Like It Is escrita por nyssua


Capítulo 6
Livre da Prisão Condicional


Notas iniciais do capítulo

E lá vamos nós de terminar fanfique, gostei dessa brincadeira...

Bom, escrever essa história foi muito bom pra mim, e ela foi naturalmente desenvolvida porque o objetivo dela é fazer @Solune se sentir bem, então não me pressionei em nada.
Amiga, espero que tenha gostado de verdade do seu presenteco!



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Olhou no espelho e riu desacreditada.

Começou com um sorrisinho anasalado passou por uma gargalhada e terminou em uma crise de risos com direito a perda de fôlego e água escorrendo pelos cantos dos olhos azuis.

Nem nos sonhos mais malucos que teve, passou por sua cabeça que no dia de roupa livre no trabalho ela usaria uma camiseta roxa estampada com a Daphne de Scooby-Doo. E a blusa fora unicamente produzida para ela. Sakura a obrigou a fazer uma lista de personagens que gostava na infância e criou seis artes convertidas em estampas para a loira. Ino até mesmo pensou na possibilidade de deixar os fios claros soltos, mas acabou pegando um prendedor e colocando-o na bolsa como prevenção. Ainda faltavam dez minutos para às sete, e ela já estava pronta.

E incrivelmente esperançosa sobre seu dia. O céu azul era exibido através da janela como uma pintura e ela tinha certeza de que nada e nem ninguém naquele dia poderia matar sua vibe.

Correu os olhos uma última vez pelo apartamento, certificando-se de que tudo estava em seu devido lugar. Já era sexta de novo, e seria sua vez de sediar a resenha dos três mosqueteiros contemporâneos. Ela precisava assumir: estava amando as novas amizades e interações.

Pela primeira vez na vida ela aparentava ter exatamente a idade que tinha, saindo com gente da idade dela, descobrindo coisas novas e relembrando tantas outras que gostava. A mulher que sorria diante do espelho era o oposto da “Barbie de escritório” que Naruto fazia questão de frisar; era cheia de vida e cor.

E bem, nunca tinha sentido a sensação de pertencimento que sentia consigo mesma dentro de uma camiseta roxa beirando a infantil e a ansiedade de encontrar os amigos à noite para inventarem um novo jogo. Estava incontestavelmente feliz e bem.

[...]

Sakura estava decidida a fazer Ino esquecer as merdas que ouviu no trabalho e por isso comprou donuts, cheios de cores e granulados coloridos. A amiga tinha contado no grupo do trio desafortunado o quanto tinha passado raiva no escritório e que não aguentava mais.

A jovem de cabelos coloridos chegou mais cedo que o combinado — porque era especificamente muito pontual — e bateu na porta cinza e sem graça da loira. Assim que Ino apareceu, sua postura levemente desanimada ganhou um up e logo um sorriso sincero deu as caras, quando Sakura entregou a caixinha cor de rosa cheia de doce para a amiga. Naruto apareceu correndo no fim do corredor e a Haruno fez questão de bater a porta na cara do garoto, enquanto ria do escândalo que ele fazia do lado de fora.

Dentro do apartamento Sakura sentiu falta de vida. O carpete que cobria a sala, era cinza. O conjunto de sofá era preto. A televisão estava pendurada diretamente na parede branca e sem graça. Nada de painel, estante, mesinha de centro, plantinhas, enfeites. Sabe aqueles quartos de hotel que você aluga durante uma viagem apenas para dormir, porque durante o dia vai estar ocupado conhecendo lugares? Bem, talvez eles fossem melhor decorados.

Sakura então decidiu que aquele lugar precisava de uma intervenção com urgência. Ino morava ali, não podia tratar o lugar de forma profissional e não se apegar em espalhar detalhes dela mesma pelos cantos. E Naruto percebeu ao mesmo tempo que a amiga, que na verdade, Ino ainda não havia se descoberto o suficiente para isso. Passou a ser uma missão do dois, fazer Ino enxergar cores na vida, e nela mesma.

E como isso demorou…

Sakura e Naruto se abriram como livros esquecidos em uma biblioteca, mas Ino? Por vezes nem ao menos parecia tentar. Contudo, não foi como se os outros dois fossem desistir de fazer pela loira, o que ela já havia feito por eles.

A Haruno continuou produzindo estampas de camisetas, e Naruto até mesmo deu a ideia de começarem uma lojinha no instagram, mas Ino teria que ajudar na parte organizacional do negócio. Besteira! A intenção era enfiar a loira nas peças e usá-la de modelo. Quando menos percebeu, ela mesma já compartilhava fotos altamente coloridas na própria página, parabenizando Naruto pelas fotografias e Sakura pelas edições. Cada vez mais os modelos de roupa cinzentamente formais eram usadas apenas no trabalho, e as cores e personagens ganhavam o corpo da loira em outros momentos. Os fios longos e claros estavam constantemente soltos e o olhar sério e severo quase não era mais visto pelos amigos.

Estavam quase lá…

Mas aí, em outra ligação da mãe de Ino, onde a mais velha só queria criticar pessoas mais uma vez, as coisas ruíram de vezes. A matriarca fez a besteira de criticar os novos amigos de Ino e como a loira estava fazendo papel de ridícula, retrocedendo no tempo. O dia já tinha sido ruim o suficiente, o humor de Ino era dos piores e as únicas pessoas no mundo que pareciam suportá-la estavam sendo erroneamente criticados pela mãe.

Naruto estava em cima de uma pequena escada, furando a parede marcada para colocar um painel que Sakura havia convencido a loira a comprar, e ela inclusive segurava a escada com as pequenas mãos — como se fosse adiantar alguma coisa, caso o Uzumaki se desequilibrasse. Os dois se viraram surpresos para Ino, quando o tom de voz mudou e se elevou exorbitantemente. Sakura largou Naruto a própria sorte com a escada e observava a Yamanaka andar nervosamente de um lado para o outro.

— Mãe, eu acho que a senhora deveria parar de gastar seu tempo criticando pessoas comigo! Não sei se percebeu, mas eu não estou nem aí para essa ladainha toda vez que me liga. Eu não vivo pensando e falando da vida alheia. E quanto aos meus amigos, eu desejo profundamente que morda na língua quando for citá-los e que seu próprio veneno desça pela sua corrente sanguínea. Eles são as melhores coisas que já me aconteceram. Eles fazem o que você e papai nunca fizeram: eles me aceitam! Eu não sou a merda de um robô, e muito menos alguém fútil o suficiente para me importar com as merdas que a senhora se importa.

Quando desligou a ligação e jogou o celular no sofá, o corpo esguio da Yamanaka cedeu, caindo de joelhos no chão. Sakura correu até ela, que chorava copiosamente, sacudindo os ombros como se sentisse dor. Naruto rapidamente se livrou da escada e sacudiu a pouca poeira da roupa. Ino chorava tanto que balbuciava palavras sem nexo, e o corpo não reagia a nada. O loiro decidiu que o melhor a se fazer era levá-la para o quarto.

Ino se agarrou ao pescoço do garoto quando ele a ergueu do chão, e Sakura os seguiu muito preocupada com o estado de Ino. Nem mesmo no dia do surto comum dentro do elevador, a loira havia demonstrado estar tão mal. A Haruno sentou-se na cama, encostando o tronco na cabeceira e puxando Ino para seu colo, onde a amiga continuou o desabafo em prantos.

Enquanto Naruto corria até a cozinha na busca por algo que acalmasse a loira, Sakura tentava inutilmente segurar o próprio choro. Até que o rapaz voltasse, Ino acalmou-se um pouco e já com o copo de água vazio em mão, ela estava encostada à cabeceira ao lado da amiga. Os olhos azuis estavam opacos e sem vida, a expressão era mórbida e culpada, e os dedos tremiam como se ela sentisse muito frio.

— Eles nunca... — começou, a voz levemente rouca e arrastada — nunca estão satisfeitos com nada que eu faço. Queriam para mim uma vida e criaram expectativas que eu nunca vou atender… Nunca.

— Ainda bem, né? — Naruto falou, sorrindo sem graça. — Se vivesse as expectativas deles nunca seria feliz de verdade. Seria no máximo um personagem de The Sims, controlado o tempo todo.

— E eu por acaso sou feliz, Naruto? — ela falou com amargura, desviando o olhar para longe.

— Você visivelmente tenta ser, amiga. — Sakura finalmente falou, prendendo as mãos de Ino entre as suas. — Você ensinou para Naruto e eu que precisamos ser nós mesmos e amar nossas histórias para sairmos do lugar, e tudo que podemos fazer é repetir suas palavras e te mostrar com fatos, que a Ino que nós conhecemos é livre, feliz e cheia de si.

— Exatamente! Você viveu tempo demais carregando um peso maior que o necessário… Precisando se provar o tempo todo, como se a vida fosse só isso. Mas a verdade é que é bem mais que isso. — Naruto começou, atraindo a atenção das amigas. — Você pode ser uma das mulheres mais lindas que já vi, mas é disparadamente uma das mais inteligentes também. É independente e sabe se virar como ninguém. Mas isso não é nem de longe a pessoa que você é. 

— Sim! — Sakura complementou. — Você é empática, verdadeira, engraçada, respeita as pessoas, não perde tempo com preconceitos e críticas, é uma mulher brilhante em tudo que faz e a sua energia influencia em tudo. Mesmo que exale cores cinzentas, eu vejo em você amarelo, vermelho, azul, roxo, laranja, verde… Só precisa aceitar que pelo caminho vão existir pessoas que vão tentar tirar seu brilho, seu amor próprio. E infelizmente, isso claramente começou em casa. Sei que tentou fugir da própria família se mostrando independente e isso não foi um erro. Erro é continuar aceitando a imposição dos seus pais mesmo tão longe de casa. Erro é continuar se prendendo quando você claramente quer voar, ser livre… — Os olhos de Sakura ganhavam vida enquanto ela gesticulava e falava. Ino mantinha a atenção focada na amiga, como se sua vida dependesse daquilo, e de fato, dependia. Ela precisava urgentemente de uma solução.

— Talvez você esteja com as asas feridas de tanto tentar voar sozinha e precisar pousar no mesmo lugar… — Naruto falou, sorrindo com pesar. — Mas você tem aqui dois pares de asas novinhos em folha: as da Sakura e as minhas. Nós vamos levantar voo juntos e vamos ajudar um ao outro quando os ventos estiverem fortes demais.

— Por que eu vou dizer que é não, se é sim? Juntos nós vamos criar novas realidades, e as nossas histórias vão ser como nós quisermos e fizermos. Se derem errado, começamos de novo. A vida é feita de ciclos, e nós não vamos perder nadinha dela.

Ino voltou a chorar, mas dessa vez era um choro liberto, certo e aliviado. Mais um abraço triplo e risadas aqueciam os corações calejados, mas uma coisa era certa: as coisas são como são, e os três eram como pilares um para o outro.

Cada um em sua realidade perdida, buscando objetivos vazios que talvez apenas os machucassem mais. Mas desde o “surto no elevador” eles eram mais que rascunhos de histórias fracassadas: eram brilhantes, vibrantes e contagiantes quadros coloridos, com muito mais para contar do que tragédias. Eram humanos, belamente incompletos, na busca constante por algo que os mantivessem na órbita.

E de fato, não caminhariam mais sozinhos, iriam juntos por estradas construídas por ninguém menos que eles mesmo. Eles nunca seriam o que as pessoas procuravam, e não sentiriam o que outras pessoas quisessem. Seriam eles: imperfeitos e exatamente como eram.


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Notas finais do capítulo

Muito linda, eu tô orgulhosa demais a

Obrigada pra você que leu e me acompanhou nessa fofura!

Até a próxima! xx



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