A nova vida de uma alma sem lembranças escrita por DaiKenja


Capítulo 19
Capítulo 19 - O ataque do meu maior medo.


Notas iniciais do capítulo

Postagem: 2020/09/20 19:51
Revisão: 2021/05/16 20:02



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Pouco menos de uma hora havia se passado.
Eu terminei de preparar meu equipamento e mantimentos e acabei ficando apenas observando os outros guardas enquanto dormiam.
A elfa Myuka parecia estar sempre atenta e percebia que eu estava ali, mesmo enquanto dormia.
Já os outros dois apenas dormiam profundamente.
Taime apareceu no quarto para nos chamar, pois já havia terminado de se preparar e partiríamos em breve.
Eu saí do quarto antes que os outros acordassem completamente e fiquei esperando ao lado da carroça.
Então eu ouvi vozes altas vindo do quarto onde todos estavam.
O grupo de guardas era bastante agitados.
Kurio falava sempre muito alto e Louyi tinha uma voz grave que mesmo não muito alto ainda fazia o ambiente vibrar, enquanto Myuka estava sempre gargalhando das brincadeiras de seus companheiros.
Quando eles passaram pela porta da casa e me viram ao lado da carroça, todos fizeram a mesma expressão de espanto, logo em seguida cada um mudou sua expressão de maneira diferente.
Louyi parecia confuso, enquanto Kurio ficou animado.
Myuka abriu um grande sorriso e quebrou o silêncio.

— Que gracinha! Qual seu nome? - A elfa se abaixou e aproximou seu belo rosto de mim.
— Nós teremos que escoltá-lo até sua Vila? - Perguntou Louyi para Taime.
— Você tem cara de um grande guerreiro - Disse Kurio observando meu equipamento. - Hein? Onde você consegui essa espada?

Agora que eles estavam acordados eu consegui notar mais detalhes sobre eles.
A elfa tinha olhos amendoados iguais aos dos Elfos Negros, mas a cor era alaranjados, enquanto os dos Elfos Negros de Khuma eram vermelhos.
Além disso ela era exageradamente alta perto de mim.
Ambos os arcos ficavam em suas costas, enquanto uma aljava ficava na coxa, igual a mim, e a outra ficava nas costas.
A adaga ficava na coxa esquerda.
Suas vestimentas eram apenas roupas de pano, provavelmente de algodão, porém bem justa para não atrapalhar na movimentação.
O visão dessa vestimenta lembrava muito a de roupas de ninjas japoneses, mas a cor era marrom claro e verde claro.
Não existia nenhum tipo de peça metálica ou de couro para sua proteção, mas existia algumas peças de madeira em alguns pontos específicos, como o peito e o ombro.

Louyi deixava seu grande machado em suas costas e o pequeno em sua cintura.
Seus olhos eram azuis como uma safira e ele era bem alto, mais alto que a elfa e talvez a pessoa mais alta que eu já havia conhecido.
Mas diferente da Myuka, não apenas seus braços e pernas eram compridos, mas o corpo inteiro era grande, com músculos bem definidos iguais aos de meu pai.
Ele usava protetores de ombro e um peitoral de placa de ferro, protetores no antebraço e na canela também, e o resto do seu corpo era protegido por couro e pano.

Já Kurio deixa ambos espada e escudo em suas costas e sua adaga em sua cintura.
Seus olhos eram castanhos claros, parecendo bem próximo do mel.
Ele não era muito alto em relação aos seus companheiros, mas mesmo assim ele era uma pessoa mais alta que os Elfos de Khuma.
Apesar de não ser muito alto, seu ombro era extremamente largo e musculoso e além de ter enormes músculos nos braços e pernas, ele possuía também alguma gordura abdominal.
Estava protegido por cotas de malha de ferro, couro e pano.

Mesmo com Louyi sendo o mais sério dos 3, todos eles eram bastante alegres e descontraídos.
Sendo encarado por eles eu fiquei um pouco envergonhado e não consegui falar de imediato.
Então eu olhei para Taime como um pedido de socorro, mas ele deu um pequeno sorriso de lado e fez um gesto com a mão como se mandasse eu me virar.

— Mu-muito prazer... Meu nome é Dinus. - Eu cumprimentei os guardas com um pouco de dificuldade.
— Que fofo! - Comentou Myuka enquanto tocava em minha bochecha.
— Essa espada é feita do que? Parece ser de algum monstro. - Perguntou Kurio enquanto olhava de perto a espada feita com a garra do Urso de Espinhos.
— Desculpe-me por esses dois. Eles não conseguem se comportar de maneira decente. - Disse Louyi enquanto puxava os seus companheiros pela orelha. - Você viajará conosco?
— Sim, eu viajarei com vocês, mas eu não vou para casa, eu irei acompanhá-los como Guarda até o destino final de Taime. - Respondi naturalmente.

Nesse momento eles ficaram surpresos novamente.
Uma expressão de confusão tomou o rosto dos 3.

— Dinus quer experimentar a função. Essa será a primeira vez dele, mas ele já tem experiência em caça pelos caçadores de Khuma. Murio recomendou ele por seus feitos anterior. - Dessa vez Taime entrou na conversa.
— Murio recomendou? - Perguntou Louyi com espanto.
— Isso mesmo, ele ainda me disse que esse menino pode lidar com monstros lobos sozinho. Embora eu não acredite. Mas em seu grupo ele não deve ter dificuldades para aprender a lidar com monstros, correto? - Continuou Taime.
— Foi apenas sorte! - Respondi. - Murio está me superestimando. Espero que possa aprender bastante com vocês. - Terminei cumprimentando-os novamente.

Os guardas pareceram bem confusos no começo, mas depois deixaram as dúvidas de lado e então subimos na carroça e partimos de Trucia.
A carroça era fechada por cima por uma tenda e era bastante espaçosa por dentro, mas como estava cheia de mercadorias, apenas dois podiam ficar dentro da parte coberta.
Na traseira da carroça havia espaço para dois se sentarem e ficarem de guarda.
Taime ficava em um acento acolchoado na frente, guiando os dois cavalos que puxavam a carroça.
Louyi percebeu que se me deixasse com algum dos outros eu não ficaria em paz, então ele deixou Myuka e Kurio na primeira guarda e eu fiquei com Louyi no interior da carroça.
Mesmo assim estava claro que ele tinha muitas dúvidas quanto a mim e logo ele quebrou o breve silêncio que ficou no começo da viajem.

— De qual Vila você veio? - Perguntou Louyi logo após limpar a garganta.
— Eu nasci em Khuma. - Respondi.
— Não passaremos por lá, e você disse que viajará até chegarmos na capital. Você tem certeza disso?
— Desculpe a pergunta, mas tem algum problema?
— Bom... - Louyi pareceu ficar sem graça com a minha pergunta. - Eu nunca ouvi falar de um Elfo Negro viajando para longe de sua vila. Aliás, você é o primeiro Elfo Negro não adulto que eu conheço. - Louyi recuperou sua postura séria novamente e continuou. - Quando paramos nas Vilas apenas Taime conversa com os Elfos e apenas um deles nos atende.
— Realmente, os Elfos de Khuma são meio fechados para estranhos, mas eles são bondosos e não fazem isso por mal. - Respondi dando continuidade a conversa.
— Você não está com medo de viajar conosco? - Louyi pareceu se sentir mais a vontade para fazer essa pergunta.
— Posso dizer que estou um pouco ansioso, mas vocês parecem bem habilidosos, então não estou com medo. - Aproveitei para colocar um elogio e melhorar o clima.
— Quantos anos você tem? - Myuka já não conseguia ficar quieta só escutando e estava olhando para dentro da carroça com os olhos brilhantes.
— Você! Não saia da formação e fique atenta. - Louyi tentou dar um jeito no comportamento da Myuka.
— Eu farei 9 anos em breve. - Respondi com um tímido sorriso.
— O que!? - Louyi se espantou. - Jurava que já tinha 12 anos.
— Seus pais deixaram você vir? - Myuka ainda estava com os olhos brilhando olhando para mim.

Nesse momento a carroça passou por algum desnível grande na estrada.
Eu me preparei para a chacoalhada, mas o interior da carroça quase não se mexeu.
Ao mesmo tempo eu senti magia vindo de algum lugar da carroça, então eu já me preparei para o combate.
Olhei para fora na direção de Taime e notei que ele estava calmo, então olhei para Kurio e Myuka e eles também estão tranquilos.

— Algum problema? - Louyi percebeu que eu estava com a mão na empunhadura de minha espada.
— Não... Não foi nada. - Então eu relaxei e entendi a situação. - Taime. Existe alguma magia na carroça?
— Sim, ela é encantada pelos Elfos do céus para absorver os impactos da estrada.

Louyi e Myuka não pareceram entender muito bem o que aconteceu, Kurio não estava prestando atenção em mim, mantendo o foco no exterior da carroça.
Então eu tentei amenizar o clima voltando a conversar.

— O grupo de vocês tem algum nome?
— Nosso grupo se chama Adagas de Prata. - Então Louyi revelou de sua proteção peitoral uma adaga igual ao de Kurio e de Myuka, porem a dele ficava preso a uma corrente em seu pescoço, como se fosse um amuleto e por baixo de suas vestimentas.
— Entendi. Belo nome. - Completei com um sorriso no rosto. - Vocês estão juntos a muito tempo?

Durante a conversa, eu senti mais vezes magia vindo da carroça toda vez que ela passava por algum grande desnível na estrada.
Para não ficarem perguntando sobre mim, decidi tentar fazê-los contar a história deles, pelo menos até ficarem mais a vontade sobre o fato de eu ser tão novo.
Louyi me contou que ele e Kurio são amigos de infância e se conheceram com 10 anos quando foram treinar em uma escola de magia, igual ao que acontece com as crianças da Vila aos 12 anos.
Ambos são de famílias da baixa nobreza, Louyi é da casa dos Galafar e Kurio é da família dos Sangue-de-Prata.

— A família de Kurio é originalmente do sul do "continente", mas sua família se mudou para o norte, próximo da cidade que eu venho e onde ele nasceu. - Apareceu uma nova palavra que eu não havia ouvido antes.
— "Continente"? - Perguntei inclinando a cabeça para o lado. - Desculpe, mas o que significa "continente"?

Com um sorriso Louyi me explicou que nós vivemos em um enorme continente, enquanto desenhava em algo parecido com um papel.
O continente chegava em ambos os polos de Oriohn, além de preencher mais de metade da linha equatorial em terras contínuas.
Era um continente enorme que ocupava basicamente uma face inteira do planeta.
Quando ele começou a falar sobre alguns detalhes de cidades e localizações eu senti uma enorme magia se aproximando.
Era uma magia conhecida pois era um monstro que eu já havia encontrado antes.

Eu preparei meu arco e me levantei na direção traseira da carroça, enquanto Louyi me olhava com uma expressão de espanto.
Foi quando Kurio gritou.

— Monstros se aproximando!

Imediatamente Taime parou a carroça e entrou para a parte coberta para se proteger.
Louyi saiu da carroça com apenas um passo e Myuka pulou para o telhado da carroça enquanto dizia um encantamento, mesmo o telhado sendo apenas uma tenda, então ela desceu e nos contou da posição dos monstros.
Eu já sabia a posição deles, pois minha magia de localização estava ativada o tempo todo, mas fiquei quieto quanto a isso.
Eram monstros coruja gigante.
Apenas um deles era enorme, os outros 5 ou 6 que estavam juntos eram menores, talvez do meu tamanho.
No momento que eu vi a imagem daquela coruja eu congelei.
Myuka atirou uma flecha encantada em um deles e derrubou um dos pequenos, em seguida já sacou uma segunda flecha junto a um novo encantamento.
Kurio e Louyi se posicionaram na nossa frente com suas armas em mãos.

— Não tenha medo garoto, nós te protegeremos. - Disse Louyi levantando seu grande machado.
— Não é uma Harpia normal, é uma Grande-Harpia, Louyi. - Exclamou Kurio, com uma expressão séria. - Não será tão fácil assim. Elas são inteligentes e traiçoeiras.

Percebi que Myuka também estava tensa.
Talvez eles não fossem bons contra monstros voadores.
E eu estava com muito medo.
Mesmo assim eu puxei uma flecha e atirei no maior.
Myuka me olhou espantada, mas voltou a se concentrar nos monstros.
Minha flecha foi refletida pela asa da criatura e então ele voou em nossa direção com velocidade, deixando os menores para trás.
Kurio deu um salto lateral para a esquerda e saiu de nossa frente, erguendo o escudo na altura da cabeça.
Por um instante eu achei que ele estava se esquivando e abandonando a função de nos proteger, mas ele recitou um curto encantamento enquanto se movimentava e a direção do ataque do monstro mudou para ele, nos deixando uma grande abertura para um contra ataque enquanto ele bloqueava.
Era uma magia que atraía o ataque do monstro para o escudo dele e eu podia sentir a energia fluindo do corpo para o escudo.
Quando eu notei Louyi já estava posicionado para acertar seu machado no grande monstro no mesmo instante que ele atingiu o escudo de Kurio.
Isso enquanto Myuka dava cobertura atirando flechas simples nos menores que estavam vindo em nossa direção.
Eu passei a ajudar ela com a cobertura, mas usando magia nas flechas.
Mesmo sem magia, as flechadas de Myuka eram mais potentes que as minhas.

— Vamos acabar com isso agora! - Gritou Louyi ao atacar a grande coruja.

Mas o ataque dele foi facilmente refletido pelo bater das asas do monstro.
Louyi foi jogado para trás, longe de onde estávamos, à nossa direita.
Kurio prontamente se movimentou para defender Louyi caído de qualquer ataque.
Nesse momento Kurio parecia se mover de forma irregular, pois ele usava magia para chegar mais rápido onde Louyi estava caído.
Sem a magia de atração de Kurio, a grande coruja se voltou para onde estavam eu e Myuka.
Myuka instintivamente se moveu para se esquivar do ataque do monstro, enquanto eu fiquei paralisado de medo.

— Saia daí, garoto! - Gritou Kurio enquanto Myuka se posicionava atrás dele.

Minhas pernas não se moviam e o grande monstro se tornava gigante em minha frente.
Kurio percebeu que eu estava paralisado pelo medo e correu em minha direção para tentar me proteger, mas ele já não estava andando tão rápido quanto antes e não chegaria a tempo de bloquear o ataque da coruja.
Eu não consegui pensar direito e a minha reação foi largar meu arco e sacar minha espada.
Eu saquei e ataquei com o mesmo movimento, de baixo para cima, ao mesmo tempo que usava magia de vento como uma lâmina junto com a de minha espada para potencializar o corte, usando a mesma técnica de acelerar a flecha, mas na lâmina da espada.

— O quê? - Exclamou Myuka me olhando enquanto tentava recuperar a consciência de Louyi.

Eu cortei a coruja em duas partes com apenas um golpe.
Eu usei a magia sem raciocinar muito, então isso criou uma grande lâmina de vento atravessando o corpo do monstro, acertando uma parte das corujas menores que estavam atrás do grande.
Os que sobraram vivos foram derrubados ou afastado pelo vento que gerou do meu ataque.
A grande coruja caiu no chão em dois pedaços e imóvel, enquanto seu sangue nojento escorria de seu corpo e criava uma poça vermelho escuro no chão.
O combate havia terminado, e ao perceber isso eu larguei minha espada e caí de joelhos no chão, tremendo de medo.
Eu podia ter derrotado o monstro, mas o medo não havia passado.
Acho que eu usei muita magia durante esse combate e minha visão estava escurecendo.
Minha pressão deve ter caído com o susto e medo também.

— Como você foi capaz...? - Myuka perguntou, mas eu não consegui escutar tudo, pois desmaiei.


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Notas finais do capítulo

Caso encontre algum erro gramatical ou de digitação, fique à vontade para me enviar a correção.
Agradeço profundamente qualquer apoio.



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