Não esperava por uma resposta tão rápida. Olho para o envelope em minha frente, parece uma bomba que a qualquer momento pode explodir. Não sei se devo abrir ou guardá-la e imaginar tudo que poderia está dentro dela. Deixar meu coração em paz e minha cabeça em ruína.

            Encaro todas as possibilidades enquanto fico roendo minhas unhas, escuto a voz de todos que me conhecem dizendo o quanto sou dramática, como gosto de cenas grandiosas. Talvez esteja fazendo uma cena, mesmo que sozinha. É mais fácil se lembrar dos detalhes das cenas grandiosas. Por fim sento-me em frente a carta e a abro. Sua letra ainda é bonita, os traços de artista.

Lily,

Qual é, vidas arruinadas, derramamento de sangue? Você realmente acha que um relacionamento dever ser tão difícil?

Infelizmente, eu tenho que ir. Deixar toda essa dificuldade para trás.

Mas eu também sinto muito, talvez nada pudesse ser diferente. Porque nós somos quem somos, qualquer outra escolha certamente nos traria até aqui, em algum momento. Talvez mais tarde, ou mais cedo. Só que exatamente aqui.

Você me perguntou quando aconteceu, talvez aos dezoito, provavelmente aos vinte, antes dos trinta. Aconteceu durante toda nossa história. Nós fomos mudando gradativamente. Ouvi dizer que a crise dos trinta pode ser uma das piores, estamos oficialmente nos tornando adulto, mais próximo da responsabilidade do que nunca. Não sei quando mudou, ou o motivo. Isso você terá que descobrir. Mas sei porque eu mudei.

E não foi por sua culpa ou por você. Foi por mim, por perceber quem sou e quem quero ser, por entender o que mereço e o que não mereço.

Não me peça desculpas, não existem culpados.

Saiba que sempre vou te amar, de um jeito épico.

Lembre-se Hugo e Lily. Lily e Hugo.

Até algum dia.

Hugo.