Acordo com a dor de cabeça que havia inventado. Sei que o carma pode ser uma bitch, então sei que preciso de mais uma taça. Meu micro apartamento é branco demais nas manhãs de domingo e em todos os dias em que eu me sinto a pior pessoa do mundo. Em todas essas vezes sinto vontade de comprar tintas, de ligar para ele, de chamá-lo para pintas todas as paredes. Poderíamos tentar amarelo, talvez azul, quem sabe até mesmo laranja. Ele era uma infinidade de cores, de criatividade e de talento.

            Sei que pintaria flores no quarto e quem sabe uma lua cheia, que a sala seria sóbria e ao mesmo tempo bonita. Nós dois terminaríamos o dia com roupas manchadas, cabelos com tinta e risadas regadas a pizza. No fim seriamos nós dois. Só que sempre foi eu.

            Coloco meus óculos escuros e saiu de casa, o branco parou de apenas incomodar para o nível em que começa a me sufocar. Passeio pelas ruas, sozinha. Ainda não aprendi a gostar da solidão. Gosto de ter pessoas em minha volta abafando o som agudo que o silencio insiste em provocar. Volto na cafeteria na esperança de que você tivesse errado o dia. Nunca fomos bons com datas.

            Lá dentro é quente, está menos cheio e tem cheiro de canela, de café, de saudade misturada com fraqueza. Penso em sua ultima carta, em nosso ultimo encontro, aquele em que andamos pela calçada. Ele disse que estava tudo bem. Que está tudo bem agora. Só que não acredito que esteja.

            Quero ligar para ele, perguntar se ele não acha que éramos alguma coisa, que valesse a pena retomar. Voltar no tempo e decidir caminhos diferentes, tornar você o único. Voltar a jogar moedas no lago, conversar sobre a vida. Hugo e Lily.