POV Edward

— Até que enfim.

Suspirei ao acessar o quarto do hotel que estou hospedado.

Comecei a tirar o terno e a gravata, deixando-os jogados próximos a mala.

Se Bella visse a cena, com certeza me daria uma bronca, mas nesses dias que estamos longe, até suas broncas, por minha suposta desorganização, estão fazendo falta.

No entanto, parece que alguém em algum lugar, deve gostar muito de mim, pois ao pensar nela, meu celular começou a tocar.

Pensando bem, não sei se precisamos de uma intervenção superior. Nosso elo sempre foi forte e de algum modo, combinamos desde a primeira vez que nos falamos.

— Oi Baby.

Atendi sorrindo.

— Oi amor. Já está no quarto...

— Sim. Mas acabei de entrar. Só tive tempo de tirar o terno e a gravata.

— Que pelo que vejo, estão jogados, não é?

— Talvez...

— Edward...

— Sinto sua falta.

Falei sinceramente, mas também usando o artifício para amolecê-la.

— Eu também. Mas amanhã quando chegar da escola, já o encontrarei aqui. E é isso que me conforta.

— Sim. Mal vejo a hora de poder te tocar de novo.

— Mesmo tendo evoluindo desde nossas primeiras ligações, ainda sim, não conseguem suprir toda a saudade.

Respondeu e assenti.

Pois é, hoje quando somos obrigados a ficar distantes, não nos comunicamos mais apenas por ligações diretas.

Seria bobeira não apreciar todas as funcionalidades que as tecnologias têm a oferecer.

Amo como nossa história começou, com meu engano em uma chamada, então as ligações que antecederam o primeiro encontro, mas depois de conhecer Bella pessoalmente, não poderia de forma alguma, privar-me de vê-la por um dia sequer.

É bem verdade que de vez em quando ainda nos falamos como antigamente, apenas para matar um pouco a saudade, mas só quando temos certeza que poderemos nos ver novamente em breve e assim não perdermos de fato a presença do outro.

— Nem que um dia a tecnologia atinja o ponto de transmitir coisas como, gosto ou cheiro, somente através de aparelhos, ainda sim, nada substituirá a emoção de estar na presença de alguém.

— Você é o gênio da tecnologia. Se está dizendo, acredito.

Sorriu de lado e alguns fios de cabelo escorregaram do coque preso no alto da cabeça.

— Não sabe o que daria para poder te beijar agora. Nesse momento.

— Só mais algumas horas meu amor. Algumas horas...

— Na próxima vez, mando outra pessoa no meu lugar. Não gosto de ficar longe, ainda que seja por poucos dias.

— Já passamos pelo pior que foi a ida. Agora só consigo ficar feliz porque amanhã estará de volta. Estamos te esperando. — Piscou.

— Como eles estão? Se comportando?

— Você sabe que sim. Você é o favorito deles. Com isso, ficam quietinhos nos dias que não está. Nem me atrevo a tentar mais nada na sua ausência.

— Para. Os dois te amam também, especialmente o Doug.

— O Doug? Ele se bandeou para o seu lado desde o primeiro instante que o viu. Achei que ganharia um novo parceiro quando adotamos o Pete, mas é claro que ele também se rendeu aos seus encantos em dois segundos.

— Não diga isso. Quando saio, peço para que cuidem muito bem de você. E não tenho dúvida que é isso que estão fazendo.

— Puxa saco. Isso é que dá morar com três homens. Vocês se unem e me esquecem.

— Bella...

— Olha só, estavam brincando tranquilamente lá na sala, mas foi só ouvir sua voz, que já vieram correndo.

Comentou apontando a câmera do celular para o gato e o cachorro citados.

Como um bom Chartreux, Doug apenas ronronou, girando em frente à câmera. Seus miados ainda são raros, mas Bella disse que ele começou a miar bem mais desde que me conheceu.

E Pete, um cachorro da raça Shiba inu, que adotamos ano passado, se mostrou um ótimo companheiro para Doug, já que também é um cachorro mais compenetrado em si e não tão espalhafatoso.

Ideal para morar em um apartamento, mas em breve, tanto ele quanto Doug, terão muito mais espaço e um ambiente diferente para morar...

— Hey garotos, também estou sentindo falta de vocês. Mas amanhã voltarei para casa, sim?

Ganhei um latido e um miado como resposta.

— Viu só?

Bella provocou, erguendo uma sobrancelha em desafio, mas sei que no fundo não fica chateada com a suposta atenção que os animais direcionam a mim.

— Eles foram embora?

— Sim. Quando tirei a câmera, devem ter achado que sumiu de novo, mas se quiser, os chamo de volta.

— Não Baby, não precisa. Podemos continuar só nós dois. Mas diga, como foi hoje na escola? Você tinha uma prova a aplicar em uma das turmas, não é?

— Sim. Ainda não peguei para corrigir, mas acho que a maioria foi bem. Estudamos bastante o tema e espero que quem apresentar dificuldades, não seja em algo muito complexo, mas só o clássico de confusão básica.

— Eles se sairão bem. Afinal de contas, têm a melhor professora de história do mundo lhes ensinando.

— Não sei se sou a melhor nem da escola, quanto mais do mundo...

— A meu ver é sim. E minha opinião é a que mais importa.

— Ah, é? E por quê?

— Porque senhorita Swan. Sou o homem que ama e também o que te ama muito mais.

— Impossível. Mas agradeço a demagogia e aceito. Te amo.

— Te amo Baby.

Sorrimos cúmplices.

— Comentei que no encontro de ontem com a sua mãe, fomos convidados para almoçar com seu pai e ela no domingo?

— Sim.

— Ótimo. Ah, tem algo que ainda não sabe.

— O que?

— Alice entrou na fase dos desejos bizarros.

Comentou rindo e a acompanhei.

Alice está grávida de seu primeiro filho com Jasper e após passar pela fase dos enjoos, aparentemente, entrou na dos desejos.

— Não me diga. E como seu irmão tem lidado com tudo?

— Acho que não muito bem.

Citou rindo.

— Por quê? O que ela pediu?

— Alice contou que de madrugada acordou com desejo de comer pizza de anchovas com iogurte. — Ok, agora eu que fiquei enjoado. – É, imagino que Jas tenha feito essa mesma cara quando ouviu. Mas como bom marido e pai, foi fazer a vontade da esposa. Ele poderia ter ligado para uma pizzaria e mercado 24h, para que entregassem as coisas em casa? Sim. Mas meu irmão achou que seria mais rápido se ele mesmo fosse buscar tudo.

— Sinto cheiro de problemas.

— Como sempre, seus instintos estão corretos. Logo antes de sair, percebeu que um dos pneus do carro estava murcho, até ai normal. Ele trocou rápido e foi aos estabelecimentos. Pediu a pizza e enquanto a esperava, passou no mercado para comprar o iogurte que Alice pediu, mas é claro que ela não estava com desejo de um sabor comum, como morango ou natural, ela queria iogurte sabor jabuticaba.

— Você está brincando?

Questionei já sem conseguir segurar o riso forte.

— Não, não estou. Jas, sendo esperto como é, pesquisou antes de sair de casa se ao menos existe esse sabor de iogurte e não é que existe mesmo?

— Estou chocado. Então ele conseguiu comprar?

— Sim. Depois de ir a quatro mercados diferentes. Mas ao menos quando voltou à pizzaria, a pizza estava pronta. Assim, voltou ao apartamento. Eu poderia dizer que ao chegar, entregou todas as coisas a Alice e que tudo terminou bem, mas não foi o que aconteceu.

— Não. O Jasper vai ter que escrever um livro sobre isso. Na sessão de tragédia. Tenho certeza que venderá bastante.

— Se ele ainda não teve essa ideia, o informarei da dica. Mas deixe-me finalizar, no caminho entre o estacionamento e o elevador, o saco com todos os iogurtes que comprou, acabou rasgando. Porque meu querido irmão comprou todos os potes do mercado e umedeceram de alguma forma o saco, já que eram muitos e estavam gelados. O pobre do saco não aguentou.

— E ele perdeu todos os potes?

— Não todos, acho que conseguiu salvar uns três.

— Ao menos isso. E ai ele chegou ao apartamento?

— Chegou. Alice estava adormecida no sofá, mas acordou quando ele entrou e sem querer saber nada que houve com o marido, atacou a pizza e o iogurte.

— E ai o final feliz aconteceu?

— Não. — Respondeu balançando a cabeça, mas rindo. — Logo após se encher dessa mistura nada agradável, obviamente vomitou tudo e chegou hoje na escola dizendo que não quer mais ver a cara de uma pizza ou iogurte enquanto viver.

— E o Jasper? Como ficou depois de ver todo seu esforço literalmente descendo pelo vaso?

— Ah, você conhece meu irmão. Alice disse que não viu, mas quando acordou, a fronha dele estava um pouco úmida. Achamos que meu irmão chorou, ao menos um pouco, depois de tudo. Só não sabemos se foi de raiva, desespero ou uma mistura de ambos.

— Ele foi forte. Se fosse comigo, teria feito um escândalo. Pobre Jasper, esse bebê já tem como missão vir à cara dele para compensar.

— Hey! E os sacrifícios da Alice? Ela pode estar deixando-o louco, mas só porque está meio louca também.

— Ok, meio a meio?

— Isso.

Sorriu causando o efeito de aquecer meu coração, como desde a primeira vez que nos vimos.

Após nosso primeiro encontro, que transformou-se em vários rapidamente, marcamos também de sair com Alice e Jasper. E finalmente pude conhecer sua ilustre amiga e cunhada, assim como o irmão. Nossa conexão foi instantânea também e logo passamos a fazer vários programas juntos.

Ao voltar a Phoenix, após a viagem, também apresentei Bella a Emmett. Meu amigo e ela também se deram bem logo de cara e quando ele por fim arrumou uma namorada, estendemos os elos dos grupos unindo-nos em um só.

Quando assumimos de forma séria que estávamos juntos, foi o momento das apresentações aos pais. Primeiro foram os meus, já que moram na mesma cidade que nós. E nem preciso dizer que ambos se apaixonaram por Bella a primeira vista.

E quando chegou minha vez de conhecer os Swan, confesso que estava temeroso, apesar de todos ao meu redor dizerem que não devia me preocupar, que Charlie, o pai da Bella, só exerce a função de chefe de polícia, quando está a trabalho, no resto do tempo é só um homem, pai e marido que gosta de pescar como lazer.

E foi exatamente esse homem que conheci, Renée também é uma ótima mãe e quando o encontro entre as famílias aconteceu, pensei que não importava mais se Bella e eu tivéssemos algo, outros laços já tinham sido estabelecidos...

— Mas só sei que ri muito quando ela contou isso na hora do intervalo. — Bella continuou o assunto e voltei a prestar atenção. — Além do mais, Alice disse que hoje fará um jantar especial para compensá-lo. Amanhã saberemos como tudo aconteceu.

— Eles que são sortudos, pois estão jantando juntos.

— Você passaria por tudo que o Jas passou, só para estar jantando comigo agora?

— Com um sorriso no rosto.

— E é por isso que amanhã, você também ganhará um jantar especial. Somente pela sua presença, sem sacríficos.

— Realmente será um jantar muito especial...

Bati o olho rapidamente no meu terno jogado sobre a mala.

— O que foi?

Questionou e voltei a olhá-la.

— Nada. Estava pensando que quando desligar, vou arrumar as coisas para estar tudo pronto pela manhã.

— É uma boa. Sê se não esquece nada.

— Pode deixar. — Pisquei.

Ela, que estava sentada recostada a cabeceira da cama, escorregou deitando-se.

— Essa cama é tão grande sem você. Às vezes acho que vou cair quando rolo a noite procurando seu corpo e não o encontro.

— Ah Baby, não fala assim.

— Desculpa, saiu sem querer.

— Amanhã estarei ai e não sei se vamos dormir muito de fato, mas não se sentirá sozinha nessa cama um minuto sequer.

— Estou contando com isso. — Piscou.

Nossa relação, mesmo com o passar do tempo, permanece conforme atestamos de primeira. Com muita união, cumplicidade, semelhanças, comprometimento, amizade e, sobretudo, amor...

Com pouco mais de um ano de namoro, decidimos morar juntos.

Conversamos bastante antes de tomar a decisão definitiva e não nos deixamos guiar pelo passado, onde com relações mais longas, não demos o devido passo, mas entre nós, sempre pareceu certo.

Na escolha de para que lugar mudar, o apartamento da Bella acabou sendo o eleito.

Apesar do bom imóvel que morava e a localização próxima aos seus parentes, seu apartamento também sempre esteve presente em nossa história. Foi onde nos conhecemos de fato, onde demos nosso primeiro beijo, onde aconteceu nossa primeira vez, onde no momento que Bella abriu a porta, definitivamente me apaixonei.

Com a convivência conjunta, optamos por adotar Pete, outra decisão conversada e escolhida com muito esmero.

Viver com Bella e Doug, despertou os velhos sentimentos de alegria que as lembranças do meu amigo de infância trouxeram, sendo assim, Bella não hesitou em sugerir que adotássemos um cachorro, para fazer amizade com Doug, que surpreendentemente para um gato, aceitou bem o novo integrante da casa, assim como Pete, a seu modo, também se afeiçoou ao bichano e ali começamos nossa família.

Agora, quase três anos depois do nosso primeiro contato, caminhando para completar a data redonda do nosso relacionamento, sinto que o momento de instaurar nossa família de outro modo, finalmente chegou...

— Você ainda precisa tomar banho e arrumar suas coisas, não é?

Bella perguntou e deixei meus pensamentos secretos, por enquanto.

— Sim.

— E estou te impedindo de fazer tudo isso, não estou?

— Jamais.

— Eu sei que sim. Como nas nossas primeiras ligações. Que eu só jantava depois de falar contigo. Enquanto, você só dormia ou tomava banho ao voltar da academia, depois de falar comigo.

— Algumas coisas não mudam realmente. – Sorrimos. – Mas sabe algo que muda constantemente?

— O que?

— Meu amor por você.

— Como assim?

— Ele não é algo sólido e firme. É mutável. Todos os dias sinto que cresce mais e se transforma em algo ainda mais intenso.

— Ah Edward. Agora minha fronha que vai amanhecer molhada. Porque depois dessa, com certeza passarei a noite chorando por sua causa.

— Não Baby, não chore.

— Não vou conseguir evitar.

Realmente já posso ver o brilho de lágrimas em seus olhos, mas antes de conseguir falar algo para mudar a situação, ela continuou.

— Eu te amo Edward Cullen. E agradeço todos os dias por ter atendido aquela chamada de um número desconhecido e por ter encontrado coragem, não sei aonde, para manter a conversa. Eu me apaixonei pela sua voz. Então pela sua personalidade. Pelo homem que estava criando em minha cabeça através do nosso contato. E quando te vi, eu soube. Você é o homem da minha vida. O homem que estava destinado a mim. O homem que quero ao meu lado para sempre. O homem que vou amar por todos os dias da minha vida...

— Isso tudo foi só para me ver chorar também, não é?

Tentei descontrair.

— Não. É só o que sinto. Venha para casa logo amor. Estou te esperando.

— Eu vou Baby. Amanhã vamos estar juntos de novo. No nosso apartamento. Com os nossos animais. Nos braços um do outro. Onde poderá confirmar com seu coração colado ao meu, que o mesmo bate inteiramente só por você. Eu te amo Isabella Swan. Te amei no passado. Te amo no presente. E no que depender de mim, te amarei eternamente...

— Eu te amo.

— Te amo.

— Te amo.

— Te amo...

Continuamos a nos declarar por minutos a fio, olhando-nos firmemente, compartilhando os sentimentos, mesmo que apenas, através das telas de nossos celulares.

Ainda sim, nossos sentimentos estão sendo transmitidos um ao outro de forma clara e direta, chegando aos corações sem desvios.

— Chegou o momento de desligar amor.

— Eu sei. Mando mensagem antes de pegar o voo amanhã.

— E quando chegar também.

— E quando chegar.

— Vou colocar ração para o Doug e o Pete. Eles já estão ficando impacientes.

— Vai sim. E jantar também.

— E você vá tomar banho e arrumar suas coisas. Quanto antes deixar tudo pronto e ir dormir, mais rápido chegará o momento de voltar para mim.

— Sim. Boa noite Baby. Até amanhã.

— Boa noite amor. Até. Eu te amo.

— Eu te amo.

Ela fez bico jogando um beijo e retribui o carinho.

Ficamos alguns segundos, apenas nos olhando, até seu dedo apertar a tela encerrando a chamada...

Deixei o celular na cama e com um suspiro peguei o terno jogado sobre a mala.

Mexi no bolso, pegando uma caixinha quadrada, pequena e de veludo.

Ao abrir, contemplei o anel.

Não foi só meu nome que minha família passou a frente por gerações...

Passei o dedo pelo anel que pretendo colocar no dedo de Bella amanhã, em meio ao jantar, o trouxe comigo por medo de que pudesse encontrá-lo.

Desde que meu pai o entregou, tomo todas as precauções para que nada saia do planejado.

Em nosso apartamento.

Só com nós dois e nossos companheiros peludos.

No lugar que marcou um de nossos inícios e agora marcará outro.

Não sinto aflição ou medo de não receber um sim.

Estou ansioso e querendo que tudo seja o mais especial possível.

Mas quanto à certeza do nosso compromisso e do próximo passo a dar? Não tenho dúvida alguma.

Afinal de contas, sei com toda a certeza do mundo, que pertencemos um ao outro.

E agora, apenas solidificaremos mais um ponto do nosso para sempre.

Que começou lá atrás, graças a uma ligação feita por engano.

Mas de verdade? Que engano houve?

Depois de um tempo, passei a acreditar que aquela bendita ligação, estava escrita em nossa jornada...

Fechei a caixinha, guardando-a delicadamente.

Bati o olho no celular sobre a cama, mesmo não sendo o mesmo aparelho daquela época, ainda sim, sorri.

— Obrigado universo por aquela ligação...

FIM.