Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 33
Pais e filhos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/793456/chapter/33

Cerca de uma semana após ter sua última conversa com Karine, seu “amigo” cientista, o jovem doutor Gollstën, seguia em seu carro, conforme sua rotina matutina, para mais um dia de trabalho. O veículo seguia seu caminho autonomamente, permitindo-lhe revisar diversos tratados e monografias através do óculos projetor que usava. Parte dele gostaria de usar a preocupação com o desaparecimento de sua amiga como desculpa para faltar ao trabalho, mas ele tinha seus motivos para não querer ficar em casa. Motivo este que o chamava. Não era a primeira vez que um informe de “Recebendo Ligação” aparecia diante de seus olhos, por sobre os documentos que revisava. A origem da chamada era identificada, na tela, com o nome “Pai”. Sabendo que ignorar a chamada mais uma vez, apenas o faria continuar insistindo, ele optou por atendê-la. As telas com documentos foram minimizadas, e o rosto do homem, já de idade avançada, apareceu em primeiro plano, dando início a videochamada.

— Jamie, finalmente você atendeu. - o ancião o censurou com autoridade paterna, demonstrando a consciência de que as ligações anteriores não haviam sido atendidas propositalmente. - Sabe que estou ligando para lembrá-lo que hoje começa a sua semana de ficar com seu filho, caso você tenha se “esquecido”.

— Eu não me esqueci… - o jovem respondeu apaticamente.

— Eu sei que não, mas, também queria te dizer que ele já está aqui em casa. Então, depois do trabalho, vê se vem direto para cá, nada de “passadinha no pub” ou de “socializar” em alguma festinha, OK?

— Não se preocupe, eu vou direto para casa hoje. - um silêncio incômodo se instaurou entre os dois, que se entreolhavam através das telas. - Acha que eu deveria levar algum presente para ele?

— Presente? Esse garoto já tem coisas até demais, ele precisa é de um pai.

— Pois me parece que esta é a única coisa que ele realmente não quer…

— E de quem seria a culpa… - tal resposta fez o jovem desviar o olhar sutilmente da tela, ao que o velho, ao perceber o efeito de seu comentário impensado, tenta amenizar. - Talvez, de noite possamos sair, nós três, ir comer fora… Sabe, uma noite só dos rapazes, o que acha?

— Claro. - ele respondeu, com um sorriso forçado. - Depois do trabalho vou direto para casa e planejamos algo.

— Filho… - o ancião assume um tom compassivo na voz. - Sei que você tem seus problemas… Espero que saiba que nem tudo é sua responsabilidade, e que eu sei que você tem se esforçado e feito o seu melhor, mas… - o jovem novamente desviou o olhar da tela, como que pedindo que aquela conversa terminasse logo, não se preocupando em não deixar o pai perceber tal desejo. - Espero que saiba também que eu sempre estarei aqui, sempre disposto a te ajudar no que puder…

— Eu sei. Agora, me desculpa, mas eu tenho que revisar diversos arquivos para o trabalho… Então eu preciso desligar. Nos vemos a noite.

— Está bem, filho, até lá.

— Até. - o jovem finalizou a ligação, erguendo os olhos e comentando consigo mesmo: - Ah, velho estúpido, ele realmente acha que tudo pode se resolver assim fácil? Ele acha o quê? Que ainda estamos em dois mil e… - seu monólogo se interrompeu quando ele olhou de relance por cima da armação do óculos projetor e percebeu que estava em uma área da cidade que não lhe era familiar. Ele retirou os óculos, buscando observar melhor os derredores e, constatando estar realmente em um lugar que lhe era desconhecido, questionou o computador do carro: - Atax, por que não está seguindo a rota convencional até meu trabalho?

— O destino da viagem foi alterado por comando externo. Esta é a melhor rota calculada para o novo destino. - a voz do computador lhe respondeu de forma suave e automatizada.

— Qual novo destino?!

— Avenida Masafiro Honma, número quinhentos e trinta e oito.

— Não sei que lugar é este, eu não mandei você mudar o destino! - o rapaz começou a se desesperar diante da situação, enquanto sua mente era invadida pelas histórias que ouvira, e, até então, descartava como “lendas urbanas”, sobre criminosos que hackeavam o sistema de navegação de veículos para roubá-los ou sequestrar seus ocupantes.

— Foi uma atualização de destino externa, com comando de alta prioridade. - o computador informou, indiferente ao crescente desespero de seu passageiro.

— Cancele este destino e volte para o destino original. Agora!

— Desculpe, Jamie, não posso fazer isso. - a ideia de que o carro fora hackeado passou de suspeita para certeza, quase tão rápido quando a aceleração do pulso do rapaz ao ouvir tais palavras de seu computador de bordo, cuja voz, agora, pareceu-lhe fria e mecanizada de uma forma que ele nunca antes havia percebido.

— Exijo acesso como usuário root, desabilitar condução autônoma e passar para modo de condução manual.

— Desculpe, Jamie, seus privilégios de usuário estão temporariamente suspensos. Nenhuma alteração no sistema pode ser feita até chegarmos em nosso atual destino - o pânico do rapaz tornou-se máximo enquanto o veículo fazia uma curva e, pelo mapa eletrônico, exposto na tela principal do painel, ele constatou entrar na Avenida Masafiro Honma. Por fim, ele ficou completamente sem ação, em uma espera passiva, enquanto o carro avançava pela avenida e os números dos edifícios iam diminuindo gradativamente, se aproximando cada vez mais do 538 e o ponto vermelho na tela do mapa, o “destino”, se aproximava continuamente.

Quando o destino finalmente foi alcançado, o veículo adentrou o estacionamento do respectivo edifício e tomou uma das vagas, sendo que havia várias delas vazias, mas o carro pareceu se dirigir para uma em específico. O coração do rapaz, antes acelerado, quase parou de bater. Suas mãos e pés formigavam e seu estômago parecia transbordar e estar vazio ao mesmo tempo. Tais sensações foram multiplicadas no momento em que percebeu um homem de terno, próximo ao carro, que, claramente, estaria ali o esperando, e vinha caminhando em sua direção, parando de frente à porta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Colônias Galácticas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.