“O que eu faria sem sua boca esperta

Estou me arrastando e você me está me dispensando

Estou com a cabeça a mil, sem brincadeira

Não posso te forçar a nada”

All Of Me

Ryan não falou pelos minutos que os dois seguiram do pátio até uma lanchonete perto do colégio. A garçonete que os atendeu sorriu descaradamente para o West que devolveu de bom grado enquanto pedia um hambúrguer bastante recheado com batatas e refrigerante. 

— Não vai querer nada, Oliver?

— Eu já comi – Ryan deu de ombros brincando com os potes de molho depostos sobre a mesa distraidamente – Por que veio atrás de mim? Tem alguma coisa acontecendo com a Jade?

O West deu de ombros.

— Fiquei um pouco entediado e sabe, eu particularmente não gosto dos meus primos com exceção da Jade e do Filipe, tem sorte de não ter conhecidos eles, são uns merdas – os dedos soltaram o pote no mesmo lugar que estava anteriormente, apoiando os antebraços na mesa – Enfim, é meio chato ver a Jade amuada por ai por causa do namorado idiota dela, eu me ofereci para te bater, mas ela não quis...infelizmente.

— Eu não gosto de resolver as coisas no braço.

As sobrancelhas franziram automaticamente para o outro. Era um olhar bastante semelhante ao da namorada quando estava instigada a conseguir algo.

— Eu gosto – Ryan rebateu sorrindo, isso era um verdadeiro West – Mas sei que não será eficiente com você. E talvez a Jay fique um pouco irritada comigo por algumas semanas.

— E o que você quer fazer então?

A garçonete sorridente se aproximou trazendo o pedido para a mesa, um guardanapo perto das batatas rabiscado com tinta vermelha trazia o que Beck supôs ser o número dela e o nome.

Ryan mordeu o hambúrguer com gosto apreciando todo o colesterol que aquilo poderia lhe proporcionar seguido pelas batatas.

— Bancar uma espécie de terapeuta aqui pra ver se resolve o problema de vocês.

— Você só quer se meter no relacionamento dos outros, é isso?

— Basicamente – Jade sabia ser inconveniente quando queria, mas esse cara parecia ainda pior – Alguma objeção?

— Muitas.

— Foda-se. Eu já to aqui pra isso.

A vontade de levantar e ir embora veio com força, mas uma voz na consciência pediu para ficar um pouco mais, talvez curiosidade, talvez o desespero em buscar uma solução para o problema com a ex-namorada. De todos ele seria uma das pessoas que mais conhecia Jade provavelmente.

Há que ponto havia chegado...

— Okay, vai em frente então.

Mais duas mordidas e o West focou a atenção nele, dessa vez Beck pegou algumas batatas do outro, ele não se incomodou pelo menos.

— Você terminou dessa vez, mas podemos começar do momento que a sua relação quebrou bonito. Por sua culpa.

Limpando as mãos com o guardanapo o West enfiou uma das mãos no bolso da jaqueta preta com mangas cinzentas que estava vestindo, ao retornar o pequeno objeto que ele deixou na mesa fizera os olhos de Beck arregalarem um pouco ao reconhecer o que os amigos tanto queriam conseguir de volta nos últimos dias na vã ilusão de salvar suas peles.

— A julgar pela sua cara, você conhece isso – Ryan continuou pegando mais batatas.

— Jade te contou?

— Eu estava com ela quando ela encontrou essa porcaria no quarto. Golpe baixo da sua amiga em...?

— Quando eu descobri já era bem tarde.

— E você não impediu – aquela acusação velada veio com mais acides do que a de Jade e estava começando a ficar cansativo ter pessoas pisando na mesma tecla de acusação quando o peso já estava sobre os ombros, não havia a necessidade de colocar mais.

— A Jade já invadiu minha privacidade muitas vezes antes. Ela fez muitas coisas erradas antes e nem por isso tem pessoas jogando as coisas na cara dela como esta fazendo comigo, como ela fez.

— Ela fez porque você sempre se pinta de bom moço honesto que admite seus erros logo após cometê-los. Entre vocês sempre houve essa delimitação em que você é o cara maneiro e ela a namorada louca e má. Nós dois sabemos que a Jade gosta de ser temida e tal, mas ela também gosta de ser entendida, pelo menos pelas pessoas que ela realmente se importa.

— Eu sempre fiz o meu melhor para entende-la, até mesmo agora. Só que ela não esta tentando entender meu lado.

— Quem disse? – os olhos claros do West comprimiram e o canudo do refrigerante foi levado à boca puxando uma grande quantidade do liquido – Quando vocês terminaram ela aceitou tudo porque entendeu que você estava cansado já. Ela quis te liberar dela.

— Eu não quero essa liberdade. Uma vez eu ouvi que eu era a paz e ela a violência, não combinávamos embora muitos usam a violência para alcançar a paz, não é algo que deve estar combinado – os olhos de Beck vagaram pelo local longamente antes de se voltarem para o outro pegando mais uma batata, estavam começando a ficar frias – Eu sinto que só estou em paz em meio a violência dela. E isso nem faz sentido.

— Essa é a graça dos relacionamentos, eles não fazem sempre sentido. É tudo uma questão de perspectiva.

— Eu quero voltar a estar em paz, mas não sei mais como. Ela não quer mais.

— Ela quer – Ryan rebateu automaticamente, assistir a prima olhar uma fotografia por longos minutos fora bem deprimente para seu gosto – Ela só esta tentando se preservar um pouco como você quis no começo, cuidar de si mesmo não é algo que ela tem feito muito ultimamente.

Mais uma vez Beck quis contestar, mas se conteve. Colocando em uma balança poderia ver as vezes que cedera e as vezes que ela cedera, as vezes que ela o apoiou a fazer coisas mesmo quando logo em seguida dava ataques de ciúmes por causa das garotas que se envolviam nos projetos que bolava.

Havia pelo menos um incentivo mutuo quando se tratava de projetos que exigiam mostrar as capacidades que cada um tinha.

Jade sempre vencia se fosse comparar.

Mas ela também sempre o colocava a frente.

— Eu não posso mudar as coisas que já aconteceram.

— Mas pode mudar como as coisas aconteceram daqui para frente entre vocês dois, porque elas precisam mesmo melhorar – mais algumas mordidas e o hambúrguer estava no fim, Beck o observou todo o momento em silêncio sentindo-se incomodado – Se minha prima decidir seguir em frente agora nem da para julgar.

— E você quer que eu diga o que para ela? Eu não posso opinar.

— Que tal começar tentando ouvir sobre isso? – o indicador sujo de molho apontou para a câmera fazendo Beck suspirar. Deixar esse assunto para trás estava mesmo difícil – Já esta querendo socar minha cara, as pessoas quase sempre ficam com essa vontade. É normal.

— As pessoas não teriam isso se você não se metesse na vida delas, aposto.

~&~

Ele procurou a ex por toda a parte quando voltou ao final das aulas, mas encontrara apenas Cat que dissera que a outra havia ido mais cedo embora com o primo para algum tipo de reunião de família estranha que aconteceria na casa do pai da West.

Ela provavelmente voltaria irritada.

Tentar algo nessa circunstancia não era inteligente, entretanto, mesmo assim arriscou dirigir a noite até a casa a tempo de encontrar a morena na entrada segurando a bolsa do irmão que ia andando mais a frente com um cubo magico na mão distraidamente.

— Jade.

  Quando ela se virou havia um misto de surpresa mesclado gradativamente à curiosidade nos olhos claros da morena.

— Filipe, entra primeiro – o mais jovem acenou pegando a bolsa soltando um “oi” e indo para dentro ainda girando as repartições do objeto colorido.

Pelo menos esse West não estava interessado em se meter nos assuntos dos outros...

— Podemos conversar?

— Já não falamos antes? – Jade devolveu cruzando os braços – Estou cansada, Oliver.

— Essa é a última vez, prometo.

 As sobrancelhas escuras uniram-se por um instante e talvez poderia ter visto o corpo da mulher ficar tenso, apenas talvez.

Muito além do que havia ouvido de Ryan, havia também o resto do dia que tivera com aquele objeto em mãos com uma decisão importante a tomar enquanto ouvia Tori e André tentarem bolar um novo plano para se proteger de Jade e suas surpresas tenebrosas e desconhecidas para os próximos dias.

Não gostava de guardar segredos, mas nas horas que se seguiram ele manteve um.

Enfiando a mão no bolso da calça ele sentiu o pingente do colar de relacionamento e a minúscula câmera, puxando o segundo ele estendeu mantendo no meio da palma para a ex que automaticamente o fitou mostrando-se abalada por apenas um breve momento antes de sorrir de modo lascivo.

— Parabéns, você conseguiu pegar de voltar para seus amigos. Eles o aplaudiram como um herói.

— Eu não estou me importando com o que acharão disso. Eu só quero saber uma coisa – não havia modo de dizer sem que soasse como acusação. Jade arqueou uma sobrancelha fazendo um movimento de cabeça para que prosseguisse logo.

— Você quer perguntar se fui eu que estraguei as coisas da Vega?

— Eu não acho que você fez, mas acho que sabe quem foi.

Não saberia dizer quando tempo se passou em que ambos apenas se encararam, em que tentava procurar qualquer resposta no rosto da garota até tê-la falando para saciar a curiosidade da hipótese que em um momento o assolou.

— Sim, eu sei.