A nova vida de uma alma sem lembranças escrita por DaiKenja


Capítulo 43
Capítulo 43 - A espada cravada na pedra.


Notas iniciais do capítulo

Postagem: 2021/01/09 21:36
Revisão: 2021/06/13 19:43



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Um novo dia amanheceu.
Quando eu despertei me lembrei imediatamente do teste com o professor de espada no dia de hoje.
De qualquer maneira, isso seria só no período da tarde, mas eu já estava um pouco ansioso para isso.
Meditei, comi a fruta, tomei café e fui para a aula.
As crianças élficas chegaram um pouco mais cedo e vieram conversar comigo novamente.
Eu contei algumas histórias sobre as batalhas que eu participei com Louyi, Kurio e Myuka.
Os Adagas-de-Prata são bastante conhecidos na cidade e as crianças ficaram bastante animadas quando eu contando a história da luta contra a Grande-Harpia.
Eu não contei que eu lutei ao lado deles, pois achei que isso seria muito ruim de entender, e quando eles entendessem, seria muito ruim para mim, pois não sei como eles agiriam.
Então, no lugar de falar que era eu lutando, eu falei sobre um quarto membro misterioso que trabalhou com os Adagas-de-Prata nessa viagem e tudo o que eu fiz eu atribuí como se fosse ele que havia feito.
Eu contei como se eu estivesse na carruagem observando tudo enquanto eles lutavam.
É um pouco triste ter que mentir para eles, mas é o que posso fazer por hora.

Dessa vez, por conta da animação das crianças élficas, as outras crianças começaram a se interessar, e mesmo não estando perto, eu pude perceber eles tentando escutar e prestando atenção no que eu falava.
Eu até comecei a falar um pouquinho mais alto para eles poderem ouvir.
Logo a professora nos colocou em ordem e começou a dar aula.
A aula aconteceu normalmente.
Nada de muito novo para aprender, mas bastante coisa útil para se praticar.
Alguns detalhes sobre como se deve escrever algumas palavras.
Algumas regras gramaticais.
Mas eu me esforcei bastante, anotei e pratiquei para aprender rápido.
A professora ficou um pouco admirada com o meu progresso, mas ela ficou quieta quanto a isso para não atrapalhar o aprendizado das outras crianças.
Talvez se alguém se comparasse a mim, poderia se sentir incapaz e ficar desanimado em aprender.
Por isso era melhor fingir que eu estava só acompanhando a turma.

A turma foi dispensada, mas algumas crianças ficaram para me ouvir contar mais histórias.
Dessa vez ficaram algumas crianças humanas também.
Eu me desculpei a eles e disse que naquele dia eu não podia ficar até mais tarde, mas prometi contar no dia seguinte antes da aula para aqueles que chegassem mais cedo.
No fim das contas, para criar alguma amizade com as crianças eu tinha que me tornar um contador de histórias.
Talvez eu pudesse contar histórias da terra para elas, como o Chapeuzinho Vermelho e esses contos de fadas.
Aqui até seria mais fácil de acreditar nelas, pois existiam monstros e seres animalescos que falavam e andavam em Oriohn.
Algo como um Lobo Mau era possível nesse mundo.

De qualquer maneira eu corri para a estalagem.
Eu sabia que, como eu iria me exercitar bastante, eu não deveria comer muito, então que almocei algo mais leve dessa vez.
Ma'am até estranhou, mas eu falei para ela que iria praticar espada e ela entendeu, apesar de desacreditar em um Elfo Negro espadachim.
Myuka já estava na estalagem quando eu fui para meu quarto me trocar e pegar minhas coisas para ir ao professor de espada.
Eu iria usar parte da minha roupa de combate, sem as proteções, pois essa roupa era ótima para exercícios.
Myuka me levou até o local.
Era uma parte que eu ainda não havia visitado na cidade.
Acho que era algo como um bairro mais nobre.
Aqui eu podia ver uma quantidade maior de Elfos da Planície.
Talvez havia uma separação nos bairros onde eles moravam em relação às outras raças.
Mesmo assim os Elfos da Planície sempre foram bastante hospedeiros e suas cidades sempre viviam cheio de seres de outras raças.

Chegamos em uma bela casa.
Não era muito grande, nem muito detalhada, mas os poucos detalhes que haviam deixava a casa extremamente bonita.
Um belo elfo nos atendeu.
Eu sabia que ele já devia ter certa idade, mas ele parecia ter algo como 25 anos de um humano.
Ele tinha uma expressão séria e focada, mesmo assim ele foi gentil e nos pediu para entrar.
Seu cabelo era preto azulado, igual a minha mãe, porém curtos, como o dos humanos da terra, com no máximo 3 dedos de cumprimento e um pouco espetado. Seus olhos eram de um cinza escuro que parecia metal, como todos os outros Elfos da planície que eu já havia encontrado.
Eu pensei que eram apenas os soldados, mas agora eu reparei que todos os elfos da planície que eu encontrei tinham cabelo curto.

Cumprimentei e me apresentei para ele.
Ele usava roupas longas que cobriam quase todo o corpo.
Lembravam um pouco os quimonos japoneses.
As mangas eram largas e longas, deixando as mãos aparentes, mas indo até próximo do chão.
A calça também era bem larga e parecia um vestido, indo até rente à canela, deixando apenas o pé descalço à mostra.
Ele não usava nada na cintura como os quimonos japoneses, mas a roupa ficava justo nessa área.
Pedi licença e entrei em sua casa com todo o respeito que eu conhecia.
Ele ficou me olhando enquanto eu passava por ele para dentro da casa.
Myuka entrou logo depois de mim, cumprimentando-o ao entrar.

— Meu nome é Necifran de Vegúrlia. O prazer é meu. - Necifran respondeu à minha apresentação e olhou para Myuka. - Então é verdade que um Elfo Negro tão jovem está na cidade e se comporta como um adulto.
— Eu disse, não disse? - Myuka sorria enquanto falava. - Você vai se surpreender com ele.
— Myuka! Não faça ele ficar com muitas expectativas. - Eu respondi envergonhado.
— Não tenho expectativas. - Ele disse e começou a andar. - Venha, acompanhem-me. Vamos realizar seu teste o mais breve possível.
— Sim senhor! - Eu respondi polidamente, não sabia se devia tratá-lo com respeito, então eu fiz.
— Essa é minha sala de aula. - Necifran nos apresentou um lugar que parecia um quintal, ao céu aberto. Mas muito bem construído. - Deixe-me ver sua espada.
— Aqui.

Eu entreguei a minha arma a ele.
Ele fez uma expressão horrível ao ver que ela era feita de uma garra de animal.
Mas depois que ele pegou na mão, a sua expressão mudou um pouco.
A minha espada era muito pequena na mão dele, mas ele segurava como se ele estivesse acostumado com ela.

— Ela tem uma lâmina horrível, mas o equilíbrio de peso e tamanho dela é muito boa. - Então ele cortou o ar com ela. - Se você aprendeu a usar bem essa arma, acho que você se dará bem com uma espada de verdade. Venha, vamos pegar uma espada real para você.

Ele voltou a andar para um canto daquela sala.
A sala era bem quadrada e tinha uma ótima iluminação, já que era aberta.
Existiam alguns equipamentos em alguns lugares na sala, provavelmente equipamentos de treino.
Existiam uma parte coberta onde estavam algumas espadas expostas.
Era um lugar bonito com espadas que pareciam obras de artes.
Todas eram de lâmina reta e com fio nos dois lados, diferente da minha espada, que era curvada e tinha o corte de um lado só.

— Acredito que essa seja boa para você. - Necifran me entregou uma pequena espada da coleção dele.
— Muito obrigado. - Eu recebi a espada fazendo uma reverência. Não sabia se devia ser educado nessa situação.

Pesada!
Essa espada era muito pesada para mim.
E minha espada já era relativamente pesada para mim, mas essa de metal era muito pesada.
O Elfo me olhou com um pequeno riso enquanto eu sofria para segurar a espada.

— Esse é o peso ideal para uma espada. Com esse peso você consegue extrair mais poder com os seus golpes. - Então ele ficou sério novamente. - Você está com problemas para segurar por sempre ter treinado e usado da maneira errada.
— Sim senhor. Entendi. - Embora ele estivesse sendo sério, ele não estava me tratando como criança e eu estava gostando disso.
— Veja a minha postura enquanto eu seguro a minha espada. - Então ele pegou uma outra espada da coleção e fez uma base que parecia de artes marciais asiáticas, com as penas bem abertas e anguladas, enquanto segurava a longa e pesada espada com apenas uma das mãos.
— Entendi. Assim? - Eu tentei imitar a postura dele, mas não era tão simples quanto parecia e eu não conseguia equilibrar direito, enquanto isso Myuka parecia ter um sorriso bobo no rosto e empolgada.
— Esse é o caminho. - A expressão séria sumiu do rosto dele, nesse momento ele estava inexpressivo. - Com prática e treino você irá aprender corretamente.
— Sim senhor. - Eu respondi, olhando a base dele e tentando corrigir os detalhes da minha base.
— Agora venha para a área aberta, eu vou te ensinar uma postura de contra-ataque. - Necifran saiu andando para o meio da sala.
— Sim. - Eu o segui.

Myuka não nos seguiu dessa vez, ela ficou na área coberta onde ficavam as espadas, nos observando de longe, ainda com um sorriso besta no rosto.
Necifran pediu para eu me posicionar em um lado da sala e me mostrou uma base, semelhante, mas eu sabia que era para propósito diferente.
A base anterior era claramente para defesa. Ficando com a espada completamente em sua frente e com o corpo todo de lado para o alvo, diminuindo ao máximo a área que seu inimigo pudesse atingir e dando espaços para se esquivar.
Essa base de agora deixava algumas brechas para um possível ataque do inimigo, deixando a espada para trás do corpo, mas eu tinha noção de que era proposital, já que devia haver um movimento ou alguma técnica para revidar o ataque sem levar algum dano, fazendo com que essa brecha fosse uma armadilha.
Eu só não sabia o que fazer ainda.

— Isso, você está indo bem. Agora eu vou lhe mostrar como fazer para se defender nessa situação. Fique aqui nessa base um minuto. - Ele disse isso e se afastou de mim, indo para o outro lado da sala.

Necifran se posicionou longe de mim, devendo estar a uns 5 ou 6 metros, ou mais.
Com movimentos circulares, ele fez com que as mangas e as barras da calça ficassem justas e prendessem em seu corpo, fazendo com que a roupa grande e solta ficasse parecendo com uma vestimenta ninja.
Ele fez uma base de defesa bastante semelhante a anterior e apontou sua espada para mim, mas com o braço e espada por cima da cabeça e a espada apontada para mim em um ângulo para baixo.
Eu comecei a sentir uma forte tensão tomar conta de mim.
Meu corpo começou a tremer e um grande medo tomou meu coração.
A mesma sensação que eu sentia quando percebia que um monstro iria me atacar.
Eu sentia a sede de sangue e o instinto assassino, ao mesmo tempo que era confuso, pois ele estava longe e não apresentava nenhum sinal de agressão.
Olhei para o rosto dele e ele estava completamente inexpressivo e relaxado.
Eu conseguia ver claramente uma linda paisagem da planície com o sol se pondo no fundo ao olhar para seus olhos.
Por outro lado eu sentia muita magia emergindo de seu corpo, e outra enorme quantidade de magia cobrindo sua espada.
Ele falava alguma coisa bem baixinho, de maneira que eu não podia escutar.
Mas em um instante tudo mudou.

Por um milésimo de segundo eu vi a expressão de sua face mudar para um rosto demoníaco e cheio de ódio.
Se eu pudesse comparar com algo, seria com as máscaras samurai japonesas.
Mas isso durou um instante.
No instante seguinte ele estava em cima de mim.
Ele cobriu toda a diferença de distância com um impulso e um passo.
Sua espada havia feito um movimento circular para cima e para baixo e agora estava vindo em minha direção, com um corte na vertical para me atingir em cheio bem na brecha que havia em minha postura.
Minha mente ficou perdida.
Ele iria me matar.
Eu morreria com apenas um golpe.
Seria cortado em dois como se fosse o ar.
Meus pés não se moviam, até porque não dava tempo.
Eu não pensei, meu corpo apenas reagiu e por instinto eu me movi um pouco para o lado e contra ataquei com um corte de baixo para cima para cortar no ponto que ficou aberto em seu corpo durante seu ataque.
Eu não queria fazer isso, eu não queria machucar ele, muito menos matá-lo, mas eu não tive tempo de pensar em nada e meu corpo agiu por instinto de sobrevivência e impulso.

Como se ele nunca tivesse tentado me atacar, a espada dele estava lá para protegê-lo de meu golpe.
Parecia ilusão, no instante seguinte o golpe dele pareceu nunca ter acontecido e ele estava bloqueando a minha espada.
Mas eu usei magia de vento para criar um golpe de vento.
Eu não fiz por querer, meu corpo simplesmente fez isso.
Uma grande ventania jogou o corpo de Elfo para o alto.
O outro braço dele defendeu seu rosto e parte do corpo.
Eu senti a magia do corpo dele reagir ao vento.
Ele saiu voando para trás e para o alto, aterrissando suavemente no outro lado da sala, um pouco mais para trás de onde ele havia se posicionado.
Seu corpo não havia levado nenhum dano.
Nenhum arranhão sequer.
Sua expressão facial suavizou e seu corpo relaxou.

— É. Isso foi realmente incrível. - Então um pequeno e discreto sorriso apareceu em seus lábios. - Você me surpreendeu... Como ninguém nunca antes.
— Isso... - Meu corpo ainda tremia como uma vara verde, enquanto as forças deixavam o meu corpo e uma forte exaustão me fez cair de joelhos, soltando no chão a espada que eu segurava. - Foi perigoso.
— Você estava certa, Myuka. Ele é excepcional. Embora precise de polimento. - Necifran chegou perto de mim, pegou a espada do chão e foi em direção de Myuka. - Use curar nele.
— Certo. - Myuka respondeu e correu em minha direção recitando a magia. - Parabéns Dinus, você foi incrível.
— Eu... - Eu não tinha forças nem para falar, mas tudo voltou ao normal no momento que Myuka me tocou e soltou sua magia de cura em mim. - Eu podia ter machucado ele.
— Há! - Necifran riu alto de ao colocar de volta as espadas no suporte onde elas estavam antes. - Não me leve a mal garoto, seu golpe foi bom... Se fosse um monstro te atacando. Mas ele é todo bruto e cheio de medo, você nunca conseguiria derrotar um bom guerreiro apenas com isso. Está claro que o que Myuka disse sobre você matar uma Grande-Harpia sozinho provou-se ser real, porém você ainda tem muito o que treinar e melhorar.
— Dinus, ele é um grande espadachim e já lutou contra Renegados e até contra dragões. - Myuka me ajudou a levantar. - Não se preocupe, ele já esperava pela sua reação.
— E se eu não tivesse reagido? - Eu ainda estava tremendo de medo.
— Eu não iria acertá-lo. - Necifran já havia andado em nossa direção e já estava próximo de nós. - Coloquei toda minha intenção assassina e sede de sangue no golpe para que você reagisse, mas eu nunca ataquei você de verdade. Além disso a minha abertura para o seu contra ataque também foi proposital, para que eu soubesse onde você iria atacar e pudesse me defender adequadamente.
— Você usou magia para se defender? - Eu perguntei.
— Você percebeu? - Um pequeno sorriso voltou a aparecer no rosto inexpressivo dele. - Poucas pessoas conseguem notar quando eu uso o encantamento. Parabéns garoto, a partir de hoje você será meu discípulo. Nós treinaremos uma vez a cada dois dias.

Necifran disse que reparou que eu exercito meu corpo e já estava em boa forma, então não faríamos nenhum treino físico preparatório e iríamos direto para a prática de espada.
Como eu estava exausto, eu só iria começar o treino depois de dois dias.
Depois que o medo e a tremedeira deixaram meu corpo, borboletas apareceram em meu estomago e eu fiquei feliz.
Eu agradeci profundamente o meu novo mestre e voltei para a estalagem com ajuda de Myuka.


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Notas finais do capítulo

Caso encontre algum erro gramatical ou de digitação, fique à vontade para me enviar a correção.
Agradeço profundamente qualquer apoio.



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