Ambíguo escrita por Lasleth


Capítulo 1
Am - Quem é vivo sempre aparece?


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ♥



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Zitao andava de um lado para o outro da casa, meio impaciente com os cabelos todos despenteados enquanto Yifan estava sentado na pequena mesa de escritório que ficava no canto da sala, olhando às vezes para o companheiro.

O ômega estava no nono mês de gestação, a barriga estava enorme e o alfa se perguntava como o seu Tao conseguia andar com aquele bebê enorme dentro de si. Xuanzi era uma garotinha forte e grande, provavelmente seria uma alfa como o seu pai. Tao, por sua vez, teve uma gestação completamente normal, sadia e ambos estavam totalmente ansiosos para conhecer o pequeno pedacinho de paraíso que em breve iria nascer.

— Tao... — O maior começou, erguendo-se da cadeira e andando até o ômega, pegando em suas mãos. — Me diz o que tá’ te deixando ansioso, vai. — Ergueu as mãos do loiro até seus lábios, em um beijinho amoroso. 

O menor mordeu o lábio inferior, fitando ambas as mãos unidas. 

— Eu estou com medo. Minhas costas doem tanto e ela não para de mexer. — Soltou de Yifan, levando suas mãos até a barriga, fazendo um carinho em sua filha. — E se eu for um péssimo pai ômega?

Yifan riu baixo, levou os fios longos e pretos para trás da orelha enquanto as bochechas alheias coravam, Zitao era um pouco dramático e carente, mas jamais seria um péssimo pai. 

— Não seja tão cruel consigo mesmo. — Ergueu o queixo dele, dando um selar demorado nos lábios desenhados. — Cuida do Xing tão bem, vai saber cuidar da nossa princesinha.

Nesse momento, o gato preto miou, descendo do encosto do sofá e ronronando na direção do ômega. Xing era um animal muito amoroso e carinhoso que estava cuidando muito bem de Zitao, talvez até melhor que Yifan e o alfa até mesmo agradecia, o casal adorava o gato. 

O ômega riu baixo, voltando a capturar os lábios alheios, Yifan era ótimo em lhe fazer relaxar, era seu porto seguro, era tudo para si e sempre seria. Zitao estava eternamente grato por ganhar esses dois maravilhosos presentes, seu marido e sua pequena filhote. 

 

[...]

 

Xuanzi não demorou a vir ao mundo. Apenas alguns dias depois Yifan estava em uma situação de quase total desespero, quando a filha resolveu que seria a hora de sair, no meio da madrugada, de praxe, fazendo com que o ômega sentisse terríveis dores. Ômegas do sexo masculino precisavam de um maior acompanhamento enquanto grávidos já que a gestação era diferente, era preciso fazer a cesárea antes do rompimento da bolsa. Xuanzi, nesse caso, resolveu surpreender a seus dois papais naquela madrugada. Houve correria e muita comoção, mas tudo deu certo e Yifan pôde assistir ao nascimento da sua "bolinha de pelos" favorita. Sua filhote era enorme, um bebê muito fofo, uma alfa nata. 

— Oh... Olha isso! — Zitao estava corado, sentia-se febril pela tensão do nascimento da filha, mas agora, aos poucos, seu corpo ia se acalmando. A bebê em seu coloco, embrulhada em panos macios ressonava baixinho, com aqueles pequenos olhos em riscas e os cílios enormes demais para uma criaturinha que acabou de vir ao mundo. 

— São seus olhos. — Yifan disse captando a atenção dele. — Tudo nela lembra você, acho que estou com ciúmes — riu.

Zitao o acompanhou, passando o dedão na bochecha fofinha, sentindo a pele quente de seu bebê, ele não conseguia colocar tanta felicidade dentro do peito, então ela acabou transbordando através dos seus olhos cansados.

— Ela é muito linda… Eu a amo demais! — Beijou o topo da cabeça quase careca, Xuanzi mexeu o nariz a contra gosto abrindo os olhos e despertando completamente. Os orbes curiosos percorreram o local, de seu papai alfa até seu papai ômega, parando ali. — Oi meu amor. Bem vinda ao mundo, princesa. — O ômega finalizou, ainda fazendo um carinho no rostinho pequeno.

Estava ali a maior prova de amor dos dois, a pequena alfa era um poço de felicidade que matava a sede de ambos os papais, esses, loucos de amores por sua pequena filha.

 

Dois anos depois... 

Já havia se tornado um costume para a família Wu sair todo sábado à noite, para jantar e brincar com a pequena alfa no parquinho de diversões que havia na cidade. Eles queriam criar um hábito que marcasse a vida infantil de sua filha, para sempre. 

Zitao estava no quartinho da pequena, o banho da mesma já estava pronto e ela mesma tirava a roupinha quente que usava, eram tempos frios de um inverno rigoroso e bebês precisavam de mais proteção.

— Meu Deus, olha o seu tamanho — cantarolou a colocando na banheira. — Não parece que tem dois anos, filha, parece que tem dez! — Riu.

A alfa bateu as mãos na água, espalhando tudo pelo pequeno banheiro do quarto, fazendo seu pai acompanhá-la na risada.

— Eu ouvi risos. — Yifan se escorou no batente da porta do banheiro, assistindo ao marido dar banho na filha.

— Olha isso, ela não para de crescer! — Se afastou da banheira com uma falsa surpresa. 

— Puxou a mim. — Deu de ombros.

Zitao pegou um pouco da água, jogando no alfa mais velho, arrancando ainda mais risos da pequena filhote, que já não era tão pequena assim. 

— Ma-Mama! 

Ela aos poucos começava a falar as primeiras palavras com mais facilidade e Zitao sentia-se profundamente orgulhoso, ela estava quase aprendendo a dizer mamãe. Sentiu o peito se aquecer enquanto terminava de banhá-la, Xuanzi ficava mais linda a cada dia que passava. 

— Estão todos prontos? — Yifan voltou a falar, assim que Tao a tirou da banheira, entregando-a para o pai babão. — Ah... Olha só que cheirosa! — Levou o nariz até o pescoço gordinho, fazendo um barulho engraçado.

Ela desatou a rir novamente, balançando as perninhas fofas no ar até ser colocada no trocador. Yifan terminou de secá-la, passando pomada, talco; colocou a fralda e depois a roupinha, a deixando pronta. 

— Hum, vejo que aprendeu direitinho! — Zitao o abraçou por trás, Xuanzi agarrava os pezinhos pequenos, tentando colocá-los dentro da boca.

— Aprendi com o melhor. — Olhou por cima dos ombros, dando um selo rápido nos lábios do marido. — Vamos? 

Zitao assentiu e pegou a bolsa, os três saíram de casa, levando a pequena no banco de trás, na cadeirinha de proteção. 

Eles foram até o restaurante que existia em frente ao parque, como sempre faziam, jantaram e depois atravessaram a rua. Xuanzi balbuciava palavras desconexas enquanto erguia as mãos para o alto, tentando pegar as luzes coloridas de todo o parque.

— Ela é muito esperta. — O loiro comentou.

As luzes coloridas refletiam nos olhos dos três ali, causando uma sensação de paz e alegria, todos amavam os passeios de sábado à noite. Ficaram por quase três horas no parquinho até a pequena alfa começar a bocejar. 

Yifan carregava dois grandes ursinhos de pelúcia que agora iriam para a grande coleção do “quartinho de presentes da Xuanzi”, foi necessário criar um porque a bebê era muito exigente e Yifan, como o bom pai babão que era, lhe entregava tudo o que desejava. 

Voltaram até o carro, Zitao afivelou a garotinha na cadeirinha de proteção, dando a ela um ursinho e um lencinho que sempre ficava ali, dentro do veículo, para que ela não se sentisse sozinha ou com medo. Ao lado dela os dois novos ursinhos de pelúcia. Yifan, enquanto isso, dava a volta para entrar pelo lado do motorista, enfiando a chave na ignição e aguardando o marido entrar ao seu lado; logo, Zitao entrou também, fechando a porta do carro.

— Vamos? — O moreno perguntou. 

— Sim.

Yifan deu partida e saíram dali, eram quase dez horas da noite e Xuanzi já dormia tranquila na cadeirinha. 

— Hoje foi incrível. — O ômega comentou, bocejando de forma preguiçosa, sentindo seus olhos lacrimejarem. — Mas estou realmente cansado. — Sorriu se virando para o outro.

— Eu que o diga! Quando ela começar a correr melhor e falar por aí vamos ficar doloridos demais. Acho que estamos velhos…

— Ah, não me lembre disso! 

Os dois riram, tampando as bocas em seguida, não poderiam acordar a bebê do seu sono profundo e reparador. Ficaram por longos minutos em silêncio, logo depois, Tao observava a paisagem ao seu lado direito, pensativo; enquanto isso, Yifan focava-se em dirigir e chegar logo em casa para dormir e descansar. 

Mas de repente Xuanzi começou a chorar, assustando aos dois papais. 

Zitao virou-se para tentar entender o que estava acontecendo, a pequena chupeta havia caído de sua boca, então ele logo a colocou de volta, mas não surtiu efeito.

— Filha, ei… Ei, neném, o que houve? — O ômega tentava acalmá-la, mas de nada funcionava, causando nele uma sensação de desespero. — Yifan, tem como parar o carro?

— Hã? O quê? — Ele olhava da rua para Zitao, ao seu lado.

— Tem como parar o carro? Ela não quer parar de chorar, por favor!

Yifan virou-se para o banco de trás uma última vez, para entender o que estava acontecendo, mas não viu o semáforo ficar vermelho, atravessando o cruzamento. A buzina veio alta dos dois lados e quando os pais ali puderam se dar conta do que acontecia fora do veículo, já era tarde demais. 

Os carros vinham em alta velocidade, para atravessar o cruzamento quando atingiram o carro dos Wu de ambos os lados, fazendo um efeito sanduíche, o veículo do lado do passageiro, ainda colado ao carro deles, fez com que o mesmo fosse arrastado pela rua, sendo novamente atingindo por um ônibus que vinha pela outra mão.  

O veículo dos Wu foi arremessado com força, rodando várias vezes até que finalmente parasse, todo destruído. Houve uma tremenda comoção, o cruzamento fechou e todos passaram a sair de seus carros, tentando correr ao socorro de quem havia se acidentado. Logo, uma aglomeração de pessoas se deu início, enquanto a ambulância já chegava; pelo menos alguém havia chamado por socorro. 

Os três foram removidos do local e levados para o hospital, em estado de extrema gravidade e risco de vida. 

 

[...]

 

Yifan abriu os olhos, e estava tudo branco. Seu corpo doía por inteiro e demorou um certo tempo para se acostumar com a luz forte que feria seus olhos. O cheiro ruim de água sanitária invadiu seus sentidos, o fazendo despertar com mais rapidez. 

Vagou os olhos pela sala para descobrir que estava em um hospital, seu corpo estava remendado em gesso, ataduras e linha. O cabelo estava todo bagunçado enquanto movia a cabeça para entender o que acontecia à sua volta. 

— Mas o quê... — Tentou dizer sentindo a garganta arranhar.

— Senhor Wu, finalmente acordou. — A enfermeira estava ali, ao seu lado, e ele ao menos havia percebido. — Consegue enxergar com clareza? E respirar?

Ele assentiu brevemente, queria sair dali e saber como Zitao e sua pequena Xuanzi estavam. 

— Onde... Zitao e Xuanzi estão? — perguntou confuso, a enfermeira o ajudou a se sentar, o fitando em seguida. 

— Sinto muito senhor Wu, seu marido não resistiu, mas a bebê está perfeitamente bem. — Ela tentou sorrir e falhou, fazendo o coração do alfa se apertar em desespero.

Seu pequeno Zitao estava morto.

— O-quê?! Co-como assim? —  Fez menção de se erguer do leito, mas foi barrado com as mãos em seus ombros. — Eu preciso ver ele! NÃO MINTAM PARA MIM! — berrou em desespero, sentindo as lágrimas descerem pelos olhos. — Ele não pode estar morto... Não pode! 

Seu coração disparou e sentiu o mundo a sua volta rodar, como ela poderia lhe dar uma notícia assim, tão subitamente? O peito estava pequeno e não já não poderia controlar as lágrimas que escorriam dolorosas pelo seu rosto. A enfermeira o deitou novamente, pedindo que ele se acalmasse, mas infelizmente Yifan não conseguiu, não quando sua pequena estava sozinha em algum outro quarto, não quando o amor da sua vida estava morto. 

 

[...]

 

Quase duas semanas se passaram e o alfa só sabia o que era dor e saudade. Ter que viver os dias dentro do hospital foi aterrorizante, primeiro porque Zitao havia partido, deixando tanto ele quanto Xuanzi para trás, e segundo porque agora sua filha havia perdido o pai ômega e fazê-la entender como seria sua vida dali em diante era doloroso e difícil. 

Eles estavam no cemitério, o corpo do jovem homem estava dentro do caixão, fazendo o peito do alfa arder de saudade e ainda, de desespero porque não conseguia imaginar sua vida depois daquela cena, depois da despedida dolorosa. 

A bebê em seu colo não parar de chorar, parecia que ela entendia tudo o que estava acontecendo, Xuanzi estava com um dos bracinhos enfaixados com gesso, coisa que a deixava extremamente incomodada. 

— Filha, calma... Por favor. — Afagou as costas dela, fazendo com que deitasse a cabeça em seu ombro, para que se sentisse menos aterrorizada.

Mas era impossível, depois que ela acordou raramente ficava quieta, tranquila, o acidente e a perda de Zitao deixou ambos sem chão. 

Foram longas horas até receber todas as condolências e despedidas, foram horas terríveis até ver o caixão ser levado para dentro do buraco, sendo enterrado em seguida. Yifan estava deixando ali um pedaço enorme de si e do loiro sobrou apenas a pequena alfa. Seria torturante olhar para ela todos os dias e se lembrar de Zitao sem chorar, sem sentir saudades, mas ele tentaria ser forte, pelo amor da sua vida que se foi e por ela. 

Xuanzi iria crescer sem a presença de Zitao e a cabeça do alfa borbulhava porque aquilo o deixava desesperado. Eram apenas os dois, agora. 

 

Três anos depois... 

Yifan estava na correria. A panela com o café da manhã estava no fogo, a filha no banheiro tomando banho e a casa desorganizada, o moreno estava sentado no chão arrumando os brinquedos e o restante da bagunça da alfa. Era um caos. Demorou muito para ele aprender a lidar com toda a situação, com o vazio que Zitao deixou na vida dos dois.

Xuanzi estava com cinco anos e já conseguia fazer várias coisas sozinha dentro de casa, era uma alfa forte, esperta e isso deixava o mais velho orgulhoso, Zitao também deveria sentir o mesmo, não importa onde estivesse. 

A pequena saiu do banheiro com o cabelo molhado, a toalha cor de rosa estava jogada pelos cabelos negros enquanto sustentava um bico os lábios, que rapidamente chamou a atenção de Yifan.

— O que houve, querida? — falou se levantando no chão, recolhendo os sapatos dela, voltando rapidamente a prestar atenção na panela em cima do fogão.

— Eu tô com saudades. — A voz saiu baixinha e chorosa, arrancando também um bico do maior. 

Yifan desligou a panela, esperando que a filha se aproximasse, ele ajoelhou no chão e abriu os braços para que ela corresse até ele, eram difíceis aqueles momentos. Levou depois as mãos a toalha para terminar de secar o cabelo da pequena. 

Existiam ainda muitas memórias do ômega espalhadas pela casa. Objetos pessoais de decoração, fotos; eles nunca optaram por esquecer de Tao, Yifan achava importante que Xuanzi crescesse sabendo quem era seu pai ômega.

— Eu sei querida... Eu sei. — Afagou suas costas, sentindo-a soluçar e molhar sua camisa social azul. — Eu também sinto falta do papai.

Ele sentia seus olhos embaçarem com as lágrimas, piscou rapidamente para afastá-las e desgrudou-se da filha, enxugando as lágrimas do rosto delicado dela, ele tinha que ser forte e embora ela fosse uma alfa, ainda possuía traços de Zitao, os olhos, os lábios bem desenhadinhos, ela era a perfeita criação deles dois. 

— Não tem como trazer a mamãe de volta? — Ainda estava chorosa.

O alfa mais alto soltou um risinho baixo diante da inocência.

— Infelizmente não, meu amor. Vai demorar muito até que possamos nos ver de novo. 

— Tudo bem, então. — Deu de ombros, dando as costas para o pai e indo se sentar na mesa.

Ela tinha aula pela manhã e Yifan estava terminando de fazer o café. Acabou por rapidamente arrumar a mesa, deixando tudo pronto para a filha e ele comerem. Quando terminaram, saíram às pressas com o alfa trancando a porta em um baque, Xuanzi o repreendeu dizendo que qualquer dia desses ele derrubaria tudo; Yifan, por outro lado, apenas ria e entrava no jogo dela. 

O caminho para a escola foi tranquilo. Depois do acidente de carro Yifan pensou duas vezes antes de comprar outro veículo, optando por deixar aquilo de lado, já que lhe trazia más lembranças. Virou um ótimo ciclista e ensinou a filha, mas ainda usavam o transporte público para se locomoverem na maioria das vezes. Desceram no ponto que havia mais próximo da escolinha de Xuanzi, atravessando a rua e passando a andar mais tranquilamente, estavam no horário.

— Hoje a gente vai comer pizza? — Ela começou.

Estavam andando de mãos dadas, Yifan levava a mochila verde da garota, cheia de glitter colorido e com desenhos aleatórios de sapinhos. 

— Talvez sim. — Se encolheu nos ombros. — Mas sobrou uma comida gostosa da janta de ontem.

— Aargh... — Ela torceu o nariz.

— Como assim?! — Yifan se fez de ofendido.

— Aquilo ficou horrível, papai. 

— Poxa!

Ela começou a rir, tirando um sorriso pequeno dos lábios do alfa maior.

— Estamos quase lá, está ansiosa para hoje?

— Hum... — Ela maneou com a cabeça. — A escola tá chata.

— Uh, sério? — A olhou de canto, de cima.

Xuanzi apenas assentiu, esperando que o pai abaixasse novamente, haviam parado ao lado da porta do colégio.

— Se comporte, e aí vamos comer pizza, fechado? — estendeu a mão e ela rapidamente a pegou, em um cumprimento.

— Fechado, pai! — abraçou ele em seguida, dando um beijinho demorado na testa.

Yifan repetiu o ato, beijando a filha e se levantando. De repente, um rapaz qualquer esbarrou em si, na altura de seu ombro, fazendo a mochila verde de Xuanzi cair no chão.

— Ei! — Ela gritou pegando a mochila preferida. 

O rapaz virou-se para olhar sobre os ombros, mas sequer teve a intenção de parar ou pedir desculpas, continuou andando até virar a cabeça novamente para a frente. Aquela silhueta. O cabelo loiro e os olhos marcados, os lábios bem desenhados. Yifan e Xuanzi se calaram pelos segundos seguintes, porque eles haviam acabado de encontrar Wu Zitao passando por ali, vivo, e agora se distanciava deles mais uma vez dentre a multidão, tudo depois de três anos. Nenhum dos dois soube o que dizer ou pensar, nenhum dos dois se moveu durante os minutos que se passaram. Ficaram apenas parados no meio da calçada tentando processar o que acabou de acontecer. 

— Senhor Wu? — O porteiro os tirou de seus devaneios. — A pequena vai se atrasar.

Yifan voltou para a realidade, pegando na mão de Xuanzi que estava tão perplexa quanto ele.

— Filha, mais tarde a gente conversa, certo? — disse afobado, vendo os olhinhos dela se encherem mais uma vez de lágrimas. — Seja forte. Eu sei que você consegue!

Se ele estava abalado com o que viu, imagina sua filha, que perdeu o pai ômega aos dois anos, que sentia saudades dele todas as noites antes de dormir e assim que acordava. Ambos estavam de coração partido porque faltava uma parte, e essa parte saiu andando por aí, sem sequer reconhecê-los. 

 


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