Kisetsu no Utsurikawari escrita por MNunesPe


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Boa madrugada, pessoal! Sejam muito bem vindos ao segundo capítulo da minha história! Particularmente eu gostei bastante deste capítulo e, como vocês vão perceber, ele é bem diferente do primeiro. Espero que gostem, foi feito com muito carinho! Caso tenham alguma dúvida, sempre podem me mandar críticas! Estou evoluindo como escritora, então todo conselho sempre é bem vindo :)
Boa leitura!
—MC



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— Sério, até que horas você pretende dormir?

Antes mesmo de conseguir abrir os olhos, a luz foi ligada. Isso não me fez querer acordar e levantar de bom humor, então só cobri meu rosto com o lençol, tentando não ficar cego pela luz branca que eu insisti em não colocar no meu quarto.

— Meu despertador ainda não tocou, então não sei do que você está falando. — Murmurei com a respiração ainda pesada. Sinceramente ainda estava dormindo.

— Seu despertador já tocou. — Ele parecia irritado — Ele já tocou tanto que o som desligou.

Ops.

— Vamos, Kagami. É a sua vez de fazer o café da manhã. E anda logo, senão eu vou te deixar para trás, não quero chegar atrasado por sua culpa.

Com isso, ouvi passos se distanciando do meu quarto. Estiquei o braço para fora do lençol, tateando a mesa de cabeceira, a procura do meu celular. Assim que o achei e vi o horário, deixei um resmungo escapar. Ugh, realmente perdi a hora dessa vez.

Levantei da cama num pulo e corri para a cozinha, onde meu colega de quarto estava (impacientemente) esperando. Ele pelo menos tinha passado o café, então eu só tinha que fritar o peixe e preparar a sopa missô. Hm… talvez não desse tempo para a sopa.

— Achei que a donzela ia continuar dormindo. — Ele disse bebericando sua xícara de café sem olhar em minha direção. Estava muito ocupado olhando algo no celular. Provavelmente vídeos de gatinhos, ele gosta desse tipo de coisa (mesmo que não admita).

— Eu perdi a hora, ok? Acontece. —Tentei não engajar em uma discussão logo pela manhã e me concentrei em temperar o peixe e cortar alguns legumes — Ainda tem arroz?

— Não tinha, mas eu já coloquei para fazer na panela elétrica mesmo sem ser o meu dia de cozinhar. — Ugh, ele estava de mau humor hoje. Cada comentário seria uma farpada, então já ia me preparando.

— Tá, tá. Eu cozinho amanhã também. Satisfeito? — O melhor a se fazer nesses dias que ele acorda assim é oferecer alguma oferta de paz, mesmo que isso sacrifique meu sono.

Ele concordou num murmuro e finalmente se aquietou. Comecei a bater os ovos para o tamagoyaki, temperei com um pouco de dashi, sal, açúcar e respingo de molho shoyu. Eu gosto de colocar entre as camadas uma fatia de queijo e um pedaço de nori para dar um sabor mais especial, mas porque estava tão atrasado, acabei me esquecendo.

— Hyuuga-senpai, pode servir uma xícara de café pra mim?

— Claro, para quê mais eu sirvo? — Ele ficou resmungando enquanto procurava por uma xícara no armário. Ele não parou nem mesmo quando serviu o café e colocou a caneca perto de mim com tanto descuido que espirrou um pouco pra fora.

Suspirei pesadamente. Aquilo já estava ficando chato, teria que me intrometer.

— Ahn… Okay, esse não é um mau humor matinal normal. O que aconteceu?

— Além de você ter acordado tarde, não ter feito o café e possivelmente nos atrasar para o trabalho? Nada. — Hyuuga-senpai era um péssimo mentiroso. Uma coisa sempre acabava entregando ele: a medida que a mentira ia saindo, sua voz ia afinando cada vez mais. Não era algo tão drástico, mas dependendo da mentira, ficava fina demais. Como por exemplo, dessa vez.

Pousei a faca que eu estava usando para cortar os legumes ao lado da tábua, e olhei para ele com uma cara de "chega dessa merda, só me fala". Ele acha que eu não o conheço desde o ensino médio ou o quê? De maneira muito madura, ele revirou os olhos e se concentrou no celular como se sua vida dependesse disso. Evitando o assunto, huh? Tudo bem, eu sou paciente.

Dei de ombros, fingindo não me importar e voltei a cortar os aspargos que complementariam o peixe. Não passaram nem dois minutos até ele finalmente voltar a falar.

— É que… O Kiyoshi me chamou para sair. — A voz dele estava baixa com um tom de incerteza.

— Kiyoshi-senpai? Mas isso não é uma boa notícia? Você gosta dele há não sei quantos anos, então qual é o problema?

— O problema é que não é esse tipo de saída! — Ele exclamou frustrado, batendo a caneca na bancada da cozinha — Desde que ele descobriu que eu sou gay, ele não entendeu que eu queria ser visto como uma opção romântica. Ele entendeu que agora tinha um amigo que podia contar experiências, pedir conselhos e acompanhar em bares. Ele não me quer como um parceiro, ele me quer como alguém que o ajude a arrumar caras.

— Tipo um wingman?

— Ugh, você e seu vocabulário americanizado. — Ele revirou os olhos — Mas sim, tipo um "wingman".

— Mas você deixou claro que gosta dele?

Não que eu quisesse duvidar do Hyuuga-senpai, mas devo admitir que ele é uma pessoa que é muito ruim em se expressar e contar o que sente. Estamos morando juntos há pelo menos dois anos e ele só me contou que era apaixonado pelo Kiyoshi-senpai há umas duas semanas. E ainda foi acidental, já que ele chegou bêbado em casa chorando. O pior é que mesmo assim, foi difícil de arrancar essa informação dele.

— Ah… Eu acho que sim? Mas o Kiyoshi é denso, talvez ele não tenha entendido. — Ele parecia extremamente frustrado. Pessoalmente eu não sei como ele conseguiu se manter apaixonado por tantos anos, mas isso não importa agora — Enfim, ele quer que eu o acompanhe num tal de BLACKPINK? Algo assim.

— BLACKNUDE, eu conheço. É um bar gay em Shinjuku muito bom, por sinal. Acho que vai ter um evento hoje, lembro de ter visto algo no Instagram. — Finalmente terminei de grelhar os peixes com os aspargos, agora era só terminar o tamagoyaki e pronto!

— Você já foi lá? Mas você nem é gay. — Hyuuga-senpai pareceu desconfortável.

— Hyuuga-senpai, eu sou bi, eu já falei. — Queria não estar acostumado com aquele tipo de comentário, mas ele acontecia tanto que minha reação agora era mais neutra — E sim, já fui algumas vezes. É pequeno, mas dá pro gasto.

— Entendi.

Ele ficou quieto por um momento, parecendo pensativo. Por algum motivo, eu estava com um mau pressentimento.

—  O que você vai fazer hoje à noite?

— Preparar o treino do time de basquete para amanhã, fazer o jantar, assistir Kitchen Nightmares ou MasterChef… Talvez dormir cedo. — Eu poderia ter falado que ia fazer coisas mais épicas, ou sei lá. Mentir que tinha um encontro, vai que colasse.

— Prepare o treino de tarde, você vai comigo para o BLACKPINK.

— BLACKNUDE, senpai. — Eu o corrigi sem muitas esperanças que ele decorasse o nome — E por que você quer que eu vá? Eu não posso acabar, sei lá, ficando de vela?

— Do jeito que o Kiyoshi é, improvável. O cenário mais realista é a gente num canto bebendo enquanto eu vejo o homem dos meus sonhos se pegando com um cara aleatório. Exatamente por isso que eu não quero ir sozinho. — Me bateu um pouco de pena com ele falando desse jeito, tão derrotado — E se por algum milagre divino eu acabar ficando com alguém, você está solteiro. Oportunidade por ali é que não vai faltar, se é que você realmente curte caras.

E a pena que eu senti evaporou. Quase desejei que Kiyoshi-senpai nunca desse uma chance para o Hyuuga-senpai. Quase.

— Eu não vou nem responder. Vamos, o café está pronto.

 

. . .

 

Antes mesmo de adentrar o ginásio, escutei os chiados do atrito entre os tênis e o concreto. É estranho como um som que costumava me trazer tanta alegria e entusiasmo agora só me traz agonia e desgosto. Suspirei pesadamente, resmungando baixo, enquanto empurrava o portão para entrar.

Uma vez dentro, observei o território: Alguns adolescentes jogavam basquete, outros corriam pela pista, mas a grande maioria estava sentada na arquibancada, imersa em seus celulares, provavelmente gravando vídeos para o Instagram. Ou pior, TikTok. 

O ginásio da Seirin High possui duas quadras, uma de basquete e outra de vôlei, com uma pista de corrida ao redor. Por causa dos invernos mais rigorosos que tivemos nos últimos anos, o quadro de diretores da escola decidiu que o ideal era ter o máximo de atividades desportivas realizadas dentro do ginásio. Por causa da imensa reforma alguns custos foram cortados, como professores. Antes, cada modalidade tinha um professor. Agora éramos apenas eu e mais duas pessoas, que ficavam com os treinamentos na área externa.

Todos os alunos que estavam naquele ginásio eram minha responsabilidade como professor de educação física. Todos aqueles adolescentes insubordináveis, que não respeitam nada nem ninguém. Ainda me lembro da vez que um deles ameaçou me expor para seus seguidores porque eu pedi para ele dar dez voltas na pista de corrida. Ugh… Essas crianças. Soei o apito para chamar a atenção de todos, mas claro que a reação foi lenta e com pouquíssimo entusiasmo. Eu realmente não me lembro de ter sido assim no ensino fundamental.

— Okay, pessoal. Vamos começar a nossa aula. — Tentei parecer animado, mas não sei se consegui não deixar transparecer o quão morto por dentro estava — Hoje é dia de troca de modalidade, então quem estava no atletismo fica com basquete; quem estava com basquete fica com vôlei; e quem estava com vôlei, atletismo. Alguma dúvida? — Aguardei um momento para dúvidas, já que tudo é possível, mas como ninguém se pronunciou, apenas continuei — Podem se dividir nas respectivas equipes que eu vou passar o treino de hoje pra vocês.

Enquanto a turma se dividia, era sempre de praxe alguns poucos alunos se encaminharem para as arquibancadas, ou fingindo mal-estar, ou com atestado para algum tipo de lesão. Era fácil ver quem estava mentindo, então geralmente nessa parte eu fazia uma inspeção. Antes que isso pudesse acontecer naquele dia, senti minha jaqueta sendo puxada por uma aluna um pouco tímida.

— Ahn… Kagami-sensei?

— Sim, Yoshida-san? — Tentei prestar atenção nela ao mesmo tempo que tentava perceber possíveis enfermidades inventadas nos alunos da arquibancada.

— Eu estou nessa semana na equipe de basquete… Eu poderia fazer outra atividade?

— Algum problema com a sua equipe? — Questionei um pouco confuso.

— Não, não… Todos ali são ótimos. Eu só… não gosto de basquete.

Senti minhas emoções conflituosas tentando sair assim que ouvi aquela frase, mas precisei me segurar bastante para não falar alguma besteira. Respirei fundo antes de dar uma resposta para ela.

— Segundo o currículo, todos os alunos do ensino fundamental precisam ter contato com todas as modalidades antes de entrar no ensino médio. Infelizmente você vai ter que fazer a aula de basquete, Yoshida-san. — Já fui uma pessoa muito explosiva, e talvez alguns anos atrás esse tipo de comentário me tiraria do sério, mas minha experiência como professor me ajudou a transmitir mensagens mais tranquilamente.

Ela não pareceu muito satisfeita com a minha resposta.

— Mas olha… Basquete não é tão ruim assim. — Dei um sorriso encorajador — Tem algumas regras um pouco chatas, mas é um jogo muito legal. E se você realmente não gostar, lembre-se que é temporário.

Parecendo um pouco mais animada, ela agradeceu e correu de volta para a equipe. Gostaria de imaginar que a animação era porque talvez basquete fosse legal e poderia ser dado uma chance, mas provavelmente era pelo "temporário". Não que eu pudesse julgá-la tanto, afinal nem mesmo eu tenho tantos sentimos positivos por esse esporte.

Tentei passar um treino básico para as equipes se aclimatarem com cada modalidade, tirando as dúvidas que apareciam com o tempo. É difícil ser professor de três turmas ao mesmo tempo, então sempre preparo algo mais simples para os meus alunos. Não é o ideal, mas a minha situação atual não é a ideal. 

Assim que todos estavam encaminhados, fui começar a preparar o treino do dia seguinte já que não teria como fazer de noite. Peguei minha prancheta, sentei na arquibancada e comecei a anotar algumas ideias aqui e ali, delineando um treino um pouco mais rigoroso para os alunos mais velhos.

— O seu treino me lembra um pouco o que a Riko-san passava pra gente no ensino médio.

— Ah, Furihata. — Acho que estava tão concentrado que não percebi meu colega chegando — É, quando eu comecei a dar aula, eu pedi algumas dicas pra ela. Tento esquematizar de forma parecida, mas… Sabe, sem tantos detalhes.

— É mesmo… Ela às vezes exagerava um pouco. — Ele riu, mas nós dois sabíamos que o "às vezes" não se encaixava naquela frase. Muito menos o "um pouco" — Por que está preparando o treino de amanhã agora?

— Eu tenho uma parada para fazer a noite, não tenho outro horário para fazer.

— Ah, sim. Você vai no BLACKNUDE hoje.

— Espera, o quê? Como você sabe?! — Larguei minhas anotações para focar no meu colega. Furihata era bem menor que eu, então mesmo sentado eu conseguia vê-lo sem precisar levantar a cabeça.

— Hyuuga-senpai me falou. Ele está ansioso por causa de um certo alguém e não para de falar sobre isso. Tive que fugir várias vezes da sala dos professores, ele está bem estressado. — Disse isso enquanto ficava passando a mão em seu cabelo castanho, um pouco nervoso. Ele tinha essa mania quando estava incomodado com alguma coisa.

— Hm. E é por isso que você está aqui na hora da minha aula?

— Sim e não. Mas é bom saber que você está voltando a sair desde o término com a Mayu-chan. 

— Você fala isso como se eu não saísse. —Voltei a focar na minha prancheta, tentando não entrar nesse rumo da conversa.

— Eu digo sair para… hm, "conhecer" pessoas.

Me esforcei ao máximo para não revirar os olhos com o comentário. A pessoa não pode ficar oito meses sozinha que todo mundo já acha que tem algum problema ali. Acho que meu colega percebeu que o assunto estava me deixando um pouco desconfortável, então logo mudou o tópico.

— Ah, sim. O outro motivo de estar aqui! — Ele riu um pouco nervoso — Você viu que abriu uma vaga para treinador do time de basquete da escola?

Claro que vi.

— Não, não vi. 

— Ah… Então! Abriu a vaga hoje. — Apesar de estar parecendo animado, eu sabia que o nervosismo dele só estava aumentando — O último treinador teve que sair por problemas de saúde e…

— Furihata, isso é muito interessante, mas qual é o seu ponto?

Ele ficou em silêncio por um momento, provavelmente pensando nas palavras certas para usar. Nós dois sabíamos que elas não existiam.

— Pensei que talvez… Você quisesse se candidatar? 

Pronto, aí está. Algo que eu queria evitar.

— Não, obrigado. Talvez o Hyuuga-senpai queira. — Dei de ombros.

— Ele não joga sério há anos. Ele lembra pouco das regras, não conseguiria treinar ninguém. — Ele disse, tentando me convencer.

— Eu também não jogo sério há anos.

— Você dá aula de basquete nas suas aulas. Poderia muito bem treinar o time da escola com o seu conhecimento e a sua experiência. — Ele disse isso parecendo confiante, mas pelo canto do olho conseguia ver que ele tremia um pouco com o nervosismo.

— Não quero. Agora para de me atrapalhar, eu estou tentando me concentrar aqui.

Parecendo um pouco decepcionado, ele se despediu e foi embora do ginásio. Ugh… Não deveria ter falado assim com ele, mas também se não falasse eu sei que ele ficaria insistindo. Furihata vivia tentando me puxar de volta para o basquete, com nenhum sucesso. Consigo ser bem teimoso quando quero.

Compraria as desculpas dele depois com aqueles pães cozidos da cafeteria da escola. Eram os preferidos dele, então ele sempre me perdoava. Mas por enquanto, deixaria tudo aquilo de lado para me concentrar no treino de amanhã.

 

. . .

 

Aquela cena estava começando a me tirar do sério. Hyuuga-senpai não conseguia parar quieto, andando de um lado ao outro da casa, murmurando ansiosamente. Ele também estava assim quando o encontrei na sala dos professores mais cedo, mas agora em casa estava muito, muito pior. A cada minuto ele tirava o celular do bolso para verificar se tinha recebido alguma mensagem, mas pela expressão de agonia imagino que nada tinha chegado.

Eu estava no sofá, tentando não deixar aquela angústia toda me afetar, mas admito que estava muito difícil. Nunca fui a pessoa mais paciente do mundo e não seria agora que começaria a ser.

— Senpai, quer por favor se acalmar? — Tomei cuidado com meu tom, mas sei que minha irritação acabou transparecendo.

— Eu estou calmo. — Ele respondeu sem prestar muita atenção em mim, olhando o celular novamente. Dessa vez, deixou escapar um gemido de frustração quando percebeu que nenhuma mensagem tinha chegado.

— Claramente. — Revirei os olhos — Ele já deve estar chegando, relaxa.

— Kiyoshi está uma hora atrasado e não deu notícias. Algo aconteceu, eu não vou conseguir "relaxar". — Respondeu me olhando de cara feia — Pode ter acontecido um acidente, ou ele pode ter ido sozinho pra lá… E se ele já estiver com outro cara? Nem chance eu vou ter.

— Ou ele está preso no trânsito e não está conseguindo ver o celular. — Retruquei agora deixando minha irritação clara — Olha, ele falou que ia encontrar a gente primeiro para irmos juntos. Ele falou que ia deixar o carro aqui e dormir aqui. Então, se ele mudasse de planos, ele ia falar também.

— Mas…

— Mas nada. — Interrompi antes que ele começasse a piração de novo — Você fala como se não confiasse nele, uma pessoa que você conhece há anos!

— Eu confio! — Sua voz saiu mais fina que o normal — Argh… Não é que eu não confie. Eu só… estou ansioso. Eu queria aproveitar a noite de hoje para, sei lá… Tentar alguma coisa? Eu realmente não quero vê-lo ficando com caras aleatórios. Uma coisa é ouvir sobre, outra coisa é estar acontecendo na sua frente.

Suspirei pesadamente. Não conseguiria justificar a minha irritação naquela condição, já que o sentimento de pena foi me consumindo. Hyuuga-senpai era um apaixonado desesperançoso e até um pouco desesperado, tinha que tentar ser um pouco mais paciente com ele. Respirei fundo e usei o tom mais calmo que encontrei dentro de mim para me dirigir a ele.

— Senta um pouco e tenta relaxar. Não vai adiantar você ficar se torturando assim, isso só vai te deixar cansado. — Dito isso, me levantei do sofá e caminhei até ele. Tomando cuidado para não deixá-lo mas ansioso, fui guiando ele de volta para o sofá e sentei ele ali — E olha, se o Kiyoshi-senpai não perceber o que está deixando passar, você está indo para um bar e você está solteiro. Aproveita a noite, entende?

Não obtive uma resposta imediatamente, ele estava pensativo e ainda parecia angustiado. Provavelmente não estava pronto para dar um basta e seguir em frente de um paixão que o consumiu por anos. Acho que nunca tive algo parecido para saber como ele se sente, mas sempre poderia tentar confortá-lo de alguma forma.

— Hm… eu vou tentar. — Disse isso finalmente relaxando um pouco, se recostando no sofá — Mas não prometo nada.

Naquele momento, a campainha tocou e Hyuuga-senpai já não estava mais no sofá. Deu uma última olhada no espelho antes de abrir a porta e eu só revirei os olhos. Ele era incorrigível.

— Você está atrasado. — Como sempre, ele tentava parecer frio e distante na frente do Kiyoshi-senpai.

— É, minha bateria acabou. Não consegui avisar, mas uma das crianças demorou para ser buscada lá na creche, tive que fechar tudo sozinho e de quebra fiquei preso no trânsito. — Ele riu, tranquilamente. Kiyoshi-senpai era uma pessoa muito calma e com um bom humor praticamente inabalável. O exato oposto de Hyuuga-senpai — Ah, Kagami! Hyuuga falou que você queria ir também!

Tentei não olhar para o meu colega de quarto de cara feia, então só dei um sorriso amarelo em resposta. Vou usar isso como chantagem depois, com certeza.

— Ah… É. Faz um tempo que eu não vou no BLACKNUDE, e parece que hoje vai ter um show legal. Você se importa?

— Nem um pouco. Quanto mais, melhor! — Bendito sorriso radiante daquele homem, consegue iluminar meu apartamento inteiro. — Vou só me trocar e já podemos ir.

Hyuuga apontou para ele onde era o banheiro e se recostou na parede, fingindo que não estava pirando por dentro. Ugh… Aquela noite com certeza seria muito, muito longa.

 

. x .

 

— Eu não acredito que a "babá" que você contratou é a Momoi-san!

Falei no tom mais irritado que consegui emitir. Infelizmente, eu sei que ele não é nem um pouco intimidador. Sinto que minha raiva estava formigando por todo o meu corpo, mas ainda não conseguia colocar isso em palavras ou expressões.

— Ah, qual é, Testu! — Do outro lado da linha, meu amigo parecia tranquilo com o destino da minha filha, o que tenho de mais precioso na vida — Satsuki ficou mais do que feliz de cuidar da Haru-chan. E inclusive, concordou em ficar com ela durante a noite toda! Você não precisa se preocupar com nada.

— É claro que eu preciso me preocupar, Aomine-kun! — Exasperei, mas tentei manter um certo controle — Haru tem uma rotina, com horários certos para comer, brincar e dormir… Eu não posso deixá-la com a Momoi-san, eu tenho que cancelar hoje.

— Não, nada disso. Você vai. — Do jeito que ele falava, parecia que eu era uma criança que precisava obedecer o adulto responsável — Tetsu, a Satsuki sabe tudo sobre a rotina da Haru, até porque você só sabe falar disso. 

— Ela se atrasou para buscá-la na escola, então não sabe tanto assim. — Apesar do comentário ácido, eu sabia que ele estava certo. Eu não só falava constantemente sobre a Haru para a minha amiga, mas eu sabia que ela também prestava muita atenção e às vezes até me ajudava. 

Não estava sendo muito justo com ela, mas era mais forte que eu. Era a minha filha, meu bebê. Eu acho que não estava pronto para ter uma noite sem ela. Talvez daqui uns 15 anos.

— Sério, cara! Vocês dois ficaram presos no trabalho e eu te garanti que a pessoa que eu contratei ia buscar. Então não culpa ela! — Ele retrucou, irritado — A gente até avisou a creche sobre o atraso.

— Mas a alimentação da Haru…

— A Satsuki pediu ajuda para a mãe dela, então essa desculpa não cola também.

Ugh. Tentei pensar em alguma coisa, qualquer coisa, para não ir, mas nada aparecia. Por que eu concordei em primeiro lugar? Aomine-kun se aproveitou do meu momento de fragilidade, mas mesmo assim eu deveria ter falado não.

— Tetsu… Por que você acha que a Satsuki concordou em cuidar da Haru? — O tom dele estava um pouco mais suave agora — É porque ela quer que você saia para se divertir! Você nunca faz isso! Tem que viver um pouco também, cara.

Não consegui responder nada em relação a isso. Momoi-san realmente ficou feliz hoje de manhã quando soube que eu ia sair um pouco de casa.

— Certo. Mas essa é a primeira e única vez que ela vai ficar como babá da Haru. Não é justo que ela sacrifique as noites dela para cuidar dos filhos de outras pessoas. — Tentei falar de maneira firme. Talvez isso deixasse claro que essa seria a primeira e única saída desse tipo também.

— Okay, então é bom a gente achar um babá fixa pra Haru, porque se depender de mim, a gente vai sair toda semana. — Ele riu do outro lado da linha — Agora vai se arrumar, que eu vou passar aí daqui a pouco. Sua casa fica bem perto, a gente pode ir a pé.

— Nós não vamos sair toda semana, Aomine-kun. — Ou pelo menos eu não vou.

— Claro, claro. — O tom de sarcasmo não ajudou com minha frustração — Chego aí em 15 minutos. 

E desligou sem se despedir. Suspirei pesadamente, me sentindo derrotado. Se não tinha jeito, eu iria. Qualquer coisa daria uma desculpa qualquer no meio da noite e sumiria. Eu era muito bom nisso.

Olhei minha imagem refletida no espelho do banheiro: um homem baixo, sem traços interessantes, com um olhar desinteressado e cabelos claros demais, arredios demais. Não acho que alguém como eu deveria ir em lugares assim, eu não tinha tanto a oferecer.

Ugh. Aquela noite com certeza seria longa, muito longa.


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Notas finais do capítulo

MC novamente por aqui!
Espero que tenham gostado do capítulo! Eu me arrisquei incluindo um segundo narrador e espero que não tenha ficado muito confuso... Spoiler alert: a história será narrada pelo ponto de vista do Kuroko e do Kagami! Para não haver tanta confusão, vou deixar aqui: quando verem o símbolo (. . .) entre os parágrafos, é uma mudança de cena mantém a visão do mesmo narrador; mas quando verem o símbolo (. x .) representa a troca de narrador. Eu imagino que vocês já tenham percebido, mas eu prefiro deixar claro nas notas.
Se quer me mandar críticas (construtivas ou não), comentários, dúvidas, erros de português que eu cometi, mensagens inspiradoras, recadinhos amorosos, dicas de beleza, me mandar pro inferno, falar que está com vontade de chorar, de cantar uma bela canção, ou simplesmente falar que gostou ou detestou a história, a minha caixinha de comentários estará sempre a sua disposição. Te aguardo no próximo capítulo!
Com carinho, -MC



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