Lua Crescente escrita por Starfall


Capítulo 2
O Despertar


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Fico feliz ao ver que já tenho leitores, de verdade.
Escrevi este capítulo com muito carinho. Está me fazendo bem voltar a escrever, e voltar também aos livros que foram o início da minha vida literária.

Espero que gostem do rumo que decidi dar a história, de verdade. No próximo capítulo teremos revelações importantes. Até logo e aproveitem a leitura!



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Em segundos tudo virou caos. Billy gritava para que eu voltasse para a casa, para fora da chuva, para segurança, longe do enorme lobo a minha frente. Mas eu não conseguia entender as palavras, tudo parecia estar espiralando, fora de foco, sem sentido. Em apenas segundos, outro lobo enorme, monstruoso, apareceu atrás do lobo castanho avermelhado a minha frente. Jacob. De alguma forma o segundo lobo, tão preto quanto a noite, era maior. O lobo rosnou e se aproximou de Jacob.

         Tudo aconteceu tão rápido, o lobo preto como a noite tentava chegar até mim e o outro, o lobo que na verdade era Jacob, meu Jacob, entrou na minha frente, se posicionando contra o novo integrante dessa cena irreal.

         Eu estou sonhando. Ou perdi a cabeça, finalmente fiquei louca. Meses em um estado de torpor, com se tudo acontecesse fora da minha órbita e não me atingissem finalmente estavam me fazendo perder a sanidade. E então o lobo de pelagem escura uivou alto e sumiu em meio as árvores, com o lobo de pelo castanho-vermelhado o seguindo. Jacob parou logo antes de desaparecer nas sombras e me olhou. O mais estranho de tudo era ver os olhos dele, do lobo enorme, com uma inteligência humana demais. Não era natural.

— Bella! Saia da chuva, venha para cá! – Billy gritou e, dessa vez, eu o ouvi – Você vai ficar doente, e... – Billy parou de gritar quando me virei pra ele, os olhos arregalados e assustados.

         Não consegui me mexer. Horas podiam ter se passado até eu sentir uma mão em meu ombro. Pulei de susto e obriguei que meus olhos voltassem ao foco, que minha cabeça pensasse, processasse o que acabou de acontecer bem na minha frente. O estado de torpor, de vazio, que eu sentia desde que ele se foi tinha ido embora. Eu estava em choque, no lugar do torpor, sabia disso, mas não conseguia processar o que estava acontecendo. A adrenalina corria por meu corpo, fazendo com que tremores me atingissem. 

— Jacob. – arfei, me levantando do chão de uma vez e olhando a minha volta – Jacob... – minha voz tremia, olhei para a pessoa ao meu lado, uma mulher, e para trás, para Billy que ainda estava na porta de casa me observando – Ele... Jake... é...

— Calma, nós vamos explicar tudo – a mulher ao meu lado apertou meu ombro enquanto me ajudava a ficar de pé, eu estava tremendo, de frio ou de choque, não sabia – Venha, Billy está preocupado. Nós podemos te secar e....

— Não! Jacob! – eu a cortei, tentando olhar para ela, mas tudo estava desfocado – Jacob... – eu me soltei de seus braços e corri até o local onde ele tinha desaparecido.

         Exatamente como quando ele se foi e eu, ingênua, o segui pela porta de trás da minha casa até o bosque e fiquei andando sem rumo, procurando. O dejá-vu era forte demais, doía demais pensar em como a situação era parecida. Então não pensei. Corria pelas árvores, procurando, minhas mãos se arranhando ao me segurar em árvores, meus pés pisando em galhos e me fazendo tropeçar. Eu corri como se nada mais importasse, gritando por ele, gritando seu nome. Por fim eu cai, tropecei em uma raiz que não tinha visto. Já era noite. A semelhança era indiscutível, mas, ao contrário daquele dia, hoje a lua iluminava o ambiente, brilhando entre as folhas e galhos das árvores que me rodeavam.

         Senti um enjoo muito forte e me virei para o lado, vomitando tudo que tinha comido hoje. Quando parei, minha cabeça estava latejando. O rosto de Jake estava preso em minha cabeça, me lembrando do motivo de estar aqui, no chão, molhada, tremendo. Me obriguei a levantar do chão e olhei ao redor, perdida. De repente, ouvi gritos. Meu nome.

— Estou aqui! – gritei, me apoiando no tronco ao meu lado – Jacob? – perguntei, esperançosa.

— Bella? – um garoto, parecido com Jake, apareceu a alguns metros de distância – Sou Paul. Você está bem? – o menino me olhava com curiosidade – Jacob está na casa de Sam... está esperando por você. Posso te levar até ele.

— Mas... porque ele não está em casa? – arregalei os olhos quando minha mente processou a informação – Ele está... ele é... quero dizer, ele – eu não conseguia formar as palavras, ser coerente em minha pergunta.

— Ele está bem. Venha, Bella. – Paul me puxou pela mão que não me apoiava no tronco ao meu lado – Vou te levar até ele.

— Você está queimando de febre! – falei, arfando ao sentir a pele quente demais de sua mão na minha mão gelada – E sem roupa? – finalmente percebi que o menino que me segurava pela mão estava somente com uma bermuda jeans surrada.

— Eu estou bem. Venha, Sam vai explicar tudo. – ele disse rindo, me puxando com ele.

         Eu não falei nada, só observei a chuva caindo a minha volta. Minha cabeça voltou a não processar as coisas, eu só seguia Paul por entre as árvores. Na terceira vez que tropecei e quase fui de encontro ao chão, Paul bufou e me pegou em seus braços.

— O que você pensa que está fazendo!? – exclamei, assustada – Me coloque no chão!

— Você anda devagar demais, e tropeça a cada dois passos que dá. – ele respondeu com um sorriso sarcástico - Nesse ritmo não chegaremos nunca até a casa de Sam e Jacob vai perder a cabeça.

         Só então percebi que ele estava correndo. Rápido demais. Não tão rápido quanto ele, mas o suficiente para a náusea voltar. Fechei os olhos e respirei fundo, não podia vomitar de novo. Precisava saber que Jacob estava bem, estava a salvo. O tempo parecia passar devagar demais enquanto eu me concentrava em controlar o enjoo.

— Chegamos. – ele disse, me colocando no chão.

         Abri os olhos e senti tudo girar. Me desvencilhei dos braços do garoto ao meu lado e dei alguns passos em direção às árvores antes de me apoiar em um tronco caído e vomitar de novo, apesar de não ter nada em meu estômago.

— Bella! – ouvi uma voz conhecida gritar por mim, mas não conseguia parar de vomitar o suficiente para olhar – Me solte, ela está passando mal!

— Você não está estável ainda, pode machuc... – quem quer que estivesse falando foi cortado por um barulho gutural.

         Logo em seguida senti uma mão quente em minhas costas, enquanto outra mão segurava meus cabelos para longe do meu rosto. Reconheci o perfume de Jacob na hora e respirei fundo, limpando minha boca com a manga da blusa.

— Bella – sua voz era baixa, preocupada – Bella, você está bem?

— Eu? – sussurrei, levantando o olhar para o homem ao meu lado – Quem deveria estar perguntando isso sou eu... Você está bem, Jake?

— Eu estou bem. – ele disse, mas seus olhos mostravam medo – estou bem, Bella. Vamos, temos que tirar você da chuva... está congelando, Bella. – ele disse, me puxando para si e me levando até uma porta onde o garoto que me encontrou e outras duas pessoas estavam. Entrei na casa e me virei para olhar os garotos do lado de fora.

         Todos estavam somente de shorts. Inclusive Jacob. Eles não estavam sentindo frio? Eu senti, finalmente, os arrepios percorrendo meu corpo ao pensar nisso. Eu tremia violentamente, a cabeça voltando a latejar, uma sensação de pânico se instaurando em meu ser.

— O que aconteceu? – perguntei, me soltando dos braços de Jacob e me afastando dos homens na porta – Porque Jacob... Jake... lobo? – consegui dizer, minha voz ficando cada vez mais alta e desesperada a cada palavra.

         Os olhares que recebia eram indecifráveis. Impossíveis de entender. Olhei um por um até me focar em Jacob. Seu olhar transmitia medo, dor, desespero. Ele deu um passo em minha direção e eu recuei. Jacob tinha se transformado em um lobo. Arregalei os olhos ao pensar nisso de forma racional, sem o medo congelante do lobo que estivera a minha frente a pouco tempo, sem o desespero de saber se Jacob estava bem. Senti minhas mãos tremulas virem até meu rosto, cobrindo minha boca. Eu tremia por inteiro. Levei minha mão direita até minha coxa e me belisquei, forte. Fechei os olhos ao mesmo tempo e respirei fundo, rezando para abri-los e estar no quarto de Jake, antes disso tudo acontecer. Mas ao abrir meus olhos eu ainda estava em uma casa desconhecida, sendo encarada por três desconhecidos semi nus e por um Jacob com um semblante de dor.

— Bella. – o mais alto dos homens a minha frente me chamou – Eu explicarei tudo. Mas você precisa se enxugar primeiro, pode ficar hipotérmica. Emily vai te ajudar com isso. – o homem disse ao apontar com a cabeça para uma mulher que estava a alguns passos de mim, cautelosa.

— Bella? – ela sorriu, se aproximando cuidadosamente, como alguém falando com uma criança assustada – Sou Emily. Venha comigo? Vamos achar roupas secas para você, sim?

         Sem entender o que meu corpo fazia, aceitei ser guiada pela estranha pela casa desconhecida. Ao virar um corredor, olhei para trás, para Jacob, procurando algo que nem eu sabia o que era. Vi seus olhos se fecharem ele respirar fundo e socar a parede atrás de si logo antes de correr porta a fora.

— Jake... – sussurrei novamente, parando – ele saiu... preciso ir atrás dele! – tentei me soltar dos braços delicados de Emily, em vão.

— Ele vai ficar bem, Bella. – ela sorriu de forma a me acalmar – Mas precisamos cuidar de você primeiro, está bem? – ela disse novamente com voz de quem fala com uma criança – ele só vai se acalmar ao saber que você está bem, Bella. Seca e sem risco de hipotermia. Venha comigo.

         Encarei a mulher ao meu lado, percebendo finalmente seu rosto. Com uma cicatriz enorme, que começava em sua têmpora e descia até o pescoço. Estremeci ao pensar o que teria causado aquela cicatriz e então senti meu corpo gelar. Não. Não iria pensar nisso agora. Permiti que suas mãos gentis me levassem pela casa até um quarto aconchegante, com uma porta entreaberta. Deixei que ela me levasse até a porta, que levava até um banheiro, e me sentasse em um banquinho lá dentro. Deixei que ligasse o chuveiro e me ajudasse a tirar minhas roupas enquanto eu tremia e o banheiro ficasse úmido com a fumaça do chuveiro. Que me colocasse embaixo da água quente, que doía ao cair em meu corpo tão gelado. Eu sentia como se tudo isso estivesse acontecendo e eu observasse de fora, como se não fosse eu aqui. Emily saiu com minhas roupas molhadas em mãos, fechando a porta atrás de si. Escorreguei até o chão, sentando em baixo da água quente, abraçando meus joelhos e encarei os azulejos. Era como se nada fizesse sentido. De novo.

         Depois do que me pareceram horas, Emily voltou ao banheiro com roupas que não eram minhas. Veio até o chuveiro e o desligou, me ajudando a levantar. A me enxugar. A colocar as roupas que não eram minhas. O choque e o torpor misturado impediam que eu sentisse vergonha pela ajuda dela, de uma estranha, em uma situação tão intíma. Quando estava vestida, com meu cabelo molhado solto em minhas costas, eu a olhei.

— O que está acontecendo? – eu perguntei, finalmente – Como isso está acontecendo?

— Está tudo bem. Jacob está voltando para cá e Billy está na sala esperando por você junto de Sam. Eles vão explicar tudo. – ela respondeu, com um sorriso carinhoso, que passava uma sensação de calma.

— Obrigada. – disse, ainda em modo automático, enquanto a seguia até a sala.

         E então pensei em Esme e o quanto Emily estava me lembrando da mãe adotiva da família Cullen. Não poderiam ser mais diferentes fisicamente, é claro, Emily tendo a pele dourada de sol, a cicatriz em seu rosto, cabelos e olhos escuros e a pele macia, humana, enquanto Esme parecia uma deusa com seus cabelos castanho-dourados, com seu rosto angelical em formato de coração, os olhos dourados (por conta de sua dieta vegetariana) e a pele pálida e dura de uma vampira. Mas as duas passavam a sensação de calma, de segurança, a energia de mãe as envolvendo a cada ação. O buraco em meu peito parecia arder ao lembrar dos Cullen, ainda mais na situação em que me encontrava.

— Bella! – Billy me chamou, angustiado – Você está bem? Machucada?

— Estou bem, Billy... só confusa – respondi, sendo levada por Emily até o sofá.

— Nós iremos explicar tudo. – Sam disse – Pedi por uma reunião do conselho. – falou como se isso devesse significar algo para mim – Você e Jacob precisam de explicações e achamos melhor falarmos somente uma vez, com ambos presentes. Embry também estará presente. – completou com um suspiro que demonstrava cansaço.

— Embry? – perguntei, me lembrando do amigo calmo de Jacob, que dividiu um pacote de doces comigo na praia outro dia enquanto os outros estavam em um jogo de futebol – O que... Onde está Jacob? – perguntei, mais uma vez.

— Estou aqui. – a voz dele vinha de algum lugar atrás de mim – Posso me sentar com você? – olhei para ele, vendo seu corpo curvado, o olhar inseguro.

— Claro. – disse e observei ele vir, cauteloso, até o meu lado e sentar-se cuidadosamente no espaço do sofá – Você está bem?

         Jacob não respondeu minha pergunta. Ele só levou suas mãos até as minhas, em meu colo, devagar. Como se eu fosse me assustar e sair correndo na direção oposta. Suas mãos estavam quentes demais, exatamente como em seu quarto. A cena em sua casa, a preocupação que senti ao senti-lo queimando de febre, pareciam ter acontecido há dias. A sensação de segurança que eu senti ao apertar suas mãos enormes nas minhas me surpreendeu. Não deveria me sentir segura perto de alguém que tinha acabado de ver se transformar em um lobo enorme, certo? Mas algo deveria ser errado em mim, em minha cabeça, pois não era a primeira vez que sentia segurança perto de alguém que era perigoso para mim – ele era exemplo suficiente que eu não tinha amor próprio algum. Senti um calafrio ao pensar nisso, mas logo que olhei nos olhos de Jacob, voltei a sentir a segurança e, me atrevo a dizer, até mesmo a felicidade que sentia sempre que estava a sua volta. O que é que tem de errado comigo?

 


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?
Espero que tenham gostado, logo volto com o próximo capítulo. Até lá!



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