Heavy escrita por Phanieste


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Eu nem acredito que estou conseguindo postar esse capítulo com apenas uma semana (quase) de diferença entre ele e o anterior... Nunca estive mais orgulhosa Kkkkk



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Quando Hermione entrou na cozinha viu Harry completamente abatido, olhando para a mesa de madeira sem nem se dar conta de sua presença. Ela foi caminhar até ele e percebeu que havia cacos no chão perto de onde ele estava.  

— Harry! Está tudo bem? O que aconteceu?

— Aconteceu… — Harry pareceu parar por um segundo.  Enquanto isso ela castou um Reparo nos cacos e foi limpando tudo. — Uma discussão com a Gina. 

— Oh! Que horror! Você quer conversar sobre? 

— Não… Quer dizer, sim. Mas, não neste exato segundo. Entende? 

— Sim! É claro… Eu vou indo para casa, então. Deixa só eu ajeitar essas xícaras, elas já estão frias. — Ela aqueceu a xícara de chá na frente dele com um feitiço não verbal e foi levando a outra para a pia.

— Por favor não! Eu não quero ficar sozinho… Você não pode me distrair um pouco? Como foi a sua semana? 

Ela parou no meio do caminho, a xícara ainda na mão. O rosto dela abriu um sorriso empático. Ela sentou na cadeira ao lado dele e esquentou o próprio chá. Tomou um gole e deu uma leve risada. 

— Foi um absoluto pesadelo! 

Harry sabia que nos últimos dias ela estava particularmente estressada, mas ainda assim ficou surpreso tanto pela resposta quanto pelo tom distraído que a conversa estava tomando. 

— Lembra Hogwarts? Eu sempre pensei que, em condições normais, sem Guerra ou algo do tipo; nada seria mais estressante que meu terceiro ano. 

Harry, apesar de tudo, sentiu nostalgia ao pensar no terceiro ano. Foi o ano em que conheceu Lupin e Sirius, ganhou uma Firebolt, aprendeu a conjurar o seu Patrono. Mas pensando pelo lado da Hermione, e racionalmente (ainda que ambas as ações fossem praticamente sinônimas), sabia que não tinha sido fácil. 

— Eu estava sempre tão exausta… E também você e Ron não estavam falando comigo por boa parte do tempo, também teve o caso do Bicuço… Sem contar nos dementadores, ameaça de um assassino vindo matar meu melhor amigo, descobrir que um professor que eu admirava passava todos os meses por momentos terríveis e sofria preconceitos de todas as formas por uma condição que estava totalmente fora de seu controle. E depois ainda a sensação de traição quando pensei que ele também estava tentando te matar… Tem ainda perceber que Ronald sempre esteve em perigo por carregar o Perebas ao seu lado por anos…  

— Eu pensei que tinha perguntado desta semana. Não? — Harry sorriu para ela perceber que ele estava brincando… 

— Eu nunca pensei que se minha vida um dia voltasse a algo que pudesse ser chamado "normal", eu voltaria estar tão estressada quanto naquela época. Mas estou. — Harry estendeu a mão para ela na mesa e ela aceitou. — O meu trabalho no Departamento de Mistérios é fantástico, mas agora eu estou no meio de um projeto particularmente importante, e por isso perigoso, e às vezes parece ser demais. 

— Hermione, você pode fazer qualquer coisa que você quiser. Se está pesado você não precisa continuar lá, qualquer empregador ficaria estático em te ter. Ou se você quiser voltar a estudar, ir para uma área diferente… Eu te ajudo e vou te apoiar no que for necessário. 

— Não, Harry! Obrigada mas eu sinceramente não consigo me ver fazendo outra coisa. É só que é difícil. E eu não tenho problema com a dificuldade  do trabalho em si, mas eu precisava que a parte difícil da minha vida se resumisse a isso. Mas é só o começo… Com este projeto eu fui reparando numa série de outras coisas que estão fora de lugar na minha vida. Por exemplo, se eu tivesse uma situação complicada com o trabalho ou Ron… Eu só queria poder voltar a contar com meus pais. 

A situação era muito recente e complicada, na opinião de Harry. Mas infelizmente, não havia nada que alguém pudesse fazer para que Richard e Helen Granger voltassem a "existir" e lembrarem da filha que tinham. Hermione os encontrou na Austrália e fez absolutamente tudo o que podia para desfazer o feitiço que ela tinha colocado sobre as memórias deles. Todos os especialistas estavam em acordo: até o momento, ninguém tinha o conhecimento necessário para retornar lembranças tão intricadamente removidas. Hermione ainda conversava amigavelmente, mas Harry sabia o peso emocional pelo qual a amiga estava passando.

— E com todo esse estresse, eu queria que minha vida com o Ron fosse mais fácil, sabe? Ainda parece que estamos em Hogwarts, brigando o tempo inteiro. É exaustivo. — Ela parecia falar como se estivesse explicando algo acadêmico para Harry. Ela não chorava ou demonstrava tristeza, mas parecia estar ensinando a ele como funcionava a mente e as emoções humanas. Ele quase riu, pois bem sabia que precisava. 

— Você não pode conversar com ele e tentar melhorar a situação? 

— Acha que não tentei? Um dos maiores motivos para discussões vem das nossas agendas de trabalho, ele sempre quer deixar tudo para a última hora e quer que eu o ajude. Mas tudo está tão corrido… Sempre que eu não conseguia ou simplesmente estava exausta e não o ajudava com os relatórios e formulários ele ficava bravo.  

— Você sabe como o Ron é… Sempre foi assim. 

— Eu concordo e também sei que a culpa pelas brigas são divididas pelo modo descontraído, relaxado dele e por minha postura quase que rigorosa e autoritária. — Harry se atreveu a soltar uma risada pela tentativa mal sucedida da amiga amenizar o próprio comportamento. Ela ergueu as sobrancelhas o desafiando a falar algo. — Parece pouco, mas eu sabia que a situação só dava combustível para outras brigas mais sérias. Eu então estabeleci que aos sábados, no período da tarde, nós iríamos para o escritório e, apesar de cada um focar primeiramente em seu trabalho, eu o ajudaria no que pudesse. Você viu na história dele hoje que ele está cumprindo isso, ele fez o relatório quando era correto. Mas para isso acontecer tivemos uma briga tão grande sobre ir ou não à partida da Gina. Ele queria que eu o ajudasse outro dia, mas eu não poderia. No final ficamos em casa, ele fez o relatório e ficou aos bons olhos de seu superior… Eu só fiquei cansada. 

— Hermione, isso vai passar. Aposto que quando seu projeto te der um pouco mais de paz, a situação com ele vai melhorar.

Ela ainda permanecia com a postura relaxada, bebericando de sua xícara enquanto falava. 

— Eu só queria… Quando a gente sai, vai fazer alguma coisa, é incrível ter ele por perto. Ele é engraçado e extrovertido e experto. Mas eu não gosto de ter que morar com ele, dividir as responsabilidades. Pois elas nunca são divididas, é sempre um trabalho extra para mim ter que vigiar para ver se ele está cumprindo tudo certo, isso depois que eu já fiz minha parte em ajudá-lo com as coisas dele. 

Talvez a discussão sobre morar junto tenha sido um pouco demais para Harry, pois ele viu as palavras saindo de sua boca: 

— Antes de você chegar eu e a Gina terminarmos. 

Hermione abriu a boca para falar e fechou, seus olhos estavam arregalados. Ela parecia tentar consolá-lo: 

— Harry! Eu sinto muito que vocês estejam dando um tempo, mas com certeza vocês dois logo vão voltar… 

— Não vamos… Eu acho que você não entendeu: nós não estamos dando um tempo. — Hermione pareceu confusa com tal frase. — Nós terminamos. Definitivamente. A gente teve uma discussão e ela ofereceu dar um tempo. Eu falei que eu queria que a gente continuasse juntos, mas era isso ou terminar definitivamente. 

— Por que você falaria isso? — Ela tinha um tom de voz calmante. Não era uma acusação, apenas uma moderada curiosidade. 

— Porque não estamos em guerra, não existe motivo para não querer estar junto que vá além de não querer estar junto. — Harry deu de ombros como quem se desculpa. — Eu não planejo voltar atrás em nenhum ponto que discutimos. Eu não quero ficar aqui esperando ela resolver que me quer de volta, ainda mais com a possibilidade dela conhecer novas pessoas… Pois se estamos "dando um tempo" não estamos tecnicamente juntos, não? Por isso eu não quis isso, é uma maneira complicada demais, cheia de responsabilidades, para no final continuar sozinho. 

— Como você se sente sobre tudo isso? 

— Tem uma voz na minha mente, muito parecida com meus tios, me chamando de ingrato. Dizendo que eu deveria erguer as mãos para o céu por ela ter ficado comigo. Falando que eu deveria aceitar qualquer coisa em troca da menor chance de voltar com ela.

— Nada que venha com uma voz que represente aquela família poderia ser saudável. — Hermione tentou fazer uma piada, Harry riu sem graça. 

— A Gina estava brava porque, de acordo com ela, eu não tinha ela como prioridade. Não dava valor o suficiente para ela. 

— Bem, eu não sei dizer o que ela pretendia dizer com isso. Mas eu sempre achei você um namorado relativamente considerado. Um pouco perdido talvez, em questões sentimentais. Mas você foi bem melhor com ela do que com a Cho. 

— Eu disse isso! Ou quase, tentando lembrar agora a briga fica toda embaralhada.

— Mas não há nada que você possa fazer? Se você quiser, ainda dá tempo de correr atrás. Não que você deva, mas se ela ainda é importante para você, você ir atrás dela agora pode provar que você a tem como prioridade. Penso que era até isso que ela poderia estar pensando, ver se você lutaria por ela nesse momento. 

Harry teve que parar e pensar por um momento. Ele poderia ter a Gina novamente… A Hermione estava certa, com certeza se ele lutasse mais seria a prova das prioridades dele. Mas… A Hermione estava certa; como sempre estava, como sempre o ajudou com relação a esses assuntos. A briga entre ele e a Gina não estava resolvida, ela provavelmente sempre iria pensar que estava entregando mais, amando mais. Em algum momento, talvez ela pudesse não estar satisfeita com o que ele a entregasse, com o tanto que ele lutasse. Talvez ela pediria um sacrifício maior. Hermione. Ele não iria contar para a amiga que ela fora o gatilho da briga, ela poderia se culpar e querer se afastar para facilitar as coisas entre ele e a Gina. Não! Ele não iria deixar a Hermione desconfortável, ele não iria dar mais motivos para ela se sentir deslocada no mundo mágico. Ela já perdera demais. 

— Não acho que a longo prazo vá fazer diferença. Eu acho que ela está decepcionada comigo, por eu não ser o namorado que ela sempre quis. 

— Mas, Harry. Você não a ama? 

— É claro, Mione! E vou sentir tanta falta dela na minha vida… Mas eu não posso viver minha vida inteira competindo com a versão de mim que ela sonhou. 

— Que dupla triste nós formamos hoje…

— Você quer dar uma animada? Nesta casa ainda tem uma adega digna de Sirius Black. 

— Amanhã eu tenho que trabalhar, Harry. Não posso. 

— É por esse motivo que eu tenho as poções necessárias no armário do banheiro. 

Ela não disse mais nada, mas não recusou quando Harry ofereceu um pequeno copo. Harry nunca teve contato o suficiente com o mundo trouxa para reconhecer o rótulo, mas pegou uma garrafa que achou interessante e quando provou descobriu que o teor alcoólico era muito maior do que estava acostumado. Cada um sentado em um sofá diferente, ambos bebericaram por um tempo antes do Harry quebrar o silêncio:

— Quer saber o que mais dói?

 — O quê? O fato dela parecer sua mãe e você parecer seu pai e isso dar a sensação que de vocês estavam predestinados numa versão Freudiana de narrativa?  — Hermione parecia perdida em seus pensamentos, talvez nem percebesse que estava falando com ele.

 — Como assim? Freudiana? 

 — Freud foi um psicanalista que morreu na década de trinta. Na teoria dele o homem tende, de certa forma, a replicar a figura de sua mãe em suas escolhas amorosas. Na verdade, é um pouco mais complexo que isso e envolve a evolução de sentimentos afetivos pela figura materna e hostis pela figura paterna no processo de construção da sexualidade. Ele chama de Complexo de Édipo, pois na obra grega Édipo é um homem que era destinado a matar seu pai e deitar-se com a sua mãe. 

  — Ele faz isso? 

— Bem, sim… A moral da história é que não se pode fugir do destino.

  — E para meninas? 

— Jung, outro psicanalista, chamava de Complexo de Electra nesse caso, ocorrendo oposto. Mas eu acho que Complexo de Édipo é o nome mais  comum para ambas as situações. 

— E quando um cara gosta de outro? 

— Acho que por essas teorias serem bem antigas, não entra muito nessa discussão. Eu, pelo menos, não vi nada sobre. Mas eu não sou exatamente fã de psicanálise, então não tenho tanto conhecimento aprofundado ou aplicado ao assunto. Mas eu já li que há outras teorias mais aceitas sobre a construção da sexualidade. Mas o que você ia falar? 

Harry estava um pouco tonto então sorriu. 

— O que eu ia falar? 

— É! Sobre o que mais dói… 

— Ah, sim! Bem, o que mais dói é o medo de perder o resto da família Weasley nesse término. Eles me acolheram quando eu entrei no mundo bruxo.  — Harry lembrou que estava triste e passou a mão nos cabelos repetidamente, ele não sabia se estava o ajeitando ou bagunçando mais.  — Eu quero passar o Natal lá com todo mundo… 

— Eu acho que a Molly vai te bater se você não passar Natal lá, mesmo com o término — Hermione disse rindo. 

 — Mione? Vem sentar aqui…  — Harry bateu a mão no assento ao seu lado e a amiga obedeceu. Ele bebeu um grande gole de sua bebida, mas se ela continuava queimando, ele não se importava mais. Hermione reclinou a cabeça em seu ombro quando chegou.

 — Eu não quero ser predestinado a mais nada. Uma profecia já foi o suficiente para uma vida inteira.  

Talvez ela estivesse tão tonta quanto ele, pois não pareceu lembrar de sua própria fala. Mas ela riu: 

  — Predestinado a o quê? 

Não querendo puxar o assunto novamente, ele não respondeu, apenas a abraçou. Ela pareceu tensionar o corpo por um momento mas depois relaxou. 

— Você quer escutar uma coisa louca? — Hermione pulou de seu abraço e levantou do sofá. 

— Por que eu estou com medo? 

— Você sabe que o Theo está no mesmo setor que eu no Departamento de Mistérios? No setor de Pensamentos… 

— Theo?! 

— Sim! Theodore Nott. Ele foi Monitor-Chefe comigo em Hogwarts ano passado. 

— Eles colocaram Nott como Monitor-Chefe? — Harry estava horrorizado! Um Sonserino, depois de tudo o que aconteceu no colégio, filho de um Comensal. 

— Ele era um excelente aluno. — Hermione deu de ombros. — E também acho que um dos propósitos da McGonagall era demonstrar unidade. Alguns alunos mais novos da Sonserina estavam sofrendo muitas retaliações pelas outras Casas.

Harry colocou as mãos na cabeça esperando a amiga continuar e vir alguma coisa melhor da história dela. 

— Então… Draco Malfoy sempre está lá o visitando…  — Harry audivelmente grunhiu, interrompendo a amiga. “Claro que não iria melhorar, inclusive pode me matar agora” pensou. Mas ela continuou: — Ele me pediu desculpas por tudo, semana passada. 

 Agora foi a vez de Harry pular no lugar. Por essa ele não estava esperando. 

  — Repita tudo… Bem devagar.

— Vou fazer melhor que isso: eu irei lhe mostrar a memória completa!  — A amiga pulava no lugar de alegria. 

— Não tenho nenhuma Penseira… 

— Não precisa! Eu aprendi um novo feitiço… Ele vai implementar um pensamento em você. É muito complicado, porque eu preciso trabalhar cuidadosamente no que será implantado, criar cada fiapo que constrói a imagem escolhida, mas eu fiquei a semana inteira preparando… Você me dá permissão? Para implantar essa imagem? 

— Claro, Mione! Acho que já vi sendo utilizado esse feitiço com os Aurores. 

— Eu duvido, ele é muito difícil… Provavelmente eles utilizaram feitiços para modificar ou apagar as memórias. É muitíssimo mais fácil mexer com uma imagem mental já existente. Pense como corrigir ou jogar fora um texto, ao invés de criá-lo. Ou uma música, ou um filme… Pensamentos são muito complexos. 

  — Sim, Hermione. Eu lembro dos cérebros no Departamento de Mistérios atacando o Ron.  — Harry não falou com malícia, mas a amiga corou. 

 — Bem, o nosso Departamento procura proteger bem sua entrada contra invasores curiosos… Considerando que apenas a gente já praticamente invadiu o Ministério da Magia duas vezes, acho a proteção bem apropriada. 

 — Pode me mostrar o pedido de desculpas. 

  — Cognittus ingenerare

Novamente Harry estava no Departamento de Mistérios, Sala de Pensamentos. Mas desta vez, na sala com os cérebros, bruxos estavam trabalhando arduamente em suas mesas. Quem conversava, conversava por sussurros apressados. Os cérebros boiavam etereamente em seus tanques, mas às vezes alguém os pegava com uma grande pinça e os colocava numa bandeja. Tudo sobre o lugar estava relativamente como ele lembrava mas mais bonito? O local parecia ter uma iluminação agradável, os sons de conversa não atrapalhavam sua concentração… Ele viu Hermione sentada na sua mesa, organizando tudo asseadamente.  Harry sorriu ao ver a amiga franzir a testa para o documento a sua frente, mas o sorriso caiu quando viu Draco Malfoy levantar do tampo da mesa de Theodore Nott, em que estava sentado,  e ir em direção a Hermione.  Ela estava visivelmente confusa, mas logo sua postura se tornou rígida  e seu rosto severo. Malfoy ainda caminhava até ela, mas o olhar tanto de Harry, quanto de Hermione foram para Nott que sorriu abertamente para ela e deu uma piscadela e Harry ficou furioso porque quem era Nott para agir assim com Hermione?! E o que estava acontecendo? E ele não conseguia continuar a prestar atenção nos dois porque seu todo o seu foco foi puxado a força para prestar atenção em Malfoy mas Harry queria bater em Nott e dizer que Ronald Bilius Weasley era namorado da Hermione Jean Granger, ela não estava disponível, obrigado. E mesmo que estivesse não seria Theodore Nott que… 

— Granger. 

— Malfoy. 

Ambos se cumprimentaram e ele sentou na cadeira a sua frente. “Pelo menos teve a educação de não sentar na mesa” Harry pensou. 

— Você poderia arranjar um momento para conversar comigo? — Malfoy parecia desconfortável e Harry sentiu uma leve satisfação na cena, pela primeira vez. 

— Já estamos conversando — Hermione respondeu polidamente. 

— Você não vai colaborar nem um pouco? — Ele sorriu de modo sarcástico. 

— Não vejo razão. Você pode continuar aqui, em público. 

Malfoy esperou um momento, pareceu considerar algo, tentar levantar mas resolveu continuar sentado. 

— Desculpa. Por tudo. 

Hermione estava com a face em branco, ela não parecia demonstrar emoção nenhuma. Ela também não falou nada. 

 — Desculpe por ser um babaca na escola. Eu sei que você era irritante para cacete... — Hermione levantou uma única sobrancelha e ele baixou o tom. Parecia derrotado. — Nada justifica. Vocês três podem ter revidado como crianças normais, mas a raiz do meu bullying contra você veio de um preconceito que justificou três guerras com base no sangue apenas neste século. Eu fui horrível. E não espero seu perdão. Eu meio que fui obrigado pelo Theo a vir falar isso porque por mais que sejam meus sentimentos sejam verdadeiros, eu sei que o quê fiz é indesculpável e não vai mudar nada e eu não mereço.

Hermione fechou os olhos e respirou fundo várias vezes.  

— O perdão não depende das características de quem cometeu a infração, mas de quem o concede — ela disse muito baixo, Malfoy não ousava olhar para ela. — Ao invés de ir para Hogwarts no meu Sétimo Ano, eu estive como fugitiva numa barraca. Eu tive algum tempo para pensar sobre como eu me sentia sobre a forma que a população bruxa me tratou, e não foi apenas o discurso purista. Eu sofri ataques a minha aparência, minha capacidade, meu sangue, minha personalidade, minha moralidade… Já ocorreu de enviarem uma carta amaldiçoada para me ferir com pústulas porque todos me consideravam uma vadia e eu tinha apenas quinze anos. Eu poderia com muita facilidade ter ido para o outro lado do mundo e continuar vivendo minha vida longe de todas essas pessoas horríveis que me fizeram tanto mal.  — Harry percebeu então que ela tinha toda a razão e ele nunca tinha pensado nisso, ela poderia estar na Austrália com os pais dela. A mesma expressão de choque no rosto de Malfoy era espelhada em sua própria face. — Eu permaneci e lutei por três motivos: Harry, outras pessoas como eu e a possibilidade de pisar no mundo bruxo novamente e ver um lugar diferente, algo melhor. Para acreditar que o mundo bruxo poderia melhorar, eu tive que aceitar que as pessoas que me trataram de modo horrível poderiam mudar. Eu te perdoo pelas suas ações preconceituosas para comigo durante os que passamos em Hogwarts. 

As mãos de Malfoy tremiam agora na mesa a sua frente, ele parecia ter muita dificuldade para respirar e Harry se surpreendeu que ninguém veio ajudá-lo para ir para algum hospital ou algo do tipo. O discurso de Hermione não parecia ter o aliviado, pelo contrário. 

— Sobre a Guerra em si. — Ele não chegava a gaguejar ou embargar a voz, mas as palavras saíram com um ritmo estranho. — Eu entrei imaginando grandeza e superioridade, mas… Conforme o decorrer da minha tarefa eu fui questionando tudo. Quando Dumbledore morreu eu não acreditava mais no Lorde das Trevas. Quando vocês foram trazidos à Mansão, eu não acreditava mais em superioridade de sangue. O único motivo pelo qual eu não fiz nada aquele dia foi a minha segurança e de minha família, tudo o que fiz na Guerra foi por eles. Eu sinto muito. 

Hermione ainda parecia impassível, o outro era um prisioneiro aguardando julgamento. 

— Eu nunca coloquei as ações da Guerra sobre a sua cabeça. 

Malfoy pareceu desmanchar na cadeira, mas se recompôs. Em um segundo voltara a estar completamente normal. 

— Obrigado pelo seu tempo.  — Ele saiu sem olhar para os lados, inclusive não olhou para Nott. Já Hermione sim, ela se levantou e foi em direção ao sonserino e Harry queria ver o que iria acontecer mas não conseguiu porque fora empurrado de volta à realidade. 

— O que achou da construção do pensamento? Estava boa? 

Harry ainda estava em choque por tudo o que aconteceu e sentiu o peso do álcool no seu sistema. Viu que a Hermione ainda estava alegre demais pela cena tão séria que acabara de mostrar e resolveu cambalear até o banheiro para pegar uma poção para se desintoxicar. Tomou a sua e ofereceu uma para a amiga. Com a mente sóbria, preferiu focar primeiramente nos aspectos mais técnicos da experiência. 

— Não vi tanta diferença de uma penseira. 

— Ah, Harry! Numa penseira eu poderia apenas visualizar memórias preexistentes ou levemente modificadas. Com esse feitiço eu posso colocar qualquer coisa na cabeça de alguém e é completamente permanente… Veja, eu escolhi treinar ele reconstruindo a cena de uma memória, mas o processo é mais complicado…

— Você poderia usar isso com seus pais? 

Os olhos de Hermione marejaram, Harry a abraçou novamente. 

— Não… É muito difícil criar cada cena. Essa só tem minutos e eu demorei horas. Talvez a técnica tenha um futuro potencial para isso, mas no que sabemos no momento; não. 

— O meu foco parecia estar completamente fora do meu controle? Eu só conseguia prestar atenção no que você queria… 

— Sim… É verdade, eu escolho todos os momento de foco da cena. — Ela riu, tentando melhorar o clima.  —Queria mexer na minha mesa? Pois não pode, muito além de confidencial… 

Harry pareceu parar e considerar, mas resolveu deixar quieto. 

— Então Malfoy…  — Ele disse hesitante. 

— Sim! Eu fiquei tão surpresa quanto você. Quem diria? 

Harry verdadeiramente queria dizer mais, mas Ron chegou em sua casa pelo Floo. Ele parecia triste e frustrado ao mesmo tempo, sentando no sofá entre Harry e Hermione, mas se havia alguma reclamação pela cena dos dois juntos em si, ele não pareceu demonstrar.  

— Eu fui para casa após a apreensão, a Gina estava lá e me contou que vocês terminaram tudo. 

Harry ainda estava com a cena do pedido de desculpas na cabeça. O término não parecia ter ocorrido há poucas horas atrás. Tudo acontecera tão rápido: saiu do trabalho para um happy hour, sofreu um ataque, terminou com a Gina, viu a cena do trabalho da Hermione… “Ainda não passou das onze da noite” pensou. 

— Sim eu estava contando para Hermione agora a pouco o que aconteceu. 

— Hermione, você não pode dar um tempo para eu e o Harry conversamos sobre isso? Sabe como é… Ela é minha irmã caçula. —  Ron virou para  namorada que pareceu constrangida em ser excluída da conversa. 

— Tudo certo… A gente se vê em casa. — Ela parecia hesitante mas não protestou. Depois de se despedir de Harry, saiu sem mais comentários. 

Harry não podia estar menos  animado para uma conversa em toda a sua vida. A partir do momento em que começara a pensar na Gina daquele modo, sabia que se desse errado teria que lidar com o fato de ter terminado com a irmã de seu melhor amigo. 

— Você sabia que Nott foi Monitor-Chefe junto com a Hermione? 

— Sim, mas o ano letivo já acabou faz um tempo, Harry. — Ron parecia genuinamente surpreso com o rumo da conversa. — Escuta, a gente tem que conversar. 

— Mas você não ficou preocupado com a possibilidade da Hermione dividir uma Sala Comunal com ele?

— A Hermione sabe muito bem se proteger sozinha, caso necessário… 

— Mas...

— Harry! Escuta! — Ron o interrompeu bruscamente. — Você não poderia ter esperado alguns meses para terminar com a Gina?! 

— O quê?! Como assim esperado? Você não está bravo? 

— Pelo que a Gina falou o término foi mútuo, então não, não estou bravo. Você ainda meu melhor amigo, minha família sempre estará lá para você e tals. É só que — Ron não parecia ter coragem de continuar. Harry estava igualmente animado pelo fato do amigo ter confirmado que ainda assim ele e a família estariam em sua vida e ansioso pelo que ele iria dizer. 

— Ron, o quê você está tentando falar? 

— Eu esperava que fosse o momento certo para fazer isso, mas pelo visto você tem que roubar meu momento em tudo — Ron estava murmurando amargo. — Já estava pensando tudo há semanas, vendo qual era a melhor escolha, a melhor forma. Eu… Eu quero terminar com a Hermione. 


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Notas finais do capítulo

Okay... Muita coisa está acontecendo nesse capítulo então vou comentar por partes:

Harry e Hermione numa dinâmica de melhores amigos... Eu acho essa cena muito importante na fic porque quando eu vejo a dinâmica deles nos livros eu não enxergo necessariamente um background romântico para as interações. Aqui na fic, minha intenção não é dizer "Eles sempre se amaram (de modo romântico) nos livros". O relacionamento vai ser construído com base nessa amizade, mas já existia esse laço platônico firme e forte que os uniam. Ainda sobre os dois, durante a famigerada cena das "desculpas" Harry percebe o quanto Hermione sacrificou por ele; é surpreendente (para mim) que esse assunto não tenha mais foco na série de livros... Tipo? A Hermione escolheu proteger o Harry em detrimento de TODAS as pessoas da vida dela, sempre achei que poderia ser mais aprofundado.

Hermione e os pais; nunca vi nenhum lugar revelando os nomes deles mas já vi em diversas fics o nome da mãe dela como Helen em referência à mitologia (Helena de Troia tinha uma filha com Menelau chamada Hermione). É o meu headcannon... Outro ponto importante de Heavy é o fato dos pais dela não terem recuperado as memórias; já vi em uma entrevista da JK que ela não tinha usado o famoso "Obliviate" mas sim um feitiço modificador de memórias e logo após a Batalha de Hogwarts, Hermione conseguiu recuperar as memórias deles... Bem, eu não estou considerando nem o epílogo nesta fic, quanto mais uma entrevista... Para todos os sentidos, nesse universo a cena dos filmes continua valendo e os pais da Hermione não lembram dela.

Draco Malfoy: Nessa fic ele NÃO passará nem perto de ser um possível interesse romântico, nada contra Dramione mas aqui ele só pede desculpas por motivos de virar uma pessoa mais decente mesmo. Acho que o personagem merece isso.

Espero que tenham gostado do capítulo... ♥



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