Kisetsu no Utsurikawari escrita por MNunesPe


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa dia, pessoal! MC aqui. Muito prazer e obrigada por escolher a minha história para se aventurar. Eu a fiz com muito carinho e tenho estado extremamente ansiosa para compartilhá-la com vocês. Espero que apreciem minha história! Caso não apreciem, sempre podem me mandar críticas! Estou evoluindo como escritora, então todo conselho sempre é bem vindo :)
Sem mais delongas, Boa leitura!
?” MC



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O sol ainda estava para nascer quando o despertador tocou. Não é um horário que eu aprecie acordar, mas a vida adulta transforma uma pessoa noturna num assalariado matutino. Levantei logo no segundo toque, sabendo que se me prolongar, acabaria ficando por ali. Percebi rapidamente que tenho uma visita em minha cama: eu já deveria ter imaginado que Nigou estava ali, já que mal consegui esticar minhas pernas durante o sono e agora estavam um pouco dormentes. Como um cachorro daquele tamanho consegue pular para a minha cama todos os dias sem me acordar está além da minha imaginação. O ingrato nem mesmo acordou quando eu me levantei para começar a me arrumar.

Uma vez no banheiro, entro logo para tomar um banho, sabendo que só assim iria acordar de vez. Algumas pessoas recomendam café, mas acho que ainda não me sinto adulto o suficiente para apreciar algo tão amargo para me manter de pé. Até o dia que eu mude de ideia, um banho gelado será a solução.

Do banho, visto algo leve para fazer o café da manhã. Não que tivesse muito o que fazer, eu já deixo quase tudo pronto na noite anterior para economizar tempo. Algumas requentadas aqui e ali, preparar talvez um omelete, fazer um chá e é isso. Claro, assim que sentiu o cheiro da comida, Nigou veio para a cozinha me fazer "companhia". Seus olhos pidões e o rabo abanando eram o meu fraco, e agora aquele pequeno manipulador não comia somente a ração, então tive que esquentar um pouco de carne para ele comer também.

Com o cachorro alimentado, vinha a parte difícil. Respirei fundo, caminhei até a porta do quarto ao lado do meu e bati suavemente (não que isso fosse adiantar). Ao adentrar, percebi que o quarto estava com brinquedos dos mais variados espalhados pelo chão, principalmente ao redor da cama. Um verdadeiro campo minado.

Tomando o máximo de cuidado para não pisar em nenhum, consegui milagrosamente chegar até a cama onde uma pequenina dormia tranquila. Provavelmente achou que seu plano daria certo e que não conseguiria passar pela "armadilha". Tentei acordá-la suavemente, fazendo carinho em sua cabeça.

— Haru-chan, está na hora de levantar. — tentei manter minha voz num tom mais baixo, não querendo assustá-la. 

Ela logo começou a se remexer, incomodada com o barulho, e escondeu seu rosto embaixo das cobertas, deixando apenas suas mechas azuladas à vista. Continuei tentando acordá-la sem sucesso. Acho que não posso julgá-la, eu também não era fácil de acordar quando pequeno.

— Haru-chan vai se atrasar para a creche e não vai ver seus amigos hoje.

— Eu não quero ir, papa. — Uma vozinha sonolenta vinda de baixo das cobertas implorou.

Delicadamente tirei os lençóis de seu rosto, revelando um rostinho redondo amassado, cabelos finos emaranhados e olhos castanhos pidões. Evitei sorrir com a cena, poderia parecer que eu estava acatando com sua demanda.

— Temos que ir, Haru-chan. Papai tem que ir trabalhar e você tem que ver seus amigos.

— Mas eu quero brincar com o Nigou hoje.

— Você pode brincar com ele mais tarde.

— Mas eu não quero mais tarde.

É difícil argumentar com uma criança apelando pela lógica. Talvez tenha que usar algo que ela não possa recusar.

— Mas filha, você vai deixar de ver o Kiyoshi-sensei para ficar brincando com o Nigou em casa? Com certeza ele ficará triste.

Agora os olhos castanhos pareciam estar em conflito, perfeito. Uma tática impiedosa se utilizar da pessoa por quem minha filha de 3 anos admitiu ter uma quedinha, mas precisava ser feito. Não que eu me sinta confortável com o fato dela ter uma quedinha por seu professor, mas imagino que essa paixonite logo irá passar. 

Com o silêncio, entendi que não haveria protestos. Com cuidado peguei ela no colo com relativa facilidade e sentei de frente para sua penteadeira de brinquedo. Ela ainda estava com bastante sono, então estava mais dócil que o normal quando comecei a pentear seu cabelo. Eu tinha o mesmo problema quando tinha um cabelo maior: pela finura, ele se emaranhava facilmente, ainda mais com a forma que eu me mexia durante o sono. Haru-chan também tem esses problemas. Certa vez, quando ela teve um pesadelo e foi dormir em minha cama, eu acordei com um pézinho na minha cara.

O processo de pentear seu cabelo é lento, mas o resultado final me deixa orgulhoso. Dividi as mechas e as prendi em duas trancinhas, já que ela gosta quando faço alguns penteados. Errei algumas vezes antes de conseguir tranças perfeitas, mas eu ainda estou aprendendo. Com seu cabelo pronto, trocamos o pijama pelo uniforme da escola, escovamos os dentes juntos e finalmente fomos para a mesa tomar café da manhã.

Acho interessante que minha filha gosta de se sentir independente, não aceitando ajuda na hora de comer. Desse jeito vou ter uma crise pensando no quanto ela está crescendo rápido demais: já tem paquerinhas na escola, está comendo sozinha, não quer mais que eu escolha suas roupas na hora de sair para o parque… Melhor não pensar nisso agora.

Olho para o relógio, já não temos tanto tempo: demorei demais tentando fazer as tranças. Tenho que colocar o lanche na lancheira, deixar o Nigou com o cuidador, correr para não perder o metrô, deixar Haru-chan na creche… Tento engolir o café o mais rápido que posso e logo estou de pé arrumando tudo o que faltava para sairmos. Enquanto isso, minha filha estava calmamente tomando seu copo de leite, balançando as perninhas na cadeira. Calmamente… Lentamente… Estava até… Lento demais.

— Haru-chan, tem que tomar todo o leite, certo?

A expressão de quem tinha sido descoberta era demais pra mim, não consegui evitar que um sorriso escapasse. Assim como sua mãe, ela não gostava de leite.

— Você disse que quer ser tão alta quanto seu sensei, não? Para isso, tem que tomar todo o leite. — E num piscar de olhos, o copo estava vazio.

Daquele ponto, era pegar a mochila, colocar a lancheira dentro, pegar minha pasta de trabalho, colocar a coleira no Nigou e porta afora, rumo a mais um dia agitado de segunda feira. Apenas mais uma manhã rotineira.

 

. . .

 

— Tetsu-kun, eu sinto muito!

A voz feminina me tirou do meu piloto automático de preenchimento de relatório quase como se estivesse sendo acordado com um susto, mas evitei demonstrar isso. Meus olhos viajaram rapidamente do computador para a mulher de cabelos rosas, cujo rosto estava muito perto de meu agora.

— Momoi-san, você me assustou. — Tentei soar levemente irritado, mas eu não sou exatamente um mestre em demonstrar o que sinto.

— Ah, sinto muito por isso também... — Ela pareceu desconcertada por um momento, mas logo passou — Mas o importante, eu sinto tanto por não ter ido no parque com vocês ontem... Eu queria ver a Haru-chan e brincar com ela, mas meu namorado apareceu e… Bom, não realmente meu namorado, mas...

E ela começou a falar sobre o homem com quem estava saindo sem parar. No mesmo momento, eu vesti minha melhor cara de paisagem e me desliguei completamente daquela conversa (ou no caso, monólogo). Vez ou outra respondia com um "sim, entendo." ou "oh, é mesmo?" para não parecer tão rude, enquanto digitava meu relatório evitando olhar para a tela do computador.

Não é como se Momoi Satsuki fosse uma pessoa que eu não gostasse de conversar. Longe disso, eu a considero uma de minhas amigas mais preciosas. Porém, devo admitir que o assunto de relacionamentos não é comigo. Só de ouvir já me deixa esgotado.

— Você não está prestando atenção, não é? — Ela perguntou com uma expressão levemente frustrada enquanto cutucava minha bochecha, numa tentativa de chamar minha atenção.

— Eu adoraria te dizer que ouvi tudo o que você disse, mas isso seria uma mentira e eu não posso mentir. Que tipo de pai eu seria se ficasse mentindo? — Evasão sempre foi minha especialidade.

— Só vou ignorar isso porque eu ainda estou te pedindo desculpas por não ter aparecido e não ter avisado. — Dito isso, ela voltou a parecer desconcertada.

Devo admitir que não lembrava de tê-la chamado para ir para o parque comigo e a Haru. Também não era algo tão ruim, já que nós sempre íamos ao parque nos fins de semana. Mas se isso significava escapar de uma possível bronca por não estar prestando atenção em problemas amorosos alheios... Tudo bem por mim.

— Não se preocupe, Momoi-san. Nós nem ficamos tanto tempo, Haru estava cansada porque fomos na festa de aniversário de um amiguinho da creche na noite anterior. — Tentei usar um tom tranquilizador.

— Claro que eu me preocupo. Planos são planos, e eu vou me redimir ainda hoje! — Ela de repente parecia animada. Uh oh, isso não é nada bom.

— Momoi-san, realmente não tem problema...

— Claro que tem. Por isso, hoje à noite, eu vou na sua casa fazer uma visita. E o jantar é por minha conta! — Ela disse aquilo como se fosse algo bom.

Não gostaria de parecer ingrato, mas minha querida amiga não era uma boa cozinheira. Muitas qualidades Momoi Satsuki tinha, mas culinária não estava entre elas. Tentei não pensar em minha pobre filha tendo uma intoxicação alimentar por causa dos "experimentos" de Momoi na cozinha. Ela deve ter percebido meu desespero, já que logo completou:

— Não se preocupe, eu vou encomendar a comida.

Ah, o alívio.

— Mas Momoi-san, tem certeza? — Eu ainda não queria encorajá-la a fazer uma visita numa segunda-feira aleatória. Afinal, Haru tinha uma rotina muito bem estabelecida.

— Absoluta. Prometo que só vou jantar, brincar um pouco com a Haru-chan e ir embora!

Aquilo tudo começou a me parecer um pouco suspeito. Alguma coisa no jeito que ela falava estava me alertando que aquele jantar não era só uma saudade repentina da Haru-chan. Mas eu sabia que mesmo que eu dissesse não, ela acabaria aparecendo na minha casa de qualquer forma, então só concordei.

— Certo... Mas nós jantamos mais cedo, gosto de colocar a Haru para dormir no máximo 9 da noite, tudo bem?

— Tudo bem! Eu apareço lá umas 19h... — Ela pausou longamente me olhando um pouco embaraçada — com o Dai-chan.

Tentei não fechar a cara.

— Eu deveria saber... Isso foi ideia do Aomine-kun, não é?

— Ele só está um pouco chateado, se sentindo sozinho desde aquele cara lá terminou com ele... qual é o nome mesmo?

— Sakurai Ryou. E aposto que ele não está chateado, já que ele falou algumas vezes que não era nada sério. — Agora eu realmente não consegui manter minha expressão fechada oculta — Aposto que ele só quer ter um motivo para beber num dia de semana.

— Por favor, Tetsu-kun, seria só hoje, eu prometo! Dai-chan está me importunando há semanas para fazer isso acontecer. — Ela parecia um pouco desesperada, e antes mesmo que eu pudesse dizer qualquer coisa ela me cortou — Vou tomar seu silêncio como um sim, então te vejo mais tarde!

E num piscar de olhos, ela já estava do outro lado da sala, conversando com o gerente de vendas como se nossa conversa nunca tivesse acontecido. Suspiro pesadamente naquele momento, sabendo que minha rotina seria interrompida.

 

. . .

 

Assim que a campainha tocou às 19:15h, Haru e Nigou correram para a porta. Assim que ela soube que Momoi-san nos visitaria, Haru fez questão de se arrumar com seu vestido de princesa azul do filme Frozen que ganhou dela no mês passado. Pelo menos minha filha estava mais animada com as visitas do que eu.

— Papa, a porta! — Ela pulava junto com Nigou em frente a porta.

— Sim, sim, já vou.

Mesmo que Momoi-san tenha me dito que o jantar era por sua conta, não achei justo e acabei preparando algumas coisas para beliscar. Só terminei de ajeitar as coisas na mesa da sala e me dirigi à porta, já não querendo estar ali.

— Haru-chan! — Mal terminei de virar a chave e a porta fora escancarada na minha cara, com uma confusão de cabelos rosados invadindo meu apartamento, tomando minha filha nos braços e a abraçando como se não houvesse amanhã — A tia sentiu tanta sua falta! Awn, você está tão linda com o vestido que eu te dei!

É estranho lembrar que geralmente ela me cumprimentava assim também, se agarrando em mim e sendo extremamente afetuosa. Hoje minha presença é completamente ignorada e não sei como me sentir sobre isso. Nem um olá foi dito, o absurdo. Pelo menos Haru parecia estar se divertindo, rindo sem parar e falando sobre princesas.

— Ah, Haru-chan! A tia Momo trouxe um presente pra você! — De sua bolsa, ela tirou um pacotinho que estava embrulhado com uma fita vermelha.

— Momoi-san, você está a mimando demais trazendo presentes quase todas as vezes que a vê. —  Tentei parecer irritado com aquilo, mas eu também adorava ver as reações dela quando recebia alguma coisa.

— Eu só estou cumprindo meu papel de madrinha. — Ela anunciou como se fosse algo muito óbvio enquanto tirava fotos com seu celular da Haru-chan tentando abrir o pacote com suas mãos pequeninas.

Uma coisa interessante sobre minha amiga é que uma vez que ela toma uma decisão, não há pessoa no mundo que consiga fazer com que ela mude de ideia. Por exemplo, eu já expliquei para ela que Haru-chan não é nem batizada, muito menos cristã, para ter padrinhos, mas ela não me escuta porque ela já decidiu ser madrinha. Então eu apenas aceitei.

— Você não tinha dito que estaria acompanhada do Aomine-kun? — Espiei pela porta  da frente, esperando ver algum sinal dele no corredor, mas ninguém estava ali.

— Ele já está chegando, não se preocupe! — Momoi-san não parecia preocupada enquanto filmava Haru finalmente abrindo a caixa e retirando uma tiara prateada que tinha formato de coroa.

As duas estavam alegremente fazendo um desfile na sala quando um homem parecendo exausto e carregando várias sacolas finalmente apareceu na minha porta.

— Ugh, Satsuki... Eu não acredito… Que você me deixou com todo esse peso… Sabendo que o elevador desse prédio está quebrado… — O homem escorado na porta largou as sacolas no chão enquanto tomava um ar — Caramba, Tetsu… Quando vão consertar essa droga?

— Boa noite para você também, Aomine-kun.

Nigou, que até então estava entretido com o desfile, veio alegremente inspecionar o conteúdo das sacolas. Ao mesmo tempo que meu amigo tentava tirar meu cachorro de perto do nosso jantar, ele tentava recuperar o folêgo.

— São três lances de escadas, quanto drama. — Reclamei enquanto pegava as coisas do chão — Eu subo todos os dias com a Haru-chan no colo e não fico assim. 

— E não precisaria se fizesse uma petição para consertar essa droga. — Dito isso, ele pegou o resto das coisas e finalmente adentrou o apartamento.

Assim que notou sua presença, Haru veio correndo até ele, mostrando a tiara nova. Qualquer pessoa que olhe para Aomine Daiki deve pensar que ele é uma pessoa assustadora e difícil, graças a sua carranca permanente combinada com sua altura de 1,92m. Eu diria que essas pessoas estão 50% corretas, ele é uma pessoa muito difícil de se lidar, mas assustadora?

— Haru-chan! — Sem nenhum sinal do "cansaço" que demonstrou há segundos atrás, Aomine-kun pegou minha filha no colo e começou a jogá-la para cima. Eu nunca gostei dessa brincadeira, mas Haru sempre parecia se divertir bastante.

— Okay, okay. Chega, Haru-chan pode ficar enjoada com isso. — Protestei em vão enquanto levava a comida para a mesa.

— Mais alto, tio Dai!

— Nada disso, você vai bater a cabeça no teto. — Isso pode não ter acontecido antes, mas para tudo tem uma primeira vez — Momoi-san, pode por favor tirar minha filha dos braços desse maníaco?

Mas claramente Momoi não estava do meu lado, já que estava filmando a cena toda, encantada com as risadas calorosas da pequena. Até Nigou estava participando daquele circo, pulando e latindo aos pés de Aomine-kun. Às vezes eu sinto que sou o único ser responsável nessa casa. Antes que aquela cena se transformasse em uma verdadeira tragédia, devolvi minha filha para o chão e dei um esporro nas duas criaturas que deveriam se considerar adultas.

A noite passou sem demais incidentes, apenas jantamos o Sobá que Momoi trouxe (menos Haru, que ainda não tem idade para comer coisas assim), demos comida para o Nigou, brincamos um pouco com a pequenina e colocamos ela para dormir. Eu gostaria de ter feito a última parte sozinho, mas os dois insistiram para contar histórias para ela dormir. Eu deveria ter imaginado que isso só faria com que ela acabasse dormindo mais tarde do que o normal, mas uma vez ou outra não tem tanto problema.

— Bom, agora que a Haru-chan foi dormir, vamos beber! — Aomine correu para a cozinha como se sua vida dependesse disso.

Ah… E eu aqui torcendo que ele tivesse esquecido, ou que a Haru tivesse o cansado bastante… Seria meu sonho?

— Eu também tinha esperanças que ele esquecesse, Tetsu-kun. Infelizmente, Dai-chan é teimoso demais para deixar essa oportunidade passar.

 

. . .

 

— Eu só não entendo qual é o problema dele! Já estava mais do que na hora de termos algo, sei lá, oficial sabe? — Momoi-san exasperou debruçada sobre a mesa, tentando alcançar sua sexta latinha de cerveja. — Estamos saindo há três meses, ele podia fazer um esforço.

— Já te falei: Ele só está aproveitando e você está caindo. Conheço o Imayoshi desde a faculdade, o cara não está a fim de um relacionamento sério. Pula pra outro. — E Aomine-kun, como sempre, muito empático. Mas acho que a oitava latinha ajudou um pouco a soltar sua língua.

— Ah, é muito fácil falar, você não se importa com essas coisas! Veja o pobre Sakurai! Vocês mal "terminaram" e lá vem você com outros vinte caras à espera.

— A gente não terminou, não tinha nada pra terminar! — Disse bufando.

— Realmente, vocês não terminaram. Ele que te deu um pé na bunda porque não aguentava mais você não ter nenhuma responsabilidade emocional, que nem o Imayoshi-kun!

Enquanto aquela discussão estava se desenrolando, eu observava os dois enquanto ponderava em abrir mais uma latinha. Seria minha terceira da noite, e minha tolerância para álcool não andava boa desde que a Haru-chan entrou em minha vida. Fazia muito tempo que eu não bebia, então só com aquilo eu já estava um pouco embriagado. E se eu tomar mais, amanhã eu acordaria de ressaca? Eu já tive ressaca alguma vez? Inclusive, que horas são? Será que eu deixei o café da manhã preparado…? Tantas perguntas sem resposta.

— Tetsu-kun! Olha ele!

Fui arrancado de meus pensamentos nublados pelo grito de duas crianças brigando.

— Vocês querem falar mais baixo? Assim a Haru pode acordar, e se ela acordar… Bom, eu só sei que eu não vou contar nenhuma história para ela dormir. O problema será de vocês. — Tentei parecer autoritário, mas tenho quase certeza que isso não aconteceu. Eu ainda estava com o pensamento em perguntas muito profundas, como a do café da manhã do dia seguinte.

— Tetsu, você deveria falar pra ela que essa queda monstruosa pelo Imayoshi não vai levar a lugar nenhum e que a Satsuki tem mais é que partir pra outra.

— Eu não tenho que falar nada, vocês que se resolvam. — Peguei a terceira latinha que estava na mesa para analisá-la mais de perto. O lacre estava chamando minha atenção, pedindo para que eu mexesse nele, só um pouquinho… — Ops, abri mais uma.

— Ugh, é impossível desabafar com vocês nesse estado. Eu vou dormir que eu ganho mais. — Ela de repente se levantou e foi cambaleando em direção ao meu quarto.

Hm, acho que hoje eu vou ter que dormir na sala. E preparar café da manhã extra, já que ela provavelmente só vai acordar no dia seguinte.

— Acho que eu tenho que preparar o café da manhã para… Quatro pessoas? — Olhei para o meu amigo esperando que ele me corrigisse.

— É, acho que sim. — Ele se aconchegou um pouco mais no sofá e alcançou a latinha que Momoi-san tinha deixado para trás — Precisa de alguma ajuda?

Flashbacks de bagunças horríveis na cozinha com Aomine-kun envolvido passaram em minha cabeça rapidamente quando a sugestão foi feita. Acho que seria melhor não arriscar.

— Ahn… Não, não preciso. Mas a companhia é bem vinda. — Dito isso, me levantei (com um pouco de ajuda do meu amigo, que tentava me empurrar sem sair do sofá) e fui até a cozinha. 

Peguei algumas frutas da geladeira para já deixar cortada em potinhos, talvez colocar no bentô da Haru. Hm, o bentô da Haru… Onigiri é uma opção rápida, ainda tinha arroz pronto e o recheio de atum é fácil de fazer… Acho que não estou em condições de fazer carinhas bonitinhas de nori, exige um foco que eu não tenho agora. Será que Momoi-san come peixe no café? Tem sopa miso o suficiente para todos, torradas também… Mas peixe? Acho que faço um omelete amanhã e…

— Você tem a péssima mania de ficar murmurando quando está muito concentrado fazendo essas tarefas domésticas, sabia disso?

Nem percebi quando Aomine chegou na cozinha. Em circunstâncias normais, eu até levaria um susto, mas acho que o álcool diminui minha resposta. Tudo que saiu foi um "Ah" dito com pouco entusiasmo.

— Acho que sabia? Estou acostumado a fazer as coisas mais sozinho, então geralmente não tem tanto problema. Além da Haru-chan, não tem ninguém por perto. Ela também não julga. — Dei de ombros enquanto começava a cortar cuidadosamente as frutas na bancada, rezando para não perder os dedos.

— Ugh, essa sua vida de pai solteiro é muito chata. Você deveria sair mais, sei lá.

— Mas eu saio.

— Reuniões quinzenal de pais e mães solo não é sair. — Ele revirou os olhos — Estou falando em sair mesmo, ir para um bar, balada, conhecer pessoas… Ter uma vida sexual…

— Eu estou contente sem um namorado, muito obrigado. — Retruquei tentando não deixar a minha irritação aparecer. Será que eles não sabem falar de outra coisa?

— Quem falou em namorado? Eu falei em ter uma vida sexual. Eu sei que você está travado nos anos 50, que as pessoas casavam antes de transar, mas hoje é possível ter algo casual. Sem compromissos, sem estresse.

— Que nem você e o Sakurai? — Não me aguentei, precisei cutucar um pouco.

— Você e a Satsuki não cansam desse assunto? Mas sim, algo assim.

— Não tenho tanto interesse. Se tivesse, já teria baixado o Tinder ou o Grindr.

— Me admira que você conheça esses aplicativos. — Ele riu — Mas qual é, Tetsu. Você teve o que, uma experiência amorosa no ensino fundamental e decidiu que isso não é pra você? Vai passar o resto da sua vida como um santo que vive pra cuidar da sua filha?

Suspirei profundamente. Aomine-kun sabia exatamente onde meu calo apertava. Não, eu não estava exatamente satisfeito com isso, mas eu estava confortável. Estava… bem? Haru-chan já tomava bastante do meu tempo, eu tinha uma rotina fixa… Para que eu ia querer perturbar isso? 

Tudo estava bem… Mas admito que às vezes me sentia um pouco sozinho. Também sentia que, agora que estava mais perto dos 30, não aproveitei muito a vida. Maldito Aomine que me faz refletir sobre minhas inseguranças em momentos de instabilidade.

— E o que você sugere? — Parte de mim queria discordar de qualquer coisa que ele falasse, mas a outra parte estava genuinamente interessada em algum conselho.

— Podemos começar indo num bar gay que eu conheço. Amanhã vai ter tipo uma festa no BLACKNUDE, vai ser legal.

— Bar no meio da semana? Você acha que eu tenho filha de enfeite, é? — Olhei feio pra ele enquanto tentava enrolar o arroz em volta do recheio de atum.

— Cara, eu pago uma babá para ficar com a Haru. Eu pago para você não ter hora pra voltar, desde que você vá comigo só dessa vez. Aproveita um pouco a vida Tetsu.

Ugh… Eu queria arranjar alguma desculpa para não ir… Mas ao mesmo tempo eu queria ir. Uma vez a cada três anos não faria mal a ninguém, certo?

— Okay. Mas só porque você vai pagar a babá a noite inteira.

— É isso aí! Vamos nos divertir amanhã, você vai ver!

Já estava começando a me arrepender de ter concordado.


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Notas finais do capítulo

Howdy! Espero que tenham gostado do primeiro capítulo! Fiz com carinho e tentei não deixá-lo tão longo. Mas eu acabo sempre escrevendo bastante e tenho um problema sério em resumir as coisas. Não vou nem tentar prometer capítulos menores, eu sei que gosto de me aprofundar e descrever. Se esse é o seu tipo de história, vem que vai ter mais! Meu ritmo de postagem será a cada duas semanas, mas se um capítulo ficar pronto antes, não vejo porque não postar. Se quer me mandar críticas (construtivas ou não), comentários, dúvidas, erros de português que eu cometi, mensagens inspiradoras, recadinhos amorosos, dicas de beleza, me mandar pro inferno, falar que está com vontade de chorar, de cantar uma bela canção, ou simplesmente falar que gostou ou detestou a história, a minha caixinha de comentários estará sempre a disposição de você. Aguardo você no próximo capítulo!
Com carinho, -MC



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