Dinastia: outras histórias e curiosidades escrita por Isabelle Soares


Capítulo 17
Eu vou ser rainha?


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo extra para vocês, dessa vez com um olhar para o presente. Espero que gostem!



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Setembro de 2020

A pequena princesa andava pelos corredores do palácio de Belgravia tentando descobrir algo novo para fazer. Desde que começou a pandemia do Covid 19 todos tiveram que ficar em casa para se protegerem da doença. Para Renesme, no início, tinha sido divertido, pois pôde fazer suas pinturas por mais tempo, brincar sem se preocupar em dormir cedo para ir à escola por que ela agora estudava em casa. Então, tudo estava perfeito demais! Porém, depois de tantos meses presa no palácio tudo estava ficando um entediante.

Ele ouvia em todo lugar que essa doença era perigosa, que matava as pessoas. Ela, em sua cabeça, tentou imaginar como era estar doente com esse tal de Corona Vírus. Tentava juntar tudo que ela tinha sentido em outras doenças que teve, mas ainda assim não conseguia entender direito como era. Mas sentia medo só em pensar e ficou ainda mais quando soube que seu pai tinha pegado a doença.

O príncipe Edward e toda a família real tinha se mantido afastados dos compromissos presenciais desde que começaram a surgir os primeiros casos da Covid em Belgonia. Porém, desde o mês anterior, tinham voltado gradualmente a trabalhar e em um desses compromissos, Edward acabara contraindo a doença. Todos ficaram apavorados com isso, afinal de contas, ele é o príncipe herdeiro. Além disso, havia um cuidado com Esme e Carlisle que já tinham uma certa idade e estavam no grupo de risco. Resolveram afastar o príncipe em seu apartamento e isolar a duquesa, a princesa, o rei e a rainha em outro lado palácio para evitar o contágio.

Felizmente, o príncipe se mantinha com sintomas leves, apenas dores na garganta, cansaço e um pouco de tosse. Ele recebia visitas periódicas de um médico especializado e tinha a sua disposição funcionários exclusivos para deixar a sua comida próximo ao quarto e levar as roupas e mudas de cama para serem lavadas separadamente com os devidos cuidados.

Renesme pensava todos os dias no pai. Tinha medo que algo ruim acontecesse com ele e chorava só de pensar nisso. Também tinha pena por ele estar sozinho. Ela e sua mãe conversavam com ele por vídeo chamada, mas não era a mesma coisa, sentia a falta dele. Por isso resolvera escrever bilhetes para ele e sair escondido para colocá-los de baixo da porta do apartamento para que ele não se sentisse tão triste.  Na verdade, ela queria mesmo que tudo ficasse logo bem.

E agora enquanto desvendava os mistérios dos corredores do palácio tentava não pensar no pior, como sua mãe lhe aconselhava sempre. Foi descendo as escadas até chegar ao escritório do seu avô. Nunca ela tinha estado muito ali. Seu avô vivia recebendo muitas pessoas nesse lugar antes da doença, ele era sempre tão ocupado! É claro que ela tinha despertado interesse para descobrir o que havia do outro lado da porta grande em sua frente. Tentava imaginar o que havia dentro, mas ela nunca ficava aberta.

— O que essa garotinha linda deseja falar com o seu avô coruja?

Renesme virou-se e sorriu ao ver o seu avô paterno atrás dela.

— Oi vovô! Eu só estava dando um passeio pelo palácio.

— Não me diga que já se entediou?

— Acho que sim. Não há nada novo para eu fazer.

— Mas eu sei algo que possamos fazer.

— O que?

— Que tal vermos aquelas fotos de família pela qual se interessara outro dia?

Renesme bateu palmas de felicidade e seguiu o avô pelo escritório. Ela não pôde evitar que sua boca abrisse de surpresa ao ver o cômodo por dentro. Era maior do que ela imaginava. Também era bastante bonito, apesar de ter cores escuras. Ali haviam mais alguns quadros e uma porção de livros. A primeira coisa que a menina fez foi observar de perto as pinturas. Passou os pequenos dedos sobre a tela e analisou os traços do desenho embaixo da tinta. Carlisle teve que sorrir ao ver o interesse da neta mais velha pelos quadros. Tinha certeza que ela sabia bem dos aspectos técnicos que foram usados ali, apesar de ter apenas oito anos de idade. Na verdade, Renesme vinha se mostrando uma excelente artista. Além de dançar balé muito bem, também tinha desenvolvido um dom para as artes plásticas. Esme ficara mais do que encantada ao saber que sua neta tinha lhe puxado em algum aspecto e vivia a incentivando a aprimorar essa habilidade. O rei tinha que confessar que a menina vinha melhorando muito os seus desenhos durante esse tempo em contato com a avó.

— É muito bonito, não é?

— É sim! Não parece ser uma pintura tão antiga. A tinta ainda está muito viva na tela.

— E não é mesmo. Na verdade, esse quadro tem uns 20 anos mais ou menos.

— Quem é este?

Carlisle observou o quadro que mandara pintar do pai e admitiu que para uma garotinha que estava acostumada com retratos, seria difícil reconhecê-lo nessa tela. O velho Pierino iria adorar conhecer a sua bisneta e reconhecer o quanto ela era inteligente. Afinal, essa era uma das qualidades que ele mais apreciava. Acho que mesmo apesar de tudo aconteceu com as relações de sucessão ao trono, ele estaria satisfeito com o resultado.

— É seu bisavô, o meu pai Pierino.

— É mesmo! Agora vejo. Não se parece muito com as fotos.

— Acho que o artista fez uma interpretação diferente dele.

— Com certeza. Não foi muito realista.

Carlisle deu um sorriso novamente com o comentário da neta. Era tão adulto! Ás vezes esquecia o quão madura ela era e cada vez ficava ainda mais. Uma garotinha não falaria com tanta autoridade assim sobre arte.

— Acho que esse pintor não gostava tanto assim do biso.

— Por quê?

— Ele exagerou nas linhas. Veja o quanto ele está carrancudo e gordo!

— Acho que tem razão!

E tinha mesmo, pensou Carlisle. Não eram todos que gostavam de seu pai. Ele tinha cometido muitos erros como monarca em seus últimos anos de reinado. As pessoas o chamavam de “O rei de ferro” e não era à toa. Então, muito do que pensavam dele estava refletido nesse quadro. Um homem grande, mas bastante sério. Era por isso que Carlisle achava essa pintura, nesse quesito, tão original.

— Por que só há quadros com homens no seu escritório, vovô?

— Esses homens foram reis de Belgonia, querida. São nossos parentes.

— Por que não há rainhas?

— Houveram algumas. Mas todas elas eram como a sua avó, só eram chamadas de rainha por que eram casadas com reis.

— Estou entendendo... – falou Renesme com uma leve enrugada na testa. Tentava entender qual era a diferença na prática do papel do rei e da rainha. – Uma mulher não pode mandar como um rei?

— Claro que pode. Não nenhuma diferença nesse quesito.

— Então, por que não houve nenhuma rainha que não fosse à esposa de um rei?

Você será a primeira, pensou Carlisle. Renesme ainda não sabia que seria um dia uma rainha. Edward e Bella decidiram que iriam contar a ela aos poucos para que ela não se sentisse importante demais ou pressionada pelo que viria pela frente. Eles vinham contando para ela através de histórias de contos de fada. Queriam que ela descobrisse por si mesma.

— Por que Deus ainda não quis, querida. Quer entender melhor como isso funciona?

Renesme assentiu e seguiu o seu avô para a sua grande mesa. Carlisle pegou um grosso livro que trazia a história da família real e o abriu em frente à neta. Logo no início havia uma grande e emaranhada árvore genealógica. Renesme ficou interessada em entender como funcionava toda aquela divisão e seu avô pacientemente ia explicando o que era aquilo e como deveria ser interpretado.

— No topo está o primeiro rei de Belgonia, o Guilherme, meu tataravô. Em baixo dele e de sua esposa vem os filhos deles e em seguida os seus netos. Assim a família continua, cada vez que algum desses ia se cansando e tendo filhos, a árvore vai descendo.

Renesme ia acompanhando a explicação do avô e aos poucos ia entendendo o que estava sendo mostrado ali. Seus dedos passavam por cada nome e percebia o quanto a sua família era grande. Nem podia imaginar o quanto de gente tinha nascido antes dela.

— E esses que tem a coroa em cima dos nomes viraram reis, é isso?

— É sim. Somente o filho mais velho de um casal pode se tornar rei. O resto dos filhos ficam na fila e como pode ver, só houveram filhos homens como primogênitos.

Renesme percebeu o que o avô disse. Realmente Deus só havia mesmo mandado meninos primeiro e ela achava isso nada justo. Outra coisa que ela foi compreendendo era que somente os filhos de quem tinha a coroa em cima do nome era que um dia tinha a chance de virar rei e o restante não era nada. Essas pessoas só podiam ficar tristes com isso!

— Vovô, por que esse tal de Lourenzo tem a coroa preta ao invés de dourada como os outros?

— Por que infelizmente ele morreu antes de se tornar rei e então, o seu bisavô, Pierino, assumiu o lugar dele.

— E você se tornou rei por que era o filho mais velho dele.

— Isso mesmo.

Renesme desceu o dedo cada vez mais e Carlisle sabia que ela estava chegando perto. Se ela fosse esperta como ele achava que ela era, iria entender agora qual seria seu papel no futuro.

— Vovô, por que o tio Emmett está com um traço na coroa?

— Por que o seu tio Emmett não quis ser rei e passou a coroa para o seu pai.

A cabeça da menina deu um estalo de repente. Ela agora tinha entendido tudo. Ela seria uma rainha como o seu avô era rei e no momento, se ela tinha compreendido direito, não estava gostando nada dessa ideia.

— Quando uma pessoa pode se tornar rei ou rainha?

— Apenas quando o rei que está reinando morre.

— Uma criança pode se tornar uma rainha? Ela pode desistir disso como o tio Emmett fez?

— Uma criança não pode se tornar uma rainha. Apenas adultos podem. Por que está perguntando isso?

— Por que se o papai morrer dessa doença, eu serei a próxima a ser rainha e eu não quero que isso aconteça.

Carlisle abraçou a neta e tentou tirar essa preocupação da cabeça dela. Ele também tinha ficado preocupado demais quando Edward ficou doente. Os altos casos de morte por Covid 19 vinham provar o quanto ela era uma doença séria e de forma alguma queria que o filho os deixasse. Tratou logo de providenciar e garantir que ele tivesse os melhores cuidados para que nada de ruim lhe ocorresse.

— Querida, o seu pai não vai morrer. Ele está sendo forte o suficiente para dar um chute nessa doença nojenta.

Renesme sorriu e respirou aliviada. Era bom ouvir de seu avô que seu pai ficaria bem. Ela tinha uma confiança enorme nele. O seu avô era como uma espécie de sabe tudo e se ele estava falando que seu pai ficaria curado, por que era verdade.

— Então, acho que eu posso ser uma rainha no futuro.

— Você vai ser, querida, e uma muito boa. Mas não se preocupe, não será agora. Você terá muito tempo para se preparar para isso.

— E o que as rainhas fazem?

Renesme percebeu em sua mente que não tinha uma ideia clara do que ser rainha significaria. Ela sabia que seu avô vivia ocupado nesse mesmo escritório e também estava sempre lá fora fazendo o que seus pais também faziam, mas ela não sabia bem o que era. As pessoas gostavam dele. Ela via bem isso quando um montão de gente acenava e sorria para ele. Seu avô também usava uma coroa ás vezes. Ela era muito grande! A menina pôs as mãos na cabeça e achou que não caberia nela. Será que ser rei ou rainha era apenas isso?

— É um papel muito importante, Ness. É mais do que brincar com bonecas ou colocar uma coroa na cabeça. – falou Carlisle como se tivesse lido os pensamentos da neta. – Um bom governante é aquele que sabe sempre o que o seu povo precisa por que é ele que é o chefe de todo o país.

— Isso é muita coisa vovô! Como vou saber o que o meu povo quer.

— Andando pelas ruas, conversando com eles em eventos, observando ao redor. O primeiro ministro é que administra, mas o rei é aquele que representa todos do país.

— Ainda acho um pouco confuso. Não sei se vou ser uma boa rainha, mas eu queria ser por que eu não gosto de ver as pessoas tristes ou com raiva de mim.

Carlisle sorriu e beijou a testa da neta. Era muito para ela assimilar e ele sabia disso muito bem. Ele mesmo soube desde de muito pequeno que um dia seria rei depois de seu pai, porém na época ele também não fazia ideia de como seria quando isso acontecesse. Mas enquanto ele estivesse vivo não deixaria a sua neta despreparada de forma alguma. Não cometeria os mesmos erros que cometera com Emmett e Edward.

— Não se preocupe! Você irá estudar muito para se tornar uma rainha e quando isso acontecer, você vai saber exatamente o que fazer.

Renesme tentou se imaginar com uma coroa que nem aquelas rainhas dos livros que ela lia. Tinha vontade que as pessoas a admirassem e gostassem dela. Porém, ela queria ser que nem o seu avô. Se conseguisse ser como ele, com certeza seria uma boa rainha. Mais uma vez, ela se viu no trono que tinha na sala ao lado e pensou que seria muito legal sentar nele um dia.


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Notas finais do capítulo

Comentem bastante!