Tudo o que está em jogo escrita por annaoneannatwo


Capítulo 24
No show




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As luzes coloridas e a música circense tocando em algum lugar dão a tudo um ar quase nostálgico. Ochako se lembra de ter ido a um festival desses uma vez quando era bem criancinha, sua individualidade ainda estava para se manifestar, então ela não podia fazer coisas flutuarem ainda, por isso pôde apoiar tranquilamente as mãozinhas na cabeça do pai, que a carregava nos ombros e lhe permitia poder ver os passantes e as atrações todos de cima. Seu coração se aperta com saudade de seu pai verdadeiro, o daqui do jogo se parece com ele em aparência, mas não tem muito de sua personalidade, é mais sisudo e distante, só se dirige a ela para perguntar da escola. Saudades dele, saudades de sua mãe, saudades da Gravidade Zero.

—  Você está bem? —  a Tsu pergunta, amarrando o avental que compõe seu uniforme e olhando-a.

—  Hum? Ah… sim! 

—  Melhor que esteja mesmo, nós temos muito o que fazer. —  ela acena com a cabeça para Ochako.

—  Sim. Perdão, Asui-san, por ficar viajando.

—  Não precisa se desculpar. Vamos ao trabalho. —  não soa grosso nem ríspido, muito pelo contrário, é o mais afetuoso que essa garota já soou com ela. Interações assim têm sido mais frequentes desde que Ochako passou os 50% da intimidade.

—  Sim, senhora! —  a garota de cabelos verdes dá um meio sorriso.

É meio difícil dizer se a Tsu apenas aprendeu a tolerá-la ou se só não a odeia mais, mas a morena tem certeza de que não dá pra falar que elas são amigas. Ela ainda revira muito os olhos para algumas coisas que Ochako diz ou faz, ainda faz apontamentos gratuitamente grosseiros e… provavelmente ainda acha que a protagonista não se esforça tanto para afastar o Kirishima como deveria, já que não gosta dele. Seja como for, elas estão trabalhando juntas, servindo sorvete para os NPCs, que começam a aumentar cada vez mais.

O palco já está montado, e há um NPC fazendo as vezes de mestre de cerimônia fazendo anúncios no palco e distraindo a plateia, que começa a se aglomerar ao redor de onde a banda da Kyoka —  que se chama Funhouse, ela aprendeu depois de ouvir todos os álbuns do grupo para pelo menos tentar passar como uma amiga minimamente decente —  irá se apresentar.

Por algum motivo, os NPCs aqui presentes têm rostos completos, mesmo que suas fisionomias não variem muito. O NPC que está no palco tem a voz e os trejeitos bastante parecidos com os do Present Mic, além da longa cabeleira loura —  que não está estilizada como a do professor, mas o bigodinho é igual também.

Isso a faz ter certeza que esse evento é muito importante para o enredo do jogo, mais especificamente para a rota da Tsu. Como ficou nas rotas anteriores, Ochako está bem nervosa, mas das outras vezes era pelo medo de receber uma confissão e não saber como aceitá-la, tanto que recusou as duas que vieram do Deku e do Kirishima. Agora é diferente, sua intimidade está um pouco acima da metade, e a Tsu não está apaixonada por ela.

Ela nem precisa dos palpites do Bakugou para imaginar o que acarretaria no bad ending nesse caso: a Tsu vai se declarar para o Kirishima, e ele, não tendo qualquer obrigação de aceitar já quem nem a conhece direito, vai rejeitá-la. Mesmo que isso nem tenha nexo, a garota de cabelos verdes vai culpá-la por ter sido rejeitada, porque é assim mesmo, uma pessoa de coração machucado não raciocina direito, e a Tsu já tem suas inclinações a odiá-la, então a culpa vai recair em Ochako. E esse é o bad ending, que parece muito palpável, e o pior, muito próximo.

Mas mesmo que nem precise da opinião do Bakugou, ela ainda queria que ele estivesse aqui. É estranho como a presença de alguém que está sempre brigando com ela e questionando cada passo que dá nesse jogo faria tanta falta, mas… o Bakugou é a única pessoa de verdade além dela, ele não é um personagem e, por mais chato que possa ser, é com quem ela mais sente identificação e até um certo conforto. Além do mais, a garota tem a impressão de que ele não interage com mains ninguém além dela, salvos alguns momentos em que precisa ser o vilão para que os pretendentes do jogo façam oposição a ele. Imaginá-lo tão sozinho não lhe agrada, mesmo que o loiro jamais diria a ela se isso o incomoda.

—  Se está procurando a Yaoyorozu-san, ela passou e fez tchau, você estava ocupada atendendo alguém, acho que ela não quis atrapalhar.

—  Ah, que bom que ela já tá aqui! —  Ochako sorri —  Oh, tô vendo uma cabeleira vermelha e uma verde bem ali, ó! —  ela se ergue um pouco pra ficar na ponta dos pés, mesmo que os NPCs estejam com características mais nítidas, ainda são bem ordinários em comparação aos pretendentes, —  ou ex-pretendentes? —  que se destacam na multidão com seus cabelos coloridos.

—  Ah sim, eu os vi também. E antes que você pergunte, não, eu não vi o Bakugou. —  o quê? Como ela sabe que Ochako estava pensando nele?

—  Hum?

—  Você deu um ingresso pra ele, não é? —  ela a encara —  Posso perguntar por que você se esforça tanto em se aproximar dele?

—  Eu… eu não me esforço tanto assim. —  Ochako realmente acha que não é nenhum esforço, pra ela é muito natural. Tsuyu segue olhando-a com sua expressão ilegível, o que a deixa nervosa —  Você… eu sei que você acha que ele é um cara ruim e que machucou o Ei-kun, mas ele… isso nunca aconteceu, pode perguntar pro Ei-kun, e o Bakugou-kun não é um cara ruim.

—  Se você diz… —  ela dá de ombros.

—  Só isso? Você não vai me julgar ou me questionar?

—  Por que eu faria isso? Sua vida, suas escolhas. —  novamente, pode soar duro, mas é algo que deixa Ochako extremamente feliz, pensar que tem pleo menos alum personagem que não liga pra ligação dela com o Bakugou e que não a recrimina por suas escolhas a faz se sentir alguém madura e confiável, ou só… uma pessoa com liberdade de tomar suas próprias decisões sem que tenha alguém julgando-a como ingênua.

—  Obrigada por isso, Asui-san.

—  Não sei pelo quê, mas de nada. —  ela lhe olha de um jeito estranho e lhe dá as costas, voltando-se aos potes de sorvete no freezer.

—  Então… eu tava pensando, depois que o show acabar, vai ter fogos de artifício, né? —  Ochako decide retribuir a gentileza involuntária dela —  O sorvete já vai ter acabado, a gente vai poder assistir, então… eu posso chamar o Ei-kun pra ver com a gente daqui, onde vai estar mais calmo e com menos gente, e aí eu posso… sabe, dar uma saída como quem não quer nada.

—  Para me deixar sozinha com ele? —  Ochako acena com a cabeça —  Por que você faria isso?

—  Pra você ter uma chance de se aproximar, de… não sei. —  ela quer dizer “se confessar”, e quase pensa que isso é uma ideia bem burra, afinal, as chances de o Kirishima aceitar são praticamente nulas, seria pavimentar o caminho rumo ao bad ending. Mas Ochako sabe que, se é isso que tem que ocorrer no enredo do jogo, não terá como fugir disso. A confissão vai acontecer, tentar impedir seria pior, o que pode ser feito é… —  Você não vai chegar a lugar nenhum só admirando-o de longe. Se quer algo mais concreto, nem que seja pra tomar um fora, tem que falar com ele.

—  Um fora, hein…

—  N-não que isso vá acontecer mesmo, nunca se sabe. —  mas ela sabe, e a Tsu também, provavelmente —  O que quer que aconteça, pelo menos você não vai ficar se torturando com um “e se eu tivesse tomado coragem?” Vai por mim, isso é bem desgastante. —  Ochako se recorda do tempo que levou pensando no Deku e no que teria acontecido entre eles caso ela tivesse se decidido por se confessar.

—  Acho que você tem razão. Obrigada pelo conselho, Uraraka.

—  Haha, imagina! Tô… tô torcendo por você, viu? Independente do resultado!

Isso, por incrível que pareça, é algo que ela diz de maneira genuína.

 

***

 

—  Foi incrível, Kyoka-chan!  —   outra coisa que ela afirma com convicção, afinal, o show foi realmente incrível. A Funhouse apresentou oito músicas, o que é conhecido como um “pocket show”, e mesmo que tenha sido difícil ver e ouvir com clareza da barraquinha se sorvete onde estava, deu pra sentir toda a energia e presença da banda no palco.

—  Haha, valeu. —   a garota de cabelos roxos agradece, a postura dela parece de alguém muito tranquilo, mas a verdade é que ela está um pouco tímida.

—  AAAAin, Ochako-chaaaaan. —   essa voz… e de repente Ochako é envolvida por um par de seios —  Eu sou a vocalista, por que você não me parabeniza também, hein?

—  Solta ela, Camie. —  é quase um déjà-vu do momento na gravadora —  Ela só veio aqui me cumprimentar, não atrapalha o trabalho dela.

—  Oh, de jeito nenhum! —  a loira lhe solta  —   Só fiquei enciumada, Kyoka-chan… você tem as melhores garotas ao seu redor… —  ela lança um olhar na direção da porta do camarim, por onde a Yaomomo entra.

—  Yaomomo-san, oi!

—  Olá… —  ela corre o olhar da Kyoka para Ochako amistosamente, e então zera na Camie, estreitando os olhos —  O que se passa aqui?

—  Naaaadinha, eu só estava comentando como a guitarrista da nossa banda rouba toda a atenção...

—  E isso não é verdade, na maior parte do tempo, as pessoas acham que o nome do grupo é “Camie e sua turma”.

—  Hahaha, mas eu não estou falando do público em geral, falo da atenção de algumas pessoas… você tem ótimas amigas, Kyoka-chan!

—  Bom, tenho. E daí?

—  Daí que eu acho bonitinho, só isso, ué. —  ela pisca seus belos olhos castanhos numa inocência fingida —  Quando se tem amigas próximas assim, você deve se sentir muito… tomada por carinho por elas, né? Deve até, não sei, te deixar inspirada…

—  Quieta, Camie. —  a Kyoka cora, onde a Camie tá querendo chegar?

—  Nossaaa, quando você fala assim comigo, eu fico toda arrepiada, olha! —  ela mostra seu braço, os pelos não estão realmente arrepiados, mas isso já era de se esperar —  Bom, vou deixar vocês, amigas, conversarem, preciso tirar essa maquiagem da minha linda pele! Tchauzinho, Ochako-chan! —  a garota se afasta dando pulinhos. Já faz muito tempo desde que Ochako viu a garota do Shiketsu, então não se lembra se ela realmente era desse jeito, mas essa atitude e jeito de falar lhe lembram perturbadoramente de outra pessoa: a Toga. 

E pensar que Ochako está quase sentindo falta de um mundo onde pessoas como a vilã existem.

—  Ignorem, ela só fala besteira.

—  Você está um tanto ruborizada, então não acredito que realmente seja “besteira”. —  a Yaomomo observa.

—  Não precisa falar pra gente, se não quiser.

—  Porém, se você quiser, nós te ouviremos. —  a garota de cabelos pretos insiste.

—  Ela só tá me provocando porque… ah, porque… porque essa música nova que a gente lançou aí, eu não fiz só a melodia, fiz a letra também.

—  E qual o problema nisso? É uma bela canção, Kyoka! Estou até… um tanto surpresa por você tê-la composto, é tão… carregada de sentimentos intensos e puros ao mesmo tempo, além da variação de notas-

—  Essa música é sobre você, Momo. —  Oh…

—  Oh… —  a Yaomomo para de falar, sua boca se arredondando num perfeito e perplexo “o”.

—  Eu, hã… tava com você na cabeça quando escrevi. Na verdade, eu… meio que… sempre tô com você na cabeça. 

—  Porque você está sempre pensando em qual comentário maldoso vai fazer para me tirar do sério?

—  Sim. —  quê? Mas peraí, isso não é uma confissão? E se isso é uma confissão, por que Ochako está aqui parada ouvindo isso? —  Porque eu… eu gosto de te irritar, gosto de te… provocar e causar reações em você porque… sei lá, eu acho que você fica fofa quando tá brava.

—  Kyoka, o que… o que é isso? O que você-

—  Eu gosto de você, Momo. —  opa, sim. É uma confissão, então Ochako realmente deveria ir…

—  O que está dizendo? Você… você gosta de mim? É o mínimo que se espera, já que somos amigas.

—  Sim, mas eu não gosto de você só como amiga. Eu gosto gosto de você, entende? —  ela engole saliva —  E tenho a sensação de que… você gosta de mim também.

—  Mas Kyoka, nós… nós somos garotas, nós não podemos-

—  Nós podemos. Quem disse que não? —  talvez o desenvolvedor desse jogo tenha dito —  Eu não sei de onde veio esse negócio que a gente não pode, eu só sei o que sinto, e o que eu sinto por você é… eu… eu gosto de você demais.

—  E-eu… —  a garota de cabelos pretos cora violentamente e olha para todos os lados, inclusive para Ochako que, não sabendo o que dizer que poderia ajudar no momento, apenas sorri e acena com a cabeça, como se dissesse silenciosamente para a Yaomomo que ela também é senhora de suas próprias decisões —  Eu… entendo como você se sente.

—  Entende?

—  Sim, eu entendo já tem algum tempo. —  ela coça a cabeça, meio tímida —  Eu… também gosto de você, Kyoka.

Ahhh isso é tão lindo! Ochako sente seu coração esquentar e até uma certa vontade de chorar de alegria. Mesmo sendo só personagens de jogo, ela não poderia estar mais feliz pelo amor de duas pessoas que se gostam e que podem ser felizes, afinal, elas realmente merecem.

—  Ochako?

—  Hum?

—  Por que tá olhando pra gente assim?

—  A-ah, me desculpem! Eu… eu, hã… acho que não era pra eu ter ouvido nada disso, mas eu… eu só fico muito feliz por vocês, eu vou- é melhor eu ir. —  ela se embola toda em vergonha por se intrometer em um momento tão especial, e chega a esbarrar em um equipamento de som antes de se retirar.

Isso foi… tão legal! É estranho que ela esteja mais contente por essas garotas do que por si mesma e por praticamente qualquer êxito que tenha obtido até aqui com seus pretendentes. É quase como… estar no mundo real e ver pessoas com quem se importa muito conquistando coisas boas, coisas que talvez Ochako queira pra si mesma um dia.

—  Que cara de tonta é essa? —  ela ouve uma voz bastante familiar assim que deixa a parte interna do palco e se encaminha de volta à barraca de sorvete. O Bakugou veio! Ele…

Ochako não tem certeza, mas parece que a calça azul escura e a camisa branca são as do uniforme do colégio Sentaku mesmo, só falta o casaco de botões. Ele não… não tem outra roupa além do uniforme? Será que é isso?

—  Você veio, que legal! —  ela sorri, decidindo não ficar reparando muito para não irritá-lo.

—  Tsk, você não ia me deixar em paz se eu não viesse, ia? —  ele resmunga, e quando vira o rosto, dá pra ver uma sujeirinha de cor azul no rosto dele. É sorvete?

—  Gostou do show?

—  É, foi qualquer coisa. Esse jogo às vezes consegue fazer umas paradas que parecem de verdade.

—  Não é? E você viu os NPCs? Todos têm rosto! 

—  É… —  ele dá uma olhada ao redor —  E tá fazendo o quê aqui ainda? A Cara de Sapo tá lá sozinha.

—  Sério? M-mas eu… —  antes de se retirar para saudar a Kyoka no camarim, Ochako encontrou com o Kirishima e pediu que ele desse uma passada na barraca do sorvete na hora dos fogos de artifício. Logo vai começar, será que ele… nem vai aparecer lá? Mas ele tem que ir! Isso faz parte do enredo do jogo, não? —  Eu pedi pro Kirishima-kun ir até lá ficar com a Tsu-chan…

—  Ué, se ele não gosta dela, por que iria?

—  Sim, mas… Bakugou-kun?

—  Que é?

—  Eu sinto que… eu sinto que tem algo acontecendo nesse jogo, eu sinto que… eu tô fazendo algo pra esse jogo, entende? Como se minhas escolhas não estivessem afetando só o que acontece comigo, mas com o jogo inteiro. Acha que isso é possível?

—  Do que você tá falando?

—  Você me disse que nesse jogo não teria uma garota apaixonada por outra, certo? Mas eu acabei de ver que isso não é verdade. A Kyoka-chan e a Yaomomo-chan acabam de se declarar uma pra outra na minha frente! E eu acho que… fui eu que fiz isso acontecer… acha que isso faz sentido?

—  Fazer não faz, Cara de Lua, mas não é impossível. Tem alguma coisa estranha rolando mesmo.

—  Você também percebe, né? Como se tivesse algo mudando o tempo todo…

—  É, é. Mas esquece isso agora, você não tá pra pegar bad ending com a Garota Sapo? 

—  Sim… acho que sim… não consegui fazer ela se aproximar do Kirishima-kun, minha intimidade nem tá muito alta… pode ser que sim…

—  Tsk, então vai lá e acaba com isso logo. Se esse mundo tá bugando, você vai conseguir jogar essa rota de novo e fazer certo dessa vez.

—  Será? Espero que sim, né? —  ela dá um sorriso triste, não gostando muito da ideia de ter que passar por tudo aquilo de novo com a Tsu, mas entendendo que é um risco que se corre considerando as escolhas que fez.

—  Pois é, vê se fica mais esperta, vai ter que fazer essa merda de novo e continuar usando esse uniforme ridículo. —  ele a olha de cima a baixo.

—  Ridículo? Não é ridículo! É fofinho!  —  ela protesta —  Ridículo… você tá com sorvete na cara e quer vir me falar de ridículo!

—  Eu… quê? —  ele esfrega a mão no rosto, só que na bochecha errada. Ochako nem está brava, muito pelo contrário, até pensa que ele ofender seu vestuário é sua forma de fazê-la relaxar, então não contém a risadinha o vê-lo tentando se limpar —  Tá rindo do quê, sua bochechuda? Eu vou-

Ela se aproxima e passa o dedão na bochecha esquerda dele, removendo a sujeirinha. O Bakugou fica imóvel, não chega nem a piscar enquanto a encara. Ochako se afasta, levando o dedão à boca e sentindo o refrescante sabor do sorvete. Só quando percebe o quanto ele está corando que cora também, dando-se conta do que acabou de fazer.

—  A-ah, eu… eu só tava brincando, Bakugou-kun! Me desculpa, eu não- —  ela começa a balançar as mãos freneticamente, o que parece deixá-lo ainda mais vermelho.

—  Vai se foder, Cara de Lua! Você não… você é doida! Sai daqui logo! —  ele dispara ofensas, mas sem encará-la, e mesmo que tenha ordenado a ela que saísse, é ele quem se retira, ainda resmungando e deixando-a com o coração preso em algum lugar de sua garganta.

Balançando a cabeça, ela decide retomar a seu posto e lidar com as consequências de suas escolhas ruins. É, é melhor focar nisso e não ficar tentando entender porque lhe pareceu tão natural tocar o rosto do Bakugou e porque ela não consegue se acalmar enquanto essa cena se repete em sua mente.

De volta à barraca, ela encontra a Tsu sentada sobre o freezer, chupando um dos picolés que estavam sendo distribuídos nesse evento.

—  O-oi, Asui-san! Espero que não tenha dado muito movimento enquanto eu fui cumprimentar a Kyoka-chan.

—  Não, foi bem tranquilo.

—  Ah, que bom! Talvez depois dos fogos de artifício, as pessoas voltem aqui enquanto se preparam pra ir embora, né?

—  É, acho que sim.

Ochako se senta ao lado dela, meio sem saber o que fazer ou dizer depois que se estabelece um breve silêncio entre elas.

—  Então… o Ei-kun não veio?

—  Veio sim.

—  Sério? E… e aí?

—  E aí nada, ele perguntou se eu precisava de companhia para ver os fogos, eu disse que já tinha, e que ele deveria acompanhar o Midoriya-kun, e foi isso.

—  Ué, mas…? Então você…

—  Eu vi você com o Bakugou agora pouco.

—  A-ah, você… você viu? —  ela não gostaria, mas é impossível não corar —  Ele é… hahaha, ele é tão bobo, né?

—  Não sei, eu realmente não o conheço. —  ela dá de ombros —  Mas eu o vejo de um jeito diferente desde que comecei a vê-lo com você sempre.

—  Eu… eu não diria que ele está comigo “sempre”, ele não-

—  Me deixa falar.

—  Ah, ok.

—  Eu vejo… muitas coisas de um jeito diferente desde que… desde aquele dia na biblioteca. Você… é bem diferente do que eu esperava, e cada dia que a gente conversa mais, eu vou descobrindo mais e mais sobre você e… sobre mim, por conta disso. —  Ochako acena levemente, para mostrar que está escutando e quer que ela continue —  Você… me irrita, Uraraka. —  uau, ok, era melhor não ter continuado.

—  Quê?

—  Você me irrita.  —  e ela repete! —  Porque estar perto de você me faz querer mudar coisas em mim que eu achava que não precisavam mudar, eu achava que podia continuar só vivendo minha vida sem me aproximar das pessoas, que eu podia ficar só fantasiando com o garoto que eu gosto sem ter que fazer nada a respeito, que eu podia só… continuar sendo eu do jeito que eu sou. Aí veio você querendo me dar lição de moral e… insistindo em se aproximar, mesmo comigo te tratando tão mal, você me acolheu no seu grupo de amigos e continua tentando me ajudar, e… —  ela suspira —  Me irrita o quão boa amiga você é pra alguém que não merece.

—  Isso não é verdad-

—  Me deixa falar. —  Ochako se cala de novo —  Você é uma boa amiga, Uraraka, e eu não mereço, mas… vou tentar ser uma boa amiga pra você daqui pra frente. —   Oh… a morena a encara, surpresa —  Fala alguma coisa.

—  E-eu… eu… se você está dizendo que quer ser minha amiga, eu fico muito feliz! Eu… —  ela sorri, realmente não esperando por essa. Cadê o bad ending? —  M-mas… Asui-san, e o Ei-kun?

—  Ah, eu… teve mais uma coisa que eu percebi de diferente, acho que não gosto dele assim, gostava mesmo é da fantasia que eu tinha dele na minha cabeça. Além disso, ele não gosta de mim, nunca vai. E eu… —  ela abaixa o tom e a cabeça, provavelmente para que Ochako não a note corando —  eu… se a pessoa que eu gosto gosta de outro alguém, não posso fazer nada além de torcer pela felicidade dela, mesmo que não seja comigo.

Oh, isso é lindo! Mas… ela sabe que não tem a menor chance de rolar algo entre Ochako e o ruivo, né?

—  Eu… entendo. —  mas a morena prefere não questionar agora, a Tsu está claramente muito envergonhada em se abrir assim, é melhor não fazer nada que a retraia —  Então… amigas? —  ela pergunta cautelosamente.

—  Amigas. —  a Tsu sorri, pela primeira vez, um sorriso doce e bastante visível. Ela nunca esteve tão parecida quanto sua melhor amiga do mundo real.

  Estrondos podem ser ouvidos no céu, e as garotas descem do freezer, dirigindo-se até a frente da barraquinha para ver os fogos de artifício colorindo e iluminando o fim de tarde.

—  Olha que lindo! —  Ochako sorri, admirando-se com o quão reais os fogos se parecem.

—  Sim, lindo mesmo… —  ela não fala gritando, mas quase não dá pra ouvi-la —  Tem certeza que quer ver os fogos aqui?

—  O QUÊ?

—  Os fogos… você não quer vê-los com o Bakugou?

—  QUÊ? NÃO! —  Ochako balança a cabeça —  EU TÔ ONDE QUERO ESTAR!

—  E- eu também! —  ela diz —  Ei… Uraraka?

—  Hum?

—  Posso… posso te chamar de Ochako? E você me chama de Tsu?

—  CLARO! —  Ochako abre seu maior sorriso —  Fico muito contente, Tsu-chan!

—  Eu… eu também.

E com isso, elas seguem assistindo o céu explodir em mil cores. É, com certeza isso não foi um bad ending.


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Notas finais do capítulo

E fechamos mais uma dhjsdjdjsjklk, vamos pro painho pós-fim de rota.
Como comentei uns capítulos atrás, a maioria dos otome games se encaixam em certas demografias e categorizações, então o mais normal é ver jogos com rotas exclusivamente heterossexuais ou exclusivamente homossexuais, bissexualidade é mais raro de se ver, e essas demografias não costumam se misturar.
“Ah, mas Amor Doce…” Amor Doce pode até ter um design meio de anime, mas é um jogo francês que se joga online, não segue a mesma lógica dos otome japoneses mobile ou pra PC.
Entretanto, um ou outro otome talvez apresente uma rota com uma personagem do gênero feminino, só que se tem romance ou não com essa menina, nunca é muito claro, pelo menos não tão explícito quanto o romance com personagens masculinos. Pra rota da Tsu, eu me inspirei na Pashet de Ozmafia e, claro, na Jaehee de Mystic Messenger, em ambas as rotas o objetivo parece ser ajudar a garota/mulher a conquistar um carinha aí, mas elas e suas MCs acabam se aproximando e criando um vínculo que as ajudam a se libertarem e se sentirem mais confiantes consigo mesmas, o romance não fica claro, então tanto pode rolar quanto não pode.
E é isso jdjjsdjks, agora só faltam dois. Nunca imaginei que os últimos acabariam sendo os mais esperados, quer dizer, eu sabia que esses dois seriam os últimos, só não sabia que eram quem vocês mais queriam ver hihihi. E aí? Todoroki ou Monoma agora?
Vamos descobrir só ano que vem hyagdjhhdjs



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