Interativa - Enquanto As Estrelas Brilharem escrita por Allyssa aka Nard


Capítulo 53
Antes Da Batalha


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, faz quase um mês que eu não atualizo a história, mas agora eu prometo que vou tentar voltar para a rotina de um capítulo por dia. Ou no mínimo, por semana. A maioria de vocês provavelmente quer só ler o capítulo logo, então vou tentar manter o melodrama em um mínimo, mas pros 2% que se importam,vou tentar explicar de forma simples porque eu demorei tanto pra continuar postando. Como eu disse no capítulo passado, eu estava tendo muitos problemas nos últimos meses em relação a identidade de gênero, e até o dia 12 eu ainda estava tendo. Depois de bastante tempo pensando, e depois de lutar com síndrome de impostor, insegurança e mais uma meia dúzia de problemas, eu finalmente pude perceber quem eu era, e me aceitar melhor. E a conclusão que eu cheguei é que eu sou uma mulher trans. Eu fico confortável com os pronomes “Ela/Dela” e em algum momento eu vou criar coragem pra sair do armário pra amigos e família, ao invés de um bando de desconhecidos na internet. Enfim, agora que isso tá fora do caminho, aproveitem o capítulo!



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P.O.V Raven

 

Eu ainda não sabia ao certo porque eu tinha um jardim de margaridas, já que obviamente era impossível trazer Daisy de volta dessa forma. A única coisa que aquilo me trazia era um sentimento de vazio e solidão. Acho que devia ser isso: uma melancolia auto-infligida pra eu sempre me lembrar do meu erro, da minha arrogância, um lembrete eterno de que foi minha culpa ela ter sumido. E mesmo assim, todo dia eu ia para lá, regava as flores, as protegia e ia fazer outra coisa.  Era o mesmo ciclo, todo dia, e mesmo assim, eu continuava, sabendo que nada mudaria.

Esse sentimento, combinado com tudo o que havia acontecido nos últimos dias causava uma mistura de emoções enorme na minha cabeça, um senso enorme de falta de direção, um sentimento de que não importasse onde eu estivesse, eu me sentia que eu não deveria estar lá. Eu não tinha frieza suficiente para continuar com Alan e Odd, nem a coragem para aceitar meus erros ao voltar no Acampamento. Mesmo com Nard e Hanna falando que os comentários que faziam pra mim não eram problema meu, era muito difícil ignorar tudo. Era como ter uma coceira nas costas: você sabe que não deveria coçar, mas é quase impossível evitar.

Terminei de regar as flores, e limpei algumas pequenas gotas de suor com a parte de trás da minha mão, e comecei meu caminho em direção ao refeitório pegando Lilith do chão e a colocando em meu colo. O Acampamento estava agoniantemente mais silencioso nos arredores, já que agora quase  todo mundo passava o tempo no Campo de Treino, e era um pouco desconfortável andar em um ambiente completamente silencioso. Eu sentia todos os meus passos deixando pegadas na terra fofa e o barulho das folhas secas sendo esmagadas pelos meus sapatos, contrastando com a brisa suave que soprava nas minhas bochechas. A lateral esquerda dos meus cabelos se levantava levemente, fazendo o cabelo enrolar em si mesmo. 

O refeitório deixou de ser um borrão na distância e começou a tomar forma, e com isso, o pequeno grupo de pessoas que estava em uma das mesas. Demorei um pouco para reconhecer Nard, Hanna, Rebecca e algumas outras pessoas que eu não conhecia, provavelmente filhas de Ártemis. Enquanto eu chegava mais perto, consegui ver Hanna se sentar em um dos bancos com um estrondo, como se suas pernas tivessem virado geléia. Nard teve uma reação parecida, mas se apoiou em uma das paredes, ao invés da mesa. Os filhos de Ártemis simplesmente fizeram uma expressão de pena e deram meia-volta, deixando Nard e Hanna para ficarem a sós. Eu obviamente fiquei muito curiosa para saber o que havia sido dito para eles, mas os deixei a sós, já que esse era um péssimo momento para perguntar.

Lilith ronronou em meus braços, e eu acariciei rapidamente sua cabeça antes de colocá-la no chão, e ela foi saltitando em direção ao refeitório. Dei meia-volta antes que me vissem e comecei a andar meio sem rumo pelo Acampamento. Evitei chegar perto de Cabanas, para evitar encontrar com outras pessoas que normalmente ficam por lá. Andei rente à floresta, ouvindo os barulhos de animais e criaturas que ali habitavam. Eu tinha um pouco de medo que talvez uma ninfa me atacasse do nada, já que eu estava por perto quando Alan matou uma delas. A cada galho quebrado ou folha esmagada, parecia uma sirene, me alertando de um perigo invisível.

Tentei ignorar a preocupação olhando para o céu, mas até o azul monótono sem nuvens parecia ser um espelho de o quão exposta e vulnerável eu me sentia nesse momento. Acabei sentando em uma pedra que ficava longe o suficiente da floresta sem ser muito perto do Acampamento, e peguei meu livro de feitiços. Eu já o havia lido e relido múltiplas vezes, mas era a melhor forma que eu tinha de passar o tempo. A pedra que eu sentei em cima era bem larga, e ao perceber que facilmente caberia uma pessoa do meu lado, me lembrei de quando eu e Daisy líamos juntas. Algum tempo atrás eu teria vontade de chorar com essa memória, mas passou-se tanto tempo que agora eu só ficava com um gosto de bile na boca, com uma sensação de amargura ao lembrar de que foi minha arrogância que nos separou.

Enquanto eu analisava rapidamente uma das páginas, eu ouvi barulhos de folhas secas sendo pisadas, mas o som era muito próximo para ter vindo da floresta. O som se aproximou, e a pessoa (ou coisa) o fazendo parecia tentar estar em silêncio, mesmo que falhando miseravelmente. “Raven, se abaixa!”, ouvi alguém gritar na distância, e antes mesmo de pensar em qualquer ação, dei um mergulho para a direita, me escondendo atrás da pedra. Um vulto dourado passou no lugar onde eu estava sentada a meros milissegundos atrás, e vi Flower vir correndo da direção do Acampamento, com seus cabelos escuros esvoaçando ao vento. Ela rapidamente transformou o violino em arco, e antes que eu pudesse sequer pensar em me levantar, ela já havia uma flecha preparada para atirar em quem estava atrás de mim.. Dei um rolamento para o lado e me levantei, para dar de frente com quem havia tentado me atacar. Havia muitas coisas que eu poderia ter notado primeiro: o cabelo castanho desarrumado, a postura estranha ou o chicote de espinhos em sua mão, mas a primeira coisa que notei foram seus olhos: escuros e com uma expressão impossível de ler. A pessoa que havia tentado me atacar era Odd.

Mal tive tempo de processar o fato que Odd estava na minha frente quando uma flecha de Flower passou a milímetros das minhas orelhas e a poucos centímetros do pescoço de Odd. Dei alguns passos para trás, e segurei firmemente meu livro, prestes a conjurar um feitiço. Murmurei um encantamento e uma pequena bola de fogo surgiu flutuando na palma da minha mão, mais ou menos do tamanho de uma bola de tênis. Estiquei meu braço na direção de Odd e a chama foi em sua direção, mas o errei por quase um metro. “Vocês são tão ruins de mira que eu acho que eu vou só ficar parado e esperar que vocês se matem”, ele disse, arrogante. Murmurei outro encantamento e um vento forte foi em sua direção, o arremessando para trás. Ele mal tocou o chão e já estava dando uma cambalhota para trás e se levantando.

Flower atirou outra flecha, e ele desdenhosamente deu um passo para o lado. “Já deu dessa brincadeira, cansei de lutar com quem não acerta os tiros. Como que tá sua perna, Flower?”, ele disse, acidamente. Antes mesmo que qualquer uma de nós pudesse responder, ele deu um assobio agudo e correu em direção à floresta. Demorei um segundo para assimilar o que havia acontecido, mas Flower foi mais rápida e começou a correr atrás dele. Fui logo após, ainda um pouco desequilibrada. Entramos na floresta, e o sol pareceu desaparecer no meio das árvores, As folhas de árvores menores bloquearam minha vista por alguns segundos, e depois que a massa verde parou de roçar em meus olhos, quase pulei de susto ao ver o que havia no horizonte.

Vários ciclopes bloqueavam o caminho na distância, e uma linha enorme deles parecia se estender até o infinito, como se eles tivessem cercando o Acampamento inteiro. Havia uma bagunça de olhos, espadas, lanças e arcos onde eles estavam, e era difícil saber quantos haviam. Pareciam ser dezenas, mas podiam facilmente estar na casa das centenas, e com certeza eram bem mais ciclopes do que Campistas. A cada 10 ciclopes parecia haver uma espécie de mutação, um ciclope que parecia ser maior, mais musculoso e tinha dois olhos, um em cima do outro. Um desses deu um passo para frente, tirou uma corneta de sua cintura, e a soprou com força, fazendo um som que ecoou em todo o vale. E então, um passo após o outro, os ciclopes começaram a marchar em direção ao Acampamento.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, até a próxima! Lembrem de deixar seus comentários ;)