Lovers and Dragons escrita por Any the Fox


Capítulo 2
O rapaz perfeito




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/792799/chapter/2

Astrid sentou-se na mesa de canto do seu dormitório, era uma mesa redonda, presa no chão, um pequeno sofá vermelho em volta, por baixo da janela principal do quarto que ocupava uma parede inteira. O quarto de Astrid não era enorme, afinal, no fim do dia era uma residencia universitária, mas ela tinha aproveitado muito bem o espaço. Sua cama era de casal, por opção própria, mesmo que isso tirasse parte do espaço que tinha, um véu transparente fazia de cortina sobre os lençois esverdiados, e por baixo do colchão gavetas guardavam a sua roupa. Na frente da cama tinha a sua estante de objetos pessoais, inumeros livros de Dungeons and Dragons estavam devidamente organizados, por data e volume. Figuras de dragões estavam dispostas por toda a estantes, de vários franchises. O favorito dela era um em tons azuis, possuia uma cauda espinhosa e uma teara dos mesmos espigões em tons amarelados. Astrid comprou-o uma vez numa feira mediaval, nunca soube de onde era aquele dragão, mas sentia um enorme amor por ele. O restante do quarto dividia se entre o ventilador de teto, o tapete e as cortinas condizentes com a cama e o espelho de corpo inteiro colado na sua estante. Era sim um quarto pequeno, onde o foco era a enorme mesa, onde se poderiam sentar até seis pessoas no sofá redondo e na cama, onde Astrid dormia.

A mesa onde estava sentada era multifacetada. Era ótima para tardes de estudo, seções de DnD, refeições e tardes de lazer. Naquele momento, era o berço de novas histórias e personagens de RPG. A campanha de Cabeçaquente estava dando muito trabalho – trabalho de verdade – saindo muito da zona de conforto da loira. Precisava de mais NPC’s, e de criar uma história para todos, de perferência comovente, para criar empatia.

               “Você não se pode fechar para sempre”

               Em meio de uns rabiscos, tais pensamentos não lhe saiam da mente... Maldita Cabeçaquente, a fazendo pensar assim. Astrid nunca se incomodou por estar solteira, ela se sentia bem, forte e independente. Porque agora fez a questionar essas coisas? Suas amigas foram ver o cometa... Ela se perguntava se havia muitos casais observando o céu naquele momento, juntos felizes... Talvez Astrid sentisse falta de um contato assim às vezes...

               “E se eu realmente tentasse algo com Eret?”

               O pensamento tão depressa pareceu uma boa ideia quanto má ideia. Era impensável... Mesmo que quisesse, não conseguia pensar naquele rapaz desse jeito. Tudo bem, todo o mundo naquele campus queria ter algo com Eret, e ela talvez estivesse perdendo uma grande oportunidade, mas não valia a pena, não era o tipo dela...

               Mas qual era o tipo dela?

               Bem, é certo que Astrid tinha um tipo de rapaz. Todo mundo tem um tipo de pessoa que gosta, não é mesmo? A dona de olhos azuis pôs para o lado o rascunho que estava fazendo e pegou uma folha limpa e uma lapisera. Ela iria criar um novo personagem para a campanha de Cabeçaquente, mas não qualquer um, este seria baseado na sua ideia de “rapaz perfeito”. Isso seria um ótimo ponto para começar a criar um personagem!

               “Ora vejamos: Classe, raça e aligment.”

               Estes eram os três primeiros detalhes que a preocupavam na construção de personagens, a partir deles, nasciam sempre ótimos conceitos. Levantou-se para ir buscar um dos livros da sua prateleira, para a ajudar na construção, acabou por trazer três livros, cada um de uma edição diferente. Pegou uma das fichas de personagens que guardava dentro do livro, e começou a escrever.

               - Você vai ser um humano. – Astrid disse enquanto escrevia na folha. Para ela, era lógico que o “rapaz perfeito para ela” fosse um humano, mesmo que, naquele universo, ele pudesse ser qualquer coisa, mas Astrid queria levar aquilo o mais realista possível.

               Para a classe, ela ponderou o que mais gostaria num rapaz como qualidade. Eliminou todas as classes que dependecem totalmente de magia – mesmo que a personagem estivesse em desvantagem no jogo, ela iria levar o objetivo até ao fim – excluindo classes como druid, clerig, warlock e wizard. Ponderou então se quereria um rapaz forte... Pensou se a ideia de ter um rapaz musculoso ao seu lado era o que ela precisava. Ela nunca fora do tipo de moça que precisasse que a salvassem, muito menos gostava de se sentir dependente de alguém. Ela talvez fosse mais do tipo de “querer proteger alguém”. Sim, ela provavelmente preferiria um rapaz de aparência fofa do que um bem defenido. Então, ao mesmo tempo que apagava classes como fighther e barberian da lista, começou a esboçar os primeiros traços na folha de papel.

               O rapaz tinha uma face angelical, estreita, quase feminina, o corpo magro, estreito, agil, nada podia dar a entender que ele tivesse muita força física, mas tinha de ter uma aparência simpática e fofa. Astrid olhou bem para ele, com aquela cara, ele só poderia ser Lawfull good.

               Por fim, uma classe apareceu num livro de uma edição que não tinha explorado muito, como se a chamasse exatamente para aquele propósito... “Artificier”... Uma classe de inventores que encontra a magia em objetos do dia a dia... Isso interessava a criadora. Um rapaz criativo e inteligente? Com certeza conseguiria manter uma conversa com ela por mais tempo que a maioria dos rapazes naquele campus. Astrid retirou as capacidades mágicas da classe, adaptando as para habilidades mecanicas e criatividade, mantendo o detalhe de usar objetos comuns da vida rotineira.

               Agora precisava lançar os dados para os status.

               Esta era com certeza uma parte importante para a definição de personalidade da personagem, era quase injusto deixa-la à mercê de um lançamento de dados, especialmente quando o objetivo era criar o “rapaz perfeito”. Mas ele ainda era para ser um personagem de um jogo, então devia ser criado como tal.

               “Bem, as mais baixas dele precisam de ser strength e constitution. Talvez não precise de tanto Wisdom também, mas Charisma, Intelligence e Dexterity são perioridades”

               Astrid lançou os dados, todos as vezes que foram necessárias, sem dar segundas chances aos números. Astrid era rígida nesse ponto, seus personagens viriam sempre com os status que os dados mandassem, mesmo que isso significasse que a sua personagem teria algum defeito sério que a impediria de jogar. Ela daria um jeito. No fim, teve os números finais de 10, 19, 14, 12, 18 e 14, por esta ordem de lançamento. Estava na altura de os distribuir pelos status.

               Não demorou muito a concluir que 10, o número mais baixo, deveria ir para “força”, visto que era o que ela menos queria investir. O 19 e o 18 foram para “inteligência” e “carisma” respetivamente, enquanto ambos os 14 iriam para “conhecimento” e “destreza” e por fim o 12 para “constituição”.

               O seu personagem estava agora matematicamente assegurado! Mas precisava de um backstory. Hum... Uma coisa era certa, o rapaz tinha que compartilhar a mesma paixão que ela: Dragões.

               “Sim, um rapaz que saiba falar de dragões vai com certeza me atrair!”

               A assumida nerd estava se sentindo um pouco mais empolgada do que achava saudável. Escreveu uma fantástica história de como ele era um rapaz sofrido, que vivia numa aldeia onde ninguém o ouvia, ou o achavam capaz... Ele vivia com a mãe, que lhe passou todo o conhecimento que tinha sobre dragões, na fazenda onde viviam. Aprendeu a mexer em pequenas máquinas com o tio, e desde muito novo que brincava de inventar máquinas para ajudar na fazenda de dragões da mãe.

               - Falta drama na história dele. O seu aspeto justifica a falta de força, mas não a falta de constiruição. – Astrid disse olhando atentamente para a silhueta do rapaz.

               Então, ela teve uma ideia. Pegou numa borracha e começou a apagar parte da perna esquerda, desenhando uma protese. Aproveitou também para adicionar pequenos detalhes. Fez um desenho de promenor das costas do ombro esquerdo, por capricho, ele teria uma tatuagem de dragão aí, identica à que ela tinha no fundo direito da barriga. A roupa seria feita de couro castanho, os olhos verdes e um cabelo castanho rebelde, com franja... E, talvez, duas tranças... Sim, estava a ficar bom!

               Precisava agora de uma razão para ele não ter uma perna. Hum...

               “Um dia, a mãe desapareceu, levada por sequestradores, ele foi salvo por um dos dragões que o puxou e o impediu de ser levado, no entando, acabou ferindo irrevercivelmente a perna do rapaz. Desde aí, ele está tentando encontar a mãe dele”

               Era clichê, mas funcionava, para além disso, isso o faria tomar atitudes mais responsáveis e de lider, uma coisa que Astrid com certeza gostaria num rapaz. Olhou para o desenho finalizado.... Não. Estava faltando um promenor.

               Astrid pegou então noutro lápis e começou a rabiscar a face do personagem. Sardas. Ele precisava de sardas e tornava-o o ser mais fofo e atencioso que a terra podia alguma vez ver. Ele estava pronto para se tornar num personagem oficialmente, apenas a parte mais critica faltava.

               - Você só precisa de um nome. – Astrid pensou.

               Um nome veio logo à mente quando olhou para ele, caso raro, normalmente demora muito tempo para chegar em algo concreto, mas aquele desenho parecia enrradiar algo.

               - Soluço... – Ela pensou alto – Soluço!

               Era o nome ideial. Descrevia o rapaz tímido e contraido que ela queria. Traduzia tudo o que ela pensava para um rapaz. “Soluço Haddok III” foi escrito no topo da folha de personagem. Era oficial, Astrid tinha finalmente um personagem de DnD. E a descrição de rapaz ideal – pena que não existisse tal coisa como esse rapaz ideal...

               Ela olhou pela janela, viu uma pequena luz mover se pelo céu. “É o cometa” Ela pensou. E era mesmo. O cometa Valkia estava agora no ponto mais visível da noite. Astrid estava realmente se sentindo só naquele momento. E ela sabia que era tudo culpa de Cabeçadura. Olhou seu desenho. Seria... Possível?

               Astrid olhou para o cometa, com olhos pedintes, uma face completamente desacreditada, mas com um coração crente. E o pensamento passou rápido na mente “faz ele real”. Mas o transe logo acabou. “ O que estou fazendo?” Astrid questionou abanando a cabeça e abandonando o desenho em cima da mesa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lovers and Dragons" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.