Dinastia: outras histórias e curiosidades escrita por Isabelle Soares


Capítulo 20
Capítulo 26




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Edward esfregava uma mão na outra enquanto tentava controlar as suas emoções. Sessões com o seu psicanalista eram sempre assim, dúbias. Era bom poder desabafar. Com exceção de Bella, nunca conseguiu expressar o que sentia com ninguém. Porém, mexer nas feridas era algo doloroso de se suportar, mas necessário.

— Respire um pouco. – pediu o psicanalista.

O rei aspirou todo o ar que tinha e soltou de uma vez, sentindo uma paz momentânea. Durante anos tinha feito terapia. Muita coisa havia sido resolvida, mas era um processo contínuo. A morte de Bella lhe abriu inúmeros traumas que nem sabia que existiam. Era necessário que fosse encarado o seu problema na raiz. Agora tinha um país para governar. Queria curtir um pouco sua família, com a mesma sensação boa que tinha quando os filhos eram crianças. Queria viver bem sem um grande peso em suas costas, então resolveu procurar um psicanalista para trabalhar os seus traumas.

— Quero que feche os olhos e tente se lembrar da primeira lembrança que tem da vida.

Edward obedeceu às ordens e tentou fixar a sua mente em um ponto só entre as suas inúmeras lembranças. As imagens rodavam a sua mente. Mas nenhuma delas era a que ele realmente queria. Se esforçou um pouco mais até conseguir uma. Não tinha certeza se era a lembrança mais antiga que tinha, mas era uma bem velha.

Lá estava ele correndo pelo palácio. Gostava de fazer isso. Era um lugar grande, tinha muito a descobrir. Lembrava de ficar observando cada detalhe do lugar. Cada pedaço que os seus olhos alcançavam era algo que prendia sua atenção. Mas lembrava que Maria não gostava que ele andasse pelo palácio sozinho. Temia que ele pudesse se perder. “Nunca saia das minhas vistas.”, ela dizia.

— O que está fazendo? – seu psicanalista perguntou.

— Estou correndo.

— Em que lugar?

— Estou indo para o meu escritório... Quer dizer... O escritório do vovô. Nunca ficava aberto. Era um dos lugares que eu ainda não conhecia. Aproveitei a deixa e entrei.

— Quantos anos você tem?

— Cinco acho.

Edward escutou passos atrás de si e correu para se esconder em baixo da grande mesa de mogno. Seus avós entraram e fecharam a porta. Lembrava que via o seu vô como um homem grande e carrancudo. Sua vó parecia à diretora da escola, a senhora Reagement, ela era como a bruxa dos livros e não gostava nada dela. Não lembrava de sua avó lhe dirigir muito a palavra, mas ao menos as duas tinham a mesma expressão séria.

— Que confusão! – Ouviu Pierino dizer. – Acho que nunca teremos um dia de paz, Elizabeth.

Sua avó respirou fundo, com um longo suspiro e sentou-se. Edward tentou diminuir a sua respiração, com medo de ser descoberto.

— Agora lá está ela naquele tribunal. Por que não entrega logo o menino para os avós. Esme parece que gosta de aparecer. – Elizabeth falou irritada.

— Confesso, que até gosto do garoto. É um menino inteligente.

— Não estou nem ai para ele. Se Carlisle e Esme querem cria-lo, tudo bem. Fazer caridade às vezes é bom. Só não gosto da exposição que o caso causa.

— Não há nada que possa fazer?

— Não. Peço a uns amigos jornalistas para me ajudarem na descrição. Mas sabe como é... Têm tabloides em tudo quanto é lugar hoje em dia. Qualquer notícia sobre Esme e Carlisle gera muito dinheiro.

— Penso que uma hora isso vai acabar.

— Espero que sim. Confesso que ainda não entendo por que eles dois causam tanto engajamento. No nosso tempo não era assim.

— Eram outros momentos, cara Elizabeth. Naquela época havia mais respeito.

— Acredito que quando as crianças estiverem crescidas o foco será outro.

— É algo que me preocupa, sabe. Já estamos velhos, Elizabeth. Temos que preparar os nossos netos para a missão deles. Não queremos ter outro Carlisle e Esme. Precisamos manter o controle deles.

— Se ao menos Esme não fosse tão absurdamente veemente com relação às crianças poderíamos educa-los como se deve. Emmett está ficando um menino extremamente insolente. Veja como ele se comportou no último National Day. Ficava gritando, fazendo caretas e brincando sem um pingo de respeito com o momento.

— Também não gosto do comportamento de Emmett. É um garoto mimado. Gosto do jeito de Edward. Apesar de ser um garoto pequeno, é contido. Uma boa pedra para se transformar em um diamante.

 Edward levantou os olhos ao ouvir falarem de seu nome. Não entendeu nada do que disseram, apenas encolheu-se mais e esperou o momento certo para poder sair.

— O que eles estão falando?

— Falando sobre Emmett. O acham mal educado.

— E o que você pensa disso?

O que Edward pensa disso? Ele não achava Emmett mal educado. Amava o jeito do irmão. Estava sempre com aquela energia alta. Encantava todo o lugar em que estava. Todos gostavam dele, tinha sempre algo para falar. No fundo, o invejava. Queria ser assim também, mas nunca conseguiu ser agradável como ele.

— Emmett sempre foi o meu maior exemplo.

— É mesmo? Por quê?

— As recordações que eu tenho é dele sempre maior do que eu. Parecia que ele era a coisa mais interessante do mundo. Tudo que ele fazia era divertido. Me fazia sorrir. Eu queria imitá-lo. Parecia forte o suficiente para me proteger caso aqueles chatos da escola viessem me atacar.

— Sempre foi assim?

— No princípio sim.

Tentou refletir mais sobre isso. Desde que se lembrava, Emmett sempre fora o centro das atenções. Seus pais sempre os trataram por igual, mas era inevitável não dar mais atenção a ele. Além de sempre fazer todos sorrirem, sempre era a causa de muitas preocupações. Estava com um membro do corpo quebrado a cada momento que alguém se descuidasse dele. Era bonito e vivaz.

Edward nunca tinha admitido isso para ninguém, mas meio que se sentia um fracassado diante do irmão. Emmett era o sol e o ofuscava de alguma forma. Todas as garotas se apaixonavam por ele. Era aclamado no time de futebol, o mais popular... E isso o fazia, inconscientemente, acreditar mesmo que ele era inferior. Era incapaz, insuficiente para os pais, para os amigos, para as suas metas inexistentes devido ao seu destino. Se dar conta disso doía. Era difícil de superar.

— Eu lembro que eu entrei no time de futebol por causa dele. Emmett era capitão e artilheiro e ganhava todas. Eu não era nada. Mal falava, só estudava e levava muitos bofetões. Emmett disse que ia melhorar se eu virasse jogador como ele.

— E realmente mudou?

— Sim. Eu jogava como hobbie antes. Foi Emmett que me ensinou tudo que eu precisava. Então, quando entrei no time, resolvi me especializar. Assisti muitos jogos, li livros e treinei bastante. Comecei a gostar.

— Mesmo majestade?

— Sim. Quando comecei a ganhar algumas partidas, então.... Me senti mais seguro, mais confiante. Arrumei até uma namorada.

O psiquiatra sorriu.

— E quando ele deixou de ser o seu exemplo? Ou ainda é?

— Quando me senti abandonado por ele.

Edward tremia só em lembrar do catastrófico momento em que o irmão abdicou do trono em seu nome. Foi como se tudo ruísse em sua volta em câmera lenta.

— Depois, eu comecei me dar conta de certas coisas... Vi o quanto ele era infantil, fazia muitas bobagens. Entendi que eu tinha amadurecido e ele não. Meio que o que eu sentia começou a se inverter dentro de mim.

Há alguns quilômetros dali, William transcrevia a entrevista que teve com Emmett dias atrás. Precisava sentir todo o contexto, captar as suas emoções para traduzir ao máximo para as páginas do livro que estava escrevendo. Já tinha chegado aos anos 90, quando a família Cullen ainda passaria por inúmeras turbulências, todas elas muito importantes para a fase, onde Carlisle e Esme ascenderiam ao trono no fim daquela década.

Tinha que confessar que estava achando toda essa pesquisa imensamente interessante. Era como um estudo psicológico. Nem sabia que poderia se interessar tanto para esse lado. Conhecia muitos jornalistas que trabalhavam com casos de crimes históricos, biografias, fatos extraordinários e todos eles envolviam muita pesquisa de material extra e investigativo. Ouvir pessoas, ver filmagens antigas, artigos de jornal, e tudo isso para chegar a um único ponto. A chave de toda a questão que deu consequências ao ocorrido marcado na História. Era tudo imensamente excitante.

— Eu e Edward nunca tivemos rivalidade nenhuma. – William observou as feições de Emmett nas filmagens. - Isso tudo foi invenção dos tabloides para infernizar.

O jornalista levantou as sobrancelhas. Lembrou-se do relacionamento que tinha com o seu próprio irmão. Embora, Frederick e ele fossem inseparáveis, sempre houve aquela disputa boba entre eles. Quem corre mais rápido? Quem é o mais alto? Quem é o preferido? Quem é o mais bonito? Essas coisas. Sempre achou isso algo natural. Porém, em alguns momentos isso saia do controle. Nunca esquecera as palavras de Frederick quando o pai deles falecera. “Eu é que sempre estive aqui do lado deles. O que você fez? Apenas se distanciou de sua família. Nos renegou esse tempo todo e agora vem herdar nossas terras.”. Esse foi um dos motivos para abdicar de todas as fazendas e quase toda a herança. Não queria nada que não conquistara por si só e nem muito menos entrar uma disputa com o seu irmão que lutara tanto pelo lugar de preferido dos pais, deixou que ele ganhasse a partida.

Antes que voltasse a reproduzir as imagens, sentiu um cheiro gostoso em sua volta e os lábios molhados em seu pescoço, sorriu. Acariciou as mãos de sua esposa e a trouxe para o seu colo.

— É a entrevista do tio Emmett?

— Sim. Estou tentando entender o que aconteceu na infância dele e de seu pai.

Renesme assentiu e William a apertou ainda mais em seus braços, dando, ao mesmo tempo, play na gravação.

— Eu lembro de quando éramos crianças. Mamãe disse que nos demos bem desde o primeiro momento. Papai me levou para a maternidade para conhecê-lo. Dei um beijo na bochecha dele sem ninguém incentivar. Edward era meu companheiro de traquinagem. – sorriu. – Eu achava que ele era meu brinquedo favorito.

— Vocês eram tratados de maneira igual?

Houve uma pausa de alguns segundos. William lembrava que essa pergunta tinha sido certeira para Emmett.

— Bom... Não lembro de termos tratamento diferente entre os nossos pais. – William sentia o desconforto em Emmett, sabia que por dentro ele realmente não pensava assim. – Mas tínhamos personalidades muito distintas. É natural que certas atitudes fossem diferenciadas entre nós dois.

— É mesmo? Tipo o que?

— Eu era uma peste na infância. – Só quando criança? – Eu tinha uma mania de pegar uma arma de brinquedo e enchê-la de água e sair atacando todo mundo que estivesse próximo a mim. – Emmett sorriu. – Os funcionários me apelidaram de “o pimentinha”.

— Edward não fazia isso?

— Oh não! – Emmett fez uma cara de deboche. – Ele era careta desde de criança. Gostava mais de ler, tocar o piano dele, essas coisas que ainda faz.

— Acha que essa diferença de personalidade foi um gerador nessa diferença de tratamento entre vocês?

Emmett abaixou a cabeça por alguns instantes, como se refletisse sobre ou ao menos se revelava o que realmente pensava. William o observava bem. Entendia que era substancial essa informação para entender tudo que houve no passado.

— Eu não podia competir com ele, sabe?

— Como assim?

— Edward sempre foi o inteligente da família. Parecia que tinha uma alma velha. Eu via o quanto o papai gostava de estar com ele, os dois se entendiam, e por mais que eu me esforçasse, nada iria mudar isso. Era uma compatibilidade de personalidade, entende? O vovô o levava para toda parte. Edward era a atração entre os amigos dele. Era o mini adulto, o rei que todos queriam.

— Isso te incomodava.

— Em algum momento sim. Principalmente quando entrei na adolescência. Ô fase dos infernos! – gargalhou. – Eu ficava com raiva pelo fato de me empurrarem para todas as obrigações chatas, enquanto claramente queriam Edward na posição direta da sucessão. Ficavam nos comparando naquelas revistas idiotas e eu larguei o foda-se, sabe?

— Meu Deus! – Renesme interrompeu e William pausou a gravação para ouvi-la. – É o relato mais sincero que ouvi do tio Emmett.

— É complicado essa relação de irmãos, ainda mais quando se tem um trono em jogo.

— Eu não passei por isso com Tony, mas também nós temos quase dez anos de diferença, mas imagino que isso tenha sido complicado entre eles.

— E o seu pai? O que pensa disso?

— Papai se ressente por Emmett ter desistido da sua função e ter largado tudo no colo dele, mas não acho que tente se comparar com o titio.

— Não mesmo? Preciso conversar com ele sobre isso, apesar de que tenho plena certeza que é assunto complicado.

— Se é. Isso nunca foi bem resolvido entre eles, na verdade. Até hoje vejo o tio Emmett fazer as suas piadas zombeteiras para o papai, como se quisesse, inconscientemente ou não, rebaixá-lo. E o papai franze a testa para as coisas que o tio Emmett faz e fala. É complicado!

— E quando o fio de amizade começou a ruir entre eles?

— Bom, isso é algo que vai ter que descobrir, amor.

William assentiu e continuou a ouvir a gravação, ao mesmo tempo que fazia anotações do que achava pertinente para interrogar a rainha depois.

Esme: Sua Verdadeira História – Capítulo 26: O herdeiro e o estepe

Uma das minhas grandes preocupações quando os meus filhos nasceram era de como seria quando eles crescerem. Acho que em algum ponto todos os pais pensam isso. Quando eu estava grávida de Emmett li vários livros sobre a formação da personalidade das crianças, os métodos de criação, o desenvolvimento, enfim. Eu queria que eles fossem pessoas boas e responsáveis. Versões melhores minhas e de Carlisle.

Porém, é algo complexo. Há muitos fatores determinantes. Crianças não são folhas em branco. Elas nascem com suas próprias personalidades e aprendem com o meio. São frutos de suas próprias gerações. Isso me preocupava ainda mais por que o conhecia bem. Cada criança são tão diferentes quanto os dedos das mãos e reagiram a vida de maneira diferente. Como ter certeza que tudo daria certo no final?

Me tirava o sono o fato de que eles não eram como qualquer criança. Por mais que eu e Carlisle tentássemos criar um clima de normalidade, não tinha como escapar do fato que havia um trono no futuro e uma série de responsabilidades com a monarquia, mesmo que um dia você não viesse a ser um rei ou uma rainha. Se estava entre os cinco primeiros da linha de sucessão não havia jeito, seu destino estava traçado. Não importava se sonhava ser um médico, jogador de futebol ou uma bailarina. Sua vida era cumprir uma série de eventos, cuidar de inúmeras obrigações e servir. Nada, além disso, é permitido.

 Um dia desses, eu estava discutindo isso com Alice e o meu neto Pietro, filho dela. Era algo pela qual eu tinha muita curiosidade. Me refiro ao fato de como é nascer dentro de uma família real. Afinal de contas, eu não nasci em uma, apenas entrei nela com o barco andando. Eu queria saber o que eles sentiam por que eu guardava dentro de mim uma espécie de remorso. Me perguntei diversas vezes: será que eu consegui prepara-los para essa vida da maneira adequada?

— Quer saber, mãe? – Alice me falou com aquele jeito descompromissado. – Eu nunca tinha me ligado nesse fato. Pra mim o processo sempre foi natural. Eu nasci uma princesa e farei o que for preciso.

— Nunca lhe passou na cabeça em tentar ser algo diferente?

— Na verdade, eu sempre estive numa bolha é isso. Mas quando comecei a morar nos Estados Unidos é que entendi que havia um mundo diferente. Que podia ser mais do que achava que poderia ser.

— Uma estilista?

— Ter liberdade.

— Isso é que me incomodava. – falou Pietro. – Mesmo que um dia eu nem perto teria a chance de ser monarca, ali estavam todos os dias paparazzis me seguindo para saber tudo sobre mim. Eu nunca gostei desse assédio. Penso sempre: por que não vão atrás de quem mais interessa?

Refleti sobre. Mesmo Carlisle que estava destinado, sua adolescência não foi tão difícil quanto de nossos filhos e netos seriam. Formos crianças simples. Eu não tinha acesso à televisão até a minha adolescência. Meu marido certamente tinha, porém, as tecnologias máximas da época era um rádio e uma câmera de filme que estava se tornando colorida. Para saber onde ele estaria para tirar fotos e no outro dia pensar se seriam dignas de estarem nos tabloides levavam um tempo. Como fazíamos no nosso tempo de namoro, nos escondíamos a ponto que demorou horrores até descobrirem. Um luxo que eu sabia que meus filhos não teriam.

Eu acompanhava o passar dos tempos e via que a explosão de tecnologias iria muito influenciar na liberdade pessoal deles. A questão entre o que é meu e o que é público seria mais tênue. Seria um sofrimento como foi.

Nunca foi de meu interesse e muito menos de Carlisle que os meninos tivessem um tratamento diferente. Afirmo isso novamente por que me feri profundamente quando ouço alguém afirmar que sempre houve um complô         para que Edward ascendesse o trono, ocorreu assim por desvio de rota. Algo que me sinto extremamente culpada.

Tenho que admitir que depois que Carlisle assumiu o trono como regente e passei a exercer mais funções, tive que abdicar do tempo que eu tinha antes brigado para ter ao lado dos meus filhos. Eu gostava de estar no comando. De ver as coisas dentro do sistema de outra forma. Cresci como mulher, mas falhei como mãe.

Emmett e Edward tinham 11 e 9 anos respectivamente quando tudo virou um turbilhão. A entrada da fase que eu mais temia antes. Agora eu não tinha mais tempo para saber muito o que estava acontecendo com eles. Tudo que sabia sobre suas vidas era por terceiros ou muito depois. Eu tentava ao menos recuperar o tempo perdido durante as minhas folgas e a noite, mas nem sempre isso foi possível.

Quando Emmett entrou para Hollywarts tudo ficou ainda mais difícil. Praticamente só o via nos fins de semana. Perdi o controle dele. O que eu sabia era apenas a ponta do iceberg.

Na época, entendi que seria ótimo que ele se mantivesse ao máximo ocupado. Tinha medo que ele viesse se deixar levar para o mundo obscuro das drogas. O mundo lá fora era obscuro demais. Me surpreendia com a facilidade que novas drogas surgiam e estavam facilmente nas mãos dos jovens. Além disso, haviam ínumeras doenças transmissíveis, a AIDs ainda não tinha cura e era o monstro da juventude dos anos 90. Eu temia tudo isso.

— Está tudo bem por ai? – eu liguava sempre que podia. A linha do outro lado se tornava cada vez mais reticente quando os 11 se transformavam em 12, 13, 14...

— Mãe, estou indo para os treinos de futebol.

— Ok. Boa sorte!

Era sempre assim. Emmett estava de lá pra cá. Correndo, com pressa demais. Cheguei a comentar sobre isso com Carlisle.

— Não ligue pra isso, querida. Temos que adaptar a idade dele. Adolescentes sempre têm vergonha dos pais.

Fui tentando relevar. Afinal de contas, Emmett estava em sua melhor fase. Eu ouvia dizer sobre o quanto era popular. Sempre me contava com animação suas histórias dentro da escola. Parecia que pela primeira vez estava tendo a oportunidade de ter uma vida normal com pessoas normais. Tinha se tornado um dos jogadores célebres do time de futebol. Íamos sempre que podíamos as partidas dele e pra mim era uma celebração maior vê-lo feliz.  

O seu único problema eram as disciplinas extras que o Castelo ordenava que ele tivesse adicionadas a grade curricular. E como ele era o único ali que seria o rei um dia, as aulas eram feitas apenas com ele e o professor em uma sala. Emmett com o seu jeito expansivo e carismático não poderia odiar mais.

— Todo mundo fica gozando com a minha cara, mãe! É terrível!

Eu imaginava que seria. Afinal de contas, não havia nada mais horrível do que ser excluído e tratado de forma diferente. Adolescentes amavam qualquer oportunidade para fazer brincadeiras má – intencionadas. Mas o que eu podia fazer? Aquelas aulas, assim como a faculdade de administração pública seriam o que mais ele precisaria para o seu futuro.

— Queria tanto poder mandar aquele professor chato à merda! Na verdade, eu queria fazer planos que nem os meus amigos.

— Pare de falar uma besteira dessas! Não vai mandar ninguém a merda e vai aceitar que essas aulas fazem parte da sua formação.

A parte de ser um membro da realeza que ele mais gostava era o fato de ter algumas portas abertas com mais facilidade. Muitos “amigos” ao redor e namoradas. Eu ouvia falar de alguns de seus relacionamentos. Eram muitos nomes naquele momento. Nem sabia dizer até onde aquilo tudo era realmente real. Ele não falava sobre aquilo e eu não queria ser inconveniente.

— Querido, só quero que saiba que essa sua popularidade é boa, mas não podemos confiar em todo mundo. Algumas pessoas podem ser perigosas. Só querem o que podemos oferecer a elas e nos prejudicar depois.

— Eu sei o que eu estou fazendo mãe.

Como explicar que nem tudo que parece ser é? Que no nosso caso pode ser um verdadeiro inferno confiar o mínimo sobre nós mesmos e depois cairmos em tabloides. Ou ter um bilhão de paparazzis no encalço por que alguém queria ser flagrado ao seu lado e se dar bem depois. Era um campo minado, onde nunca sabíamos quem realmente podíamos confiar. Tudo isso era complicado demais para um garoto que estava começando a viver naquele momento.

Enquanto isso, tínhamos um outro filho que nos deixava sempre preocupados. Não pelas suas travessuras. Mas por sua quietude. Mundos opostos. Realidades diferentes.

Edward cada dia mais se fechava mais em seu próprio mundo. Era extremamente tímido, porém muito aplicado em suas obrigações como estudante. Enquanto, Carlisle e eu tínhamos que fiscalizar sempre as notas de Emmett, sabíamos que podíamos contar com Edward. O boletim viria azul no fim do bimestre. Acho que isso foi um belo erro de nossa parte. Nos preocupávamos tanto com o nosso primogênito que esquecíamos os nossos caçulas.

Não que ele viesse a reclamar. Nunca chegou até nós para pedir absolutamente nada. Era sempre educado. Falava baixinho e gostava de estar atualizado sobre politica. Achava aquilo interessante como tudo que podia lhe proporcionar novos conhecimentos. Conversava com o pai e com o avô como se fosse um mini adulto. Foi um belo consolo para Pierino em seu período de convalescência. Era o único neto que poderia empurrar a sua cadeira de roda e passar horas na biblioteca conversando. Com Carlisle era o mesmo. Os dois dividiam o seu amor pela música. Edward aos 10 anos já conseguia tocar piano e flauta divinamente. Estava ansioso para aprender a tocar violão.

— Às vezes esqueço que ele é apenas uma criança, Essie. Edward é muito maduro para a idade dele.

— Acho que esse é o problema, Carl. Edward não tem amigo de sua idade. Seu mundo basicamente é sua família. Tenho medo disso.

— Acho que quando ele for para Hollywarts tudo iá melhorar. Emmett está lá e vai ser uma mão na roda para ele.

— Assim espero.

Então, isso foi o princípio de tudo. Não víamos o que estava debaixo dos nossos olhos. Aquelas dores nas costas de Edward podia ser uma ansiedade generalizada. Aquelas amizades de Emmett poderiam leva-lo a pior. Um herdeiro e um estepe totalmente diferentes um do outro. Duas personalidades que virariam um grande conflito quando ambos começassem a sair da proteção tutelar da lei que os protegia por serem menores de idade. Mas quando a idade adulta chegasse e o olho do furacão se abrisse ou quando um trono fosse uma questão séria a ser levada em conta. Tudo mudaria. O nosso problema foi não prever isso a tempo.


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