“Ela dorme sozinha, meu coração quer voltar para casa, eu queria estar ao seu lado”

Ele estava encostado na soleira da porta do quarto, podia sentir seus olhos me observando enquanto eu dobrava as roupas dentro da mala e organizava minhas coisas. Eu sentia o perfume dele, alguma colônia francesa de nome que agora não me recordava e preferia permanecer assim, seria mais fácil não ter mais coisas para lembrar dele pelos ‘próximos dias. Afinal foi tudo só um amor de verão e agora estava na hora de voltar para minha cidade Natal e para minha vida. Fechei o zíper da mala sentei na cama e meus olhos encontraram-se com os dele, o cabelo ainda molhado estava bagunçado, ele vestia uma blusa esmeralda que contrastava com a pele avermelhada do sol. Com passos leves ele veio em minha direção, entrelaçou seus dedos nos meus, não recuei só continuei aproveitando os últimos minutos que teríamos.

—Emma, eu- ele começou a falar e eu o interrompo.

—Eu sei, foi só um verão. Você vai voltar para sua vida e eu para a minha, já sabíamos disso desde o começo. –digo sentindo as lágrimas se formando em meus olhos, mas eu não podia chorar, pois desde os primeiros dias quentes de janeiro em que eu o conheci, já sabia que diríamos adeus um ao outro. –Eu poderia, prometer te escrever ou ligar, mas não facilitaria as coisas.

—Me prometa que só não vai esquecer, porque eu não vou. - diz ele com a voz um pouco embargada.

—Você é meu amor de verão, não tem como esquecer. –digo sorrindo, meus dedos percorrendo as bochechas dele, e entrelaço minhas mãos em volta de seu pescoço. Jaehyun, abre o sorriso caloroso de sempre, o mesmo sorriso acompanhado das covinhas que faz meu coração acelerar sempre que as vejo. Fecho os olhos para guardar na lembrança esses últimos segundos e sinto seus lábios úmidos e calorosos nos meus.

—Não esqueça, você sempre será meu amor de verão –ele diz em meus lábios. Quando somos interrompidos por batidas na porta.

—Srta Lane está na hora de irmos. - diz Meliorn o gentil mordomo de minha família, que para mim era muito mais que isso, e pega as minhas malas.

—Já estou indo. –digo e ele me dar um pouco de privacidade para as últimas despedidas de Jae. –Melhor eu ir. –digo me levantando e quando sinto os braços dele me puxa e me envolve novamente em um abraço. Mas me mantenho firme, afinal tomamos uma decisão que não seria nada sério, me desvencilho de seus braços e saio sem olhar para trás porque sabia que se eu olhasse voltaria para aqueles braços e não sairia de lá nunca.

Desço as escadas, passando pelo o corredor e a porta da frente. O carro preto já me aguardava com as portas abertas, olho para cima em direção ao casarão e o vejo na sacada do quarto em que estava minutos antes. Com um sorriso no rosto aceno e entro no carro. Esses foram meus últimos dias de Janeiro, antes de ir para o último semestre da faculdade. Mas vamos começar por essa história voltando aos primeiros dias de verão.

...

Fazia anos que não ia a casa de veraneio da vovó, nós morávamos em uma cidade litorânea, eu estava acostumada com as praias, mas a praia que ficava perto da casa de minha avó era a mais linda que eu já havia conhecido. Por influência dos meus pais, acharam que seria bom um descanso antes do meu último semestre de faculdade, e eu concordei. Tirar um pouco a mente da rotina e respirar um pouco seria ótimo. Eu só não sabia que seria os dias de verão que dariam uma reviravolta na minha vida amorosa.

Depois das festividades de fim de ano, estava a cada dia mais ansiosa com a viajem que faria a casa de minha avó. Tinha saudades enorme daquele casarão. Estávamos na estrada, e quando dobramos na rua de casas, fui contando como fazia quando criança, embora soubesse que era a última casa. A mais próxima do mar. Meu pai estacionou o carro. E o lugar era como eu lembrava havia o jardim das roseiras branca que estavam com vários brotos. -Emma, gostaríamos que conhecesse Meliorn, ele está em nossa família a anos. –diz meu pai sorridente.

—Prazer. –digo apertando a mão de Meliorn sem graça. –Cadê a vovó? –pergunto observando a porta que permanecia fechada. Esperando vê-la, afinal nas férias ela sempre ficava em sua casa de praia.

—Apareceu um trabalho de última hora e a Senhora Clare teve que comparecer a palestras. – disse Meliorn gentilmente.

—Então por isso mocinha comporte-se. –diz minha mãe me abraçando. – Os Jung estarão na casa ao lado talvez Jenny tenha vindo esse ano com eles.

—Bom que a reencontro e faço amigos novos, ou tiro o verão para ler todos os livros da Austen. –digo pegando minha mochila.

—Nada disso pode tratar de pegar uma cor enquanto eu e sua mãe estaremos na Conferência da empresa. – diz meu pai bagunçando meus cabelos e ajudando Meliorn com minhas malas.

— Sim senhor. –digo fazendo bico e ajeitando meu cabelo

A casa era como eu me lembrava, dois andares, e toda de madeira. A escada ficava próxima a porta e no andar de cima se localizavam os quartos. Escolho o quarto da sacada e com a vista para o mar, o quarto era um pouco maior que os outros, a cama de casal com vários travesseiros ficava no centro do quarto, o guarda roupa ficava ao lado e tinha uma porta que dava para o banheiro. A vista da janela era a do jardim e a sacada ficava de frente para a praia. Meus pais se despedem de mim, fazendo com que prometesse que iria ligar todos os dias.

Nos primeiros dia de verão, todas as manhãs eu ia à praia com um livro, gostava de sentir a presença do mar enquanto lia, e a tarde conversava com Meliorn. Minha amiga de infância Jenny não havia chegado ainda, mas os pais garantiram que me avisaria quando ela chegasse, assim como eu Jenny escolhera seguir a faculdade de Moda, mas por ser na Inglaterra ela demoraria mais para chegar no Brasil.

Estava lendo Emma pela a segunda vez, e minha revolta só se confirmara diante da personalidade calculista da protagonista do livro da Austen. Foi quando o vi. Ele estava só de bermuda e correndo em direção ao mar, observo se estava sozinho e pela a toalha na areia o livro e a mochila a pouco metros de distância confirmo que ele estava sozinho.

Tento voltar minha atenção ao livro mas não consigo. Os cabelos dele estavam molhados, ele estava de costa dando a visão perfeita dos músculos, quando ele vira e seus olhos encontram os meus, eu sorrio involuntariamente e finjo ler alguma palavra do livro, olho de novo na direção dele, ele sorrir um pouco envergonhado e volta para o lugar onde estava a toalha.

—Emma. – escuto um grito. E ao ver a garota ruiva um sorriso toma conta do meu rosto.

—Jenny- grito em resposta e corro em direção a minha amiga.

—Caramba quanto tempo. - diz sorrindo e me abraçando de novo e escuto o sotaque britânico. – Fui na sua casa você não estava lá, Meliorn me disse que você estava aqui.

Continuamos conversando, sobre a faculdade, o último semestre e como estava sendo o verão até agora, quando somos interrompidas.

—Jenny sua mãe está chamando todos para um lanche, ela disse para você convidar a Emma. – diz o garoto que eu tinha visto mais cedo, olhando para mim. –A propósito Emma, eu sou o Jaehyun. – diz com um sorriso e estendendo a mão.

—Emma, mas isso você já sabe. Seria ótimo comer uma comida que não seja a minha ou de Meliorn. – digo apertando a mão de Jaehyun e retribuindo o sorriso, e Jenny dar uma risada.

—Bela jogada Jae. – ela diz bagunçando o cabelo dele que protesta em resposta. Assim como Jaehyun, Jenny era bastante alta mas enquanto o primo fazia parte do lado coreano da família de Jenny, ela tinha puxado o pai herdando os cabelos ruivos e olhos verde. –Emma desculpe os modos do meu primo.

Os dias se passaram rapidamente, Jenny, Jae e eu, passávamos os dias na praia ou conversando em casa, compartilhávamos histórias engraçadas principalmente as de quando eu e Jenny éramos crianças. Quando, em uma noite quente de verão decidimos ir à praia e todos estávamos observando as estrelas quando ouvimos um indie tocando e vibrando do bolso de Jenny, que teve que procurar um sinal bom para falar com o namorado me deixando sozinha com Jaehyun.

— Minha constelação favorita é gêmeos.- digo olhando para o céu.

—Eu gosto da ursa maior. – diz Jae apontando para a estrela maior e mais brilhante.

—Acho bonita.- digo observando a ursa maior. - Os navegantes de antigamente usavam ela para se localizarem. Ela sempre indica o Norte.

—Nesse verão, estou procurando meu norte. –diz ele e sinto Jae se aproximar de mim.

— O que quer dizer? –pergunto olhando nos olhos dele, e ele me responde com um beijo. Seus lábios são doces e gentis nos meus, o que me faz sorrir e retribuo o beijo.

Momentos como aqueles nas noites de verão foram repetidos, mas para mim não foram suficientes.

Estávamos na sacada do meu quarto ouvindo make us  never happen da SHY MARTIN, Jenny estava deitada no chão colorindo um desenho com lápis de cor e eu estava sentada no portal da sacada com Jae sentado ao meu lado.

—Emma acho que temos que conversar .-diz ele e Jenny o observa. – Acho melhor você saber a verdade - Olho para minha amiga e ela sorrir como se tivesse esperando esse momento.

—Tudo bem. – respondo tentando disfarçar a curiosidade e os pensamentos de que ele poderia ter namorada e só ter se aproveitado da situação.

—Bom nós vemos amanhã Emms. –diz Jenny me dando um abraço.

Depois que ela sai do quarto, Jaehyun fica de frente para mim e respira fundo.

—Eu não quero que você ache que estou iludindo você, queria que esse mês durasse para sempre. Porque sinto coisas que não sei explicar e isso assusta. –diz ele segurando minhas mãos e olhando em meus olhos. Os olhos dele parecia mais claros e calorosos.

—Eu sei. Eu não posso prometer nada a você também, quando acabar isso tudo vou está focada na minha faculdade que termino próximo semestre. –digo sorrindo, mas sentindo uma dor no peito ao encarar a verdade. – Esse verão está sendo bem diferente do que eu imaginava.

—Não queria que fosse algo só de verão, você é maravilhosa, é inteligente e não esperava encontrar você assim tão cedo na minha vida. –diz colocando uma mecha do meu cabelo detrás da orelha, e passando os dedos gentis em minha bochecha, fazendo meu coração acelerar, ele tem namorada com certeza tem, penso.

—Jae, se você tem namorada era para ter me dito desde o começo. –digo incomodada com a enrolação dele de chegar no assunto da conversa, e ele dar uma gargalhada em resposta, o que me deixa com raiva, e afasto a mão dele

—Emma, é claro que não tenho namorada. –diz e pegando minha mão novamente. Sinto um alivio, e ele percebe. –Eu só disse isso porque eu vou focar na faculdade e na dança assim como o namorado da Jenny, e você ainda vai ser uma Jornalista de moda que as revistas vão brigar entre si para ter você. – diz ele que me faz rir em resposta, e completamente aliviada.

—Então, vamos viver esses dias de verão, talvez nosso verão só der um tempo antes de acontecer de novo. – digo me aproximando dele e beijando seus lábios. – Vá atrás dos seus sonhos, será um grande cantor, que eu vou atrás dos meus. Se for para sermos um do outro, daremos um jeito nem que seja em outra estação. –digo e ele sorri, com os olhos brilhando para mim.

—Você é perfeita para mim. –ele diz e nos beijamos, eu sentia meu coração vibrar em festa. Naquele momento, eu sabia que aqueles dias não durariam para sempre, sabia que ia me apegar a ele.

...

Ainda lembro das risadas, das mensagens no meio da noite. De nos lambuzarmos com sorvete e de curtir o verão ao lado da minha melhor amiga, porque desde aquele verão eu e Jenny nunca mais perdermos o contato, mas evitávamos o assunto Jaehyun. Embora eles estivesse tão presente em meus pensamentos assim como meus amigos mais próximos. Eu tinha decidido que quando se tratava de Jae, ninguém precisa saber o que sentíamos um pelo outro, enquanto as mãos dele estava em meus cabelos e as roupas no chão do quarto, passando a noite inteira juntos, ou quando ele inutilmente tentou me ensinar a nadar. Mas o verão não durou para sempre. Fecho os olhos espantando as lembranças, e me observo no espelho do meu quarto, amarro a faixa para pender a beca e respiro fundo saindo do meu quarto, e meus pais comemoram na sala ao ver a filha deles com roupa de pão antes de irmos para a solenidade do diploma.

O dia da formatura finalmente havia chegado, estava na fila esperando chamarem meu nome, a beca esquentava um pouco, mas estava suando não pelo o calor mas de nervosismo. Quando escuto meu nome, sentia meu coração batendo mais, com um sorriso sigo em direção ao palco, recebendo meu canudo, finalmente tinha acabado, todos os meses de estresse valeram a pena, agora era correr para a vida profissional e seguir a carreira de Jornalista de moda.  Depois da solenidade corro e abraço meus pais e amigos que me recebem com confetes e comemorando. Quando todos param e observam alguém atrás de mim é quando eu ouço uma voz família

—Emma. –Me viro, sentindo meu coração acelerar como se eu tivesse corrido uma maratona. O cabelo ruivo estava ainda mais claro, os olhos verdes marejados e ela me abraça

—Jenny. –digo abraçando ela, mas meus olhos enchem de lágrimas ao perceber que ela viera sozinha. E o Jae? Pergunto para mim mesma.