— Morfina...

Vozes e mais vozes...

O que é a dor?

Lembro que havia lido em um livro que a dor era uma experiência sensitiva e emocional dos humanos, era algo desagradável e estava associada ou relacionada a qualquer lesão real ou potencial dos tecidos, eu não entendia o que aquilo significava até sentir, até aquele momento, eu não sabia o que era a dor, mas compreendi que era algo muito maior que o que um machucado podia causar, eu sentia dor, mas não compreendia o porquê de senti-la.

Eu não conseguia abrir meus olhos, mas podia ouvir a mistura de vozes e o mover do meu corpo, algo cravou minha pele e não controlei o grito que saíra por minha garganta, eu ouvi a voz de Seth, da minha irmã, de Lucy, de meu avô e meus pais, não sei por quanto tempo ao certo, mas logo veio a confusão.

Veio o silêncio, o toque gélido dos lábios de minha mãe em minha testa, apesar de não abrir os olhos eu senti seu cheiro, o toque das mãos de Rosalice até que finalmente eu me entreguei.

Na prisão de meus pensamentos eu me perguntava o porquê de Jacob me odiar, talvez por minha irmã representarmos a lembrança amarga de sua dor quando perdeu minha mãe para meu pai, ou nos culpasse pela transformação que ela sofrera após nosso nascimento, quanto mais porquês me atormentavam menos respostas eu tinha e se por um lado eu sabia que precisava me afastar por outro eu me sentia cada vez mais atraída, Jacob era como uma droga que meu corpo havia conhecido e se negava aceitar não tê-lo.

A dor não era mais tão grande, eu sabia que devia isso ao fato de não ser totalmente humana, por isso havia me arriscado daquela forma, eu sobrevivi já Lucy com toda certeza não sobreviveria e Jacob se culparia para sempre por isso, mesmo que ele me odiasse eu não desejava isso a ele.

Eu decidi deixar os medicamentos me vencerem, tinha absoluta certeza que meu avô Carlisle não havia me dado uma dose de morfina que daria a um humano, decidi não pensar, mas em Jacob, isso me ajudou a dormir.

Veio a calmaria e pude sentir meu corpo reagindo, a dor diminuindo mais a cada instante e meu corpo responder a os meus comandos, e logo as vozes começaram a entrar pelo quarto a cada segundo mais altas e fortes, meus olhos se abriram assim que ouvi a voz de Jacob.

Jacob, Jacob esta aqui? Perguntei em meus pensamentos enquanto me sentava a beira da minha cama, senti o chão frio tocar meus pés e olhei para meu braço imobilizado com uma tipoia,  suspirei ao imaginar o resultado do meu heroísmo e lentamente consegui me levantar dando passos lentos na direção da janela do quarto que dava para ver perfeitamente a varanda da entrada da casa.

Meus olhos se arregalaram.

Mamãe e Jacob se enfrentavam, e ele parecia ferido, mas uma vez não me importei se eu me machucaria, não havia como ficar pior pensei comigo mesma, ao ver minha mãe avançar sobre Jacob eu saltei pela janela e cai diante de Jacob abrindo um dos braços tentando protege-lo.

—Pare! Eu gritei juntando a energia que me restava tentando impedi-la – Por favor, mamãe não o machuque!

Mamãe deu dois passos para trás recuando enquanto Rosalice e Seth me olhavam com um semblante de preocupação, mas eu os ignorei, lentamente ergui meu corpo o girando ficando de frente para Jacob que tinha um olhar de confusão.

Eu ergui a mão livre vagarosamente em sua direção, minha mão estava tremula mas ignorei, logo a palma tocou a pele macia e quente do rosto de Jacob que fechou os olhos ao receber em sua mente a pergunta feita por mim a ele.
— Jacob porque você me odeia? Eu perguntei sem me importar coma  resposta que teria dele – É por causa da sua briga com a mamãe? Por isso me tratou tão mal a ponto de me machucar?

Jacob que estava se joelhos tirou uma das mãos que apoiavam seu corpo da terra e carinhosamente a pousou sobre a minha  a mantendo em seu rosto – Eu não odeio você meu anjo – Respondeu ele de forma doce, aquela era a primeira vez em que Jacob falava daquela forma, gentil e carinhosa – Eu não queria machucar você pequena, eu jamais machucaria você completou ele.

Meu coração se aqueceu, e um sorriso se formou em meus lábios, então compreendi seu arrependimento – Eu perdoo você Jacob! Respondi em sua mente.

Jacob sorriu um sorriso largo e o mais bonito dos sorrisos, com cuidado ele tirou a minha mão de seu rosto e então senti seus braços envolvendo meu corpo em um abraço quente e aconchegante – Eu nunca mais machucarei você de forma alguma! Ele sussurrou e então senti seu queixo sendo apoiado em minha cabeça, e de repente o mundo se resumiu a Jacob e a mim, como se nada e nem ninguém mais existisse.

Meus olhos se fecharam e a escuridão novamente me venceu.

Quando meus olhos se abriram eu estava confortável em minha cama, porém o som de um ronco chamou minha atenção, lembrava os roncos de Seth quando dormiu algumas vezes ao lado de Rosalice na sala, lentamente me sentei na cama e sorri ao ver Rosalice sentada na cama ao lado com um livro nas mãos.

— Jacob – murmurei ao vê-lo dormindo sentado no chão com a cabeça encostada na cama.

— Que bom que acordou irmãzinha! Disse Lice deixando o livro sobre a cama e se aproximando da minha – Papai disse que logo acordaria.

— Que horas ele chegou? Perguntei olhando para Jacob.

— Ele não saiu de dentro desse quarto desde ontem – Respondeu ela – Você está com fome?

—Na verdade sim! Respondi fazendo uma careta ao mover o meu braço – Creio que isso vá demorar um pouquinho a sarar.

— Vô Carlisle disse que você vai ficar bem logo! Respondeu Rosalice  - vou buscar algo para comer.

—Obrigada Lice – respondi enquanto a observava caminhar até a porta e sair do quarto.

Olhei para Jacob e suspirei, tudo que havia acontecido era real e não um sonho, ele estava ao meu lado, o observei dormir em silêncio e dei uma pequena risada ao ouvi seu ronco, mas logo ele sussurrou o meu nome.

— Jacob – sussurrei acariciando suavemente seus cabelos – Jacob esta me ouvindo?

— Renesmee! Ele falou em um tom alto de voz abrindo os olhos.

Continuei a tocar seus cabelos e ele me olhou confuso  “Você estava tendo um pesadelo?” falei em sua mente e ele forçou um sorriso.

— Eu acho que cochilei! Respondeu ele.

— Na verdade você dormiu – respondi – Você está dormindo a mais de um dia.

— Sou um péssimo enfermeiro! Ele disse sorrindo.

— Eu concordo – Disse Lice nos interrompendo e  passando pela porta com uma bandeja nas mãos – O pior de tudo é que você ronca! Completou ela.

— Seth também ronca e eu não a vejo reclamar – rebati.

— Wow – Jacob murmurou se levantando do chão – Não precisam brigar meninas – Disse ele em um tom divertido e em seguida tocou meu queixo – Você está melhor?

— Sim, vovô Carlisle disse que em alguns dias estarei curada.

Rosalice aproximou-se da minha cama deixando a bandeja sobre a mesma, em seguida caminhou até uma penteadeira retornou com uma escova de cabelos nas mãos sentando-se ao meu lado e então e começou a escovar meus cabelos, peguei um copo com suco  tomando um gole e olhei para Jacob.

— Você deve estar com fome, dormiu um dia inteiro – Falei empurrando a bandeja para ele.

— Não se preocupe comigo pequena, você é quem precisa se alimentar – Ele respondeu.

— Tem certeza? Eu insisti pegando uma maça e novamente ofereci para ele, Jacob sorriu e curvou o corpo aproximando os lábios do maçã, pensei por um breve momento que ele ia mordê-la, mas ao invés disso beijou meus dedos, não segurei o riso.

— Ah qual é, eu não nasci para vela! Reclamou Rosalice.

Levei a fruta a minha boca a mordendo e olgei na direção da porta, tia Rosalie estava parada encostada na porta com os braços cruzados – O fido ainda está aqui? Não sei como Bella e Edward permitiram isso.

Jacob sorriu-Eu preciso ir para casa, mas prometo vim ver você mais tarde, certo?

— Tudo bem Jake! Respondi concordando com a cabeça, apesar de não querer que ele fosse embora eu compreendia que ele tinha suas obrigações na reserva e não podia ficar o tempo todo comigo.

Jacob deu um beijo demorado em minha testa e se afastou caminhando até a porta enquanto tia Rosalie se se encostava à cama entre Lice e eu – A propósito – Jacob falou parando diante da porta e virou seu corpo olhando para mim – O que a loira disse quando não encontrou, mas pão francês na padaria? Perguntou ele.

Confesso que de inicio não compreendi aquela pergunta, mas  a expressão marmorizada de Tia Rosalie denunciou que era algo para ela, eu ri baixinho.

— Não faço a menor ideia – Respondeu Lice.

Seu olhar se direcionou para mim — E você, sabe pequena?

Neguei com a cabeça rindo.

— Ela se perguntou se teria que ir a França comprar o pão ou pediria entrega por Sedex! Respondeu ele.

Lice e eu gargalhamos juntas, Jacob passou pela porta de forma apressada e por um breve instante previ uma tragédia, mas tia Rosalie se conteve – Como se sente querida? Perguntou ela tocando meu queixo.

— Melhor tia! Respondi.

— Seus pais precisaram se ausentar,  precisa de alguma coisa? Ajuda no banho?

— Sim, eu acho que preciso de um banho! Respondi sorrindo.

— Vou preparar um banho de banheira para você – Respondeu tia Rosalie caminhando para o banheiro, sorri timidamente pegando um  pedaço de bolo e levando a boca, Rosalice se sentou novamente ao meu lado comendo um pedaço do meu bolo.

— Não acha estranho o sumiço dos nossos pais? Murmurou ela.

— Hm... eu sussurrei – devem ter ido caçar Lice.

— Em plena luz do dia? Respondeu ela erguendo as sobrancelhas.

— Sabe o que eu acho? Respondi me levantando da cama – Que você desconfia demais dos nossos pais.

— Tenho meus motivos – Ela se defendeu.

— Sim a desconfiança com Edward – Disse tia Rosalie nos interrompendo – Vamos querida vou ajudar você.

Lice suspirou.

Caminhei com tia Rosalie para o banheiro e me olhei no grande espelho que ficava próximo a porta, lentamente tia Rosalie me ajudou a tirar a tipoia, meu braço estava enrolado com ataduras o que não permitia que eu visse como estava aquele ferimento.

— Você vai ficar bem, apenas fraturou o braço! Disse ria Rosalie prendendo meus cabelos.

— Eu sei que sim – respondi – Mas o Jacob, será que ele se sente culpado por isso?

Tia Rosalie rolou os olhos e em seguida me ajudou a tirar o pijama me apoiei em seu braço e entrei na banheira – Confesso que não gosto daquele cachorro – Disse ela pegando a bucha e passando suavemente em minha costa – Mas eu sei que ele daria a vida por você e por isso eu o tolero.

Sorri timidamente – Obrigada tia Rose, por tolerar o Jake.

— Oh querida – murmurou ela tocando suavemente minha bochecha – Você e sua irmã são como filhas para mim, eu faria qualquer coisa para vê-las feliz.

— Nós também amamos você tia! Respondi alargando meu sorriso.

Tia Rose também sorriu, mesmo que o rosto de minha família de vampiros tivesse uma expressão vazia eu conseguia ver sentimentos refletidos em seus gestos, e era assim com tia Rose, após o banho ela me ajudou a me vestir e como não queria passar o resto do dia do quarto decidi ir para a sala assistir TV.

Mamãe e papai não demoraram a retornar para casa, eu perdia a décima rodada de uno para Lice quando eles passaram de mãos dadas pela porta, ao me ver sentada no sofá da sala mamãe caminhou rapidamente se sentando ao meu lado e passou um dos braços em volta do meu corpo de forma protetora.

— Que alivio ver você bem – disse ela colocando uma mexa de cabelo atrás da minha orelha.

— Eu estou bem – respondi sorrindo – Não precisam se preocupar.

— Fico feliz em ouvir isso filha – Papai respondeu sentando-se do outro lado me deixando entre mamãe e ele – Tivemos medo de perder você, nós amamos você e sua irmã mais que a nós mesmos – completou-o olhando para Rosalice, mas logo seu sorriso se desfez.

O som do carro estacionando nos interrompia , Rosalice caminhou rindo até a porta a abrindo, Jacob estava parado diante da porta e me olhou dando um sorriso.

— Jake! Eu murmurei  enquanto ele entrava e caminhava pela sala vindo ao meu encontro – O enfermeiro chegou! Disse ele com um sorriso largo em seus lábios.

Eu apenas sorri, Jacob e eu estávamos construindo um novo começo, apesar de tudo que havia acontecido eu estava extremamente feliz em ter Jacob como meu amigo.