Holmes e Watson: O Assassino da Meia-Noite escrita por Max Lake


Capítulo 1
Sherlock é desafiado


Notas iniciais do capítulo

Acho que este é meu ano mais improdutivo aqui no Nyah. Como tinha essa história recentemente concluída decidi postar por aqui. Não é a primeira vez que escrevo Sherlock Holmes, mas é a primeira vez uma dele que publico por aqui.



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Fazia algum tempo desde minha última investigação ao lado do meu amigo Sherlock Holmes. Devo dizer que quando se trata de dias ou semanas, a preocupação é moderada, costumo distraí-lo com casos aleatórios nos jornais ou ele próprio se delicia com seus hobbies, tipo estudar os acordes do violão, pesquisar sobre borboletas, ler um livro de mil páginas ou, o mais radical dos métodos, experimentar diferentes combinações de drogas. No entanto, quando se trata de três meses, a urgência para tirá-lo da monotonia é tão alta quanto os edifícios que decoram Londres.

Era final de uma tarde de abril quando li a edição vespertina do The Guardian sobre o tal Assassino da Meia-Noite. Quando soube que este se tratava de um terceiro assassinato em duas semanas, achei prudente alertar Holmes sobre um novo assassino à solta. Entrei cautelosamente em seu quarto, a porta estava entreaberta e meu amigo estava sentado em sua poltrona preferida, girava uma arma de cano longo entre os dedos, não havia entrada de luz externa para clarear o quarto graças às cortinas escuras que bloqueavam a janela.

—Sherlock - chamei.

Holmes vestia um robe cinza aberto por cima de um pijama listrado vermelho e dourado, seu cachimbo vazio jazia sobre o chão, calçava pantufas e meias. O quarto estava repleto de borboletas dentro de vidros, algumas das espécies eram importadas de outros países. A parede - e isso nos custaria um despejo - possuía furos de bala suficientes para formar as letras ‘SH’. Esse era Sherlock Holmes quando entediado demais.

—Boa noite, Watson. - A voz era baixa, desinteressada. Parecia um viciado em abstinência.

—Tenho algo a lhe mostrar. - Joguei o jornal sobre seu colo. Ele o ergueu para ler.

—Já estamos em abril? - Questionou-me com surpresa.

—Olha a manchete.

—”Assassino da Meia-Noite ataca novamente”. - A voz continuava desinteressada, mas ao menos já se ajeitava na poltrona.

—Aí diz que a vítima tem 37 anos, é homem e foi encontrada uma da manhã em Harrow, no norte de Londres. A perícia diz que ele faleceu à meia-noite, como apontava o relógio no bolso do paletó. É a terceira vítima em duas semanas, mas todas por métodos diferentes.

—O que liga ao mesmo assassino é o horário. - Complementa Holmes, sussurrando.

Após ficar de pé e se alongar, sentou-se novamente, cruzou as pernas e pôs o cachimbo na boca enquanto parecia raciocinar. Esperei alguma manifestação a mais, mas o silêncio imperou.

—Vamos pegar esse caso - sugeri.

—Sim, meu amigo. Vamos. Leia o nome da vítima, por favor.

—Louis Oliver, 37 anos.

—Dono de uma empresa de cigarros e charutos que se expandiu de Londres para alguns outros países da Europa. Uma marca horrível, por sinal, já esbarrei em uma ou outra pessoa que a fumava, a nicotina não me cheirava bem.

—Portanto…

—Portanto, pertencia à alta sociedade londrina, rico, com certo nome internacional. Por isso chamou a atenção agora. - Supôs. - Arrume-se, Watson. Vamos à Yard.

Nossa chegada à Scotland Yard foi bem rápido, o trânsito colaborou naquele dia. Conversamos no táxi sobre as outras vítimas. De fato, nenhuma delas era da alta sociedade londrina como o Oliver. A primeira, uma jovem dama de 23 anos chamada Samantha Harrington, estudante universitária de enfermagem e garçonete. A segunda vítima foi Earnest Rockwell, 29 anos, jogador amador de futebol.

—Notou o que há em comum neles, Watson? - questionou no veículo em dado momento.

—Todos com idade ímpar - respondi. - e crescendo em progressão.

—Hum. Bem notado. - Algo em sua resposta indicava que minha dedução havia sido diferente.

Éramos esperados assim que entramos na Scotland Yard. A secretária da capitã responsável pelo caso nos mandou esperar. E foi o que fizemos por cerca de 10 minutos, até a porta de sua sala ser aberta e um idoso sair, dando-nos boa tarde e pondo o chapéu sobre a cabeça. Sherlock entrou primeiro, guardando o cachimbo no bolso de seu tradicional sobretudo quadriculado.

A capitã Lucy Parker era mais baixa que nós dois, ficando abaixo do ombro de Holmes, porém ficando na altura do meu. Ostentava seu distintivo no jaleco de capitã. A pele é morena assim como seu cabelo, preso para trás, e seus olhos de rara mutação heterocromática - castanho claro à direita, azul à esquerda.

—Boa tarde, detetive Holmes. É um prazer revê-lo, John. - Cumprimentou-nos com apertos de mão.

—Hum. - Murmura Sherlock, interessado.

—Trabalhamos num caso semanas atrás enquanto você estava recluso, nada demais. - expliquei.

—E tomamos chá. - completou.

—Isso.

—Entendo. - Logo Sherlock iniciou um bate-papo com Lucy. A animação, aos poucos, retornava ao detetive. - Aquele era seu pai, capitã.

Vi a sobrancelha de Lucy se elevar, surpresa com a afirmação tão convicta e inesperada.

—Sim. Como…?

—Acredito que só um familiar tomaria dez preciosos minutos do tempo da capitã encarregada de um caso de vários assassinatos. Além disso, você usa o mesmo perfume que ele que, apesar de forte e feminino, suponho que seja da sua falecida mãe.

—É.

—Capitã Parker, viemos para ajudá-la no caso do Assassino da Meia-Noite. - Interferi antes que a conversa se aprofundasse mais na vida pessoal da capitã.

—Bom, agradeço a ajuda de vocês, doutor Watson.

—O que tem sobre o caso até agora?

—No momento, só o suposto horário do assassinato é o que liga o denominado Assassino da Meia-Noite às vítimas. E mesmo assim, é uma conexão relativa entre elas. - Lucy abriu uma gaveta à procura da pasta do caso. - Pessoas morrem à meia-noite desde sempre e os métodos para cada vítima são diferentes. Como pode ser o mesmo assassino?

Analisamos as fotos tiradas nas cenas dos crimes. A primeira vítima, Samantha, sofreu um corte preciso na garganta, provavelmente sangrou até a morte. Já Earnest tomou três tiros à queima-roupa no peito. Enquanto Samantha foi encontrada em posição fetal e amarrada, Earnest estava estirado no chão. De fato, eram mortes completamente diferentes.

—O inspetor Lestrade desconfia que são casos diferentes, mas meu instinto de policial discorda.

—Seu instinto estaria certo de discordar de Lestrade em qualquer oportunidade. - Provocou Holmes, ácido. - E há uma pista intrigante que pode passar despercebida ao seu instinto.

Quando ele disse isso, concordei com a cabeça. Não precisava ser um Sherlock Holmes para entender o aumento progressivo nas idades das vítimas, portanto tinha certeza que se tratava disso. Entretanto, não tenho medo de admitir que foi uma dedução errônea.

—É? Qual?

Tirando o cachimbo do bolso, Holmes respondeu com extrema tranquilidade.

—Está à sua frente.

—Você?! - Questionou, evidenciando legítima surpresa no tom de voz e na sua expressão facial de espanto. Admito que também fiquei surpreso na hora.

—Sim, capitã. O tal assassino quer me encontrar.

—Por que acha que se trata de você, detetive Holmes? - perguntou ela.

—Capitã, lhe respondo com outra pergunta: Por que não eu?

Qualquer um, e acho que a capitã se incluiria, pensaria que foi uma resposta egocêntrica do meu amigo, afinal ele não finge modéstia ao se autodeclarar o maior detetive vivo de Londres, quiçá do mundo. Porém, como explicou em seguida, tal suspeita não se trata de alimentar o próprio ego.

—Não sei se entendi. É um jogo de quem tem o maior intelecto?

—Não, mas não descarto essa possibilidade. Repassando com Watson os nomes das vítimas a caminho da polícia, notei algo intrigante sobre eles. Posso? - Esticou a mão para pegar papel e lápis. - Acredito que esclarecerei escrevendo o que notei.

A capitã assentiu e Holmes listou os nomes e sobrenomes das vítimas, separando-os como se fossem pessoas diferentes.

Samantha

Harrington

Earnest

Rockwell

Louis

Oliver

Antes de entregar o papel, pude vê-lo destacando a primeira letra de cada nome.

Samantha

Harrington

Earnest

Rockwell

Louis

Oliver

A capitã não escondeu o quanto ficou impressionada com o que Sherlock deduzira sobre as vítimas. Já eu notei a peculiaridade e a extrema coincidência das iniciais formarem parte do nome de Sherlock.

—Como veem, a escolha não foi aleatória e seus assassinatos foram cometidos pela mesma pessoa.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!

A história é curtinha, serão apenas 4 capítulos. Estarei publicando ao longo do resto do mês de julho. Vou até agendar os próximos capítulos.



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