Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 13
A Nobreza e um Jardim




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/793456/chapter/13

CAPÍTULO 13

O senhor Mallus-Bernard estava sentado em sua mesa, revisando alguns textos e planilhas na superfície projetora da mesma. Ao perceber a entrada de Karine, ele minimizou os arquivos para um dos cantos da tela, e a cumprimentou educadamente, a convidando a tomar assento numa das duas cadeiras que estavam dispostas diante de sua mesa. Ele era um homem franzino e baixo, aparentava uma idade bem avançada, tendo a pele enrugada, profundas olheiras e era totalmente calvo, com apenas uns ralos, porém extremamente lisos e sedosos, cabelos esbranquiçados contornando-lhe a nuca. Apresentava, também, umas tantas manchas senis espalhadas pela cabeça e mãos, as únicas partes do corpo que lhe eram visíveis fora do elegante terno que trajava. Apesar de tudo, parecia muito bem cuidado, um homem que se preocupava com sua estética e, com certeza, fazia alguns tratamentos em busca de melhorá-la.

— Bem, como o senhor sabe, sou embaixadora do IICE e fui enviada… – Karine começou a falar de forma extremamente política, enquanto se assentava, porém, foi prontamente interrompida por seu interlocutor, que falava em um tom levemente descontraído e com um tímido sorriso:

— Sim, eu sei, pode pular estas formalidades todas… Provavelmente recebo mais visitas do Instituto do que você recebe de amigos e parentes. Foi por isso que pedi para meu assistente deixar apenas você entrar. Nada contra o velho chanceler Nubaco, mas ele já veio aqui outras vezes e provavelmente me falaria as mesmas coisas… Gente nova, histórias novas, não é mesmo? - ele terminou a fala voltando-se à mesa projetora e abrindo um novo arquivo, que se tratava justamente do agendamento daquela visita, lendo-o rapidamente, ele exclamou, sem levantar os olhos: - Ah, vejamos, duquesa Karine Innaz de Ortega e Palus… - ele finalmente ergueu o olhar para a jovem, que se limitou a consentir com a cabeça e sorrir, sem saber muito bem como reagir àquela situação – Nossa… Eu comprei um título genérico de lord, já a algum tempo, mais por convenção do que por qualquer outra coisa, nem faço questão de ser tratado por tal… Não entendo muito da hierarquia dos títulos, sei apenas que sou mais que um barão, e também que estou longe, bem abaixo, do nível de uma “duquesa”. Não é um título fácil, ou barato, de se conseguir, e você parece tão jovem…

— Também não faço questão do tratamento – na verdade, Karine adorava o ser tratada por “duquesa”, porém, naquele momento, ela achou que seria mais conveniente negar este fato. - Na verdade o título foi concedido ao meu pai, como recompensa pelos feitos nos tempos da Guerra. Ele foi um dos principais fornecedores dos exércitos da União. Porém, como não possuía pretensões de uma carreira política, ele me transferiu, assim que eu nasci.

— Hum, isto faz sentido. Acaso, você teria alguma relação com as metalúrgicas Ortega?

— Sim, sou filha de Isaac Emanuel de Ortega. A filha única de sua terceira mulher e a primeira a lhe nascer após o fim da Guerra.

— Sabe, vendo muito minério para a empresa de sua família. Um de meus melhores clientes e um dos contratos mais antigos. Creio, inclusive, que ele é um dos que ainda foram assinados com caneta, e em papel impresso, acredita!? Apenas não me lembro se o assinei com seu pai ou algum dos irmãos dele… - o senhor Bernard respondeu, alargando o sorriso e assumindo um tom de familiaridade. Houve um rápido instante de silêncio, onde os dois apenas trocaram olhares e sorrisos extremamente políticos. Por fim, o velho empresário continuou: - Então você optou por não seguir o trabalho da família no ramo industrial e se pôs a trilhar uma carreira acadêmica no Instituto, foi isso?

— Na verdade, não exatamente. Meu pai tem outros filhos, incluso o mais velho, do primeiro casamento, que sobreviveu a Guerra e o ajuda com a empresa, assim decidi andar com minhas próprias pernas e seguir meu próprio caminho. Formei-me em Administração, e estou terminando também o curso de Relações Internacionais, e, como tenho um bom título, decidi tentar a carreira politica. Cheguei a trabalhar em algumas missões diplomáticas em nome do Conselho Governamental da região em que moro, e isto acabou me fazendo ter contatos com muitas pessoas, inclusive do Instituto. Sempre fui entusiasta dos avanços científicos, embora realmente não consiga me ver como acadêmica. Então, acabou surgindo o convite para trabalhar como embaixadora do Instituto nesta missão, e decidi não desperdiçar a oportunidade.

— Hum, e, pela minha experiência com as visitas de “embaixadores” do Instituto, devo admitir que tal “missão” consista em angariar fundos. Não é isso? - o empresário respondeu levantando uma das sobrancelhas e assumindo um certo tom cínico na voz.

— Bem, sim. Como o senhor sabe, o IICE desenvolve diversas pesquisas que visam a melhoraria da colonização espacial como um todo. Buscando desenvolver melhorias tecnológicas para as colônias já existentes e que facilitem a construção de novas, diminuindo os custos de implementação e manutenção… - Enquanto Karine seguia com seu monólogo, Mallus-Bernard se levantou de sua cadeira, como que ignorando a jovem, e caminhou em direção a uma das janelas de seu escritório, soltando um enfadonho: “Sim, eu sei dos trabalhos feitos nas colônias científicas do Instituto.”

— Então o senhor deve reconhecer que se trata de um investimento. – Karine recomeçou a falar, sem se deixar afetar pela atitude de seu interlocutor – Com o desenvolvimento das novas tecnologias oriundas de tais pesquisas, se tornará mais fácil, e barato, a manutenção das colônias atuais, facilitando também a criação…

— Você viu o jardim que tenho em frente a minha casa, não? - ele a interrompeu novamente, tornando a ignorar o discurso que ela se propunha a lhe dizer, se mantendo de costas para ela e olhando através da janela, diante da qual havia se posicionado.

Sem saber direito como reagir a tal interrupção, a jovem duquesa engasgou com um “Hã”, antes de responder um “sim”, acompanhado de um gesto afirmativo da cabeça no momento em que o velho empresário lhe olhou por cima de seu ombro esquerdo, desde a janela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Colônias Galácticas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.