Os Problemas de Akazawa Jundō escrita por PaulinhaHanekawa


Capítulo 2
Vol.1 Aliens Problemáticos (Parte 1)




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Capítulo 1

Aliens Problemáticos

A vida de Akazawa Jundō era fácil. Apesar de ser de uma família humilde havia conseguido uma bolsa em uma das melhores escolas de todo o país graças ao seu histórico exemplar e diligência nos estudos. Os dois últimos anos da sua vida foram uns dos melhores possíveis. Apesar de sofrer um pouco de preconceito por não ser de uma família de elite, o garoto resolvia isso ao seu estilo: com ameaças e intimidação. E assim, é desnecessário dizer que ele era forte o suficiente para que ninguém se interessasse em arranjar uma briga.

Era óbvio, definitivamente não era do interesse de Akazawa se transformar em uma espécie de delinquente juvenil ou gangster, tudo que ele desejava era viver uma vida comum e pacífica sem que ninguém o perturbasse. Porém, para a sua infelicidade, aqueles dias pacíficos estavam prestes a acabar e sua vida se transformaria em um grande mar de problemas com o encontro que estava prestes a vir.

Era primeiro de abril, uma segunda-feira. O jovem garoto estava retornando do primeiro dia em seu último ano letivo do ensino médio, o terceiro ano. Naquele ano, ele teria uma grande pressão, afinal, ele iria para uma universidade ou não? Os exames de vestibular como sempre eram muito complicados e ele teria que estudar bastante, apesar de sua capacidade intelectual acima da média.

Com esses pensamentos em mente, Akazawa decidiu fazer um desvio e ir até um parque para que pudesse relaxar um pouco antes de retornar para sua casa, que não estava muito longe do local. Com uma lata de coca-cola na mão, que havia comprado em uma das máquinas de bebida que haviam no caminho, ele decidiu explorar o parque. Não era de seu costume passear por paisagens mais naturais, considerando que era residente de uma grande cidade. Para ele, era impressionante que houvesse um lugar com tantas árvores e mato tão perto, já que tudo o que via eram prédios e lojas. Era notável que o cheiro também era muito diferente, possuindo um odor mais limpo. Passando pelas flores, o aroma era bastante perfumado e agradável, o que de certa forma criava um certo sentimento de relaxamento em sua mente.

Mas as verdadeiras estrelas daquele lugar eram as cerejeiras que estavam justamente na sua época de florescer já que a estação era a primavera. Haviam muitas dessas grandes árvores floridas conforme ele passava enquanto o vento lançava algumas pétalas rosadas em direção ao garoto. Seguindo a direção da qual a ventania forte o atingia, Akazawa observou de longe uma enorme cerejeira, que parecia bem maior que as outras que ele havia visto enquanto passeava nas áreas onde haviam mais pessoas sentadas no chão realizando seus piqueniques.

Por alguma razão misteriosa que pode ser explicada como poder do roteiro, uma planta tão chamativa estava em um lugar bastante isolado no parque e escondida por uma grande camada de árvores. Embaixo da cerejeira, que parecia cada vez mais próxima conforme o estudante se aproximava, haviam apenas duas pessoas. Uma delas era uma mulher que possuía longos cabelos loiros e pele clara. Akazawa notava que sua roupa era bem esquisita e podia ter saído diretamente de uma convenção de cosplay considerando que se tratava de um traje espacial completo com um colan destacado pela cor azul e o resto da cobertura com a cor cinza. Essa roupa era bastante colada, será que a garota não se sentia desconfortável com aquilo? Havia também um homem careca, bem alto e com uma quantidade de músculos razoável no seu braço, apesar de aparentemente ter esquecido o treino de perna. Ele andou até a mulher e balançou sua mão na frente de sua cabeça, como se estivesse tentando confirmar sua consciência. Ao que parece ela não se moveu, demonstrando estar inconsciente.

O homem então teve a melhor ideia possível e apalpou os seios da mulher que estava inconsciente. Porém, ele aparentemente não era uma pessoa que prestava atenção ao seu redor, pois não percebeu que Akazawa o testemunhou praticando violência sexual contra uma mulher adormecida. O garoto se irritou completamente com a situação, para ele era imperdoável que se aproveitassem de uma pessoa inconsciente de suas ações. Logo, o repreendeu gritando com um tom ameaçador:

— O que diabos você está fazendo com essa garota? Você por acaso é um doente?

O homem em questão realmente ficou assustado por ter o azar de decidir cometer um crime sexual bem no dia em que o protagonista da história estava passeando pelo local. Era óbvio que ele não sairia impune dessa situação. Então decidiu tentar fugir, aceitando ser nocauteado pelo que chamamos em RPG de “ataque de oportunidade”. Akazawa, que definitivamente não era uma pessoa que lutava limpo, perseguiu o homem atingindo-o com um soco bem forte em suas costas que talvez pudesse ter quebrado alguma costela, algo que não era muito importante para um figurante sem nome. Após isso, ele se questionou por um momento ao tomar seu celular em mãos:

— Bom, agora eu ligo para a polícia ou para a ambulância? Essa garota não parece nada bem, mas se ela não está sangrando não deve estar morrendo, certo? Mas será que eu posso acusar esse cara de alguma coisa sem nenhuma testemunha? É uma boa pergunta, eu não tenho relação alguma com essa garota e ela não faz ideia do que acabou de acontecer. Se eu chamar a polícia talvez o caso possa se virar contra mim já que sou a única pessoa consciente no momento. Droga! No final eu fui burro em bater nesse homem, deixar ele acordado seria melhor para que eu pudesse acusá-lo depois...

Enquanto ele proferia seus lamentos não percebeu que a garota que acabara de ser assediada já havia acordado e estava cutucando-o gentilmente com seu dedo indicador. Ela pareceu um pouco confusa em relação ao que havia acabado de acontecer e então disse com sua voz bastante aguda e suave:

— Ei, senhor... você pode me responder? Eu já estou na Terra? Em que país eu estou? Aqui existem muitas árvores, eu estou em uma área selvagem? Por acaso você é um caçador de monstros?

"Enquanto ele proferia seus lamentos não percebeu que a garota que acabara de ser assediada já havia acordado e estava cutucando-o gentilmente com seu dedo indicador. "

O garoto se assustou por um momento com uma voz o atrapalhando enquanto ele estava indo muito fundo em seus pensamentos, mas logo virou para trás para observar a garota que antes não havia prestado muita atenção. Notou principalmente seus olhos que não tinha conseguido observar anteriormente pelo fato de eles estarem fechados. Eram olhos azuis e um pouco grandes, coisa que Akazawa pessoalmente achava fofo, principalmente combinado com o rosto já bastante delicado da loira. Sendo um homem não muito comportado, o estudante olhou indiscretamente para o corpo da garota percebendo que seus dotes físicos eram bem agradáveis para sua estética. A garota, percebendo que ele estava olhando calado para ela pelo tempo considerável de 1 minuto, decidiu interromper seus pensamentos para questioná-lo:

— Senhor? Para onde está olhando? Pode responder minha pergunta? Olá? — Ela disse em inglês perfeito e então balançou suas mãos na frente do rosto de Akazawa.

 — Eu não falo ingreis! — Ele disse, com seu inglês extremamente precário.

— Oh... japonês então? — Aparentemente ela também conseguia falar japonês.

— Ei! Se você sabia falar japonês por que não disse logo? Não é óbvio que estamos no Japão? É só olhar para mim!

— Pelo que eu sei, humanos como você existem em pelo menos mais 4 países. Isso, é claro, sem contar a possibilidade de você ser um imigrante em outro país.

— Então você é bem conhecida do assunto. De qualquer maneira! O que diabos uma garota como você estava fazendo dormindo no chão desse jeito? Pessoas mal-intencionadas como aquele cara podem se aproveitar da situação, é perigoso demais!

— Então aquele homem estava fazendo coisas maldosas comigo e você me protegeu? — Seu tom era de dúvida e ela não parecia nem um pouco assustada com a situação.

— Sim! É exatamente o que eu estou dizendo! Se não fosse por mim, você estaria perdida! O que há com você, hein? — Ele estava irritado do quão pouco importada ela estava com a própria vida.

— Então parece que eu te devo minha vida... de agora em diante te servirei! Me dê qualquer ordem que desejar mestre! — Após dizer isso ela se curvou perante a Akazawa, em um tom solícito.

— Mas o quê? Por que diabos você faria isso? Você não deveria fazer brincadeiras após ter sido atacada!

— Por favor, aceite minha servidão! Para a nossa raça é vergonhoso estar em débito com alguém, principalmente quando se trata da nossa vida. Nós mercurianos não aceitamos que alguém nos salve dessa maneira e não seja devidamente retribuído. — Ela pedia ainda mais encarecidamente.

— Mercuriana? Isso não é possível! Sua face é tão humana. Já te disse para parar de brincadeiras!

A surpresa de Akazawa era justificada. Mercúrianos são uma raça guerreira que habita o planeta de Mercúrio. Apesar de terem corpos humanoides e um pouco mais fortes, era fato que seus rostos pareciam bem pouco com o de um humano. Isso dava de notar pelos olhos, os olhos de um mercúriano não possuíam íris, apenas esclera e pupila, mas aquela garota tinha uma face bastante humana para fazer parte daquela raça.

— Ah, entendo. Eu realmente não pareço uma mercuriana, não é? Mas eu tenho prova da minha descendência, observe. — Ela dizia isso e então começava a retirar suas luvas, mostrando para Akazawa suas mãos.

As mãos da garota possuíam uma peculiaridade: havia uma espécie de disco metálico implementado nelas, este era tridimensional, de coloração azul e possuía uma espécie de buraco negro com ramos que pareciam os de uma caixa de som. Se tratava do Dispositivo Biológico Mercúriano. As raças alienígenas costumam possuir alguma espécie de habilidade devido a seu nascimento diferente dos humanos. Em mercurianos, essa habilidade era representada por esse disco, capaz de produzir ondas sonoras.

— Eu sou uma híbrida, meu pai é mercuriano e minha mãe é venusiana. Por isso eu cresci em Mercúrio e fui ensinada a seguir esse código de conduta. — explicou a garota.

— Certo, certo. Deixa eu ver se eu entendi, você vai fazer qualquer coisa que eu mandar como retribuição por salvar minha vida, correto? — questionou Akazawa.

— Sim! Isso! — Ela respondeu.

— Então parece que tudo que eu precisei foi andar por aí para encontrar uma garota alienígena muito bonita querendo me servir? Tenho certeza que já vi isso em algum lugar antes. Será que eu sou alguma espécie de protagonista de harém? — Ele pensou. — O que você sabe fazer? — perguntou Akazawa, disposto a ter alguém para ajudá-lo nas tarefas diárias.

— Eu sei lutar muito bem! Comigo por perto você nunca vai precisar se preocupar com caras como esse! — Ela disse, apontando para o homem deitado no chão.

— Eu não preciso de uma lutadora... por acaso você sabe passar roupa? Lavar roupa? Limpar uma casa? Tirar pó de prateleiras?

— Desculpe... eu não sei fazer nada disso. Eu nunca precisei fazer algo assim antes. Mas, eu posso aprender tudo que você me mandar fazer!

— Sinceramente, se você nunca fez nenhum serviço doméstico antes, te ensinar daria mais trabalho do que fazer por mim mesmo. Nesse caso, acho que não vou precisar de você para nada, então... até mais! — disse Akazawa, indo embora daquele local com um aceno de “adeus”.

— Espere! Eu serei uma vergonha para toda a minha raça se não puder pagar minha dívida! Por favor, me mande fazer qualquer coisa! — Ela disse e então começou a seguir o garoto.

— Mas eu já disse que não há nada que você possa fazer por mim, vá procurar seus pais!

— Meu pai nunca me perdoaria se soubesse que eu não cumpri uma dívida de vida ou morte! Por favor, me transforme em sua serva! — Ela insistia de uma maneira incrível.

— Essa garota realmente é irritante, vou dar uma ordem que ela nunca vai ter coragem de cumprir para ver se ela para de encher meu saco. — Esses eram os pensamentos de Akazawa. — Ah, é mesmo? Então já que você é minha serva eu vou te dar uma ordem e você deve ter a certeza de cumprir! Eu vou levar você para a minha casa e quando chegarmos vamos fazer algo pervertido na cama! Que tal? — Ele disse com um sorriso assustador, parecendo um temível tarado.

Ao receber essas palavras, a garota pousou seu dedo indicador no queixo, ponderando sobre o que tinha acabado de ouvir. Sua expressão não revelava nem um pouco de choque, muito pelo contrário, ela estava realmente pensativa sobre o que havia sido dito. Então, com todas as suas dúvidas ela fez a seguinte pergunta:

— O que seria algo pervertido? Geralmente quando eu deito na cama eu durmo. Será que esse “pervertido” que você está falando é quando duas pessoas dormem em uma cama? É isso que você quis dizer? Pode me explicar, por favor? — disse ela com um olhar de dúvida e ingenuidade.

— Eu estou dizendo que nós vamos fazer SEXO! Entendeu? — Akazawa respondeu colocando uma entonação muito grande na palavra “sexo”.

— Desculpa, eu não faço ideia do que seja isso. Você vai ter que me ensinar. — Ela disse com um olhar confuso.

— Você tá de brincadeira comigo? Quantos anos você tem? — Ele disse, dessa vez extremamente irritado por acreditar que ela estava tentando tirar onda com sua cara.

— Se fosse converter minha idade para anos terrestres eu diria que tenho 16 anos, por acaso isso é importante para o tal sexo?

— Você tem 16 anos e não sabe o que é sexo? Isso é muito difícil de acreditar... — disse ele, um pouco relutante a continuar com a brincadeira após a revelação. — Mas e se for verdade? Se ela realmente for tão ingênua isso significa que ela não tem educação sexual alguma... realmente é uma boa ideia deixar ela sozinha? Acho que é melhor descobrir mais sobre como ela foi parar aqui. — Ele pensou e então perguntou: — Bom, esqueça isso. Você morava em Mercúrio, certo? Como você chegou até aqui?

— Eu sempre quis visitar outros planetas, era meu maior sonho conhecer o nosso sistema-solar! Então meu pai foi gentil comigo e preparou uma viagem de férias na Terra! Quando eu já havia saído do espaço sideral e chegado no espaço aéreo da Terra um objeto muito pequeno, mas com uma força de lançamento enorme colidiu com minha nave. Eu tive que ejetar e acabei perdendo a nave, provavelmente acabei caindo aqui no final. Eu perdi todas as minhas coisas também. Minhas roupas, meus brinquedos, meus livros, cadernos, até minha lista de coisas que eu queria fazer na Terra. Mas pelo menos estou viva, não é? — Ela disse com um sorriso digno dos clássicos clichês de garota loira que brilha como o sol.

— Resumindo, estou lidando com uma sem-teto de outro planeta que não tem para onde ir. — Ele pensou e então disse: — Está certo. Vamos procurar uma maneira de agendar uma viagem de volta para seu planeta. — Apesar de dizer isso, o que ele realmente pensava era: — Como se eu fizesse alguma ideia de onde conseguir isso! Eu só não quero que ela me incomode mais! Vou dar meu melhor para isso!

— Eu não posso fazer isso! Meu pai disse que depois que eu chegasse na Terra eu não deveria voltar para casa. Eu acho que ele realmente queria que eu aproveitasse minhas férias. Além disso, não posso retornar sem antes cumprir minha servidão com você, mestre!

— Esse cara realmente deveria ganhar o prêmio de pai do ano. Então vamos ver, é uma sem-teto de outro planeta, que não tem para onde ir, não pode voltar e foi abandonada por sua própria família. É, creio que eu realmente tenho um problemão em minhas mãos. Exceto que não! Ela pode me seguir o quanto quiser, mas eu não dou a mínima para ela porque não é problema meu! — Ele pensou nisso e então respondeu: — Eu não me importo com sua dívida! Apenas não me perturbe mais! Eu vou voltar para casa. Você pode até me seguir, mas eu não vou deixar que uma esquisitona como você entre na minha casa, ouviu? Se quiser me acompanhar vai ter que dormir no chão da rua!

— Entendido, mestre! Seguirei suas ordens! — Ela disse e então bateu uma continência para Akazawa.

— Não me chame de “mestre”! Isso é muito esquisito!

— Como devo te chamar então? — Ela perguntou com curiosidade.

— Apenas me chame de Akazawa, esse é meu nome. Aliás, como você se chama? Seria esquisito se eu te chamasse de “minha serva” também.

— Meu nome é Lyra, mas eu não me importo se me chamar assim também. 

— Não, obrigado.

Após esse diálogo, que durou muitos minutos sem interrupção, Akazawa fez o caminho de retorno para sua casa e, como era esperado, foi seguido por Lyra. Ele se sentiu meio desconfortável com isso, mas não estava interessado em tomar providências mais drásticas. Ao chegar em casa, ele se certificou de que a garota ficaria do lado de fora e então entrou.

Akazawa era filho de um dono de um restaurante de lámen não muito sofisticado. Era um pouco mais que um simples carro, mas não era um grande estabelecimento. Existiam duas partes naquela casa, a parte de baixo era por onde todos entravam e também a parte do restaurante, onde havia um balcão simples com banquetas onde os clientes se sentavam e comiam. Atrás do balcão estava a cozinha na qual os pratos eram preparados, mas neste momento o estabelecimento estava fechado, pois o horário de almoço já havia acabado faz muito tempo.

O garoto então entrou no estabelecimento e subiu as escadarias para a parte de cima, onde de fato estava sua casa. Assim que abriu a porta da escadaria, era possível observar a sala de estar que possuía um grande sofá e uma bancada branca não muito grande com uma televisão em cima. Havia também um pequeno armário de madeira ao lado do sofá, onde diversas coisas eram guardadas. Aquele cômodo possuía como única separação da cozinha uma bancada elevada em formato arredondado e longo da cor preta com algumas cadeiras pequenas e altas no chão, formando assim a mesa da cozinha. Dentro da cozinha havia apenas uma pia e um fogão com forno.

Sentada no sofá, assistindo um pouco de televisão estava uma pequena garota do ensino fundamental. Sua estatura era bem baixa, até mesmo para garotas da sua idade. Ela possuía longos cabelos loiros e soltos e olhos verdes, sua postura estava folgada já que ela estava deitada no sofá. Essa garota era a irmã mais nova de Akazawa: Saki. Ao perceber Akazawa, ela o cumprimentou de uma maneira um tanto quanto peculiar.

— Oh! Bem-vindo de volta meu estimado e amado irmãozinho. Eu te adoro tanto que lhe darei a difícil missão de me fazer um sanduíche. Sabe, é algo realmente importante para mim então eu me sentiria honrada se fosse você! — disse ela em um tom irônico.

— Eu ainda não cortei suas mãos, você pode fazer isso sozinha. Eu tenho mais o que fazer.

— Mais o que fazer? Você nunca faz nada a tarde toda! Por que não pode fazer um pequeno agrado para sua irmã querida antes que ela revele para todo mundo sua coleção secreta de revistas e o faça passar vergonha?

— É sério que você tá me chantageando por um sanduíche? É uma pena que não tem ninguém que eu me importaria se descobrisse minha coleção de mangás hentai! Eu não ligo pra opinião de ninguém!

Ao ouvir essas palavras saindo da boca de seu irmão, Saki não consegue conter seus risos e solta logo uma gargalhada bem alta. Após conseguir parar de rir por um momento, ela responde:

— Então você realmente tem pornô no seu quarto! Sabe, eu na realidade não fazia ideia de que você tinha algo assim, só joguei o verde. Mas aparentemente agora eu descobri um segredo bem vergonhoso seu!

— Cale a boca! Garotas da sua idade nem deveriam saber o que é “pornô”! — Ele disse muito irritado, foi ao seu quarto e então fechou a porta batendo bem forte.

O quarto de Akazawa era bastante pequeno, podendo ser descrito como um cubículo. Não havia uma cama, pois o piso era de tatame e se utilizava um futon para dormir, que no momento estava guardado em um armário. Além desse, existia também outro armário de madeira onde o garoto guardava suas roupas. Havia também uma mesa com um computador, que Akazawa usava para acessar a internet.

Ele acessou a internet pela maior parte de sua tarde, às vezes olhando pela janela e tendo a surpreendente visão de Lyra, que aparentemente ainda estava esperando o garoto pelo lado de fora. Ele tentou ignorá-la, mas ficou cada vez mais impressionado pelo fato de que ela não foi embora não importa quanto tempo ele o ignorasse.

Como era de costume, o restaurante abria no período da noite e Akazawa sempre ajudava seu pai nesse período. Ele não fazia apenas para facilitar o trabalho, mas também porque era apaixonado por cozinhar e sonhava em algum momento se tornar um grande cozinheiro. Ele aprendia muita coisa com esse trabalho e já sabia cozinhar lámen com uma grande facilidade.

Após o fechamento do restaurante, Akazawa tinha como função jogar o lixo para fora, indo para o local de onde costumava ter visão direta pelo seu quarto. Havia uma lixeira em um beco onde todos os restos eram lançados. Ao fazer seu trabalho o garoto se surpreendeu novamente. Mesmo depois de todo esse tempo, a loira ainda o esperava. Em choque ele disse:

— Você ainda está aqui? Eu já não te disse que não iria te aceitar? Por que você ainda está insistindo?

— Está tudo bem se você não precisa de mim agora. Eu vou estar aqui sempre que você precisar até cumprir minha dívida! — disse ela com determinação.

— Escuta! Isso é estupidez! Com todo o tempo que você passou me esperando você deveria estar procurando abrigo! É muito perigoso dormir na rua e você precisa comer!

— Não se preocupe! Eu fui treinada para aguentar os maiores perigos, eu com certeza não vou ter problemas dormindo na rua. E eu posso passar muito bem sem comida.

Após essa frase ser dita, a barriga de Lyra roncou muito forte e ela se deitou no chão em agonia. Tentando fingir que não estava desconfortável, ela disse:

— As estrelas estão muito bonitas hoje, né Akazawa? Eu acho que hoje não vai chover.

— Você realmente é uma idiota... — Ele disse e então retornou para sua casa, deixando a garota sozinha.

— Me perdoe por ser idiota! Eu não vou mais falar disso, está bem? — Ela disse, arrependida, acreditando que a frase anterior dela era o motivo para ele ter ficado irritada.

Ao retornar para sua casa, Akazawa foi direto para a cozinha do restaurante onde encontrou seu pai: Suigin. Era um homem que beirava seus 50 anos, possuindo cabelos grisalhos, uma pele clara um pouco enrugada e olhos castanhos de aparência astuta. Sua expressão parecia séria e apática. Ao observar que seu filho havia retornado ele disse:

— Já terminou de jogar o lixo? Vamos fechar então.

— Antes de fechar eu vou preparar mais um prato para praticar, se você não se importar. — disse Akazawa um pouco relutante.

— Praticar? Você já teve a noite toda para isso, não podemos ficar gastando ingredientes assim. Vou fechar isso logo.

— É para uma cliente! Ela acabou de chegar e não teve tempo para entrar no restaurante, ela queria muito provar o nosso lámen, então achei que não faria mal fechar um pouco mais tarde dessa vez. — Ele respondeu.

Ao ouvir a resposta do garoto, o homem soltou um suspiro bem fundo, fitando-o profundamente com sua expressão indiferente. Após mirá-lo por algum tempo, ele perguntou:

— Essa cliente por acaso seria a garota loira que esteve encostada perto da lixeira o dia todo?

Akazawa então percebeu que não adiantava esconder mais nada. Ele encarou seu pai com um olhar mais sério e então perguntou:

— Então você já sabe de tudo, né velhote?

— Depois de ver ela esperando por tanto tempo em um lugar tão desinteressante eu fui obrigado a perguntar o que ela estava fazendo aqui. Ela me contou tudo sobre o que aconteceu hoje no parque. Então parece que você foi em frente e salvou uma vida. Bom trabalho. — O velhote disse com uma expressão sorridente. — Mas que problema você tem na cabeça para deixar uma completa estranha te seguir até a sua casa e não fazer nada? — disse ele com um tom mais alto e uma expressão completamente irritada, dando um cascudo no garoto.

— Huh? Como se eu pudesse! Não importa o quanto eu tentasse despistá-la, essa garota sempre me encontrava, eu acho que ela tem os sentidos mais aguçados que eu já vi em toda a minha vida! Além disso, eu não imaginei que ela realmente teria a coragem de me seguir até aqui! — Ele respondeu com a mesma irritação de seu pai.

— Bom, é sua responsabilidade resolver esses problemas já que é graças a você que ela está aqui! Espero que você saiba o que fazer! — Ele disse com uma batida de pés impaciente.

— Escute velhote, essa garota não está atrás de mim apenas porque eu salvei a vida dela e ela tem que pagar algum tipo de dívida comigo. A verdade é que o pai dela a obrigou a fazer uma viagem até aqui com o intuito de abandoná-la. Ela absolutamente não tem mais para onde ir.

— E isso muda alguma coisa para você? — disse ele de uma maneira totalmente indiferente.

Akazawa ficava em silêncio. A realidade era que aquele garoto nem sempre havia sido assim como era agora. Ele se lembrou dos tempos antes de ser adotado por Suigin quando havia sido abandonado na rua a própria sorte. Tinha muito menos idade que a Lyra, mas havia aprendido muito mais coisas que ela. Ele então respondeu:

— Aquela garota não tem nenhuma noção sobre como o mundo funciona. Ela não pode dormir na rua. Você pode deixar que ela fique aqui por essa noite? Talvez até mesmo cobrar um aluguel para que ela viva aqui por mais tempo. Eu vou ajudar ela a procurar trabalho para cobrir os gastos. — disse ele, apesar de não saber como iria resolver esses problemas.

Ao perceber que Akazawa estava falando sério, o homem olhou para cima com um sorriso sutil e então abaixou a cabeça encarando o garoto com seu olhar sério de costume:

— Você não faz ideia de como vai fazer isso, né? Francamente, não sei com quem você aprendeu a ser tão impulsivo e idiota. — disse ele com uma pontada de sarcasmo, sabendo que isso era influência dele. — Faça o que precisa fazer, amanhã discutiremos. Eu estou realmente cansado. — Ele bocejou e se retirou da cozinha.

— Realmente, você tem razão velhote. O que eu vou fazer é uma coisa estúpida. Mas só tenho a chance de fazer isso agora porque algum dia outra pessoa tomou a mesma decisão estúpida. — Ele pensou com um sorriso e então se dispôs a preparar um prato para Lyra.

Akazawa permaneceu um bom tempo na cozinha preparando uma tigela de lámen aproveitando a sopa e o macarrão que já estavam prontos. Ele precisou cozinhar apenas os acompanhamentos, enfeitando a tigela com um delicioso pedaço de carne de porco, ovo cozido, massa de peixe e o tempeiro de cebolinhas. Era um prato que visto de perto parecia delicioso.

Agora só faltava levar a porção de comida para a “cliente” que estava nesse momento deitada no chão daquele lugar malcheiroso tendo como única cama possível a enorme lixeira do restaurante. Ela conseguiu sentir que o chão estava um pouco gelado, mas apenas olhou para o céu tentando ignorar sua fome desconfortável. Akazawa conseguiu ouvir a barriga da garota roncando mesmo não estando tão perto, algo que o fez refletir:

— Esse barulho é biologicamente possível?

Com sua percepção bem alta, Lyra ouviu o barulho dos passos do jovem, sentindo também o cheiro incrível que vinha na direção da tigela que ele carregava em sua mão. Isso fez com que sua barriga roncasse ainda mais alto, Akazawa se incomodou com isso e então logo disse:

— Se controle! Eu trouxe isso pra você. — Após dizer isso ele se aproximou da garota e sentou ao seu lado, segurando a tigela e os hashis elegantemente.

— Pra mim? Eu achei que você estivesse irritado comigo porque não gosta de falar de estrelas ou do clima. — disse ela, olhando profundamente nos olhos de Akazawa.

— Do que você está falando? De qualquer maneira, isso não importa! Coma logo antes que esfrie. Não quero mais ouvir sua barriga fazendo esses barulhos nojentos! — disse ele entregando a tigela para a loira com insistência.

Ela tomou em mãos a tigela e os hashis que Akazawa havia entregue para que ela usasse como talher e demonstrou uma expressão visivelmente confusa, perguntando:

— Akazawa, pra que exatamente servem esses pedaços de madeira que você me entregou?

— Pode-se dizer que são os talheres, você já comeu com talheres alguma vez na sua vida? — perguntou ele com uma expressão séria já que não conhecia o suficiente da cultura na qual a garota estava inserida.

— É óbvio que sim! Mas eu nunca vi usar dois pauzinhos como talher. Como vocês sequer usam isso? — disse ela, intrigada.

— É. Não temos muito tempo para você aprender. Está quase na hora de dormir, então eu vou te dar o lámen se não se importar. Inclusive, você vai dormir no meu quarto.

— Entendo. Então você realmente vai fazer aquele sexo na cama que você falou. — Ela disse acenando com a cabeça.

— Esqueça isso! Cala a boca e come! — Ele usou o hashi habilidosamente para alimentar Lyra e manter sua boca fechada.

Após provar o lámen de Akazawa pela primeira vez, Lyra demonstrou uma cara de total emoção, revelando um sorriso muito aberto com seus olhos fechados e bochechas levantadas. Ela não podia deixar de elogiar o que tinha acabado de provar, então disse:

— Incrível! Eu nunca havia provado nada assim antes, é delicioso, tem tantos sabores diferentes que parece que estou tendo uma festa. Muito obrigada por me deixar provar isso! — Ela olhou nos olhos do garoto deixando uma lágrima sair do seu rosto. Isto era o quão bom estava aquele lámen.

—Ah, você acha isso mesmo? Eu que preparei isso, não é grande coisa sabe. — disse ele, um pouco envergonhado.

— Você preparou isso? Você é demais! Com essas habilidades você poderia ser o chef da família real! — Ela disse, realmente animada e satisfeita.

— Ah, pare com isso. — Disse ele um pouco vermelho, dando umas risadas. Seus pensamentos estavam assim: — Ah! Ela é uma garota tão boa! Por favor me elogie mais!

— Como você disse que isso se chamava mesmo? — Ela perguntou.

— O nome desse prato é lámen. Meu pai tem um restaurante de lámen aqui dentro de casa, eu aprendi muito com ele. — disse ele com um sorriso.

— Oh! Isso é muito bom! Meu pai me ensinou a lutar, eu também aprendi muito com ele. Inclusive, meu prato favorito é lagarto assado! Eu adorava caçar lagartos na minha terra natal, os ensinamentos de combate foram úteis. — Ela disse, animada com a conversa.

— Mas você precisa saber combater para caçar lagartos? Digo, lagartos são animais tão pequenos e inofensivos. — disse ele, com um nó na cabeça.

— Do que você está falando? Os lagartos daqui são pequenos? Os lagartos de Mercúrio são gigantes! — Ela respondeu e então fez um sinal de grandeza com as duas mãos. — Eles medem mais de 6 metros e são muito difíceis de derrubar!

— Isso é um lagarto ou um tiranossauro rex? — Ele disse em um tom alto, totalmente surpreso com essa informação. — De qualquer forma, agora que terminou de comer vamos voltar pra dentro. Amanhã temos um grande dia pela frente. Sabe, você não vai ficar de graça na minha casa, precisamos arranjar um pouco de dinheiro para suas despesas.

— Se isso for te ajudar, eu darei meu melhor!

Após Lyra finalizar sua refeição, ambos voltaram para o lar de Akazawa. O garoto se dirigiu à cozinha e lavou a tigela. Ele então conduziu a estranha alienígena para seu quarto. Ao chegar no local, Akazawa pegou um dos seus pijamas e o colocou em cima da cadeira do computador. Ele, então, estendeu seu próprio futon no chão de tatame, colocando um extra para Lyra e dizendo:

— Bom, por sorte tínhamos um futon sobrando. É aqui que você vai dormir. Não sei se costumava dormir em uma cama, mas não se preocupe, é bem confortável. — Após dizer isso, ele se deitou e virou para o lado. — Eu deixei um conjunto de roupas minhas em cima da cadeira. Talvez não fique tão bom, mas com certeza é mais confortável do que o traje espacial que você está usando. Pode se vestir. Eu estou virado agora, então não vou ver nada. Boa noite, apague as luzes por favor. — Lyra se vestiu sem nenhum pudor, aparentemente ela não se importaria nem se Akazawa estivesse vendo. Após isso, as luzes foram apagadas e ambos tiveram uma noite de sono.

 


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