Interativa - Enquanto As Estrelas Brilharem escrita por Allyssa aka Nard


Capítulo 52
Melancolia


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sei, meu cronograma de postagem não tá exatamente consistente. Nem vou tentar explicar direito porque demorei tanto pra postar, mas dá pra simplificar em 2 pontos: O primeiro é que eu tô tentando focar mais em qualidade do que quantidade, aí os capítulos acabam demorando mais. Outro fator é o fato que eu tô tirando um tempo para moi, porque ultimamente meu cérebro tá uma bagunça (maior parte da qual é sobre minha identidade de gênero, que eu ainda tô experimentando algumas coisas e tentando descobrir o que caralhos eu sou, mas ainda sim, eu precisava de um tempo com minha pessoa).
Anyways, aproveitem o capítulo!



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P.O.V Hanna

 

Acordei levemente confusa, e demorei alguns segundos para abrir os olhos.  Os raios de sol da manhã entravam pelas janelas, dando uma aparência brilhosa muito bonita no quarto, refletindo nas paredes, dando um ar agradável ao lugar. Me sentei na cama, tirando algumas remelas do meu olho esquerdo, e olhei para as poucas pessoas que ainda estavam adormecidas na Cabana. Eu poderia jurar que alguns deles eram filhos de Morfeus em segredo, do jeito que eles dormiam o dia inteiro. Troquei de roupa rapidamente, colocando uma camisa ciano de mangas curtas e uma calça leggings com uma saia por cima. Havia um pouco de tinta verde caída do meu cabelo no travesseiro, mas decidi ignorar isso por enquanto. 

Me olhei no espelho, e as listras verdes do meu cabelo ainda estavam quase intactas, apenas um pouco mais claras. Como sempre, os meus cachos estavam caindo nos meus ombros e cobrindo uma grande parte das minhas costas e minhas orelhas, escondendo meus aparelhos auditivos, mas como eu havia acabado de acordar, o cabelo havia mais nós que um navio em velocidade máxima. No entanto, eu estava com muita preguiça de arrumá-los, então me limitei a voltar para a minha cama, e escovar os dentes enquanto lutava para colocar uma meia. No fim das contas, acabei desistindo e colocando um chinelo rosa, que era extremamente brega, mas era o único calçado que eu tinha disṕonível. Voltei para o banheiro, cuspindo a pasta de dente na pia, e logo depois bochechando um pouco de água para tirar o excesso. 

Peguei meu cajado e o coloquei nas costas, enquanto terminava de arrumar os lençóis da cama. Em “arrumar”, eu quero dizer “jogar tudo no beliche da Leigh e jogar a culpa nela”. Pensei melancolicamente como o beliche havia ficado vazio nessas últimas semanas, e suspirei ao me lembrar que ainda haviam três Campistas sumidos, sendo que dois deles eram da mesma Cabana que eu. Havia acontecido tanta coisa ultimamente que eu não havia pensado muito neles, mas era impossível não imaginar os horrores que eles deveriam estar sofrendo nas mãos da Empusa. Por mais que eu tivesse passado por muita coisa ruim na minha vida, não acho que nada chegava perto a ter que trabalhar para uma entidade demoníaca no Everest. Por mais que os últimos dias tenham sido extremamente corridos, eu sentia uma enorme saudade de quando tudo era calmo, onde eu podia sacanear a Leigh e o Trevor como uma adolescente normal, sem ter que me preocupar com um grupo de 6 pessoas indo buscar 3 amigos meus, ou alguns filhos de Ártemis voltarem para dizer onde 6 pessoas haviam sido levadas.

Eram nessas preocupações que eu começava a mudar alguns de meus comportamentos: eu passava a carregar meu cajado a todos os momentos, ao invés de apenas quando fosse usá-lo, e eu passei a suspeitar toda pessoa que trocasse um olhar comigo. Eu me preocupava demais, não só comigo, mas com outras pessoas, como Nard e Sophie, e eu estava paranóica de que pudesse acontecer um ataque a qualquer momento. Eu via cada folha caindo das árvores como se fossem gotas de sangue, e quando eu pensava em sangue eu só conseguia lembrar dos 6 segundos de agonia que Lana sentiu pouco antes de morrer. 

Respirei fundo e caminhei até o refeitório, que estava praticamente vazio, com exceção de alguns Campistas jogando truco ou queda de braço. Fui me servir, tentando pegar o menor número possível de arroz frio, e pulei todas as opções de carne, indo direto para a salada. Joguei um pedaço de tofu misturado com arroz nas cinzas do fogo da oferenda, e me sentei. Nem me importei direito com o fato de que a comida fria estava horrível, e simplesmente continuei comendo, com minha cabeça nas nuvens. Eu não conseguia parar de pensar que talvez houvesse ocorrido algo com os Campistas que eu havia enviado para a floresta, e uma pequena onda de culpa começava a dominar meu corpo. 

Terminei minha refeição monótona sem muita cerimônia, e deixei o prato na mesa. Eu ainda estava com a cabeça meio nas nuvens, então nem percebi que havia alguém atrás de mim até que cobriram meus olhos. "Adivinha quem é?”, perguntaram em tom jocoso, e logo percebi que era Nard. Dei uma cotovelada nele e ele soltou meus olhos, murmurando alguma expressão de dor. “Calma aí estressada, eu não vou te matar não”, ele disse, estendo a mão para me ajudar a levantar. “Não sei como você consegue ficar tão zoeiro nesses momentos”, respondi, me levantando sem pegar na mão dele. “O segredo, cara irmãzinha, é usar o cérebro e pensar: ‘Se a situação já está uma merda, ficar cabisbaixo não vai resolver a situação’. Depois de pensar nisso, é bem simples, é só parar de ser negativo o tempo todo. Achei que seu cérebro gigante de Atena ia perceber isso”. ele respondeu, completamente ignorando o fato que ignorei sua ajuda para levantar.

De uma certa forma, eu invejava os Campistas de Ares e Hermes, já que eles não tinham a maldição de pensar sobre todas as piores possibilidades de uma situação o tempo todo. Para eles, a vida era briga de espadas e pegadinhas, e eu tinha um pouco de cobiça por isso. “Tu tá muito taciturna irmã minha, bora pro Campo pra melhorar esse seu humor”, ele disse, dando um empurrãozinho de leve nas minhas costas. Tive um pouco mais de tempo para ver o que ele vestia, e como sempre, ele tinha um short preto e uma camisa estampada. Ele mantinha a camisa do Acampamento apoiada no pescoço, caindo ao lado de seus ombros, e suas luvas vermelhas estavam vestidas em ambas as mãos. Ele nunca tirava a bainha dupla dourada das costas, então nem fiquei surpresa ao vê-la pendurada enquanto íamos ao Campo de Treino.

Chegamos lá depois de alguns minutos, e já haviam vários Campistas lá, treinando entre si ou com bonecos de palha. Levei um susto ao ver Sophie “lutando” contra um boneco de palha, errando a maioria dos golpes, e vi que Flower treinava suas habilidades de arco um pouco a direita. “Ô Sophie, tu sabe que é pra acertar no boneco, né?”, perguntou Nard, deixando o rosto de Sophie vermelho. “Vai tomar no meio do seu cu Nard, na moral”, ela respondeu, ainda tentando acertar o boneco de palha. “Também te amo”, ele respondeu, e Sophie fez um sinal com a cabeça que devia ser o equivalente de rolar os olhos. “Também te amo” era uma das respostas automáticas de Nard quando alguém o xingava depois de uma sacanagem, e confesso que era bem irritante em certos momentos.

Novamente eu fiquei um pouco cobiçada pelo fato de que ele conseguia manter essa atitude positiva mesmo quando o Acampamento estava a um passo de se desestabilizar. Meus pensamentos iam e voltavam entre os Campistas sumidos e aquele dia na enfermaria, logo depois de Lana ter morrido. Mas mesmo assim, dava pra ver que ele não estava tão eufórico quanto ele normalmente estaria em um dia normal, e que quando ele olhava para mim era possível ver uma certa tristeza em seus olhos. Era notável que mesmo com a atitude positiva e otimista, ele ainda estava com um certo grau de abalo pelo que aconteceu. 

Dando uma outra olhada pelo Campo, logo percebi que quase todos os Campistas que eu conhecia estavam lá, com exceção de Raven. Eu já podia sentir algumas veias saltando no meu olho: a última coisa que precisávamos era ela fugindo. “Relaxa, ela tá cuidando das flores dela”, Nard sussurrou, como se estivesse lendo meus pensamentos. Dei de ombros e andei até um banco, onde nós dois sentamos, e ficamos encarando os vários Campistas treinando. Ficamos em um silêncio levemente agoniante, até que o som de passos corridos o quebrasse. Os passos pertenciam a Yara, uma das filhas de Ártemis, que estava acompanhada de Rebecca, Alana, Joanne e Samuel. Por mais que grande parte das filhas de Ártemis serem mulheres, haviam alguns casos como o de Sam, que era trans, onde essa regra era quebrada. 

“Porque vocês demoraram tanto?”, perguntei logo de cara, sem nenhuma cortesia. “Bom, se essa energrúmena tivesse parado de cair na briga com as ninfas a cada 5 minutos, a nossa vida seria bem mais fácil”, ela disse, apontando para Alana, que rolou os olhos em desdém. “Mas vocês pelo menos descobriram onde os outros tão?”, perguntei, ignorando a discussão silenciosa que ocorria na troca de olhares de Alana e Yara. “Sim, depois que a gente conseguiu colocar a songa-monga da Alana na linha, a gente seguiu os rastros deles até um lugar lá na cidade, abandonado. Clássica contrução velha, devia estar abandonada à uns 5, 10 anos. Parecia ser um orfanato, e ficava lá na avenida 33. Não, pera, era na 35, eu acho…”, ela respondeu, e nem ouvi mais o que ela continuou falando. Eu e Nard nos encaramos, sabendo exatamente onde os outros haviam ido. O único lugar onde eu não queria voltar nunca mais na minha vida. A Casa Para Órfãos Paltryville, o orfanato infernal em que eu cresci, o lugar onde eu fiquei surda e onde meus maiores traumas vieram.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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