Tudo o que está em jogo escrita por annaoneannatwo


Capítulo 2
Ué, outro prólogo?




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A claridade volta aos poucos conforme Ochako abre os olhos, sua visão ainda está turva e sua cabeça dói, e ela leva uma das mãos à têmpora. O gesto a faz se lembrar das bolinhas de Gravidade Zero nas pontas de seus dedos, ou melhor, no fato de elas não estarem aqui. Sua individualidade sumiu! E tem algo de muito errado com a U.A, porque… não é a U.A. Não é esse prédio, não tem aquelas escadas… as escadas!

Ela caiu nas escadas, não foi? Tinha algo… alguém atrás dela. E… e a estante desmoronou em cima do Bakugou, que estava por cima dela… mas isso foi… isso foi à noite, e agora é de dia, ela está na escola, mas a escola não é a U.A. e… sua cabeça dói.

—  Deixa eu ver ela! —  uma voz masculina familiar grita em algum lugar distante, que na verdade parece bem próximo.

—  Kirishima-san, por favor, não grite na enfermaria! Acalme-se, ela está… —  o enfermeiro, que com certeza não é a Recovery Girl, olha para ela e pisca —  … acordada. — então ele sorri. Esse enfermeiro… parece alguém que ela conhece. Cabelos loiros bagunçados, olhos dourados e uma barbichinha, tem algo faltando… as asas vermelhas… sim, o herói profissional Hawks tem asas vermelhas e…

Hawks?

—  O que-

—  Calma, Uraraka-san, pode deixar que eu te ajudo a se sentar. —  ele se aproxima e, com um sorriso gentil, ajuda-lhe a se erguer —  Você está na escola, caiu nas escadas e desmaiou, se lembra?

—  Cadê a Recovery Girl?

—  Quem? —  ele parece ligeiramente confuso antes de balançar a cabeça e voltar a sorrir —  Você deu sorte! Só vai ficar um galo bem grande por alguns dias, eu examinei e não parece ter nenhuma lesão mais grave, mas vou pedir pra que você fique em observação mais um pouco. Se sentir algum enjoo, me fale.

—  Mas… como o senhor… o senhor não é enfermeiro, Hawks-san.

—  “Hawks-san”? —  ele franze o cenho, aparentemente preocupado —  Não sei o que é isso, mas gostei de como soa! — e sorri de um jeito complacente —  Volte a se deitar, você ainda precisa descansar.

—  Mas… —  ela tem muitas perguntas, porém sua cabeça está realmente pesada, e não ajuda que há batidas incessantes na porta da enfermaria, Ochako só ouve um suspiro do… hã… enfermeiro Hawks, e no segundo seguinte, tem um par de olhos vermelhos brilhantes encarando-a de perto.

—  O-chan! O-chan, você tá bem? Consegue me ouvir? Quantos dedos tem aqui? —  essa voz…

—  Kirishima-kun? —  é ele, mas está diferente, o uniforme… de onde veio essa camisa preta e essa gravata azul?

—  O que aconteceu com ela? Por que ela tá me chamando assim? —  ele se vira para o Hawks.

—  Como eu expliquei, ela desmaiou e ainda está um pouco tonta, acalme-se.

—  M-mas… mas ela perdeu a memória?! O-chan, sou eu, o Ei-kun! A gente é vizinho, lembra?

—  Kirishima-kun, do que você-

—  Por que ela tá me chamando pelo sobrenome? ELA PERDEU A MEMÓRIA! Aargh, cara, eu sabia que devia ter esperado um pouco mais, aí a gente vinha junto pra escola, mas agora… AH, MANO!

—  Kirishima-san, fique calmo, ninguém perdeu a memória! Eu acho…

—  VOCÊ ACHA?

—  É brincadeira! Brincadeira! Está tudo bem, ela só deve estar confusa, eu já fiz os exames e não vi necessidade de encaminhá-la para um hospital. Ela só bateu a testa, foi bom também que seu colega tenha a trazido rápido até aqui.

—  Colega… Bakugou-kun? —  é o primeiro nome que lhe vem à cabeça. A estante caiu em cima dele, por que o loiro não está na enfermaria também? Mesmo que seja nessa enfermaria estranha com um enfermeiro que com certeza não é um enfermeiro?

—  O q- Bakugou? Aquele desgraçado encostou em você? — o Kirishima ergue um punho, como se estivesse com muita raiva —  Ele vai se ver comi-

—  É, é, ok, Senhor Defensor de Donzelas, você já causou tumulto demais. Te deixei ver sua amiga um pouco, agora você pode ir pra aula. Está tudo bem, como você pode ver.

—  Mas não tá, ela tá desmemoriada!

—  Então, se ela está, não vai se lembrar de estar desmemoriada, e não queremos alarmá-la, não é? —  ele coloca as mãos nos ombros do Kirishima e começa a empurrá-lo em direção à saída.

—  O-chan, assim que você for liberada, me manda mensagem e eu venho te bus- —  e a porta é fechada mais uma vez.

—  Ai ai, adolescentes apaixonados… —  o Hawks suspira — Não se preocupe, Uraraka-san, só descanse, venho checar para ver se não está com febre daqui a pouco.

—  Haw… hã… sensei?

—  Sim?

—  Foi o Bakugou-kun que me trouxe aqui? Ele estava bem?

—  Bom, considerando que o Bakugou-san quase nunca vem às aulas, seria um pouco difícil ter sido ele. —  o enfermeiro dá uma risada, mas para assim que percebe que ela não está rindo junto — Foi o Monoma-san, ele te encontrou caída nas escadas e te trouxe até aqui.

—  Oh… —  o Monoma da Turma B… Ochako se lembra de ter interagido poucas vezes com ele e não ter tido a melhor impressão em nenhuma delas, mas… em todo caso, ele é um estudante do curso de heróis, sabe que deve vir em socorro de quem precisa, que bom que ele a ajudou a tempo. Ela terá que agradecê-lo depois.

“Depois” sendo assim que descobrir o que diabos tá acontecendo aqui.

 

***

 

—  Tem certeza que você consegue andar? Eu posso te carregar, se você quiser. —  o Kirishima oferece assim que eles deixam a enfermaria e avançam pelo corredor.

—  N-não, tá tudo bem, Kirishima-kun, obrigada. —  ela sorri para tranquilizá-lo, mas pela cara dele, surte o efeito contrário.

—  Se você continuar me chamando assim, eu vou achar que você tá brava comigo. —  ele faz bico — Por favor, volta a me chamar de “Ei-kun”. — Ochako não está desmemoriada, mas não se lembra de algum dia tê-lo chamado com tanta intimidade. Eles são amigos, aproximaram-se bastante durante a missão de resgate da Eri, mas nunca tiveram esse nível de proximidade, isso tá estranho.

Tá tudo muito estranho, porque essa escola com certeza não é a U.A., seu uniforme de marinheiro e o prédio completamente diferente já eram um grande indicativo, mas ela estava preocupada demais em correr e ser perseguida pelas escadas. Agora observando melhor, as pessoas aqui estão diferentes, são todos muito… iguais. Cadê os estudantes com chifres, caudas, partes do corpo de tamanhos diferentes, cores de pele diversas? 

—  Ok… hã, ok, Ei-kun… —  nossa, como soa estranho —  Eu… como se chama essa escola?

—  Hã? —  ele a olha, preocupado —  O-chan, você não está mesmo lembrando?

—  Eu só tô um pouco perdida, não é nada muito sério, mas eu… —  o tom dela vai diminuindo conforme o Kirishima se aproxima. Dá pra ver que ele está consternado, mas ainda não entende porque ele está tão perto, e quando o ruivo ergue os dedos e leva até a testa dela, Ochako prende a respiração, o que ele tá fazendo?

—  Você tá no segundo ano do ensino médio da Sentaku Academy. Você é da turma B. Eu sou Kirishima Eijirou, tô na turma C, você mora na casa em frente à minha, e a gente namora há três meses. —  ele toca a têmpora dela suavemente. 

—  O QUÊ? —  ela se sobressalta, sentindo seu rosto queimar de vergonha ao se afastar. A jovem fica ainda mais confusa quando o ruivo começa a rir.

— O-chan, você precisa ver sua cara! —  ele limpa os cantos dos olhos enquanto gargalha, deixando-a sem entender nada —  Eu só tô brincando, ô! Quer dizer, só a parte do namoro é brincadeira, o resto é verdade. —  o ruivo vai se acalmando aos poucos — Agora não sei se fico preocupado por você ter acreditado, já que parece que você tá mesmo sem memória, ou se fico feliz… —  e sorri enquanto a olha afetuosamente.

Ela se sente corar, sabe-se lá porquê. Primeiro que o Kirishima nunca foi disso, ele é simpático e brincalhão, mas não faria gracinhas assim. Segundo que ele não é nem nunca foi vizinho dela, isso sequer faz sentido. Terceiro que… Sentaku Academy? Onde fica isso e como ela veio parar aqui?

O ruivo a acompanha até a sala de aula e se despede logo depois. Ochako se senta no lugar que acredita ser o seu e mal presta atenção na aula —  embora não pareça ter algo para ela realmente prestar atenção, o professor está falando há vinte minutos, mas nada tem muita coerência, como se ele só estivesse falando para ocupar o tempo —  tentando recapitular os fatos. Algo aconteceu e aparentemente ela está numa realidade paralela, ela se lembra do professor All Might comentando casualmente sobre as individualidades mais inusitadas com as quais já se deparou, e uma delas era de um rapaz que conseguia “saltar” para outros lugares, depois foi descoberto que ele podia ir para outros “mundos”, então não seria impossível ela ter sido atingida por uma individualidade assim e ter vindo parar em outra realidade na qual o herói número 2 Hawks é um enfermeiro de uma escola chamada Sentaku, o “quando” isso aconteceu também não é nenhum mistério: foi no momento em que ela e o Bakugou estavam brigando. A grande questão, então, é como sair daqui. Também ajudaria se o loiro encrenqueiro aparecesse, mas ela não conseguiu avistá-lo pelos corredores, e há uma carteira vazia nessa sala, não seria surpresa se pertencesse a ele..

Porém, há outro loiro que está nessa sala e com quem ela precisa falar, ele se senta algumas carteiras atrás dela. Assim que a aula acaba, a jovem se lembra de que precisa agradecer ao Monoma por tê-la levado à enfermaria, então faz um sinal para que ele a espere antes de se retirar da sala. O rapaz cruza os braços e sorri levemente.

— Ei, Monoma-kun, eu só queria agradecer por você ter me levado à enfermaria. Desculpe por qualquer incômodo, eu não sei o que aconteceu, —  ela estava sendo perseguida, mas não vê porque falar isso pra ele — mas se está tudo bem, é graças a você, então… obrigada. — Ochako se curva diante dele, mas é impedida de fazer o gesto completo, pois o loiro apoia o dedo indicador na testa dela e a faz se erguer novamente.

—  Me escute bem: só te ajudei porque não quero problemas para mim, não pegaria bem eu deixar alguém caído na escadaria e negar socorro, mesmo que esse alguém seja uma desmiolada que não consegue nem subir escadas ou chegar ao colégio na hora. Eu não fiz por você, então não vá tendo ideias erradas.

—  Quê? —  Ochako sente uma forte onda de irritação lhe subir pelo estômago, o sorriso debochado dele lhe incomoda, por alguma razão.

—  A batida na cabeça afetou sua audição? Foi o que eu disse. —  ele a olha como se estivesse esperando uma reação.

—  Bom, não importa porque você fez, o que importa é que fez. Obrigada de novo. Até mais. —  então ela decide negar-lhe uma, curvando-se rapidamente e virando-se para retirar. Parece que o Monoma desse mundo é tão esnobe e infantil quanto o que ela conhece originalmente.

—  Ei, e-espera. —  o loiro pede, e, ao se virar, Ochako arregala os olhos ao notar que ele está… corando —  Você… você está bem? Sua cabeça, quero dizer.

—  Sim, tá tudo bem. —  ela diz secamente.

—  Certo. N-não é como se eu me preocupasse nem nada, só estou checando.

—  Hã… tá bom.

—  Eu realmente não me preocupo, nem me importo, na verdade.

— Ok, Monoma-kun, já entendi.

—  Hum, é bom mesmo! —  ele retruca, empurrando-a levemente quando passa por ela para sair da sala, as pontas das orelhas dele estão muito vermelhas, chegaria a ser fofo se a cena de agora pouco não tivesse sido ridícula.

Retirando-se da sala, Ochako continua a olhar ao redor em busca de uma cabeleira loira espetada, mas não obtém sucesso. Ela quer perguntar se alguém o viu, porém não conhece nenhum desses rostos que passam pelos corredores, além disso… o enfermeiro Hawks disse que ele não vem muito à escola, mas como assim? Tirando a época em que ficou em prisão domiciliar no primeiro ano, ela não se lembra de um só dia em que o loiro explosivo tenha faltado, então é no mínimo estranho que o Bakugou desse mundo seria um estudante relapso. Ainda mais por ele não pertencer a esse mundo. E o que foi o Kirishima chamando-o de desgraçado? Mais uma coisa para perguntar, então seria muito bom se o Bakugou aparecesse.

—  Uraraka-senpai? —  ela se vira no susto ao ouvir uma voz atrás de si, uma voz muito familiar. Ao se virar, dá de cara com o Deku.

—  Ei, Deku-kun! —  Ochako sorri, notando como o rosto dele vai escurecendo em tons de vermelho, ele tenta disfarçar com o caderno que tem em mãos e falha miseravelmente.

—  P-por que… por que “Deku”?

—  Hã? —  ela fica confusa, mas então se lembra de que esse não é “o” Deku —  Ah… é porque soa como “Você consegue!” Achei que… acho que combina com você. —  engraçado como isso saiu de maneira tão natural quando Ochako disse a ele há mais de um ano, e agora a faz ficar sem jeito. Mais ainda quando os olhos dele parecem brilhar enquanto se fixam intensamente nela —  Hã… De- Midoriya-kun?

—  EU GOSTO! —  ele grita.

—  O… o quê?

—  De “Deku”! Eu gosto muito! P-por favor, senpai, pode me chamar assim quando você quiser. —  Oh, ela é “senpai” dele? Isso é… estranho demais — Eu gosto se você me chamar assim. — mais estranho ainda é seu coração falhando uma batida ao ouvir o tom dele se abaixar e ficar mais grave.

—  O-ok, então vou te chamar assim. Você… você precisava de alguma coisa, D-Deku-kun?

—  Ah, sim! Primeiro, eu só queria saber se você está bem, soube que teve um acidente nas escadas…

—  Sim, está tudo bem. Só vou ficar com um galo por alguns dias.

—  Ah, entendo! Que bom que não foi nada grave! Sendo assim, eu… queria te pedir um favor.

—  Oh, claro!

—  Você é do clube de teatro, né? —  ela é? Ochako não sabe, mas faz que sim com a cabeça —  Pode entregar esse formulário para o Todoroki-senpai? Nós precisamos que os presidentes dos clubes informem o que planejam fazer para o Festival Cultural, e só falta o dele. É só entregar, se ele tiver alguma dúvida, pode me procurar amanhã no Conselho Estudantil.

—  Ah, ok. —  ela pega o papel, meio confusa e perdida na ideia do Todoroki ser o presidente de um clube, ainda mais um de teatro! E ela está nesse clube também? Não parece algo que nenhum dos dois faria em seu mundo original, mas… espera —  Deku-kun, você tá no Conselho Estudantil?!

—  Hã… sim, eu sou o tesoureiro… você disse que votou em mim… —  ele murmura, quase fazendo biquinho, que… que fofo!

—  S-sim! Desculpa, acho que tô meio perdida por causa do que rolou mais cedo. Enfim, Deku-kun, vou fazer o que você pediu, pode ficar tranquilo! 

—  O-ok… Uraraka-senpai?

—  Sim?

—  O que aconteceu com você… foi um acidente mesmo? Não tinha mais ninguém na escada?

—  O quê? —  ela gela, por algum motivo —  S-sim, eu só tropecei.

—  Que bom. Se alguém tivesse te machucado, eu não conseguiria deixar passar… —  o tom dele tem algo mais grave e determinado, por um momento, parece o Deku que ela conhece quando está prestes a entrar em modo batalha, só faltam as luzes de estática verde de sua individualidade que o envolvem —  ...qualquer coisa que precisar, senpai, qualquer coisa mesmo, é só falar comigo.

—  O-ok… —  e isso a faz corar, sabe-se lá porquê.

 

***

Ochako ouve grunhidos pesados quando se aproxima da sala que parece ser a do clube de teatro —  ou pelo menos é o que a placa na porta diz. A verdade é que ela não teve problema nenhum para achar o local, é como se soubesse para onde tinha que se dirigir, se ela demorou, é porque estava de olho pelos corredores para encontrar o Bakugou, mas mais uma vez, foi sem sucesso. 

Mas ela não vai desistir, vai dar um jeito de descobrir onde ele moraria nessa realidade, e irá atrás dele. O loiro melhorou muito em comparação ao que era no primeiro ano, mas ainda consegue ser desagradável quando realmente se esforça para tal, prova disso é a palhaçada que ele aprontou e os colocou nessa situação sem sentido. Porém, de toda forma, Ochako sabe que o Bakugou é inteligente, onde quer que esteja, já deve estar pensando em como sair daqui. Ele pode ser muitas coisas, mas não é alguém que não conserta os próprios erros, mesmo que finja que nunca havia errado, pra início de conversa, e…

… e o Todoroki está sem camisa. Qualquer linha de pensamento que estava seguindo se rompe no segundo em que ela adentra a sala do Clube de Teatro e seus olhos pousam no dorso desnudo e musculoso dele. Ele é… ele está… 

—  O que está olhando? —  ele quebra o silêncio.

—  N-nada, eu só… —  quando o rapaz fica de frente para ela, é ainda mais difícil desviar o olhar — eu… hã…

—  Você está no clube de teatro e se constrange em ver um ator sem roupa? O que fará se tiver que contracenar com um?

—  E-eu sou… eu sou atriz?

—  Boa pergunta, também não parece uma para mim. —  ele dá de ombros, pegando a camiseta e vestindo-a, a respiração dele ainda parece acelerada, como se ele tivesse acabado de correr uma maratona —  Então…?

—  Oh, hã… pediram pra eu te entregar isso! É o formulário de atividade para o Festival Cultural. —  ela estende o papel — O De- hã… Midoriya-kun pediu para eu te entregar e, caso você tenha alguma dúvida, é só procurá-lo.

—  Certo, deixe o papel aí e pode ir. —  ela franze o cenho. Ochako está acostumada com a grosseria involuntária do híbrido, mas esse Todoroki parece ser propositalmente rude, que desnecessário! Sem contar que… —  ...o que foi? Já disse que pode ir e… — ele arregala os olhos levemente quando Ochako leva uma mão à testa dele, sem pensar.

—  Você tá com febre.

—  O quê?

—  Seus olhos tão vidrados, você tá quente, Todoroki-kun, isso é febre. Deveria ir até a enfermaria.

Ele parece espantado, também dá para notá-lo corando, mas deve ser por conta da febre. Ochako o observa atentamente, mas não consegue deixar de soltar um pequeno gritinho de susto ao senti-lo envolvendo seu pulso com a mão, que também está bem quente, é como se ele tivesse sua individualidade, mas parece que não, ninguém aqui tem uma, ao que tudo indica.

Ou talvez ele tenha uma de hipnose ou algo do tipo, pois é difícil desviar o olhar quando o Todoroki se aproxima, empurrando-a em direção à parede. Ochako sente o corpo estremecer enquanto tem seus olhos cravados nos dele, e quando sente a respiração do rapaz fazer cócegas em seu rosto, ela vira a cara e fecha os olhos.

—  Não se meta onde não foi chamada. —  é só o que ele diz, soltando seu braço e se afastando —  E trate seu senpai com mais respeito.

—  M-mas…

—  E não conte isso para ninguém, ouviu? —  ele tem um tom severo que a deixa emudecida. Ochako nunca viu o Todoroki assim, os olhos heterocromáticos parecem faiscar em raiva e… frustração?

Ela se retira, não porque ele pede, mas porque está realmente assustada com o que acabou de ver. Esse Todoroki… parece muito o que ela conhece, mas ao mesmo tempo não, e se já estava sentindo isso antes, agora tem certeza: tem algo de muito sinistro nisso tudo. Os corredores dessa escola transmitem uma aura intensa, porém… vazia agora que não tem ninguém por perto. Quando as aulas sem conteúdo nenhum terminam, Ochako deixa a escola com uma sensação angustiante lhe consumindo, o mais assustador é o quanto está sozinha, por mais que tenha encontrado seus amigos —  ou versões parecidas deles — ela se sente extremamente solitária, foi um dia todo sem ouvir as risadas da Mina e da Hagakure, sem os comentários ácidos da Jirou e os conselhos da Yaomomo, mas principalmente… sem as palavras de conforto da…

—  Tsu-chan? — a jovem avista um cabelo verde comprido inconfundível ao deixar o prédio da escola e virar a esquina —  Tsu-chan! — ela corre até a amiga, abraçando-a quando ela se vira para ver quem lhe chama — Tsu-chan, eu tô tão feliz de te ver, que bom que você está aqui também! Bom, mais ou menos, mas eu…

—  Uraraka-san? —  ela se assusta com a voz da amiga chamando-lhe de um jeito tão formal, e a solta do abraço, notando que a garota não a abraçou de volta —  O que está fazendo?

—  E-eu só… desculpa, eu só fiquei feliz em te ver.

—  Por que está conversando comigo? 

—  O quê? Porque nós… nós somos amigas. —  a Tsu mantém uma expressão fria e imutável, indicando que isso não é verdade.

—  Por favor, não converse comigo a não ser que eu fale com você primeiro, e pode ter certeza que eu só farei isso se for realmente necessário.

—  Mas, Tsu-chan, por quê? Eu fiz alguma coisa pra voc-

—  É Asui, por favor. —  ela joga os cabelos por cima do ombro e se afasta, deixando-a completamente embasbacada na calçada.

Ochako segue o rumo de sua casa nessa realidade estranha e cruel a passos arrastados e desanimados. Ela estava levando isso numa boa, mas só agora parece entender que tá tudo muito errado com esse lugar, com ela nesse lugar. A jovem sente falta de sua individualidade, dos dormitórios e de seus verdadeiros amigos, sua melhor amiga, principalmente.

—  Tá chorando por quê, Cara de Lua? —  a voz rascante dele surge de cima, e é ao olhar para uma das árvores que Ochako vê quem esteve procurando o dia todo.

—  Isso é tudo culpa sua! —  ela nem se dá ao trabalho de cumprimentá-lo —  O que aconteceu naquela noite?

—  Tsk, não é óbvio? A gente foi sugado pra essa merda de lugar quando a estante caiu na gente porque você resolveu arranjar briga!

—  Só porque você começou! —  ela revida, irritada, mas respira fundo e tenta se acalmar —  Não… a gente não pode brigar agora. Onde você tava? Eu te procurei o dia todo!

—  Tsk, eu tava descobrindo onde diabos a gente tá! E adivinha? —  ele joga um objeto retangular em sua direção, que cai no chão. Ela pega e descobre que se trata de uma capa de jogo… “Pretty Guys Gakuen”? —  É sim culpa sua! — o Bakugou salta da árvore e para em frente à ela — Não sei como essa porra de jogo fez isso, mas a gente tá preso nele!

—  O quê? —  ela o encara, intrigada e irritada.

—  Você passou o dia inteiro naquela porra de escola e não percebeu que é igual a dessa porra?

—  Bakugou-kun, eu não sei do que você tá falando, eu só… —  ela segura a capa do jogo, e isso a faz olhar com atenção: uma garota com uniforme de marinheiro está no centro da imagem, cercada por quatro rapazes e uma outra garota. Ao fundo, se vê o prédio da escola, onde dá para ler com letras bem embaçadas o nome do colégio: Sentaku Academy.

E já seria loucura só de recapitular tudo que houve com ela no dia, a começar por ela  correndo pela rua com uma torrada na boca e chegando no incidente nas escadas, nas quais ela tem certeza que  estava sendo seguida e desmaiou, exatamente como aconteceu com a protagonista no prólogo do jogo…

E foi assim que Uraraka Ochako se deu conta de que ela e o Bakugou foram transportados para um mundo de um otome game.


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Notas finais do capítulo

Caso você esteja se perguntando: não, o Hawks não é um dos personagens namoráveis, pelamor de Deus. Ele só está aqui porque, caso não seja de seu conhecimento, eu sou cadelinha dele e agarro toda e qualquer oportunidade que tenho para demonstrar meu amor (sim, chamaremos de amor)

E aí, já escolheu seu favorito? Espero que tenha curtido! Próxima att no domingo que vem! 



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