolviam o questionamento, erguidas de ombro e o balançar negativo de cabeças (nada além do que se pode esperar ao questionar pessoas que cresceram em Marte sobre geografia da Terra).

— Acho que ele não era norueguês… - Klás chega a comentar. - Mas, não tenho certeza…

— Seja como for, se um ataque estrangeiro ao seu país justifica o envolvimento de sua família na guerra, qual a diferença entre seu pai e o pai de Ivana e Iuri? - Marcus pondera, retornando a discussão inicial sem disfarçar um certo tom de “te peguei” na voz. - Afinal, ele também se envolveu no conflito após o país dele ser atacado pelo governo da União, um governo que para ele era estrangeiro.

— Mas é diferente… - Karine insiste. - Meu pai não era militar…

— Só o que é diferente, é que ele estava do “lado certo”, não é? - Marcus conclui. - Ou seja, o lado que venceu.

— Não, é que… - a jovem não aceitava a possibilidade de estar equivocada, afinal, ela sempre teve a palavra final e era sempre elogiada pelo alto grau intelectual que demonstrava em conversas com estudantes de nível universitário e, também, professores e profissionais acadêmicos de diversas áreas com os quais costumava conviver. Assim, era realmente inaceitável para ela permitir que qualquer um daqueles simplórios, que provavelmente nunca sequer teriam posto os pés em uma faculdade, fizesse parecer que era mais inteligente. Porém, ela realmente não conseguia mais encontrar argumentos, o que a fez buscar outra saída para a discussão até que pudesse perceber onde cometera o erro que deixasse o rapaz a sua frente parecer ser mais inteligente. - Melhor mudarmos de assunto, porque agora minha cabeça está distraída com essa questão sobre de onde era Nobel. É só conectar na rede e pesquisar, ninguém pode fazer isso?

— Não. - Ivana responde, cínica como sempre. - Todos os aparelhos da nave devem permanecer off-line, não sei se você se lembra, mas estamos fugindo. Se conectarmos na rede, poderemos ser rastreados.

— Offline?!

— Sim, o contrário de on-line. Significa que nenhum computador ou aparelho da nave se conecta a nenhuma rede de dados externa, não transmitindo nem recebendo dados.

— Não sabia que existia esta opção… Não estar conectado em nenhuma rede, parece… Isso é sério mesmo, ou estão zombando de mim?!

— Sim, é sério - Marcus finalizou a dúvida. - Se conectarmos em alguma rede o id dos computadores da nave são automaticamente informados para algum servidor de banco de dados, se estiverem nos procurando, podem nos identificar e rastrear. Assim temos que ficar desconectados. Aparelhos mais modernos não tem esta função, pois necessitam de um streaming de dados constante para funcionar, porém, para nossa sorte, os computadores desta nave são antigos o bastante para nos permitir viajar dessa forma “invisível”.

— Realmente… isso parece tão… ultrapassado… como pode um computador funcionar sem… - um princípio de pânico tomara a duquesa. - Espera ai, se não estamos conectados a nenhum banco de dados, como a nave está navegando? Como sabemos para onde estamos indo? Sem uma orientação de um servidor de rotas vamos acabar perdidos no espaço, não vamos?!

— Não… - desta vez foi Iuri quem a respondeu, ainda que com uma voz lenta, como se estivesse sonolento. - O computador central da nave funciona como um banco de dados local, e tem instalado em si um calculador de órbitas celestes, ele nos deixará a uns seis mil quilômetros de Europa… A partir daí dá para navegar no manual mesmo…

— Nossa… banco de dados local, informações e softwares instalados no próprio computador… A última vez que ouvi sobre estas coisas eu estava assistindo a um documentário em um canal sobre História… Deste jeito, os computadores de vocês devem, sei lá, ainda ter discos… ah, é… não lembro como que chamavam… é… “discos duros”, é assim né, que chamam?

— Sim, os computadores da nave possuem armazenamento físico. - Iuri confirma, ainda que não conseguindo entender se Karine estava admirada com as informações ou somente sendo sarcástica, embora, na realidade, ele estivesse em um estado de torpor no qual dificilmente entenderia qualquer coisa mesmo, sendo que suas respostas eram muito mais automáticas do que pensadas.

— Que arcaico… Vocês tem certeza que vamos conseguir chegar onde planejam?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Colônias Galácticas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.