Lie to me escrita por Tati Rodrigues


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Espero que estejam bem, divirtam-se.



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Havia garçons andando a esmo pelo salão, com bandejas lotadas de taças de champanhe e alguns aperitivos, fiquei imaginando que à alguns dias atrás, se fosse eu naquela festa, eu seria um deles. Uma moça até bonita passou por perto de mim e peguei uma das taças, ela olhava sempre pro chão, quase com medo de encarar qualquer pessoa daquela salão. Olhei seu crachá e vi que seu nome era Jamile. 

 

—Obrigada Jamile, está fazendo um ótimo trabalho - falei dando o meu melhor sorriso. Ela pareceu um pouco mais calma com o meu elogio. Eu imaginei que estar em um lugar como esse pode ser intimidador. Pra falar a verdade eu estava me sentindo intimidada, eu precisava que alguém me dissesse palavras reconfortantes. Ninguém poderia fazer nada por mim, mas eu poderia fazer por ela. 

Bebendo um pouco do que estava na taça, percebi que era um pouco parecido com refrigerante, as bolhas e um pouco da cor. Mas parava por aí. Para a primeira vez que tomei champanhe a experiência foi um pouco… decepcionante. Não entendia as pessoas que costumavam beber isso como se fosse água. Bebi mais um pouco pra ganhar coragem, no entanto resolvi ficar apenas com uma taça, eu nunca bebi antes e não queria causar algum tipo de vexame. 

 

Circulei pelo salão, observando as mesas, com lugares marcados, os lustres de cristais, as paredes pintadas de uma forma clássica, parecia um daqueles salões da Idade Média, onde bailes eram realizados. Tocava uma música clássica, ideal para manter uma conversa cordial. 

 

Parei de olhar o local e começando a observar as pessoas. Eu sentia minha pele formigar, sentindo que alguém talvez estivesse me encarando, coisa que minha mãe me ensinou que era falta de educação, mas talvez a dessa pessoa tenha se esquecido de mencionar essa indiscrição. 

 

Estavam todos bem vestidos, os homens estavam quase que todos iguais, a grande maioria só mudava a cor da gravata. Já as mulheres eram um espetáculo à parte. Notando seus vestidos percebi que a minha escolha foi bem feita. Eu parecia uma delas, só não tinha um homem a tiracolo do meu lado, mas isso não era algo que eu quisesse, então sem problemas. 

 

Andando mais um pouco encontrei o lugar em que eu me sentaria. Era uma mesa perto do púlpito, achei que era um lugar honroso demais para uma bolsista, mas considerando que ninguém saberia quem eu era, isso poderia ser tão bom quanto ruim. Atenção demais me permitiria conhecer mais pessoas, porém para conhecer pessoas talvez eu tivesse que mentir pra elas, e eu sei que começar um relacionamento na base da mentira não seria o ideal. 

 

Aquela sensação desconfortável continuava, alguém estava me observando e isso estava me deixando nervosa. Nesse momento a taça estava vazia e eu recoloquei em uma bandeja que passou por mim. Sem a minha dose de coragem líquida minha única opção era encontrar quem estava me olhando tão insistentemente. 

 

Disfarçadamente, comecei a procurar. Encontrei alguns olhando pra mim com curiosidade, mas não eram eles que me deixavam desconfortáveis. Então encontrei, e ao mesmo tempo não queria ter encontrado. Um rapaz estava me encarando do outro lado do salão. Era muito estranho. Ele nem ao menos piscava. Seu olhar segurou o meu. Eu não conseguia desviar nem se quisesse. Ele era lindo. Tinha uma pele de Ébano. Olhos castanhos que pareciam um poço de chocolate derretido. Cabelos curtos, ou ao menos era o que pareciam, estavam perfeitamente penteados pra trás. E o que realmente chamou minha atenção, o sorriso, aquele meio de lado, com dentes quase perfeitos, as presas levemente proeminentes. Um charme molhador de calcinhas. 

 

Ele levantou a taça em sinal de cumprimento e eu fiz um sinal com a cabeça em sinal de reconhecimento, corando terrivelmente. Quando ele fez sinal de vir em minha direção eu simplesmente saí na direção que eu esperava ser a do banheiro. 

 

Andei por um corredor e entrei na primeira porta que encontrei. Era uma sala com uma mesa oval gigante com várias cadeiras em volta. Me sentei em uma delas e tentei respirar calmamente. 

 

Quando ele sorriu pra mim eu senti um calor bem conhecido no meu peito, da última vez que senti isso deu muita merda. Fui humilhada e era horrível só de lembrar. Eu estava morrendo de medo porque dessa vez seria muito pior. 

 

—Se controle sua maluca, é só um cara… com o sorriso mais sexy do mundo, mas só um cara. - falei baixinho, tentando controlar meu coração. 

 

—Acho que a definição de “Só um cara” pode ser ofensiva, afinal eu sou “O cara”, não “Um cara”. 

 

Minhas costas ficaram tensas. Não acredito que ele me seguiu até aqui. Sua voz, era rouca assim mesmo ou era de propósito? Virei um pouco a cabeça e olhei fixamente pra ele pelo canto dos olhos, mas dessa vez olhei mais que o rosto. O porte era elegante, as roupas impecável, e diferente dos outros que vieram de preto, ele veio de cinza. Seus braços eram fortes o suficiente para se fazerem notar em baixo de tanto tecido. 

 

—Gostando da vista? - Comentou com um sorriso de lado. 

 

—Você é sempre tão convencido assim? Ou faz isso apenas pra chamar atenção? 

 

—Sou assim, nasci assim. E você, costuma acenar pras pessoas e fugir delas em seguida ou foi apenas um ato de covardia por pura intimidação? - perguntou com a volta do sorriso cafajeste. 

 

—Você estava me intimidando? 

 

—Sempre responde perguntas com outras perguntas? 

 

—Por quê? Você faz? - Questionei levantando levemente uma sobrancelha. 

 

Ele olhou pra mim e riu. Mas quando encarou meus olhos parou e chegou mais perto, me levantei e dei um passo pra trás, querendo manter um pouco de distância entre nós. Porque sim, pessoas ricas me intimidam e eu tenho certeza que ele tem dinheiro suficiente pra acabar com a minha vida. 

 

—Você tem os olhos mais lindo que eu já vi. - Disse dando outro passo, e segurando o meu queixo olhou bem de perto. - Achei que era lente, mas não é possível, não teriam uma cor tão rica assim. Por que será que eu sinto que já vi essa cor antes? 

 

Virei meu rosto com brusquidão me libertando do aperto de sua mão. 

 

—As cores são comuns, pode encontra em todo lugar, e ninguém nunca te disse que tocar nos outros sem sua permissão é grosseiria? 

 

—Não há nada de comum em você querida. Sou Diego Deluffer prazer em conhecê-la. Poderia me dar a honra de saber o seu nome? 

 

—Deluffer? Como o Pierre Deluffer? - perguntei um tanto surpresa. 

 

—Ele é o meu pai. - Respondeu um pouco mais sério. 

 

—Ah. 

 

E era isso, eu não sabia o que responder, ele era filho do dono da minha vida. O que dizer pra uma pessoa dessas? 

 

—Você tem algum poder sobre essa Faculdade? - perguntei cautelosa. 

 

—Que pergunta interessante, me responda o seu nome e eu talvez lhe dê algumas informações. - o sorriso sacana estava de volta, junto com o arrepio da minha pele. 

—Anne, meu nome é Anne. E agora que tal me dizer algumas respostas? - É óbvio que eu não iria dizer meu nome, não confio nele, não conheço ele. 

 

—Não, eu não mando ainda nesse lugar, mas é apenas uma questão de tempo, sou o único herdeiro e quando o velho se aposentar tudo isso aqui será meu. 

 

Dava pra sentir a arrogância de longe. Ele estava verdadeiramente orgulhoso de conseguir tudo isso. Mas pra mim nada disso importava, eu só queria saber se ele teria poder para interferir na minha vida acadêmica. Não era o caso, então eu estava mais tranquila. 

 

—Bem, é isso então. Foi um prazer conhecê-lo, mas acho que o jantar já vai começar, e não quero me atrasar de novo. 

 

—O prazer ainda não aconteceu querida - disse me segurando pelo braço - mas podemos mudar isso, venha comigo quando a festa acabar. 

 

—Não estou interessada, agora me solte. - Eu estava controlando minha fúria, como ele ousa me tocar, me fazer uma proposta dessas! Quem ele pensa que eu sou? Puxei meu braço com violência e olhei bem nos seus olhos. - Nunca mais me toque sem a minha permissão, ou vai ficar sem o braço e eu não darei a mínima pra quem é o seu pai. 

 

Pude notar a surpresa quando saí tempestivamente da sala. Eu odiava que homens me tocassem sem que eu estivesse preparada. Aconteceu um incidente na escola, alguns rapazes acham que por você morar em um orfanato não tem ninguém que a defenda. Eu não preciso que me defendam, sou capaz sozinha. Eles aprenderam isso ao me encurralarem no banheiro, e eu aprendi a não me deixar levar por aparências bonitinhas. 

 

Quando voltei pro grande salão a música havia parado, as pessoas estavam sentadas em seus determinados lugares e mais uma vez todos olharam pra mim, odeio chamar atenção, vou culpar o babaca por isso também. Fui em direção à minha mesa e percebi que havia uma cadeira vazia ao lado da minha. Pelo visto eu não era a única atrasada… espera… não! 

 

Não fui a única a perceber, senti ele logo atrás de mim, quando eu ia me sentar ele puxou a cadeira para que eu me apoiasse melhor. Sentando logo depois ao meu lado. Se ele não tivesse passado os últimos minutos comigo eu teria certeza que ele havia armado isso. 

 

—Que surpresa senhorita… qual foi o sobrenome que havia dito? 

 

—Eu não disse. - eu não iria cair no papinho dele. Eu havia baixado a placa com o meu nome. Ele não saberia que eu havia mentido. Meu jantar já estava na minha frente e foi nele que concentrei toda a minha atenção. Era alguma carne muito gostosa, era molinha, derretia na boca, mas o que realmente me chamou atenção era o molho agridoce. Estava tão delicioso que eu tinha certeza que havia soltado um leve gemido de prazer. Comer é uma das melhores coisas da vida. 

 

Ele continuava a olhar pra mim algumas vezes, parecia esperar que eu continuasse a conversa que eu havia deixado pra trás. Mas graças a Deus a loira que estava ao seu lado chamou a sua atenção, me permitindo comer mais agradavelmente. Me permiti olhar as outras pessoas que estavam sentadas conosco. Eram mais velhos na idade geral. Alguns com quarenta ou cinquenta anos, deviam ser pais de alguns, mas fora o senhor que estava ao lado da loira, não havia acompanhante pra nenhum deles, o que me fez pensar que talvez fossem professores. Ou diretores de alguns cursos. Fazia sentido. 

 

Os discursos que ficaram pra depois do jantar foram entediantes. Eu esperava que o próprio Pierre Deluffer discursasse em algum momento, mas ao que parece Diego era o único Deluffer presente. O que o fez dominar a atenção da maioria dos presentes. Eu já estava cansada e querendo ir embora. Meu dia foi muito longo. 

 

—Espero que seja uma garota esperta senhorita Santiago. Ou cairá em problemas antes mesmo de começar as aulas. 

 

Me virei com o susto que levei. Um cara todo engomado estava logo atrás de mim. Ele era tão alto quanto Diego, talvez até um pouco maior. Os ombros largos e a pele clara em contraste com os cabelos pretos chamaram a minha atenção, quase tanto quanto os olhos. Eram verdes. E quentes, totalmente diferente das palavras frias que disse. 

 

—E qual problema eu me meteria senhor…? 

 

—Rodriguez, Fernando Rodriguez. E Deluffer é sinônimo de problema, principalmente Diego Deluffer. 

 

—Achei que fosse sinônimo de dinheiro e poder. 

 

—Não há dinheiro e poder sem problemas. - Ele disse com um sorriso um pouco triste. - Aceite um conselho de um estranho que só quer sua amizade. Tome cuidado com ele. Ele vai partir seu coração. 

 

Terminou olhando em meus olhos e tomando um gole do que parecia Whisky. Ele realmente estava sendo sincero. E isso me surpreendia. Eu não o conhecia. Ele não tinha nenhum motivo pra chegar perto de mim e falar qualquer coisa. Mas o que ele falou não era muito diferente do que eu estava sentindo. 

 

—Obrigado pelo conselho. Foi um prazer conhecê-lo Sr. Rodriguez, mas estou de partida. 

 

—Sr. Rodriguez é o meu pai, me chame de Fernando. Espero que possamos nos falar outra vez. - Falou com um sorriso, já saindo. Peguei meu telefone é avisei a Samuel que eu já queria ir embora. Em menos de dois minutos chegou a resposta avisando que ele já estava na porta. Eu saí, e ainda havia alguns fotógrafos esperando a oportunidade pra pegar alguém bêbado ou algo do tipo, tenho certeza que seria a matéria de destaque em qualquer lugar. Entrei no carro e pedi pra que Samuel fosse mais rápido, ou eu dormiria ali mesmo. Ele queria novidades sobre o que havia acontecido. Prometi que contaria a ele no dia seguinte, se ele chegasse em dez minutos em casa. 

 

Casa. Eu estava aqui a menos de um dia e já estava chamando o apartamento de “casa”. Eu poderia me acostumar com isso, é era disso que eu tinha medo. Me acostumar e perder tudo depois. 

 

Quando entrei em casa, tirei os sapatos, o vestido, joguei em uma poltrona no canto do quarto e caí na cama como estava. Me enrolando dos pés à cabeça e caindo no sono logo depois. Torcendo pro dia seguinte ser menos corrido do que o de hoje.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima



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